segunda-feira, 22 de julho de 2013

Os grafites não resolverão o problema da antiga prefeitura

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

A discussão que ganhou as redes sociais na última semana sobre os grafites na antiga prefeitura, rende muitas polêmicas e modos de enxergar a cidade, e também o patrimônio histórico e cultural. Aquela intervenção de grafite na antiga prefeitura (como mostra a foto abaixo), não me agradou, por um único motivo: ali não era local para este tipo de manifestação artística, e sim de uma grande obra de restauro de toda a estrutura do prédio.

Foto: Paulo Henrique Silveira/facebook
Não que eu seja contra os grafites, muito pelo contrário. Os grafites presentes na praça das águas são espetaculares, da mesma forma como este feito na antiga prefeitura. Acontece que um patrimônio histórico tombado não pode sofrer este tipo de descaracterização. Para quem não lembra, este prédio já abrigou uma concessionária da montadora de automóveis Ford, a rodoviária de Joinville, e de de 1974 a 1996 foi a sede administrativa da prefeitura, simbolizando toda a inversão espacial da economia joinvilense (da Estação Ferroviária para a Zona Industrial). Hoje abriga uma espécie de almoxarifado da gestão municipal.

Projeto Joinville Secreta


Existe, por outro lado, o argumento de que é melhor fazer esta intervenção do que deixar o prédio abandonado, com o qual não consigo concordar. Se é para intervir, que seja em um projeto de restauração, nos moldes da legislação referente à recuperação de imóveis tombados pela Fundação Cultural. O grafite neste prédio soa um pouco como "band-aid" (sem contar a agressão ao contexto histórico do local) e tem um "prazo de validade", encobrindo o que realmente necessita ser feito. Vale lembrar que os problemas estruturais e de subaproveitamento do local continuarão existindo após a finalização desta manifestação artística. O prédio do antigo fórum que o diga...

As últimas três gestões tentaram definir um novo uso (e uma conseqüente recuperação da estrutura) para este prédio, mas sem sucesso. Aparentemente a gestão Udo Dohler também procura alternativas, mas não pode ficar apenas na fachada, literalmente. Um teatro, um museu, um centro cultural... várias ideias surgiram nos debates da última semana. Felizmente, independente da ideia sobre o grafite, todos querem que a antiga prefeitura ressurja como um espaço para o uso coletivo, sem cair no poço da humilhação e esquecimento por parte do poder público.

23 comentários:

  1. ..."Um teatro, um museu, um centro cultural"...

    Cada um com suas prioridades...

    O Correto ali seria um HOSPITAL!!!

    NelsonJoi@bol.com.br

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    1. Bem pensado. Poderia ser até um PA 24 mais equipado, com uma boa equipe de médicos. E claro, o prédio deveria ter sido restaurado.

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  2. concordo com Você, enquanto o atual prefeito fala em redução de custos de aluguéis pagos pela prefeitura, este espaço esta sub-utilizado. Quantos serviços poderiam ser instalados ali, já que o espaço é bem amplo.
    Sobre a utilização do espaço como centro cultural, acho mais adequado que a "cidadela antartica" seja utilizada e conservada para este fim, mas creio que logo vamos ver alguns grafites por lá para esconder a má conservação. Não sou contra o grafite, muito pelo contrário, mas não se pode usar esta arte para encobrir as marcas da má conservação. Alguem sabe a autoria dos desenhos? as obras ficaram lindas a tela é que precisaria estar em melhor estado.

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  3. O problema é o “tombamento histórico” – o mesmo tombamento que minou a construção de um estádio novo (e mais barato) no lugar daquela estrutura degradante que é a do Maracanã. O mesmo vale para o Mineirão. Tombamento que impede o desmonte e o remonte da ponte Hercílio Luz, que faz a obra de restauração encarecer ainda mais. Tombamento da baía de Guanabara (vejam só!) que impediu a construção de um túnel submerso nas águas da baía, obrigando a construção de outro embaixo da perimetral (encarecendo muito mais a obra). Sorte e bom senso têm os ingleses que não pensaram duas vezes em demolir Wimblendon. Quanto aquele prédio da antiga prefeitura: demolição ou restauração. Os grafites são um tipo de restauração, além do mais, onde tem grafite não tem pichação.

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    1. Parabéns Marcos.

      Sua explicação está melhor que o artigo do Charles...

      NelsonJoi@bol.com.br

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    2. Metade da Europa é Patrimônio Histórico preservado e o sujeito vem aqui dizer que o problema é o "tombamento histórico" usando a Inglaterra, com suas dezenas de castelos medievais, como exemplo.

      Problema mesmo é não ter o mínimo de noção na hora de digitar bobagem.

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    3. O pior é comparar um monumento medieval, como um castelo, com um estádio construído em 1908. Sabichão!

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    4. Lição básica de história, Marcos: o Brasil (e não estou aqui a contabilizar o período pré-cabralino) tem pouco mais de 500 anos de história. Nosso patrimônio histórico é mais recente e não temos castelos medievais pela simples razão de...

      Bom, deixa pra lá. Vai lá defender a construção de estacionamento, vai.

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    5. Acontece que os historiadores brasileiros (aqueles que administram o IPHAN, por exemplo) não têm a menor noção de engenharia, e de arquitetura eles só conhecem as fachadas. Daí eles vêm com ideias ridículas de manter uma estrutura comprometida simplesmente porque foi construída no início do século. Dinheiro para manutenção ou auxílio ao proprietário do imóvel não tem, então acontecem acidentes como aquela marquise que desabou de um casarão no centro da cidade anos atrás. Simplesmente “tombar” um imóvel é fácil, mas quando é para bancar a manutenção o proprietário que se fod@!

