segunda-feira, 24 de junho de 2013

A rua NÃO é a maior arquibancada do Brasil

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

Ao contrário do que muitos podem pensar, a rua não é a maior arquibancada do Brasil. O comercial de uma montadora de automóveis que diz "vem pra rua porque a rua é a maior arquibancada do Brasil", utilizando-se da música do grupo "O Rappa", apenas transfigura e esconde uma realidade vista por nós, brasileiros, todos os dias. Talvez influenciados por estas intervenções na grande mídia, e também pelo espírito de torcedor inflamado com a Copa das Confederações, muitos levaram a ideia de arquibancada para as últimas caminhadas passivas (travestidas de manifestações), as quais ainda acontecem por todo o país. Necessitamos desconstruir esta lógica e mostrar que a rua é o maior palco do Brasil.

Antes de continuarmos, faz-se necessária a disposição do significado da palavra arquibancada e da palavra palco:


arquibancada
sf (arqui+bancada) 1 Bancada principal. 2 Série de assentos dispostos em fileiras, em diversos planos, empregados em estádios e circos, para acomodar, com boa visibilidade, grande quantidade de espectadores.

palco
sm (ital palco) 1 Estrado, tablado. 2 Lugar, no teatro, onde os atores representam. 3 Lugar onde sucede algo dramático, impressionante ou solene; cenário.


Em qualquer espetáculo, seja ele de qual ordem for, temos "os que fazem a coisa acontecer" e "os que assistem à coisa acontecendo". No futebol, por exemplo, a arquibancada acompanha os 22 jogadores correrem atrás da bola, respeitando regras pré-estabelecidas, conduzidas por juízes. Só assiste à coisa acontecer. Quando o jogo acaba, o resultado não muda e o torcedor que está na arquibancada é obrigado a aceitar pacificamente ordeiramente passivamente aquilo que aconteceu no palco, pois a sua função é apenas assistir e dar apoio moral, gritando, xingando, levando cartazes, etc. Levando isto em consideração, não podemos ir para a rua com a lógica da arquibancada.

Precisamos entender que a rua é o espaço para fazermos as transformações que queremos. Na rua como palco, somos os jogadores, decidimos sobre tudo e construímos a nossa vida. É nela que as desigualdades sociais tornam-se evidentes (e por muitas vezes fechamos os olhos). O mais desastroso nisso tudo é que as pessoas que foram para as ruas nas últimas semanas, em sua grande maioria, não acostumadas a encarar a rua como palco e como aquelas "que fazem a coisa acontecer", levaram todo o sentimento que possuíam da arquibancada consigo. É notório que o palco se tornou lugar de movimentos difusos, nacionalistas ao extremo (do jeito que o pensamento ditatorial adora), com palavras de ordem motivacionais como "o gigante acordou", e pedindo pra alterar aquele jogador que supostamente não estaria bem na partida, só porque o comentarista pediu para tirar (vide o "Fora Dilma"). Ao final das partidas, torcedores reclamam dos seus times, dizendo que "está tudo errado" e que "tudo" precisa ser mudado.

Por outro lado, a rua precisa ser o espaço das manifestações fortes, pontuais, e que visem acabar com as desigualdades provenientes das mais diversas ordens. A rua, no fim das contas, não deve ser espaço de "um bando de desocupados" para ser um "espaço democrático". A rua deve ser um "lugar de todos", e não apenas "lugar dos automóveis". Muito menos o lugar de comemorações. A rua é o cenário para afirmarmos aquilo que queremos ser enquanto sociedade.

sábado, 22 de junho de 2013

Melhor comentário da semana







...o que será instalado é um crematório, não uma churrascaria de carne humana. Você já viu um crematório em funcionamento? Não tem nada de fumaça saindo, não é uma fornalha onde jogam um cadáver no fogo e fica um tiozão vestido de gaúcho cuidando do assado... Informe-se melhor sobre o assunto, não caia nas balelas emitidas pelo senso comum. em Momentos filosóficos dos leitores

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Ocupar as ruas não é crime!


POR CLÓVIS GRUNER

Diverti-me nestes dias de ruas ocupadas a imaginar o que diriam nossa mídia e formadores de opinião dos 150 colonos que, numa noite de dezembro de 1773, disfarçados de índios, lançaram ao mar quilos de chá trazidos da Inglaterra, depois que um decreto real tornou obrigatório seu consumo e proibiu a produção interna. A maioria os acusaria de vândalos: nossos veículos reclamariam os privilégios da coroa inglesa, e como fazem mal jornalismo, acusariam logo os índios; Arnaldo Jabor enfatizaria, teatralmente, que se tratavam apenas de “saquinhos de chá”, para depois pedir desculpas pelo erro: os baderneiros, afinal, não eram índios. E não faltariam os comentários anônimos no Chuva Ácida, a defender furiosamente que os militares britânicos acertassem tiros na testa dos bárbaros, fossem índios ou colonos.

