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quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Horário político-eleitoral é sinal de atraso

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
O horário político é importante para levar as ideias dos políticos aos eleitores. Mas a influência excessiva da televisão é mau sinal, porque aponta para uma certa iliteracia política dos eleitores. Nunca é demais repetir que a relevância exagerada da televisão é um fator típico das sociedades culturalmente mais atrasadas. Aliás, ela exerce o papel que décadas atrás foi do rádio, usado para comunicar com os que não sabiam ler.

O modelo precisa evoluir. Porque, como sabemos, o tempo de antena dos partidos nanicos virou moeda de troca e fator de corrupção. O financiamento das campanhas é uma zona sombria que, quase sempre, deixa os políticos amarrados a interesses econômicos. E o dinheiro das campanhas poderia ter um uso mais digno, ao contrário do que acontece hoje: mostrar candidatos embrulhados no papel de sabonete mais bonito.

Se a educação – formal, cívica, experiencial – não for efetivamente democratizada, o país ficará refém da incapacidade que muitos têm de ler o mundo. E a iliteracia política é uma ameaça para a democracia. Aliás, é importante salientar que em muitos países desenvolvidos onde há horário político, ele praticamente passa despercebido. É a comunicação social a mediar a relação políticos-eleitores, marcando a agenda midiática.

Há outra razão de fundo. A humanidade caminha a passos firmes para uma “sociedade das telinhas”, com a informação centrada nos computadores, tablets, smartphones e outros dispositivos móveis. É preciso projetar o futuro a olhar para a exclusão-inclusão digital. No Brasil, o crescimento tem sido interessante nos últimos tempos, mas 46% dos lares ainda estão desconectados (54% entre as famílias com renda entre um e dois salários mínimos).

O futuro imediato pede uma reforma política e, por consequência, uma mudança no modelo de horário político. Porque se o resultado de uma eleição pode ser definido pela propaganda política e pela força da televisão, isso significa que a sociedade – e a própria democracia – ainda tem muito que avançar. Quer dizer, o horário político é sinal de atraso.

É a dança da chuva.

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Eu escolhi esperar
















POR FILIPE FERRARI


O assunto dessa semana nas redes sociais foi o famigerado teste da Fátima Bernardes de escolher salvar a vida de um policial levemente ferido, ou de um traficante em estado grave. Pouparei fazer qualquer crítica ao programa, já que este atingiu seu objetivo: estar sendo comentado no maior número de mídias possíveis. A polêmica é sempre a melhor forma de propaganda. 

O que chama a atenção nesse processo é a reação das pessoas, prontas a montar campanhas ferozes, dizendo que escolhem o policial com placas, hashtags, vídeos do Bolsolouco. Já outras, correram compartilhas memes e imagens de Jesus e o centurião que o torturava, perguntando se salvariam o criminoso ou o agente do Estado (essa, devo admitir, eu gostei por conta da inteligência e da subjetividade, pois muitos que defendiam que o traficante deveria morrer eram “cristãos”). 

Não vou entrar aqui na discussão inútil que é salvar alguém levemente ferido ou alguém correndo risco de morte. Para isso, o juramento de Hipócrates já nos esclarece o que deve fazer o médico: “Não permitirei que considerações de religião, nacionalidade, raça, partido político, ou posição social se interponham entre o meu dever e o meu Doente”. Não vou nem mesmo entrar no circo midiático que é a questão da guerra civil proporcionada pelo tráfico e pela Polícia Militar, colocando pobres e praças no centro de um conflito absurdo, sendo eles as principais vítimas da chamada “opinião pública”. 

Pessoas se comportam e abraçam causas de uma maneira apaixonada, última, como se realmente tivessem condições e aptidão mental e social para fazer uma escolha como essa. Estudantes de medicina passam por duas ou três cadeiras de ética médica, onde as discussões circulam por entre filósofos, teólogos e sociólogos acerca da dignidade humana, da condição do ser, da efemeridade versus a importância da vida. E as pessoas achando que tem poder de escolha. Mesmo que as pessoas pudessem escolher, quem disse que elas tem tal capacidade? Tem gente que escolhe pastor ruim, cônjuge ruim, time ruim, partido ruim. 

