terça-feira, 30 de abril de 2013

Órfãos, viúvas e carpideiras

POR JORDI CASTAN

É batata! Sempre que acaba um governo e entra outro  aparecem rebanhos de órfãos e viúvas do governo ou do partido que perdeu. Podem demorar mais ou menos, mas passado um tempo prudencial os seus lamentos tomam todo o espaço, seja nas redes sociais, seja nos jornais. Em qualquer meio disponível eles estão lá, com suas opiniões pontuais e críticas. O que não esteja sendo feito. O que podia estar sendo feito. E, principalmente, lembram todos os maravilhosos projetos e ideias que tiveram enquanto governo, mas não conseguiram implantar e não continuidade. É o que ocupa todo o mundinho dessa gente. E ainda falta espaço para conter os seus lamentos.

É uma choradeira tão grande que não lenços suficientes para enxaguar todas as lagrimas. E aí vem a visão das carpideiras. Estas profissionais do choro. Do grito desgarrado. Da dor feita alarido. Carpideiras que são mais bem pagas e reconhecidas quanto maiores e mais agudos os seus choros. Algumas chegam inclusive a  arrancar os cabelos para chamar a atenção.

No passado eram pagas pelo volume das lágrimas derramadas. E haja balde para conter tanta lágrima desconsolada. Para alguns desavisados pode parecer que há dor real, que o sentimento de perda é genuíno, mas não há que se deixar iludir pela gritaria ensurdecedora. As carpideiras são por definição mercenárias do choro. Profissionais da arte de representar a dor que não sentem. E nisso reside o mérito do seu profissionalismo, no fingimento, no histriônico da sua representação.

Não são poucos os órfãos e as viúvas que, sabendo perdida a eleição, afinaram a voz e se aproximaram dos quartéis do vencedor para buscar algum cargo. E renegando covardemente o senhor ao que até ontem serviram com fidelidade espúria. Na verdade, não serviram a outro que a si mesmos. Na ânsia de poder e necessidade de aparecer, alguns até atingem o cúmulo do dissimulo e da falsidade. O objetivo é serem reconduzidos de volta ao lugar que ocuparam por um tempo. Outros continuam firmemente agarrados às tetas lúbricas e fartas a que tão rapidamente se acostumaram e não conseguem sobreviver fora delas.

O mais curioso é o ar de ofendidos que assumem quando são identificados como órfãos ou viúvas de esta ou daquela administração. Este tipo de espécimes existe desde antes da Grécia antiga e continuarão a existir depois do PT ou de quem o venha a substituir. 

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Joinville, a vila do senso comum

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

Durante muitos anos eu fechei meus olhos para algumas situações que aconteciam em Joinville. Talvez pelo meu bairrismo, ou por falta de uma noção de totalidade, não admitia que Joinville era uma vila com tamanho de cidade média. Hoje percebo o quanto estive errado, pois, ao analisar a dinâmica social de nossa cidade, identifico que o senso comum domina, e o poder de crítica é extremamente combatido.

Tudo começa quando encontramos um sistema público de ensino deficitário, em todos os níveis. Por mais que tenhamos uma grande taxa de alfabetização, somos reféns de escolas interditadas e um plano pedagógico que ceifa a construção crítica de nossos jovens, submetendo-os apenas aos "desafios" de um tal mercado de trabalho. Os poucos que escapam desta lógica que forma, ao invés de construir conhecimento, esbarram na etapa seguinte: a desvalorização.

Como o mercado de trabalho (principalmente em Joinville, reduto ideal da lógica industrial) não valoriza a crítica, muitos saem de Joinville em busca de novos ares. Nosso amigo Zé Baço sempre nos alertou sobre isso aqui neste espaço. Os que por aqui permanecem não encontram uma Universidade (pública ou privada) que seja receptiva a este tipo de pessoas. A cidade é um harém do senso comum, reprodutora de todas as principais regras deste poder simbólico (resultante de vários interesses, principalmente econômicos) que domina, segrega e aliena. O cinza característico do cenário urbano industrializado é a mesma cor da produção intelectual.

O processo é cíclico e preocupante. A participação popular, de natureza essencialmente crítica, é anulada pela opressão ou pelo preconceito construído e propagado nos espaços acríticos da cidade. Desta forma, a cidade sempre será palco para alguns e espaço de plateia para quase todos. As coisas erradas acontecem diante de nossos olhos e a vila se resigna: segregação, preconceito, violência, mídia parcial, omissão do poder público, egoísmos, falta de alteridade e coletividade, acomodação... são algumas características do típico joinvilense.

É muito mais fácil criticar quem faz a crítica sem produzir um debate de ideias. O joinvilense (sem querer generalizar) é fanático pela crítica à conduta pessoal, e não pelas concepções de mundo do criticado. É só ver os comentários recentes em vários posts aqui do Chuva Ácida. O joinvilense adora ver e ser visto. Vive de aparências, de fetiches, de fábulas urbanas. É um bolha! (Me rendo, Felipe!) Não participa. É um dominado e gosta desta condição. Acredita em tudo o que vê na TV ou ouve no rádio. Vai na onda dos outros. Lota os shoppings nos fins de semana porque tem preguiça de cobrar do poder público grandes parques ou qualidade dos passeios urbanos (calçadas e demais vias). Troca de carro todo ano por status. Critica o transporte coletivo sem utilizá-lo. Faz faculdade para ter um diploma e não para adquirir conhecimento. Faz enormes festas de formatura e casamentos por pura aparência. Considera desenvolvimento urbano a mesma coisa que crescimento econômico. Tem medo do diferente e de quem pensa diferente de si.

Existem momentos em que tenho vergonha de ser joinvilense e dos passos desta cidade. Não sou adepto do "ame-a ou deixe-a", mas sim do "faça de tudo para mudar aquilo que não te agrada". É por isso que luto para não sair daqui em busca de outras oportunidades.

sábado, 27 de abril de 2013

Racista, homofóbico e agora chantagista?


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Deixei passar um tempo para ver o que rolava. Como nada aconteceu, agora retorno ao assunto. Esse pessoal da “esquerda” por vezes decepciona. E escrevo esquerda com aspas porque é um guarda-chuva onde muitos querem se abrigar de forma imerecida. Os caras andavam numa sanha onde só se falava em Marco Feliciano. Era Marco Feliciano para cá para cá, Marco Feliciano para lá, Marco Feliciano para acolá. Mas agora é só silêncio.