Claro, pouco importa se aqueles poucos insurgentes estivessem dando, se não o primeiro, mas um passo decisivo no processo que culminaria, dali a três anos, com a independência dos Estados Unidos. Querem proclamar a independência? Proclamem-na, mas em fila indiana, mantendo a ordem e com respeito à propriedade. “Peraí!”, reclamarão logo os defensores da História com “H” maiúsculo, “então justo você, historiador, está a comparar Thomas Jeferson com estudantes levando vinagre na mochila, a independência americana com as manifestações de rua no Brasil?”. Sim e não. Não porque os contextos são outros e uma análise madura precisaria levar em conta suas especificidades. Além disso, ainda não sabemos o que será e esperar da movimentação das últimas semanas, ao passo que conhecemos o fim da história da Revolução Americana.

Por outro lado, se incorro no pecado do anacronismo, o faço movido por uma boa razão. Há um elemento comum entre o Boston Tea Party e a movimentação das últimas semanas: os colonos americanos não sabiam (assim como os insurgentes da Primavera dos Povos, em 1848; os operários do ABC, no final dos anos 1970; ou os jovens tunisianos em 2010, entre outros exemplos), e não podiam saber, que suas ações teriam repercussões para além do imaginado e desejado. Eles desconheciam que em parte graças ao seu gesto, a história trilharia outros e imprevisíveis itinerários. Já se falou muito sobre as mobilizações. Do que li, uma das mais lúcidas análises foi publicada pelo jornal espanhol El País. Não pretendo retomá-la aqui ipsis litteris, mas esboçar algumas considerações, certamente provisórias, a partir de inquietações surgidas na esteira das manifestações.

O passe livre é possível? – Não estou inteiramente seguro disso, embora me incline a achar que sim. Há estudos e experiências, inclusive em cidades brasileiras, que respondem positivamente a pergunta. Há outros a afirmar o contrário. Na segunda-feira, dois líderes do MPL paulistano compareceram ao programa Roda Viva. Além de expor a fragilidade intelectual e política de nossos jornalistas, a entrevista serviu para desfazer alguns mal entendidos e reforçar o caráter engajado e lúcido da movimentação: mesmo que, pontualmente, a reivindicação seja pela revogação dos aumentos nas tarifas do transporte público (o que já foi feito, de maneira oportunista, em Joinville, e nesta semana em São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba), a luta é mais ampla. Porque em jogo estão alguns direitos fundamentais, entre eles a humanização das cidades, a mobilidade urbana e a ocupação do espaço público. E garantir o acesso ao transporte público é condição fundamental ao exercício destes direitos.

O gigante acordou? – Não, porque nunca estivemos adormecidos. A estratégia de descaracterizar e despolitizar a movimentação foi o coringa dos grupos conservadores – e eu falo dos governos, da mídia, seus colunistas e muitos de seus leitores – quando a estratégia de criminalização não funcionou. Trocando em miúdos: depois que a violência policial, elogiada pelo governador Geraldo Alckmin, negligenciada pelo prefeito Fernando Haddad e incentivada por editoriais, colunistas e blogueiros, mostrou-se um tiro no pé, os mesmos que autorizaram e legitimaram o uso da força trataram rapidamente de tentar pautar o movimento, atribuindo-lhe outros sentidos e significados. E como se não bastasse ver gente como Reinaldo Azevedo, Merval Pereira, Arnaldo Jabor e Felipe Pondé ridiculamente tentando tornar-se os porta vozes da indignação, eles o fazem ignorando nossa história, mesmo a mais recente. Nunca fomos um “povo pacífico” – e a lista de revoltas, rebeliões e movimentos insurgentes, desde os tempos de colônia portuguesa, estão aí a atestar isso –, e não deixamos de ocupar as ruas e os campos do país. Mesmo o MPL não apareceu do nada: ele foi criado em 2005, e somou forças a outras movimentações sociais, urbanas e rurais, tais como os Sem Terra e Sem Teto, as marchas das vadias, os movimentos LGBT e negro, etc... Tampouco é novidade a violência policial: ela é rotina nas periferias do país, principalmente. Somos nós que não a vemos.