Aliás, tudo hoje se solidifica em duas possibilidades, que nos coloca contra a parede e nos obriga a ter escolhas, apoiar lados, vejamos só: 

- Salvar o traficante ou o policial?; 
- Dilma ou Aécio?; 
- Trump ou Hillary?; 
- Binário da Santos Dumont ou duplicação?; 
- Jean Willys ou Bolsonaro?; 
- Comunismo ou capitalismo?; 
- Escola sem Partido ou Doutrinação Marxista?; 
- Golpe ou democracia?; 
- Bruna Marquezine ou Camila Queiroz? (esse, era o debate de alguns alunos meus ontem). 

A bem da verdade é que 99,8% da população mundial jamais terá realmente qualquer oportunidade de realmente ter poder de escolha sobre algum desses itens. E mesmo que tivesse, é necessário entender que o mundo não é binário, existindo uma miríade de possibilidades que se fazem presentes no dia a dia. 

Eu, que tenho dificuldades sumárias em tomar decisão, e que patino quando tenho que escolher entre vinho e cerveja (essa mistura não rola), e estou diante de uma polêmica como essa, tento a decisão mais sábia possível: eu escolho esperar.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

O blablablá na terra de Luluf e Malula

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Dizem que uma imagem vale por mil palavras. Mas foi diferente na semana passada: a foto em que Lula e Maluf trocavam um aperto de mãos provocou ataques verborrágicos que pareciam não ter fim. Foi um tremendo blablablá.


E ficaram evidentes duas formas de ver as coisas: uma muito emocional, outra nada racional. A primeira reação mais emocional foi do pessoal da direita vociferante, que não perdeu tempo em apontar o dedo a contradições. Falou-se muito em falta de ética e que o PT havia sido contaminado pela imagem pestilenta de Maluf.

Até aí tudo bem, porque os caras até tinham motivos. Mas o fato é que esse pessoal não estava disposto a discutir ideias. A intenção era apenas fazer barulho e acusar o PT de ter tropeçado na ética. Aliás, nada dá mais prazer à direitona braba que encontrar motivos éticos para desancar o PT. Foi o gáudio.

Na outra trincheira emocional estavam os petistas mais sectários, que não se importam com a aliança. Maluf?  Ora, se for para vencer a direita valem até pactos com o diabo. Ah... e entre os petistas havia também aqueles que gostam de posar de vestais e acham inadmissível serem vistos ao lado de Maluf. Aliás, são os mesmos quem em 2002 criticaram Lula por ter feito composições estranhas para chegar ao poder. O problema é que depois eles ficam sempre caladinhos e coniventes.

O QUE NÃO SEI DISCUTIU - Houve pouca racionalidade. A coisa ficou no oba-oba e ninguém se deu ao trabalho de discutir o que é efetivamente essencial. Para começar, vamos aos fatos: Lula apenas se antecipou a Serra, que também insinuava um namoro com Paulo Maluf. O partido do senhor “rouba mas faz” era o mais desejado. Lula só foi mais rápido no aperto de mão.

Tudo aconteceu porque tanto PT quanto PSDB estavam interessados em mais minutos de televisão. E, ao que parece, a conquista de mais tempo na telinha justifica todas as insanidades políticas. É o tipo de coisa que só pode acontecer em lugares onde a democracia ainda está a engatinhar.

Quando o horário na televisão é fator definidor de eleições, a própria democracia está sob fogo. Um regime democrático não pode conviver com distorções pouco democráticas, como o poder do horário de televisão. Porque estamos a falar de governar pessoas e não de vender sabonetes. Aliás, não conheço nenhum país desenvolvido onde o horário televisivo seja tão importante para definir os seus governantes.

Há algo de podre no reino da democracia brasileira. E de factóide em factóide, perde-se a oportunidade de discutir o que realmente importa: uma verdadeira reforma política. Aliás, vale salientar, a reforma não interessa a qualquer dos players atuais do xadrez político. Nem à esquerda e nem à direita, até porque na atual situação é difícil distinguir uns dos outros. Fica evidente que são todos conservadores, porque acham que o modelo está bem e não querem mudar.

EM JOINVILLE? - A questão da televisão vale também para Joinville. Porque há verdadeiras inexpressividades políticas que ganham peso de negociação em tempo de eleições. Não porque tenham representatividade política, mas porque representam tempo de televisão. O resultado é que verdadeiros nadas passam a ter protagonismo. E, lá como cá, algumas coligações acabam sendo autênticos bordeis ideológicos.


As democracias a sério não se fazem assim.