Tudo mudou quando o estafermo do pastor veio com aquela treta de impor uma condição para deixar a Comissão dos Direitos Humanos: os deputados João Paulo Cunha e José Genoíno, ambos do PT e condenados no processo do “mensalão”, tinham que abandonar a Comissão de Constituição e Justiça. Foi tiro e queda. A partir daí não se ouviu um pio sequer sobre o tema.

Era óbvio que deputado pastor estava a fazer uma ironia e não a propor uma negociatazinha, até porque estava garantido no cargo. Mas parece muita gente levou a chantagem a sério. Ou seja, em vez de juntar a palavra “chantagista” a “homofóbico” e “racista”, esse pessoal meteu o rabinho entre as pernas e silenciou. Um erro estratégico, porque parecia óbvio que se a contestação continuasse o cara não se aguentava no cargo.

Meus amigos, vamos separar as águas: uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. É mais do que óbvio que o deputado não tem perfil – e sequer qualidades deontológicas – para defender os direitos humanos. Tirá-lo de lá é uma guerra específica. A batalha para tirar José Genoíno e João Paulo da Comissão de Constituição e Justiça é outra e provavelmente terá outros interessados.

Ora, essa desmobilização não faz sentido. Há duas semanas o cara era o demo em forma de pastor e hoje está tudo bem? Ou será que as causas de internet não resistem a uns diazinhos? Ou podemos acreditar que a consistência política das pessoas não resiste a uma chantagenzinha despudorada? O cara continua lá. Vocês vão baixar os braços? Então não reclamem.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

O medo nosso (construído) de cada dia


POR FELIPE SILVEIRA

Não sei se a explosão que ocorreu durante a Maratona de Boston, na semana passada, foi um atentado terrorista praticado pelos dois jovens chechenos acusados ou um atentado terrorista armado pelo próprio governo estadunidense, como sugerem algumas teorias conspiratórias. Sei, contudo, que há muitas perguntas sem respostas sobre o caso e que precisam ser respondidas. Copio, abaixo, algumas feitas pelo jornalista Flávio Gomes (o texto completo pode ser lido aqui, e vale a pena):

"1. Onde está a tal SUV Mercedes que teria sido roubada pelos garotos da Chechênia? Quem é seu proprietário? Alguém falou com ele? Os meninos disseram ao dono, realmente, que eram os responsáveis pelas bombas? A troco de quê diriam isso? Numa cidade/região monitorada por câmeras a cada esquina, por que não apareceu nenhuma imagem desse carro sendo conduzido pelas ruas em fuga?
2. Os dois garotos, segundo as autoridades, foram perseguidos pela polícia. Houve tiroteio e granadas lançadas. Outras bombas atiradas. Sabemos o contingente que a polícia americana desloca para qualquer ocorrência. Como é que o menino de 19 anos conseguiu fugir ao cerco? A pé? Como assim? Se escondeu onde? Como é possível demorar tanto para encontrar um garoto de 19 anos que estava cercado pela polícia?
3. O que é que os meninos chechenos estavam fazendo no MIT na noite de quinta-feira? Por que é que não fugiram da cidade depois de explodirem as bombas? Terroristas de verdade ficariam batendo perna pela cidade onde cometeram seus atentados por qual motivo? Há alguma explicação para isso? Se você explodisse uma bomba nos EUA ficaria na cidade? Não teria um plano de fuga? Não sumiria? Por que atiraram num policial no campus? Não há imagens desse confronto no campus da universidade, monitorado por câmeras em todos os cantos?"

A indignação do Flávio Gomes é com esse tipo de jornalismo que não faz pergunta, que publica tudo que a autoridade diz, que compra a versão oficial. Versão que aprendemos que deve ser a primeira a ser questionada. No entanto, trouxe a questão aqui para o Chuva Ácida por outro motivo.

O que aconteceu em Boston após os atentados, com comemorações nas ruas após a morte de um dos suspeitos, é um sintoma de uma sociedade que vive com medo, em paranoia. Um medo alimentado dia a dia pelo sistema, pelo governo, pela mídia...

(Talvez valha lembrar aqui que medo é uma coisa que vende, seja sistema de segurança ou seguros de vida.)

Apesar de ter ido até Boston neste texto, a reflexão que quero fazer é sobre Joinville mesmo. Ainda estamos muito longe de viver nessa sociedade paranoica como a americana (principalmente depois de 11 de setembro de 2001), mas me parece muito claro que esse medo é construído é diariamente.

Quando um vereador diz que proibir o consumo de bebidas alcoólicas em espaços públicos “será um avanço social para a cidade” o medo de viver em sociedade é construído. Se uma proibição como essa for um avanço, eu tenho medo do que pode ser o retrocesso. E não se trata aqui de defender o próprio direito de beber, pois eu não lembro de ter feito isso em local público. Trata-se de entender que leis como essa inibem o encontro em público, a confraternização no parque, o uso da praça e da própria calçada. É a lógica de empurrar as pessoas para dentro de casa, onde não conversam, não questionam, não protestam. Vivem como indivíduos, e não como coletivos.

Sem contar, claro, do papel de “higienização” da cidade, desejado por muitos. Resolver o problema do mendigo ninguém, mas expulsá-lo para longe da vista interessa muito aos moradores do centro e dos bairros nobres (vocês não gostam do termo elite, né?).  E interessa, principalmente, ao mercado imobiliário, que precisa vender essa cidade "limpa".

Muros cada vez mais altos, câmeras de vigilância em todo lugar, violência na mídia, violência no trânsito, guarda municipal, blitzes surpresas da PM, proposta de redução da maioridade penal, abandono dos espaços públicos... São coisas como essas que vão, aos poucos, formando uma sociedade cada vez mais amedrontada. Gente que vive cada vez mais dentro de casa ou dentro do shopping (o local seguro por excelência, onde você pode comprar, comprar e comprar mais), que vive como indivíduo e não como coletivo.

Apesar disso tudo há muita gente na direção contrária. Mas essa é uma luta política e é preciso acordar para a vida e não aceitar tudo que nos é imposto pelo governo e pela mídia. Ou daqui estaremos todos trancafiados dentro de casa e aceitando tudo que o governo fala e a TV reproduz, como a história lá do começo do texto.

P.S.: Na semana passada eu reclamei das luzes apagadas do Parque da Cidade. A comunidade também reclamou bastante. Soube que houve esforço de alguns setores da Prefeitura para ligar novamente. Ontem as luzes estavam acesas, permitindo que a população pudesse usar o espaço. Obrigado e parabéns ao pessoal do governo que está atento e disposto a trabalhar por uma cidade melhor.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

As leis acompanham a cultura ou vice-versa?