E agora? – A mais inquietante e mais difícil das perguntas. Justamente porque é um fenômeno novo, é difícil dizer com clareza para onde ele vai. Não vai mudar o país, não como talvez esperam alguns: no final da passeata, não nos aguarda a revolução. E no momento é isto o que mais me emociona e estimula. Atravessando a movimentação, como alguma coisa incontrolável e certamente não planejada, está um discurso que tensiona não apenas as velhas maneiras de pensar e fazer política, mas também as formas tradicionais de liderança, as velhas mídias, nossa ainda frágil democracia, nosso regime representativo, a crescente neutralização, se não o esvaziamento, do espaço público, etc... É óbvio que um movimento em grande parte espontâneo e difuso, acabaria por atrair gente de interesses e demandas igualmente difusos. É também uma estratégia da direita ampliar as reivindicações para desviar a atenção do que é realmente importante, transformando as manifestações em uma versão inchada da tentativa patética de indignação que foi o “Cansei”. Não me espanta ver os logradouros tomados por reacionários e conservadores. Espanta-me, sim, ver e ler gente de esquerda com medo das ruas. A pluralidade faz parte da democracia e ela é inevitável. Se quisermos ver as ruas ocupadas preferencialmente pelas demandas da esquerda – e de uma esquerda libertária, não alinhada a partidos e governos –, temos de gritar mais alto que eles: não, não se trata de uma luta "contra a corrupção" (só corruptos são a favor da corrupção), ou "contra tudo o que está aí" (quem é contra tudo, acaba por não ser a favor de nada), porque estas bandeiras atendem a um jogo eleitoreiro, partidário e midiático, e não há julgamento do mensalão que mude esta percepção. O crescimento das manifestações não deveria servir de trampolim à atitudes protofascistas, ao oportunismo e ao patriotismo vazio. Mas nelas cabem reivindicações necessárias, tais como denunciar o crescente desrespeito aos direitos humanos pelo alinhamento do Estado aos interesses conservadores e religiosos.

Talvez isso tudo não dê em nada? – Depende do que se entende por “dar em nada” e do que se espera quando milhares vão às ruas. Depende, em suma, do que se entende por e se espera do político. A política, pelo menos a que se vive cotidianamente nas ruas, é imprevisível, e o futuro é indisciplinado. Embora acredite que mudar a posição inicialmente irredutível e autoritária de alguns governantes e, por extensão, a de parte da polícia, e obrigar a mídia a adotar outro discurso seja suficientemente significativo, acredito também que há momentos em que o simples gesto já traz em si seu sentido e justificativa, independente do depois. Acho que vivemos nestes últimos dias um desses raros momentos, em que é preciso gritar, em alto e bom som, que ocupar as ruas não é crime, é um direito. E a isso se chama democracia.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Vereador perdeu? E agora?

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Faz alguns dias, escrevi aqui um texto sobre o processo judicial que o presidente da Câmara de Vereadores de Joinville, João Carlos Gonçalves, moveu contra a professora Ana Vavassori. Numa das passagens do texto advertia para o perigo de que ele viesse a perder a causa e sair desmoralizado do episódio: afinal, o vereador é um servidor do cidadão e não é de bom tom sair por aí a processar o patrão-cidadão por dá cá uma palha.

Agora a sentença saiu e a queixa do vereador não teve provimento*. Mas além disso, o juiz Gustavo Marcos de Farias produziu um momento que pode ser considerado uma aula sobre a mais elementar democracia. E também uma chamada de atenção para que homens públicos aprendam a conviver com as críticas. É essa parte da mensagem da decisão que reproduzo aqui ipsis literis:

“In casu, a meu ver, na qualidade de Presidente da Câmara de Vereadores desta Cidade, o requerente assumiu cargo de notoriedade e de cunho político. Assim, entendo ser inerente a tal função maior tolerância a manifestações de pensamento de eleitores. Por certo esta tolerância não significa liberdade irrestrita do eleitor em expor seu pensamento, porquanto o direito de expressão tem limites: mérito da presente ação. No entanto, a pretensão liminar de proibição de exposição do pensamento da primeira ré e de dados que constam da fonte: Portal da Câmara de Vereadores de Joinville, não há como ser deferida porque, conforme já referido, um político deve tolerar com maior benevolência revoltas e inconformismos explanados através de críticas. Outrossim, inviável, no mundo dos fatos, a coibição total da circulação do comentário porquanto o ‘compartilhamento’ de outros usuários é natural na rede social em questão”. 

Fiquei a saber que ainda há a possibilidade de recurso. O que deixa o vereador numa saia ainda mais justa, como avisei no texto anterior. Se não recorre, fica comprovado que cometeu um erro político.  Se recorre, mesmo com a negativa inicial e as chances duvidosas de reverter a decisão, vai dar continuidade a um caso onde só tem a perder dinheiro e prestígio político.

