Há uma clara falta de visões estratégicas de longo curso na administração das cidades.
É óbvio que o foco da administração municipal deve estar no transporte, na saúde, na educação ou mesmo nas tarefas mais simples, como tapar os buracos das ruas. Mas é inescapável: uma cidade deve ser governada tanto por métodos políticos quanto empresariais. E um administrador tem a obrigação de saber que toda boa gestão é feita de ações táticas e ações estratégicas.
Os movimentos táticos
– a administração das infra-estruturas e do cotidiano – exigem rigor, bom-senso
e seriedade. Já os planos estratégicos pedem inventividade, ousadia e visão de
futuro. Ou seja, é essencial projetar a cidade para as próximas duas, três
décadas ou mais. E para isso é preciso resistir à tentação de governar apenas
com os olhos nas eleições.
É um contexto que
torna incontornável uma discussão sobre a “marca Joinville”. Mas vamos
esclarecer: a marca em questão não é um selo para colar nos produtos fabricados na
cidade ou o apoio a modalidades esportivas de peso nacional, como aparece no
plano de governo da atual administração. É muito mais.
MAIS DO QUE UM SLOGAN – Desenvolver
uma marca-cidade exige um exercício sério de branding, que vai muito além de um slogan e um logotipo. Aliás, o
fato de Joinville ter tido uma sucessão de slogans ao longo dos tempos é a
prova dessa precariedade estratégica. O objetivo deve passar por criar
percepções, introduzir valores e conquistar um território na mente das pessoas,
de dentro e de fora da cidade.
O leitor pode perguntar: há razões
objetivas para investir numa marca? Sim. A marca-cidade é um ativo
estratégico que ajuda a atrair
investimentos, impulsionar as trocas comerciais, incrementar o turismo ou mesmo
captar a atenção da mídia (por boas razões, claro). E também porque numa
economia cada vez mais aberta, uma marca forte será sempre um diferencial
competitivo.
A MARCA-PAÍS – É uma
tendência crescente nas últimas décadas. A globalização tornou os mercados
muito mais concorridos e isso obrigou os países a pensarem em marcas fortes e
diferenciadoras. Hoje em dia, avaliar um país enquanto marca é um fator cada
vez mais relevante para os analistas.
O próprio Brasil tem
desenvolvido esforços nesse sentido. Fruto de algumas ações recentes, tem
estado sempre próximo dos 20 países com as marcas mais fortes no turismo, por
exemplo (há quem questione a eficácia dos investimentos). A estabilidade e o
crescimento econômico no período do governo Lula ajudou a melhorar a percepção
do país no exterior.
Um dos casos
exemplares é o da Espanha, que investiu na sua marca e em poucos anos passou de
uma sociedade quase feudal – herança do franquismo – para um país que atrai
turistas, investimentos significativos e tem um forte intercâmbio cultural.
Hoje nuestros hermanos ocupam um saúdavel
12º lugar entre as marcas-país mais valiosas do planeta, segundo pesquisa
recente da Anholt Nation Brands Index.
O mesmo instituto
aponta Reino Unido, Alemanha, Canadá, França, Suíça, Austrália, Suécia, Itália,
Japão e EUA como as 10 nações com as marcas-país mais influentes à escala
planetária.
(continua amanhã)
* Texto publicado há quatro anos no jornal A Notícia mas que, na opinião do autor, ainda permanece válido.
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