Um grande preconceito, um péssimo design |
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
“Nunca dar o
peixe, mas ensinar a pescar”. Tenho uma birra com essa frase, porque é o slogan
de uma direita ignara, que a repete ad
nauseam e sem qualquer pudor. Mas fazia muito tempo que não lia ou ouvia essa
expressão com tanta frequência como nos últimos dias, desde que rolou o boato
sobre o fim do Bolsa Família.
É uma frase com
poderes mágicos para os caras da direita. Para começar, porque ficam com a
sensação de estarem a dizer algo inteligente. Também é um álibi para os que
rejeitam a solidariedade com os mais fracos. E, por fim, porque é um discurso pret-a-porter para atacar as ações
sociais do governo, como no caso do Bolsa Família.
A
frase feita é a muleta de uma direita que se recusa a pensar. Os processos
ideológicos (segundo Marx, ideologia é falsificação) assentam na poupança de
neurônios e numa fraseologia específica. A frase feita ajuda a explicar o mundo
de maneira simplória, com base em “verdades irrefutáveis” que dispensam
qualquer comprovação. Está dito, está dito... não se questiona.
Mas o que
os caras realmente querem dizer com “não dar o peixe”? Ora, é evidente: os
beneficiários do Bolsa Família são todos uns vagabundos que não querem
trabalhar e preferem viver às custas dos impostos da gente de bem. Ah... essa
fortuna de 134 reais é mesmo capaz de fazer uma pessoa não querer progredir na
vida. No dos outros é refresco...
Estigmatizar
a pobreza, lançando sobre ela o anátema da vagabundagem, mostra o quanto a
direita brasileira é atrasada. Tão atrasada que defende ideias do século 18,
como podemos ver no “Traité de la Police”, de Nicolas Delamare, onde se propunha a “vigilância
dos indivíduos perigosos, caça aos vagabundos e eventualmente aos mendigos,
perseguição dos criminosos”. Muito moderno.
“Ensinar
a pescar”? Até dava para levar a sério se o conselho não viesse de pessoas que
recusam qualquer ensinamento. Um reaça é o cara tem a oportunidade de aprender
e não aprende. Porque se aprendesse deixava de ser reaça. É o tipo de gente que
tem as portas das oportunidades abertas, mas prefere viver na anorexia
intelectual. E depois quer criminalizar pessoas que, nem de longe, têm as
mesmas oportunidades.
A direita é iletrada.
A direita é preconceituosa. A direita é atrasada. A direita espalha
intolerância e ignorância pelas redes sociais (viram a foto no começo do texto?).
E a direita tem representantes nos maiores meios de comunicação do país. É o
caso da mocinha do vídeo, uma representante típica dos reaças nacionais: gente
que é fraca com os fortes, mas gosta de ser forte com
os fracos.