sexta-feira, 5 de julho de 2013

Vamos pular catraca!

FELIPE SILVEIRA

Sim, é um convite mesmo. Vamos pular a catraca, aquela mesma do terminal e do ônibus. A catraca que representa a opressão, a exclusão e a negação dos nossos direitos.

Pular catraca é um ato de desobediência civil. E os defensores da cidade ordeira e trabalhadora vão ter um troço agora, mas é isso mesmo que este texto vai defender.

Vamos inverter a ordem dessa cidade ordeira, porque ela está errada e nos afeta direta e diariamente, pois nos impede de estudar, nos impede de ir no Parque da Cidade para praticar esportes ou no Parque das Águas para aproveitar uma tarde de domingo, nos impede de ir ao cinema e ao teatro e nos impede de visitar a família e os amigos.

Pular a catraca é um ataque direto ao lucro das empresas de transporte coletivo (não é público da maneira que é) que operam em Joinville graças a uma permissão, vá lá, meio estranha dada pelos amigos no poder.

Pular a catraca é mais ou menos a mesma coisa que Thoreau fez ao se recusar a pagar impostos para o governo americano por não aceitar o Estado escravagista e a guerra. A ideia foi defendida no ensaio "A desobediência civil", publicado em 1849, e dá nome à prática diversas vezes aplicadas na história da humanidade. Talvez a mais conhecida delas tenha sido feita por Mahatma Gandhi, que inspirou os povos sul-africano e indiano a não aceitar imposições dos governos e a opressão e exploração dos poderosos.

A desobediência civil também foi emblemática na luta pelos direitos civis nos Estados Unidos, nos anos 1960. Em uma sociedade extremamente segregacionista, quatro jovens negros decidiram sentar no lugar destinado aos brancos em uma lanchonete da Carolina do Norte, mobilizando milhares de opressores de um lado e outros milhares de solidários de outro. Ou quando Rosa Parks, em 1955, foi presa por se recusar a dar seu lugar aos brancos no ônibus, conforme determinava a lei na cidade de Montgomery, no estado do Alabama. A ação levou a um grande boicote ao sistema de transporte, que por sua vez levou a mudança na lei segregacionista.

Quem participou das manifestações pelo transporte verdadeiramente público em Joinville pode participar de grandes "catracaços", quando os terminais (duas vezes o central e uma vez o norte) foram ocupados pelos manifestantes na luta pelo direito de todos. Também há relatos de uma galera que tem pulado as catracas nas últimas semanas, desde que a luta se intensificou. É a Tarifa Zero acontecendo.

Eu comemoro e incentivo, pois sempre insisti que a primeira coisa a se fazer ao discutir transporte público e mobilidade é entender que o transporte é um direito de todos. Depois vamos discutir como fazer, e há proposta séria sobre isso. O que não dá pra levar a sério é a defesa do lucro exorbitante das empresas e o enriquecimento de duas famílias em cima da exploração do povo.

Já passou da hora de meter o pé e arrancar a catraca da exclusão (é o meu termo preferido para essa joça, e eu o ouvi nas manifestações do MPL que pude participar) de nossas vidas. A desobediência civil, que tantas vitórias já conquistou, é um pulo importante nesta luta. Pulem as catracas!

(ao sujeito que sugeriu esse texto, um autêntico pulador de catraca desde sempre, muito obrigado)

31 comentários:

  1. Quer pagar quanto pelo transporte, Felipe? Quanto você acha que custa se deslocar da Zona Sul para Zona Norte de Joinville? Prefere que o transporte público em Joinville seja gratuito com os custos de manutenção distribuídos no IPTU? Eu gostaria de entender melhor essa sua sugestão de “pular a catraca”?

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    1. Eu tô falando de pular a catraca mesmo. Derrubar o sistema.

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  2. Sabe, Felipe esses nossos governantes vivem arrotando "democracia", mas se nós tomarmos a decisão de pular a catraca desse sistema podre e falso, teremos a ditadura de volta, pois na verdade o que ocorre é uma liberdade vigiada e se ultrapassar o limite DELES, o bicho pega....queria muito ver uma pulada geral de catraca e esses governantes realmente sem controle.

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  3. por que não fazer um boicote, por exemplo o uso da bicicleta?
    O necessário é que a licitação seja feita. O prefeito de Curitiba esta estudando uma maneira de se não tornar livre, mas que seja com preço irrisório.
    Não acho a proposta de passe libre para estudante correta. Se for para ser livre para um grupo que seja por baixa renda familiar.

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    1. Campos dos Goytacases - norte do Rio de Janeiro - passagem urbana é R$ 1,00 há quatro anos

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    2. Ilhota, Santa Catarina, passagem da balsa para atravessar o rio que corta a cidade é gratuita.