Já disse que a Justiça não é a minha praia. Mas justiça é: o juiz apenas referendou o que a opinião pública já intuía. Democracia é uma coisa chata, né?


* pedido de antecipação de tutela

Joinvilense "nato" é argumento?

POR JORDI CASTAN

Virou lugar comum que, na hora de um debate, um ou mais interlocutores, carentes de bons argumentos, afirmem com veemência e sem que tenha a ver com o tema: "eu sou joinvilense nato".  O intuito dessa afirmação é claro. O objetivo é o de se colocar num patamar superior que os qualifique melhor frente aos outros debatedores, eventualmente não nascidos às margens dos outrora piscosos rios Mathias ou Cachoeira.

Antes me incomodava mais essa situação. Hoje, deixei de considerar que, na falta de bons argumentos e ideias, surja uma intempestiva declaração de origem. É como se a simples menção do local de nascimento agregasse valores ou qualificasse melhor a posição do orgulhoso joinvilense nato. Hoje, prefiro ignorar este tipo de argumentos e sou acometido de ataques de surdez seletiva.

Nascer aqui ou ali é algo fortuito. Os joinvilenses natos não fizeram nenhum esforço para nascer aqui, no distrito de Bananal, no Acre ou na longínqua Cochinchina. Portanto, a falta de argumentos não deve ser substituída por esse tipo de afirmações.

Boa parte dos que aqui moram, trabalham e prosperam não nasceu aqui. O mais provável é que, por  trás desse tipo de declarações, se oculte um certo complexo, que qualquer bom psicólogo saberia descrever com propriedade e de forma detalhada. Este é um tipo de situação comum, nos habitantes das vilas  interioranas, que desenvolvem um sentimento de defesa, frente aos que vieram de cidades maiores ou do exterior. Este suposto complexo é facilmente superado quando se passa a valorizar o que é local. A preservação dos valores autóctones, a promoção das virtudes que são típicas daqui e a capacidade de rir e fazer graça dos próprios defeitos é uma prova viva de como uma sociedade se vê a si mesma e de como se apresenta frente aos outros. É um indicador da vitalidade, da força e dos valores de cada sociedade.

Querer converter uma contingência de percurso, como o local de nascimento, numa qualidade diferenciadora e agregadora de valor raia a estultice quando esta identidade não vier acompanhada de valores próprios tangíveis, claramente reconhecidos por todos. Sem que a idiossincrasia joinvilense contribua a fazer desta terra um lugar objetivamente diferenciado e melhor que outros, a simples afirmação da sua existência não passaria de brado sem eco.

Sem que seja possível estabelecer critérios objetivos que provem, de forma inquestionável e verificável, a capacidade argumentativa superior dos que aqui nasceram é melhor investir fortemente em melhorar os argumentos.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

"Quando a zona tá demais, conquistam-se direitos assim, no grito."

Fonte imagem

POR FERNANDA M. POMPERMAIER

E o gigante acordou.
Mas quando foi que ele dormiu?

Eu não vivi 29 anos num Brasil dormindo.
Vivi num país cheio de pessoas que lutam todos os dias para ter uma vida digna apesar das diversidades.
Vivi num país que buscava através do futebol, um patriotismo às vezes esquecido, alguns momentos de alegria, para alguns até sentido na vida.
Vivi num país com orgulho da sua música, da sua alegria, das suas poucas conquistas de direitos.
Vivi num país solidário, que pensa no outro, que divide, (em sua maioria).

Um país cheio de lutas mas também cheio de lutadores.

Esses protestos não surgiram do nada. Eles vêm de uma crescente. Eles são a expressão do saco cheio. Do desespero, da desesperança e ao mesmo tempo da esperança.
Foi demais.
Tudo foi demais.
Foi demais o descaso com a educação.
Foi demais o sucateamento dos hospitais.
Foram demais as notícias de corrupção, a impunidade, os impostos, o custo de vida, as tarifas de ônibus, a violência policial, a cura gay, a pec 37....
Esses protestos são o basta!

É ótimo que tenha sido iniciado com o MPL, mas não é mais só esse o motivo, desculpe-me Felipe.
Existem outras bandeiras junto e, é óbvio, que elas não sejam de partidos ou de reacionários. Que seja pelos direitos, que seja pacífica, e quer saber, eu entendo a opinião do Baço quando diz que protesto em jogo espanta turismo e faz mal para a imagem do Brasil lá fora, mas apóio. Infelizmente nós chegamos nesse nível, Baço. Abaixos assinados não resolvem, protestos com pequenos grupos não resolvem. