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sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Em Santa Catarina, índio bom é índio morto

POR DOMINGOS MIRANDA
Em sociedades civilizadas há uma preocupação em resguardar os interesses das pessoas marginalizadas e que sofrem abusos. Em Santa Catarina isto não vem ocorrendo há muito tempo. O caso mais recente destas agressões foi a morte de um professor universitário indígena na cidade de Penha, na madrugada de 1º de janeiro deste ano. Marcondes Namblá, da Terra Indígena Laklãnõ-Xokleng, caminhava calmamente quando foi agredido, pelas costas, com várias pauladas desferidas por Gilmar César, que continua solto.

Marcondes, casado e pai de cinco filhos, estava na cidade litorânea para vender picolé e reforçar sua renda. Ele lecionava e divulgava a cultura Xokleng e também era juiz indígena na aldeia Barragem, na cidade de José Boiteux, onde vivia.  Dois anos antes, em 30 de dezembro de 2015, o menino Vítor Pinto, de dois anos, da etnia Kaingang, foi morto no colo de sua mãe, debaixo de uma árvore, ao redor da rodoviária de Imbituba, no Sul do Estado.  Mateus Ávila Silveira, 24 anos, se aproximou da mãe, passou a mão no rosto do bebê e em seguida cortou o pescoço de Vítor com um estilete, provocando sua morte instantaneamente.

Estes dois casos demonstram um grande preconceito e um ódio latente contra os indígenas. A repercussão destas mortes na imprensa sempre é menor do que quando as vítimas são pessoas brancas, como a do assassinato do surfista Ricardo dos Santos, em janeiro de 2015. O delegado Douglas Teixeira Barroco, que investiga a morte de Marcondes, deu uma explicação um tanto estranha para a razão do crime. Ele disse que o índio teria mexido com o cachorro do agressor, mas as imagens da câmera não mostram isso. No entanto, a imprensa aceitou esta versão sem maiores indagações.

A violência contra os indígenas é um fato constante desde a chegada dos colonizadores brancos. Em Santa Catarina, o conflito entre brancos e índios se acirrou a partir do final do século 19, quando os imigrantes ocuparam as terras dos Xokleng e Kaingang.  O etnólogo tcheco Alberto Vojtech Fric, que esteve no Estado em 1906, a convite do governo, para verificar as condições dos índios, voltou à Europa e fez um relato dramático. Perante  o XVI Congresso Internacional de Americanistas, que aconteceu em Viena, em 1908, afirmou que “a colonização se processava sobre os cadáveres de centenas de índios, mortos sem compaixão pelos ‘bugreiros’, atendendo os interesses de companhias de colonização, de comerciantes de terras e do governo”.

Diante da repercussão internacional, o governo federal decidiu criar o Serviço de Proteção aos Índios (SPI),  cujo primeiro coordenador foi o Marechal Rondon. Houve alguns avanços em Santa Catarina, principalmente com a criação da primeira reserva indígena, em Ibirama, na década de 20. Hoje, existem 25 Terras e Reservas Indígenas em todo o Estado, mas muitas delas ainda dependem de demarcação, paradas por determinação judicial.

Um exemplo da precariedade da situação dos indígenas é a aldeia Piraí, em Araquari, onde estão apinhadas 150 pessoas da etnia Guarani numa área de dois hectares. O cacique Ronaldo Costa conta que o preconceito contra o índio está muito arraigado entre a população. Muitos afirmam que o índio é preguiçoso, mas não entendem que a sua mentalidade não é capitalista, onde só tem valor quem tem dinheiro. Eles viviam da caça e da pesca, mas como o branco alterou o meio ambiente, muitos vão para a cidade vender artesanato. “O desmatamento prejudica. Sem mato a gente não vive”, lamenta.

Os índios vão sobrevivendo no meio de uma sociedade que não os quer. De vez em quando surgem crimes escabrosos que chamam a atenção para a sua triste realidade. Mas, em um momento em que campeia o ódio para todos os lados, muitos continuam achando que índio bom é índio morto. Cabe aos defensores de uma sociedade justa lutar para evitar que isto se concretize. Aqui vale citar a frase de Rondon: “Morrer se preciso for, matar nunca”.


Marcondes Namblá foi morto em Penha

terça-feira, 1 de novembro de 2011

E as cidades litorâneas da região?


POR CHARLES HENRIQUE

Todo ano esse tema entra em pauta, eu sei. Mas precisamos discutir sobre as cidades litorâneas da região norte/nordeste de Santa Catarina. Nosso litoral é “invadido” por turistas de diversas regiões do mundo, e nós, joinvilenses, também gostamos de ficar na praia no verão. O problema é que o incômodo, e o estresse tomam o lugar do lazer devido à falta de organização e estrutura destes municípios.

São problemas em todos os níveis, desde os mais primários (como falta de água e energia elétrica) até os mais complexos (como a inexistência de uma política de desenvolvimento urbano). Enquanto o turista for visto apenas como um consumidor, que despende grandes quantidades, ao invés de ser um humano, que busca uma qualidade de vida melhor que os grandes centros urbanos, teremos as mesmas reclamações toda vez que formos para alguma praia da região.

A impressão é que muitos municípios estão beirando entre o despreparo e o desconhecimento, pois é inadmissível que após tantos anos sobrevivendo do turismo estas cidades não conseguiram ter como prioridade a infra-estrutura necessária para bem atender o turista e catapultar o maior valor delas: a imagem. Se a praia é bela e a cidade não, o turismo não vinga. Está cheio de casos em que a praia em si é péssima, mas a cidade é ótima.

Em São Francisco e Barra do Sul temos problemas com o acesso pela BR-280. Barra Velha tem problemas básicos de infraestrutura e na gestão da Prefeitura (ô cidade para ter um escândalo envolvendo o Prefeito). Piçarras sofre com a falta de dragagem da orla (as seguidas ressacas “comeram” toda a faixa de areia) e com a mobilidade urbana (o crescimento desordenado fez surgir grandes engarrafamentos nas ruas). Penha ganhou um grande impulso com o parque Beto Carrero, mas ainda tem uma estrutura muito semelhante à década de 90. Itapoá tem um acesso complicado e está começando a atrair os turistas em larga escala...

Quantos problemas, não? A solução seria a união destes municípios em prol de uma agenda única, evidenciando assim a importância para a economia. Deste modo, o Governo de SC e a União não olhariam para a região de outra maneira? Se esse clima de competição por turistas continuar (“a minha cidade traz mais gente que a sua”) vai acabar matando toda a pouca imagem positiva que resta. Costa do Encanto é coisa de publicitário do LHS. Aqui é a Costa do Improviso.

Obs: a foto mostra um pouco como a cidade de Penha trata o trânsito.