POR FERNANDA M. POMPERMAIER

Uma das experiências mais difíceis da minha vida foi voltar a trabalhar depois da maternidade. 


A descoberta de si mesma como mãe, esse novo relacionamento, essa sensação de responsabilidade, de cuidar, esse amor sem limites, fazem com que reorganizemos as prioridades. E não estou querendo superestimar a experiência de ser mãe.  
Eu vejo que a maternidade é tratada de forma bastante deslumbrante  na mídia brasileira. Vê-se as propagandas de margarina, de produtos para bebês ou os finais felizes de quase 100% das comédias românticas. Sem contar a forte influência da igreja e a própria tradição passada por gerações. É difícil para muitos encarar com naturalidade as famílias compostas com outros arranjos: 2 pais, 2 mães, pais separados....enfim. Uma realidade diversa e crescente na sociedade. 
É possível visualizar a confusão mental de algumas pessoas quando escutam uma mulher afirmar que não deseja ter filhos, tão forte a lavagem cerebral pela qual passamos todos nas últimas décadas. Acreditamos que para alcançar a felicidade precisamos de papai, mamãe e filhinhos, de preferência 2, um menino e uma menina. 

Eu também comprei esse sonho da felicidade, por determinismo ou não, agora não dá de saber, fiz a escolha de ter um filho. Mas o que a propaganda não te conta é o choque de realidade que vem depois e apesar de todo o deslumbramento inicial, um pensamento recorrente era: por que eu fiz isso com a minha vida?! 
No sentido de que, até poucos dias antes se eu quisesse viajar, eu ia, se quisesse me separar, me separaria, se eu morresse, não tinha problema, ninguém dependia de mim. Claro que tudo isso ainda pode acontecer mas com as devidas adaptações e consequências. 
Não me entendam mal, é óbvio que eu amo a minha filha e não me arrependo. O que me pergunto é: será que noutra cultura eu teria feito a mesma escolha? Não há como saber. 

Com o tempo fui percebendo que eu não deveria encarar a maternidade como um impeditivo para nada. Uma criança é um ser humano em crescimento que merece as melhores condições para crescer de maneira saudável. Eu percebi que não fazia bem para a nossa relação desejar que ela se adaptasse à nossa rotina, mas sim, o contrário, e é por isso que, com ela aos 3 anos, eu ainda não voltei a trabalhar 100% do tempo. Felizmente, eu posso fazer essa escolha hoje de trabalhar apenas 60%, buscá-lá mais cedo do centro de ed.infantil e me oferecer nesse momento só para ela. 

Mas quantas mães/pais tem essa oportunidade ou até o desejo de adaptar sua rotina à criança? É necessário algumas concessões que nem todos estão dispostos a fazer, e apesar de saber que o centro de educação infantil é a melhor opção para a sua educação institucional, eu não abro mão de educar a minha própria filha com os nossos valores. E para isso é preciso tempo, disposição, criar oportunidades para longas e calmas conversas, descobertas e experiências. Sem pressa, sem o stress do dia-a-dia.
A verdade é que a experiência é gratificante mesmo. É felicidade pura, é aprendizado de todos os lados, é crescimento pessoal,  é muito amor. 

A Suécia já entendeu a importância desses momentos e oferece 1 ano e 4 meses de licença parental*, que podem ser divididas 1/2 a 1/2 entre os dois cuidadores. Cada um deve pegar no mínimo 90 dias. Essa é uma característica de muitos países com altos índices de qualidade de vida. E aí, aparece a questão de gênero, amplamente discutida na Suécia desde antes dos anos 70, e a ativa participação do pai. Os homens que hoje são pais aqui, já viram seus pais participando ativamente nas atividades da casa e educação dos filhos. É tudo muito natural para e as empresas/governo compreendem. Ninguém faz cara feia se o homem dia que vai pegar 6 meses de licença. 

Eu não sei se as leis mudam conforme as mudanças culturais ou se a cultura acaba mudando por causa de novas leis. 
Podem ser ambos. 
Mas que mensagem está passando um estado/empresa que oferece 5 dias de licença ao pai quando nasce um bebê e 4 meses, ou em alguns casos 6 meses, de licença para a mãe?

Está dizendo: pai, esse nascimento não tem nada a ver com você. 
Essa experiência é, no máximo, da mãe, e olhe lá, que 6 meses não é tanto assim.

O que é totalmente incompatível com a realidade. Conheço inúmeros homens que esperaram a vida inteira pela experiência de ser pai, e que, infelizmente não tem o amparo das leis, para passar por esse periodo com o mínimo de dignidade.
Incrível que sejamos um país que luta tanto pela família: nos moldes papai, mamãe e filhinho, e não priorizemos essa forma de funcionar da sociedade que oferece à criança o básico, a presença dos pais.

Não é fácil se adaptar ao fim da licença maternidade, mas é diferente quando a criança já tem 1 ano e 4 meses. Fica mais tranquilo educar os filhos quando se trabalha, no máximo, das 8h às 17h. E é muito mais agradável se dedicar à vida profissional quando se sabe que a criança está bem cuidada num centro de educação infantil** de qualidade e próximo de casa. 

Deveríamos poder contar com o suporte do estado para conseguir oferecer melhores experiências diárias às nossas crianças. 

*A licença é paga pelo estado e não pelo empregador.
** Existem na Suécia centros de educação infantil públicos e privados, ambos recebem o mesmo valor do estado por cada criança. Os pais também pagam uma mensalidade que varia conforme o salário dos dois e pode chegar a até no máximo 1250 coroas, o que significa aproximadamente 400 reais. O auxílio econômico do estado recebido pela família é de 1050 coroas para cada criança. Sem distinção entre famílias.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Ouvintes Anônimos do Gebaili (OAG)

POR JORDI CASTAN

Felipe Silveira escreveu, neste espaço, um post sobre a qualidade do jornalismo local. O seu texto questionava o tipo de jornalismo que se faz por aqui e alertava para o risco que representa este tipo de jornalismo. O texto era abrangente, envolvendo desde o jornal impresso aos programas de televisão locais e, inclusive, o rádio.

Confesso que mesmo não sendo uma área sobre a que tenha muito conhecimento, o texto do Felipe me instigou a me aprofundar no tema e fiz alguns descobrimentos que gostaria de compartilhar com vocês.

