POR SALVADOR NETO
Joinville ficou horrorizada esta semana com a decapitação de um jovem de 16 anos no bairro Jardim Paraíso, comunidade já estigmatizada como lugar de alta violência e tráfico de drogas. Afinal, a polícia ainda não sabe quem cometeu a barbárie, não sabe onde está o corpo, e tampouco se o jovem foi realmente assassinado no bairro. E mais: em que pese o comando do governo Colombo trocar comandantes da polícia civil ou militar, o que não muda é a essência, ou seja, a falta de efetividade na investigação. Se a polícia sabe de gangues, etc, porque não coíbe e prende? Mistérios para um Sherlock Holmes provinciano desvendar!
Mas, para além da alta criminalidade que não vem de hoje na maior cidade catarinense, há aspectos que a elite empresarial, social e política joinvilense não gosta de tocar. Nossa juventude está à mercê dos chefes do crime por pura falta de oportunidades culturais, de lazer, de esportes, de inclusão no mercado de trabalho que lhes garantam uma vida digna, saudável e longe do mundo das drogas, do tráfico, das ruas que engolem esses adolescentes para o dinheiro fácil. A Prefeitura de Joinville – governo Udo Döhler do PMDB cortou recursos para a única festa popular, o carnaval. Preferiu gastar na festa alemã Bierfest, que não deu em nada.
Enquanto a cultura, a educação integral,
o lazer e os esportes não forem prioridades para os governantes, a grana gasta
em segurança com câmeras, mais soldados, viaturas – e é sempre bom lembrar que
é o nosso dinheiro suado que paga tudo – servirão apenas para agradar a elite
assustada que mora em áreas centrais, longe da periferia que assiste essas
barbáries em frente às suas casas, causar “sensação” de segurança e fonte para
imagens para lindos vídeos de propaganda dos “governos” atuantes que temos
(??).
Em mais um lance que exemplifica o que
digo, que mais lazer, cultura, educação não são prioridades, o governo Udo
Döhler desistiu da construção de um Ponto de Cultura com recursos já garantidos
pelo Governo Federal da ordem de R$ 1,2 milhão, que seria construído no bairro
Vila Nova, zona oeste da cidade. Irônico é que no mesmo ano de 2015 o vice de
Udo, o advogado Rodrigo Coelho que também preside a Fundação Cultural de
Joinville, anunciou que a obra era uma “prioridade” do governo do PMDB.
Nota-se. E a população também nota. Afinal, prioridade é palavra forte, bonita, mas só da boca para fora.
É lastimável que as lideranças políticas
que se sucedem no comanda da cidade continuem a usar as mesmas práticas
retóricas, discursos bonitos, e práticas iguais a seus antecessores. Este
governo atual se consagra no quesito abandono da cidade, pois carros, ônibus e
bicicletas afundam nos buracos das ruas; as praças e parques que ainda existiam
razoavelmente cuidados, hoje estão largados ao relento e esquecimento;
mobilidade urbana é miragem e outra peça de ficção na propaganda oficial, e
paro por aqui, pois faltaria espaço para elencar o atraso em que nos
encontramos.
Por tudo isso é que, contrariando os
puxa-sacos oficiais e os mal informados, continuo a
denunciar – e isso vale não só para Joinville – que ou a sociedade
definitivamente muda seu modo de agir na fiscalização, acompanhamento e cobranças
de suas lideranças políticas e empresariais (sim, está na hora de deixarem os
pobres subirem os degraus na escala social, pagando melhores salários e
distribuindo lucros), exigindo investimentos em cultura, esporte e lazer de
fato, ou continuaremos a ver cabeças rolando em sacolas, corpos em malas
jogados em rios, mortos perfurados com dezenas de tiros em frente às casas.
A violência se combate com educação,
cultura e lazer. Sem isso, a barbárie chegará também nas casas da elite, e aí
pode ser tarde demais para quem se horroriza pela tv, jornais e rádios. Nossa juventude está literalmente perdendo a cabeça no crime, como vemos em grandes centros, e nós estamos passivos observando o que virá adiante. Que rolem cabeças no poder político via uso do voto
popular e participação efetiva do povo na fiscalização, não mais nas ruas da
cidade que elegemos para morar, viver e criar filhos e netos.
É assim nas teias do poder...