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  4. Que tal avaliar outro ponto de vista?
    Se pularmos a catraca as empresas usarão as defesas jurídicas e argumentarão contra o povo. E ainda coore o risco de cobrar do municipio uma indenização de perdas e danos.
    E se nós parassemos de usar onibus por uma semana .... zero. Buzão vazio rodando pela cidade. Ninguém usa por uma semana. Como vc lembrou Gandhi .... vamos de "a pé" moto, bike, carro carona, sei lá. Derruba os cara no que mais dói ---zera o faturamento. Nem o subsidio poderia ser cobrado da prefeitura visto que não haveria contagem de passageiros.
    Pensa bem ..... uma semana só

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    1. É o ideal.
      Mas como conseguir tamanha mobilização?

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    2. Caro Diego .... o MPL somado ao pedala joinville conseguiu uma baita mobilização. Se usar argumentos utópicos, não rola nada .... mas se começarmos a apresentar argumentos solidos, documentos bem didaticos e calculos que justifiquem a implantação da tarifa zero, não vejo por que não conseguir. Acredito que primeiro tenhamos que estudar a detalhadamente a planilha de custos e os contratos da concessão.
      tive vendo uns calculos aproximados feitos web adentro que me fizeram mudar minha objeção inicial (pré-conceito, né?)
      Se juntarmos uma truma pra trabalhar nisso acho que conseguimos formular algo. Não garanto, mas acho que a Univille e o OSJ abraçam essa causa ....

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  5. Que tal avaliar outro ponto de vista?
    Se pularmos a catraca as empresas usarão as defesas jurídicas e argumentarão contra o povo. E ainda coore o risco de cobrar do municipio uma indenização de perdas e danos.
    E se nós parassemos de usar onibus por uma semana .... zero. Buzão vazio rodando pela cidade. Ninguém usa por uma semana. Como vc lembrou Gandhi .... vamos de "a pé" moto, bike, carro carona, sei lá. Derruba os cara no que mais dói ---zera o faturamento. Nem o subsidio poderia ser cobrado da prefeitura visto que não haveria contagem de passageiros.
    Pensa bem ..... uma semana só

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  6. acho que a rosa parks pagou pela passagem.
    tenho tb duas sugestões para derrubar o sistema.
    1 vamo limpar as margens do cachoeira! cada um pega uma enxada, um carrinho, limpa tudo e em protesto joga o lixo na frente das empresas que poluem o rio!!!!! vamo limpar o cachoeira!!! por uma vida sem catracas!!!!

    2 pq não lutamos pelo computador de graça para toda população tb? contra o lucro exorbitante dos fabricantes de computadores!!! aí a gente pode tb, em protesto, nunca mais acessar a internet e nem comprar computadores. os fabricantes vão sentir no bolso. vamo derrubar o sistema!!!! por uma vida sem catracas!!!!

    a gente pode parar tb de tomar uma cervejinha pq ela gera um lucro exorbitante, parar de comprar comida pq ela gera lucro exorbitante, dormir em cama, o fabricantes de cama tb tem um lucro exorbitante!!!vamo dormir no chão!!!!!!!!!! por uma vida sem catracas!!!!!!!!

    ô felipe, não é melhor comprar um bicicleta não?

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    1. O quê?????
      Deixar de tomar aquela cervejinha? Nada disso. Vamos organizar o MCG! Movimento pela Cerveja Gratis.

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    2. A gente pode também criar um movimento contra o anonimato. É tremendamente injusto o cara escrever besteira e ficar tudo por isso mesmo, porque não tem coragem de dizer o nome.

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    3. Vei, Caetano tem algo a dizer pra você:

      "Cara, como você é burro."

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    4. beleza, o cara quer "derrubar o sistema" pulando catraca e sou eu que falo bobagem. vai ver são as referências: "ler" chauí e caetano dá nisso. quanto ao movimento contra o anonimato não precisa, é só vocês desabilitarem essa opção.

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  7. Existiria algum sistema de cotas para gordos como eu que não tem vigor físico nem vontade de executar este esforço contorcionista?

    Como ficaria esta proposta na Alemanha onde trens e onibus urbanos não possuem catraca e a população civilizadamente paga individual e diretamente o transporte?

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    1. somos incivilizados e curtimos essa condição. hahaha
      maikon k

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    2. Desista meu caro Dirk.
      Ele nunca vai entender...

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    3. Hahahahahhaa. Boa.

      Sobre a Alemanha, eu não sei, porque não vivo na Alemanha. Não sei como é a exclusão lá, e não vou dizer que não existe, mas eles estão bem mais avançados do que a gente em muitos aspectos, e talvez isso se reflita no transporte.

      Meu texto é uma defesa à desobediência civil que está sendo praticada contra esse sistema que considero opressor. Na Alemanha eu não tô sabendo qual é a luta. Mas gostaria de saber.

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    4. Pois é, você fala em pular a catraca em Jville. e o cara vem com Alemanha?! Nestas horas faz falta uma noçãozinha básica de geografia.

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    5. Thoreau, Mahatma Gandhi e Rosa Parks diriam o mesmo.