O primeiro é que bom jornalismo, ou simplesmente jornalismo, só pode ser feito com bons jornalistas. Há sim jornalistas bons, sérios e que não se prostituem. É injusto colocar a todos no mesmo saco. Se nos referimos à mídia impressa, facilmente consigo identificar mais de uma dezena dos que escrevem bem, são imparciais, têm alguma coisa para dizer e escutam os dois lados antes de publicar um texto. Estão nos jornais diários e os seus leitores sabem a quem estou a me referir.

Na TV local a coisa ficou bem pior, porque há claramente uma radialização da televisão. A maioria dos que não fazem mais do que ler notícias de jornal e releases no rádio, agora também o fazem na televisão. Importamos na televisão local os vícios e mazelas da rádio local, sem incorporar nenhuma das suas virtudes desse meio, que não são poucas. Ficamos, portanto, com o pior dos dois mundos.

Mas a grande descoberta nesta minha investigação, feita de forma completamente amadora, é que se há programas e principalmente profissionais ruins, chamá-los de jornalistas seria uma ofensa aos verdadeiros profissionais. Mas há publico e principalmente anunciantes para estes gigolôs das ondas. Por um lado, as emissoras de rádio e televisão têm assumido o papel de motéis, alugando espaço por hora. Entregam os seus horários mais nobres a estes bucaneiros da notícia, achacadores de anunciantes e, principalmente, deturpadores da verdade.

Quem forma opúblico que sustenta este modelo de jornalismo perverso? Sem público esta praga se extinguiria rapidamente e, ao contrário, vemos que viceja e prospera, sem traços que possa minguar e acabar no curto prazo. Um dos grupos que se formou recentemente em Joinville é o OAG (Ouvintes Anônimos do Gebaile) grupo de apoio aos que não podem deixar de escutar os programas de rádio ou de televisão destes profissionais.

O grupo, que se reúne numa conhecida casa de shows na zona sul da cidade, oferece apoio e ajuda psicológica aos que querem deixar de escutar este tipo de programas mas não tem a força de vontade para fazê-lo. O grupo tomou o nome de um conhecido formador de opinião que se converteu num dos maiores ícones deste tipo de programação - ainda que reúna também ouvintes de outros programas radiofônicos e televisivos. Conta com o apoio profissional do coletivo “Psicólogos sem Fronteiras” e do coletivo “Dependentes Compulsivos de Telelixo”.

O primeiro passo para superar a dependência é reconhecer que existe um problema. O psicólogo Sigmundo Fróide, um dos pioneiros no combate a este tipo de doença, declarou que: “o seu efeito é mais perverso que o da maioria das drogas conhecidas e o seu impacto negativo sobre a família e as relações pessoais é mais duradouro e as recaídas são frequentes.”

Graças ao apoio que os dependentes estão recebendo, da divulgação que está sendo feita e, principalmente, porque o tratamento passou a ser incluído nas doenças cobertas pelo SUS é cada dia maior o número de pessoas que admitem publicamente que ouvem ou vem estes programas. Por isso tem aumentado a participação nas reuniões dos grupos de auto-ajuda, que iniciam as reuniões dizendo: “Meu nome é Jordi e eu assisto ao Beto Gebaili”. 

A partir deste instante se abre uma porta para a esperança de uma cura, que será o resultado de um esforço longo e doloroso. Haverá alternância de crises de abstinência e momentos de lucidez. Superar esta situação difícil requerer o apoio da família, dos amigos e, principalmente, uma enorme força de vontade e de espírito de superação. A prova final para superar o vício é quando o dependente se apresenta na reunião dizendo: “Meu nome é Jordi e já li um gibi”

Futsal, esporte medíocre.

POR GABRIELA SCHIEWE

O Futsal, até pouco tempo Futebol de Salão, é um esportezinho praticado por uns atletas meia boca que resolveram ganhar um dinheirinho tocando uma bolinha.

Os caras vão lá, se reúnem, hoje até de maneira um pouco mais organizada a nível Brasil e disputam uma tal de Liga Nacional que as vezes até rola um joguinho mais ou menos.

E tem uns Mundiais que acontecem e olha que o Brasil até que leva jeito, ganhou vários já.

Mas a real é que é um esporte medíocre né gente, tanto que o Comitê Olímpico nem quer saber de Futsal entre as 5 argolas coloridas do Olimpo!

Ridículo, patético, gente um esporte que está em todo o tipo de mídia a todo instante, que a toda poderosa Globo se rendeu e transmite hoje tudo que é campeonato, Estaduais, Campeonatos preparatórios, Campeonatos Nacionais, Sul Americano, Mundiais, é mais do que óbvio que se trata de uns principais esportes do país na atualidade e que a cada dia a sua importância cresce, assim como a circulação de dinheiro nas negociações de atletas, premiações, patrocínios e tudo o mais.

O esporte vem a cada dia reunindo mais torcedores, apreciadores, apoiadores, mas o poder público sempre virando as costas, tanto que na maioria dos casos sequer há um local apropriado para se praticar o esporte, acabam jogando em quadras enjambradas.

Gente, assim como no futebol existem os gênios, no futsal também o há, mas sua genialidade é muito mais esbravadora vez que não basta só jogar, tem que remar muito na discricionariedade é que afeita ao Futsal, esse é Falcão.

E o que dizer da Confederação Brasileira de Futsal no seu mais manifesto coronealismo e que junto consigo mantem, da mesma forma o Superior Tribunal de Justiça Desportiva na linda, bela, magnífica mas muito distante Fortaleza. Seria isso proposital para que ninguém chegue perto do que ocorre nos seus anais? Poderia até chamar de cerceamento defesa, não? Um tribunal totalmente descentralizado e muito distante da sua maioria de participantes?

E será que alguém (políticos e dirigentes) consegue dar uma explicação plausível para esse esporte grandioso até hoje não ser olímpico?

As explicações é que são medíocres e não o futsal.

Quem está tendo o prazer de acompanhar os jogos da Liga Nacional, o que as equipes e atletas tem feito em quadra é simplesmente fantástico.

O que falar da segunda rodada da primeira fase, sim apenas o segundo jogo entre Krona x Intelli, pelo amor de Deus, foi de arrepiar, as duas equipes estavam ali como se fosse o jogo das suas vidas.

