POR FILIPE FERRARI
Sou contra o aborto, pois sou cristão, e acredito na dignidade humana acima de tudo.
Porém, o mais importante e fundamental: eu não engravido.
Além disso, eu não sei quando a vida “começa” (e nisso, me sinto confortável, pois quem soube até agora determinar?). É na fecundação? Depois de três meses? Com as memórias? Sistema nervoso? Tudo isso parece tão insuficiente!
Eu não sou o Estado de Direito.
Eu não sei quantas mulheres abortam por não poderem abrir mão de um emprego sem registro que sustenta a família.
Eu não sei quantas mulheres abortam porque a família jamais aceitaria uma gravidez sem planejamento, pois seus pais religiosos não suportariam “a vergonha”.
Eu não sei quantas mulheres foram irresponsáveis na relação sexual e engravidaram.
Eu, simplesmente, não sei.
Eu sei que eu sou contra o aborto, e sou um cidadão ativo dentro de um sistema político, econômico e social.
Tem quem diga “não com o meu dinheiro!”. Por favor, é de vida que falamos, não de um shopping.
Sei que se defende a vida, mas não se defende a mulher pobre que, por quaisquer que sejam seus motivos, morre na mão de açougueiros clandestinos. Que aceita os traumas psicológicos sem acompanhamento. Que, na maioria das vezes, está perdida e sozinha.
Sei que mulheres ricas fazem aborto em clínicas clandestinas com médicos de CRM’s antigos, consolidados e de nome, prenome e sobrenome. Ou na Flórida, e na volta essas mulheres trazem IPhone sem pagar imposto. Que podem ter quaisquer acompanhamentos posteriores, pois o dinheiro paga.
Esse é o Brasil. O dinheiro compra a moralidade, compra o acompanhamento, compra a dignidade.
O dia que uma amiga, conhecida ou parente me procurar e disser “quero abortar”, eu tentarei de todas as formas racionais demovê-la da ideia. Se sua última palavra ainda for “quero abortar”, a ajudo a procurar o melhor lugar possível. De preferência, legalizado e com amparo médico-psicológico.
Afinal, sou cristão, e acima de tudo, a dignidade humana.