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    6. Desculpe, Marcos, mas o IPHAN não é "administrado" por historiadores. Sua atual, presidenta, por ex.:, é uma arquiteta. O Conselho Consultivo é composto por representantes de nove entidades - a Anpuh (Associação Nacional de História), registre-se, não é uma delas.

      Claro que há historiadores entre os profissionais que atuam no IPHAN. Mas o órgão não é - não é, entendeu? - uma entidade de historiadores, muito menos um órgão 'administrado' por historiadores.

      Aliás, tudo isso - o que é o IPHAN, para que serve, como atua, quem faz parte, etc... - está disponível na internet.

      Da próxima vez, sugiro usar o Mr. Google antes de opinar sobre algum assunto sério que você desconhece.

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  4. Parabéns pelo artigo Charles. Simplesmente perfeito.

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    1. Charles não consegue esconder seu conservadorismo, apesar da "crosta social"

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  5. Os administradores e planejadores urbanos no Brasil, via de regra, tem uma dificuldade com planejamento e preservação. São sempre extremos: ou se promove um bota abaixo e se constroi no lugar um estacionamento (coisa que o Marcos ali em cima certamente aprovaria), ou se confunde preservação com inutilização.

    É possível tombar e preservar dando ao patrimônio alguma utilidade pública. Mas, claro, isso exige planejamento, o que só se faz com vontade política aliada à competência. Faltam ambas, na maioria das vezes. As prefeituras estão repletas de Marcos da vida.

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    1. Falta planejamento ou falta $$$? Porque se planejamento consiste e tombar imóveis de torto a direito, tem de sobra.

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    2. Boa Clóvis!

      Só acho que o primeiro comentário do Marcos não invalida a sua opinião.

      Penso até que juntando um pouco das duas opiniões chegaríamos a um resultado de excelência sobre o tema.

      Até por que reconstruir, também seria uma forma de preservar.

      NelsonJoi@bol.com.br

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  6. Quando o poder público permite "Grrafitar" um patrimônio histórico tombado, é sinal que tão cedo não haverá uma restauração e um uso adequado. By Àcido

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  7. Em Joinville, o "não sou contra o grafite, muito pelo contrário" é uma releitura do "não sou homofóbico, até tenho amigo gay". Centro cultural? Mas pra quê? Joinvilense aprecia cultura? Hospital pra quê? Se não dão conta nem dos que existem, darão de mais um? Parece que faltou compreender uma característica do grafite (reiteradas vezes tão admirado pelos que não são contra ele) que é justamente chamar a atenção, despertar as pessoas para os espaços urbanos e seus problemas - e funcionou. Não fosse por isso veríamos o grafite numa galeria, ou, quem sabe, no Museu de Arte, caso ele funcionasse em Joinville. Ou numa daquelas salas dos fundos da Cidadela Antarctica como a atual exposição do Juarez Machado. Ah, sim, o ITTRAN ocupa a maior parte da cidadela porque... por que mesmo? Vai ver é porque não se sabe o que fazer com tanto espaço para arte e cultura em Joinville. Está tombado e em uso, como afirma o autor, ou seja, situação muito melhor do que a Casa da Cultura e do próprio Museu de Arte. Casa da Cultura, lugar essencial para a formação dos jovens da cidade, espaço de riqueza incomensurável, sendo ignorado. Ou o Museu Fritz Alt, não sei se alguém conhece, abandonado caindo aos pedaços, sujeita a roubos. Enquanto o grafite faz o seu trabalho (e temporário, como foi frisado, por isso não é descaracterização alguma do imóvel) tem quem prefere bradar contra - quem não faz nada não deveria prejudicar quem faz. A cidade não defende seus bens culturais e históricos, vide o mercado público, já bastante descaracterizado e hoje insistem em transformá-lo num grande bar. Se transformarem o prédio em questão num bar ou boatezinha da moda como os da Visconde, será amplamente aplaudido. Por aqui fazem sucesso as indústrias, os bares onde as pessoas vão para verem e serem vistas e os shoppings.

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    1. Olha que fazer um posto de saúde no mercado público não seria uma má ideia....

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    2. Por mim, como integrante do movimento hip hop, colocaria grafite na fachada de todas as instituições públicas, então concordo com a Fahya.

      Na subprefeitura do Vila Nova, pintaram as paredes que eram cheias de pixações, e já está novamente como antes. Enquanto a calçada, que foi destruída pela Águas de Joinville quando passaram o saneamento, até hoje não arrumaram.

      Se o prefeito vai ou não dar uso futuro e mais adequado com a parte interna já é outra coisa que infelizmente só pode ser mudado na próxima eleição, e provavelmente se nos organizarmos em prol dessas soluções até lá, porque só votar não tem funcionado.

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  8. Bom, eu ainda acho que o atual prefeito vai ter que comer muito arroz com feijão pra chegar aos pés do antigo no que se refere à incapacidade de gestão. Alguém aí lembra alguma obra relevante ou melhoramento nas áreas da saúde, educação e segurança da antiga gestão? Eu não. Na metade do segundo ano talvez eu morda minha língua, até lá prefiro manter meu voto no Udo.

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    1. Claro, claro...

      Fechar postos de saúde é um exemplo de gestão.

      Deve ser porque tá faltando dinheiro de impostos que os empresários de "mãos limpas" desviam de instituições beneficentes.

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  9. Enquanto decidem o que fazer com o prédio, nada mais justo dar um colorido nele.

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