Falar que os atletas são meia boca seria o maior impropério, diante do que apresenta em quadra o jogador Leco da Krona, ele não mede esforços, vontade, corpo, nada pra levar a sua equipe a um resultado positivo. Quem viu ele se jogar no ar para impedir a trajetória da bola no jogo contra o Minas, não menos fantástico que contra a Intelli diria que ali está o verdadeiro espírito olímpico.

Mas esse espírito olímpico que muito tem faltado no esporte e pouco temos visto nas Olimpíadas faz parte de cada um que pratica esse esporte com muito amor, dedicação, afinco e na esperança de, quem sabe um dia, o espírito que se encontra em cada jogador transcenda aos montes do Olimpo.

O que dizer das Olimpíadas que serão realizadas no Brasil e o Futsal ficará na arquibancada torcendo por tantos outros esportes, muitos grandiosos como ele outros realmente medíocres e fazer com o que o espírito olímpico que corre nos seus sangues, serene!

Medíocre é você que não sabe o que é esporte!

terça-feira, 23 de abril de 2013

Fucking shit

POR ET BARTHES
O cara disse um tremendo "fucking shit" com o microfone aberto. Todo mundo ouviu. Inclusive o patrão, que demitiu o pobre rapaz. Justo ou injusto?


Araquari para quem? - Parte II

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

A cada dia que passa os interesses ficam mais difíceis de serem escondidos. Aos poucos eles são revelados pelos principais interessados. Como já alertado aqui, a cidade de Araquari irá sofrer nas próximas décadas com o interesse do grande capital, principalmente aquele articulado com negócios na área de desenvolvimento urbano. Recentemente foi divulgado na internet um vídeo de uma imobiliária com seus planos para a zona sul de Joinville e grande parte de Araquari. É sobre este vídeo que faremos a nossa análise de hoje.


Há, neste comercial, várias questões camufladas e que são pertinentes trazermos à tona:

Qual o motivo de uma imobiliária aparecer com um planejamento urbano "pronto", através de um grande projeto (que chega a ser assustador), sendo que a zona sul de Joinville não permite (ainda, para a felicidade de alguns) tais investimentos? E mais: a cidade de Araquari também tem suas normativas, que com certeza não contemplam as intervenções propostas. Para quê, então, anunciar intenções que vão contra a legislação vigente?

É justo que, esta imobiliária, assim como todas as outras interessadas em grandes projetos urbanos nesta região, mostrem seus grandes planos sem consultas prévias à população, como preconiza o Estatuto da Cidade? 

Para quê servem os planos diretores e outros tipos de planejamento urbano? Para referendar interesses "de ordem maior"? 

Os usos propostos contemplam as necessidades das pessoas que já moram em Araquari? Marinas, campos de golfe, grandes complexos industriais, anéis viários (engraçado o projeto não fazer menções a um sistema de transporte coletivo) e todas as outras regalias de um típico new urbanism, são, de fato, demandas sociais da atualidade daquela cidade? 

É notória a diferença entre planejamento urbano advindo do poder público e do privado, através de grandes consultorias. Enquanto o primeiro é fruto de um processo moroso, participativo (pelo menos em tese) e expressão fiel dos conflitos sociais e econômicos, o segundo é uma avalanche de ideias prontas e que sistematicamente parecem encaixar como a peça final de um quebra-cabeça. Qual modelo a região que contempla estas duas cidades irá adotar?

Há muitas perguntas e hipóteses surgindo rapidamente. Felizmente, os interesses não conseguem ficar à margem por muito tempo. Uma hora eles aparecem, do jeito que já está acontecendo. Para a zona sul de Joinville e Araquari eles estão cada vez mais claros: enriquecimento com a terra urbana (se não for urbana, a legislação muda para atender tal fator), ampliação do modelo de transporte que privilegia o automóvel, construção de grandes empreendimentos de luxo com a desculpa desenvolvimentista, segregar a população já existente em Araquari ao criar uma espécie de "velha Araquari", bem distante territorialmente da "nova Araquari", e a consolidação de situações que garantam a permanência destes investimentos transnacionais, bem como a atração de novos (já se fala em Land Rover, etc). 

Caso você, leitor, queira se informar mais sobre o assunto, basta abrir os jornais locais nas páginas de economia. É o assunto do momento. Entretanto, preciso dizer que é uma visão totalmente parcial da realidade, ou não?

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Na Suécia não tem babá de branco, nem de preto, nem de rosa...


Crianças de escola em Malmö saem para passear na cidade
em companhia das professoras
POR  SONIA MARIA DE CARVALHO
Suecos e suecas não são perfeitos. Nem o são sua sociedade, apesar da gente fantasiar que sim. É só dar uma olhada no número enorme de imigrantes, vindos de todas as partes do mundo, sobretudo da Ásia (e não pensemos apenas na Ásia Oriental, japoneses, chineses, coreanos etc, mas também a Meridional e no Oriente Médio) e de todo o leste euroupeu o qual executam grande parte dos trabalhos braçais ofertados no país. Suecos dificilmente aceitam trabalhos muito pesados ou de salário muito baixo e não é raro que se coloquem sob a guarda dos seguros desempregos até conseguirem o emprego desejado.

É bom lembrar o seguinte: a maior parte dos trabalhos braçais existentes no Brasil não existem ou normalmente ninguém paga para que outra pessoa os execute na Suécia. Alguns fatores são o alto desenvolvimento tecnológico do país, a super organização em quase todos as esferas sociais, o custo elevado para manter o salário, as taxas de contratação desses trabalhadores e a escassez deste tipo de serviço, já que podendo quase todo mundo optar* por estudar gratuitamente até a universidade há uma maior distribuição e arranjo para os mais variados tipos de empregos.

Isso quer dizer que não há uma massa enorme de pessoas trabalhando em serviços ditos braçais na Suécia porque não tiveram escolha. Há sim, mas a distribuição é equivalente a outros tipos de trabalhos. Dito tudo isso de forma bem geral espero ser um melhor compreendida com o tema, cujo título deste post incita.

Mesmo tendo nascido e vivido no Brasil quase a vida toda, dos quais cinco haviam sido na cidade de São Paulo, antes de me mudar para Malmö no sul da Suécia, ainda há um (sem exagero) espanto quando olho pela janela da sacada do meu prédio e vejo tantas babás cuidando das crianças todos os dias. Incluindo os fins de semana.