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    6. Putz, os caras não entendem a relação entre Joinville e o transporte urbano na Alemanha. Vou tentar desenhar:

      Alemanha = transporte eficiente = sem catracas = o povo paga pela manutenção do sistema
      Joinville = transporte eficiente = com catracas = o povo paga pela manutenção do sistema

      A diferença entre os dois casos?
      O alemão tem consciência de sua responsabilidade como cidadão, ele sabe que o “almoço” não é gratuito e a continuidade e expansão do sistema de transporte da sua cidade depende do valor pago nos caixas, independente do controle de acesso ao ônibus/trem/metrô/VLT.

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    7. A diferença não está na consciência do alemão, mas na eficiência do transporte público. Dizer que Jville. tem um transporte público eficiente é no mínimo nonsense.

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    8. Aposto que o Clóvis faz uso diário do transporte público de Jlle... A propósito, o que falta para o transporte público de Jlle ser eficiente, caro Clóvis?

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    9. Eu faço o uso Marcos. Eu posso responder ?
      Maikon K

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    10. É preciso ser muito, mas muito obtuso, para usar um argumento tão burro quanto o do Marcos: eu não moro na Alemanha, mas sei que o transporte público de lá é eficiente. Por que? Porque sou bem informado e não acho que meu umbigo é o centro do mundo.

      Sobre Joinville? Que tal um preço justo - e olha que eu nem estou a falar de gratuidade? E quebrar de vez o monopólio em uma cidade que já conta com mais de 500 mil habitantes e sustenta a vergonhosa condição de ter apenas duas empresas (que na prática funcionam como uma) responsáveis pelo transporte público? Que tal ônibus circulando de madrugada - e, por favor, não tente me convencer apelando ao Madrugadão, porque até sua obtusidade deve ter um limite? Que tal mais linhas e horários, para evitar a superlotação - cliente que paga ter de andar apertado e a pé, só onde o transporte público é, além de ineficiente, desonesto e desumano?

      Seria um bom começo para começarmos a falar de eficiência, não é mesmo? E olha que eu nem sou especialista no assunto e apesar de ter sido usuário durante mais de duas décadas, já não uso o transporte público joinvilense há anos.

      Tenho certeza que o Maikon terá muito mais a acrescentar.

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    11. É que às vezes tenho que usar de argumentos idiotas para atingir certas pessoas que se acham a última bolacha do pacote de tão inteligente que pensam que são. O transporte urbano de Joinville é sim eficiente, dentro do que se propõe: os horários são condizentes, as estações funcionam, os ônibus são novos, existem poltronas para gestantes e idosos e os horários, bem como as linhas, atendem os funcionários das empresas, inclusive de madrugada. Digo isso porque, ao contrário de você, sou usuário. Quanto ao monopólio das duas empresas, culpem os contratos com a PMJ. Agora, sr. Sabichão e demais descontentes, se querem mais linhas e horários, continuem a incentivar pular a catraca com essa idéia estapafúrdia de transporte gratuito.

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    12. Obrigado, Marcos Bogo Harger. Sua inteligência iluminou meu dia.

      Tenho certeza que sua opinião interessa a muita gente, particularmente os que lucram, e muito, com um transporte caro e ineficiente como o oferecido em Joinville.

      Os proprietários agradecem. Já os usuários, não garanto.

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    13. Transporte eficiente é colocar 200 pessoas onde deveriam viajar 70? Quanto tempo preciso esperar por um ônibus? E ainda andar bastante até um ponto porque moro longe das vias? Vamos pular as catracas.
      Silvio Cunha

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  8. Eu acredito que a população paga muito caro por todos os outros serviços e produtos que, por conta dos impostos exorbitantes, deixam menos dinheiro reservado para o transporte. Hoje, todo mundo que tem carteira assinada paga, no máximo, 6% do seu salário em transporte. O resto da conta é bancada pelos empregadores. Eles que deveriam ir pra rua, já que pagam a maior parte da despesa.
    Joinville não é a Alemanha, longe disso, mas possui um sistema moderno, integrado, com ônibus novos, catracas eletrônicas e motoristas treinados. Tentem andar de ônibus na cidade mais rica do Brasil (São Paulo) e depois me digam o que acharam.
    Claro que vão haver horários de pico, pois o sistema tem que manter as linhas deficitárias funcionando, com ônibus vazios e em localidades com poucos usuário, por conta de sua utilidade pública. Mas muitas pessoas preferem chegar em casa 30 minutos mais cedo num ônibus apertado do que esperar uma meia hora a mais e chegar em casa com mais conforto.
    É difícil conciliar tantos interesses e necessidades díspares, mas no final das contas, mas o transporte público não é o verdadeiro vilão. Mas é uma entidade mais fácil de atacar, já que é de uso geral e limitada a poucas empresas. Mais fácil de focar o ódio.
    A comida está cara, a saúde está cara, a educação está cara, o lazer está caro...
    Culpa das empresas de transporte?
    Derrubem essa presidente de meia pataca que temos hoje e comecemos uma verdadeira reforma fiscal, tributária e política.
    O governo do "mais do mesmo" já esgotou a paciência.

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  9. ..Excelente texto, não dá pra viver de joelhos..

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