No Brasil, sobretudo em São Paulo e outras cidades grandes onde a vida é muito corrida, nos acostumamos a viver com o ritmo enlouquecido e exigente de trabalho. Além disso, o trânsito caótico não deixa que as famílias estejam em casa antes das oito, nove, dez da noite, então a saída tem sido sempre e cada vez mais (apesar das reclamações dos preços e escassez das empregadas domésticas e babás) contar com a ajuda de terceiros para o cuidado da casa e das crianças.

Isso você já sabia não é? Todo mundo sabe, todo mundo vê. É nossa realidade e não dá para mudar, diria alguém conformado com a situação. Sem contar que as empregadas agora tem situação que nem gente com faculdade tem! Diriam outros!

De fato parece-me mesmo que nós brasileiros não conseguimos enxergar outro modo de viver a vida senão assim. Somos tão fechados nessa única maneira de ter filhos, casa e trabalho que acreditamos viver o restante do mundo do mesmo jeito.

Na Suécia não tem babá? Não tem empregada doméstica? Então impossível! Como você conseguiu? Já me perguntaram muitas vezes.

Isso porque temos uma cultura do trabalhar é ser mais, trabalhar é ter mais. Temos também um desejo muito forte de "aproveitar a vida" por mais duro que isso possa parecer. Então sacrificamos os poucos anos da infância e da relação com os filhos em troca de uma vida social mais agitada.

Não à toa tenho encontrado babás (de branco) brincando com crianças em meu condomínio dia e noite. As babás da semana dão lugar para as babás do fim de semana. São folguistas as quais assumem os filhos dos meus vizinhos durante o tempo em que os pais querem descansar da árdua jornada da semana. Então eles entregam de novo os filhos para outras pessoas cuidarem.

Andando por cidades na Suécia, assim como em Malmö, você notará milhares de crianças pelas ruas. Não! Eles não são mais um país de velhos. Há uns vinte anos, diversas campanhas tem incentivado os casais a procriarem, o que incluiu nos últimos tempos licença parental (1 ano e 4 meses de licença para o casal, da qual cada um deve tirar no mínimo 3 meses), remunerada quase integralmte. Então, o "boom" de bebês que ainda está em alta tem colocado nas ruas bebês, crianças e... pais e mães com eles.

Em quatro anos vivendo na Suécia eu só encontrei, numa loja, uma mãe acompanhada da babá de suas crianças e elas (mãe e babá) eram brasileiras. Como eu a conhecia ela começou a falar comigo, enquanto deu ordem para a babá ir cuidar das meninas que tentava fugir. Assim, como se estivesse no Brasil.

A verdade é que se você pensar em contratar uma babá na Suécia precisará procurar muito por talvez uma estudante querendo algum dinheiro em horas vagas. Se conseguir essa maneira informal, no fundo proibida pelo governo, ainda assim você deverá pagar a ela por hora o que equivaleria a um salário de uns 5.000 reais por mês, ou seja, uns 40 reais por hora.Seguindo à risca o que manda o figurino do Estado Sueco é preciso contratar uma empresa de babás e elas lhe custarão pelo menos o dobro da primeira alternativa.

Sendo assim, babás são raridade. As crianças, depois de completado um ano de idade (antes disso praticamente não há outra saída a não ser estar em casa com pai ou mãe) vão diretamente para as escolinhas (as Förskola). Estas são quase 100% públicas e não deixam nada a desejar para a escolinha particular boa que tenho pago aqui em São Paulo para o Ângelo. A criança deve estar na escola se e somente se o pai e mãe estiverem trabalhando ou estudando. Caso contrário, deve estar com eles em casa.

A escola, na compreensão sueca, é o lugar, depois da família, mais adequado à educação infantil. Educação é um dos pilares de sua sociedade, sem ela eles simplesmente não se entendem como gente. E educação vem, primeiro, de uma família bem estruturada emocional, psicologica e financeiramente. Depois vem de uma educação formal na qual se aprende a conhecer-se a si mesmo através do mundo.

Então é muito compreensível que no Brasil tenhamos as babás para ajudar se a escola não é a melhor saída encontrada pela família. Talvez o que soe muito mal, coisa não entendida por tantos, é entregar a educação dos filhos quase total a outra pessoa que não quem a gerou.

Se alguém tiver babá na Suécia eu estou certíssima, como 1+1 são 2 de que você nunca deveria carregá-la a tira colo vestida de branco, como ontem eu cruzei com uma mãe na rua de casa. Como num déjà-vú de algo ao qual nunca vivenciei, mas li, ela ia ao lado da babá (de branco) a qual empurrava o carrinho do filho da madame.

Domingo de praia na Barra da Tijuca
no Rio de Janeiro e os bebês são
amamentados pelas... babás de branco


Talvez branco na babá, na Suécia, até passasse despercebido no começo, porque, branco é a cor da luz que invade os meses mais quentes. Entretanto, uniformes, marcas claras de que alguém que pertence a este grupo e não aquele são muito mal vistos pela sociedade sueca.

Ah! você ouviu dizer que os suecos são um povo preconceituoso também? Sim, há muitos. A enorme diferença é que se alguém se julgar superior a outro ele nunca, jamais em tempo algum poderá externar isso ao outro. Nem com gestos, nem com fala, nem com piadas (em casa, na rua ou em programinhas de TV). Nunca! Preconceito é crime e tentar ter uma sociedade igualitária é obrigação de todos.
Essas eram algumas das razões pelas quais os amigos e amigas suecos (e também outros europeus) não entendiam, não acreditavam quando eu narrava nossa realidade. E não compreendiam como nós brasileiros, nós paulistas podíamos viver uma vida a qual na verdade não vivíamos.

- Como? Mas eles não cuidam dos próprios filhos?
- O quê? As mães voltam ao trabalho depois de quatro meses?
- Como assim eles pagam babás nos fins de semana?

Essas eram perguntas não conformadas feitas por amigas minhas durante nossas conversas. Lá ninguém imagina que algo assim seja possível porque as mulheres com quem fiz amizade são filhas da nova geração sueca: elas aprenderam a conviver não só com o "babyboon" do país iniciado em meados dos anos 80 com as políticas às quais me referi de incentivo à paternidade e maternidade, mas também a viver numa sociedade cuja herança é senão a igualdade em todas as esferas ao menos o desejo dela e esforço cotidiano para que o seja.

Eu não diria que ter ou não babás seja um mal por excelência no Brasil. As realidades ainda são heterogêneas e não posso simplesmente querer a Suécia aqui, embora em tantos aspectos eu desejasse isso. Vejo, no entanto, um exagero tal como José Martins Filho, pediatra e professor da Unicamp, chama de terceirização das crianças brasileiras e uma inversão de valores que gera uma contradição entre pensamento e prática familiares muito grande: somos super partidários de compor famílias no esquema tradicional mãe, pai e filhos, mas tem-se a impressão de que muitas vezes desejamos tudo isso para ter o que expor no porta retrato, para não ficar para trás naquilo que esperam de nós.

Falta a uma massa gigante de mulheres e homens brasileiros compreender interiormente que ser pais e mães é mais do que conseguir um emprego para pagar-lhes a babá, a escola e brinquedos no final do mês. Ter filhos é comprometer-se não só com o futuro deles, mas também com o seu presente. E não se faz filhos saudáveis (em todos os sentidos do termo) sem dedicação.

Ao colocar filhos no mundo temos um compromisso com o próprio mundo, com a forma como nossos filhos lidarão com ele e com as pessoas. Ter filhos é uma questão ética e ter um país de primeiro mundo inclui muito mais do que ter garantidos direitos. Falta a nós brasileiros invejar da Suécia não os cabelos, os olhos loiros do povo sueco e entender como para estar no topo da lista dos países desenvolvidos é preciso deixar certas regalias e confortos de lado, é preciso acima de tudo saber cuidar das próximas gerações com zelo, educação e TEMPO.

* Cursar escola e universidade na Suécia é gratuito, não há concursos e a concorrência é tranquila. A dificuldade é na prova de proficiência da língua sueca, exigida para qualquer curso almejado. Essa é uma entrave à chegada de alguns imigrantes até a universidade. Para isso o governo sueco oferece cursos da língua gratuitamente em todas as cidades do país para quem estiver legalmente registrado.


Sônia Maria de Carvalho Pinto é doutora em Filosofia/Estética (2007) pela USP, com tese sobre Anita Malfatti. Estudou Filosofia na UNICAMP, onde também concluiu um mestrado em Sociologia da Cultura com tese sobre a crítica de Theodor W. Adorno à cultura moderna. É professora de Filosofia e Sociologia no Ensino Médio e lecionou Técnicas de Redação por 15 anos em Cursinhos. 

sábado, 20 de abril de 2013

Em defesa do bom jornalismo

POR AMANDA MIRANDA
Defender o bom jornalismo em um cenário em que qualquer indivíduo tem o direito de se intitular jornalista é, também, um dever de ofício. Porque é deste cenário que brotam profissionais controversos, que sob a proteção do direito de liberdade de expressão mascaram preconceitos, maldades e interesses pessoais.

Muito mais do que uma carta endereçada a um comunicador específico, este relato é uma defesa da profissão e dos profissionais que prezam pela ética, pela pluralidade e pela informação de interesse público. É, também, o reflexo de uma esperança muito pessoal de que anunciantes, leitores e jornalistas comecem a se voltar para os adeptos dessa "imprensa" com o olhar crítico que eles merecem. 

Deixo claro que essa não é uma defesa do diploma. É, sim, uma defesa da ética e dos princípios que norteiam a profissão.

Por cautela, deveria me manter calada.
Por ofício e por prezar minha profissão, decidi por meu discurso à prova.


Desde o início da semana venho mastigando e tentando digerir críticas que, mesmo não sendo feitas a mim, me atingem como jornalista e como ser humano. Me fazem questionar a razão de o mercado ainda reservar espaço para pseudo-profissionais e franco atiradores que só pensam no seu próprio interesse, embora o vendam como interesse público.


Eu pensei durante muito tempo que esse jornalismo ia morrer: ou porque iam matá-lo os bons profissionais ou porque ele próprio ia cometer suicídio, motivado por seus erros, seus desvios éticos, sua fragilidade técnica e seu indescritível zelo à politicagem e ao jogo de interesses.


Mas descobri que o mau "jornalismo" continua vivo e espera atingir alguma prosperidade. Em parte porque os anunciantes permitem, em parte porque os leitores permitem. Mas MUITO porque os jornalistas de verdade permitem (e aqui, não me entendam mal, não estou falando do diploma). Nós não deveríamos permitir que tantos equívocos se intitulassem como "a imprensa".


Meu recado agora vai direcionado ao "comunicador" e "editor-chefe" do Jornal da Cidade João Francisco da Silva.


João, eu gostaria de ter lhe escrito antes. Lá no ano passado, quando você ofendeu um amigo querido com as piores palavras possíveis. Quando você foi notícia em portais nacionais por seu discurso homofóbico e cruel. Mas silenciei e hoje me arrependo.
Que bom que nunca nos cruzamos em uma redação por aqui. Porque somos de escolas radicalmente opostas. O jornalismo em que eu acredito, o jornalismo que eu estudo e do qual me orgulho não ofende e não denigre, muito menos motivado por interesses pessoais.


O jornalismo que eu gosto e sei fazer é plural. E não só porque plural é uma palavra bonita, mas principalmente porque parto da certeza (sim, essa é uma das poucas certezas que tenho na profissão) de que, quando critico um cidadão, é indispensável ouvi-lo, citá-lo, assegurar a ele o direito de resposta.


O jornalismo que eu gosto e sei fazer é movido pelo interesse público e não pelo MEU interesse. Ora, não venha me dizer que suas críticas não são pessoais. Nem os ingênuos acreditariam que uma verdadeira e hostil perseguição a dois excelentes profissionais são motivadas por questões técnicas. Se fossem, você e alguns dos seus amigos não seriam os únicos a reclamar.


Por fim, gostaria de lhe dizer, lamentando muito, que o senhor desconhece totalmente o papel de um assessor de imprensa de órgão público. Lembro que a palavra PÚBLICO fala por si só. E que não é para o senhor e para nenhum dos seus amigos que um assessor de órgão público trabalha. É para a sociedade. E nesta sociedade, incluem-se os jornalistas que fazem o bom uso da informação, que buscam o contraponto, que constróem uma visão de um fato amparado em fontes, dados, observação. Desta sociedade, excluem-se profissionais que perseguem, que humilham, que oprimem, que chacotam e que vociferam arrogância, calúnia e má fé.


E se por algum motivo você quiser me incluir entre os seus perseguidos, fique bem à vontade. A justiça está aí para isso. Certamente não será nem o primeiro, nem o último processo que o senhor irá responder.


Amanda Miranda é jornalista e professora.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Padre distribui água benta com arma de brinquedo

ET BARTHES
A briga para conquistar fieis anda acirrada. E este padre mexicano não deixa por menos. Tem a batina com super-heróis, como o Batman ou Superman, e distribui a água benta com uma pistola de brinquedo. A reportagem é em inglês, mas as imagens explicam tudo...


Um sinalzinho, por favor


POR FELIPE SILVEIRA

Udo, o aprovado, governa Joinville como prometeu. Com certa, digamos, firmeza. Corta aqui, cancela ali, fecha aquela outra coisa, demora pra nomear aqui, aperta lá... Ao mesmo tempo, porém, sinto falta de ver pelo menos alguns sinais de outras promessas de campanha, principalmente nas áreas da cultura, da mobilidade, do esporte e do lazer.

Uma dessas promessas, por exemplo, foi feita pelo vice-prefeito Rodrigo Coelho, ainda durante a campanha, sobre a gestão no campo da cultura, no qual ele acumula a função de presidente da Fundação Municipal de Cultura (FCJ). Comprometeu-se, à época, que o Conselho Municipal de Políticas Culturais seria protagonista da gestão, com base no Plano Municipal de Cultura. Não é isso que se vê, baseado em relatos (diversos) de conselheiros sobre reuniões convocadas às pressas pela fundação e coordenadas de forma leviana. O resultado de atitudes como essas aparecem na forma de diminuição de verba do Simdec sem o devido diálogo com o setor. O que não surpreende, já que, me parece, pelo menos, que a gestão está mais preocupada “obras” vistosas, mais chamativas, como a reabertura do Museu da Bicicleta. Tenho minhas dúvidas sobre como essa visão de cultura contribui de fato para o desenvolvimento da cultura em Joinville.

Para citar um exemplo do tipo de sinalização que eu gostaria de ver, sugiro a leitura deste post do site "Vá de bike”. É uma entrevista com o novo secretário de transportes da cidade de São Paulo, Jilmar Tatto, do governo petista de Fernando Haddad. Entre os planos do governo para a área estão a construção de 150 km de ciclovias, o estímulo ao compartilhamento das ruas, a redução de velocidade dos automóveis, a integração com terminais de transporte público e um sistema de aluguel de bikes que pretende colocar 50 mil magrelas nas ruas de Sampa.

O que São Paulo está fazendo? Está simplesmente copiando os bons exemplos de cidades como Copenhague, Amsterdam, Portland, Londres e Barcelona, entre muitas outras. Está, simplesmente, adotando práticas que atacam a causa do problema do trânsito caótico (para quem ainda não sabe, a priorização do automóvel individual como meio de transporte). Em Joinville ainda estamos pensando (poder público, entidades de classe, empresários e classe média sofredora) que a solução é a abertura e o alargamento de vias, como a duplicação de avenidas e construção de elevados.

Para finalizar, tenho uma reclamação pessoal. Costumo jogar basquete no Parque da Cidade e muitas vezes faço isso depois das dez, após as aulas. Pra minha surpresa, pela primeira vez cheguei no parque e encontrei as luzes dos postes apagadas (foto), o que prejudicou muito o treino. Talvez tenha sido um fato isolado e as luzes voltem a estar acesas amanhã, mas isso me leva a outra reclamação que é constante neste meu espaço do Chuva Ácida: onde estão os outros espaços de lazer e prática esportiva desta cidade? Onde mais eu poderia jogar basquete ou vôlei ou outra coisa? Não sou funcionário de nenhuma empresa com recreativa e, portanto, não posso usar o espaço dos trabalhadores destas empresas. Quais são as opções dos outros cidadãos?

Perguntar não custa nada, né? Enquanto isso, fico por aqui, no aguardo de novas sinalizações.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

O assustador momento da explosão em Boston

POR ET BARTHES
Um corredor que participava da Maratona de Boston captou a imagem da explosão da bomba. Se visto no vídeo e sabendo o que vai acontecer é assustador... imagine na hora.


A decadência do futebol brasileiro.

POR GABRIELA SCHIEWE

O que está acontecendo com o futebol brasileiro?

Estamos vendo, e já não é de agora, que o futebol brasileiro, no todo está em decadência.

A Seleção Brasileira não joga bem e também não obtém os resultados, despencou no ranking da FIFA, não consegue ganhar de nenhuma Seleção do primeiro escalão, os resultados positivos ocorrem apenas sobre seleções mais fracas.

Hoje fica evidente que a Seleção está sentada na sua história, mas isso não é suficiente, o que vem se provando no dia a dia.

No entanto, o problema não está apenas na Seleção, pois vemos que os clubes também se encontram em plena decadência.

Hoje, tirando o Corinthians que se destaca sobre os demais (não sei se por que os demais estão ruins demais ou se é realmente bom, acredito na segunda hipótese) e o Atlético-MG (da gosto de ver seus jogos, no entanto até hoje não se mostrou um time de chegada, espero que dessa vez seja diferente), os "grandes" times do Brasil mostram um futebol pífio, veja São Paulo, Santos, Flamengo, Inter...e por aí vai.

Regionalizando o assunto, o que falar do Campeonato Catarinense, é ridículo, qualidade péssima, nivelado muito por baixo, JEC correndo riscos muito reais de sequer participar do quadrangular final.

E por que as coisas estão assim? Gente jogador é o que não falta, temos muitos jogadores e dos bons espalhados pelo Brasil e fora do país também. No entanto esse problema não surgiu agora. E, no meu ver, está diretamente de encontro a má gestão na administração de clubes e CBF.

Dirigentes que só pensavam em abarrotar seus próprios bolsos, fazendo negociações e parcerias inexplicáveis e muito, mas muito estranhas. Inevitavelmente que uma hora a bomba iria explodir e é exatamente o que estamos vivendo agora.

Enquanto o amadorismo imperar e a ladroagem fizer parte da gestão do futebol no Brasil não veremos luz no fim do túnel. Os "caciques" do futebol estão o tornando decadente, assim como ocorre na nossa política. São sempre os mesmos no poder e cada vez as coisas pioram mais e mais.

O povo precisa entender isso e por mais que sejam apaixonados pelos seus times, chegou o momento do luto, de virar as costas, pois eles precisam do torcedor, seja no estádio, seja assistindo pela TV e, se esse público deixar de existir, vai começar a doer no bolso e só assim entenderão que precisam gerir de maneira séria e profissional, do contrário o barco continuará afundando.

E aí molhados, vocês concordam que o futebol está em decadência no Brasil? Estou louca, exagerando? E aí!?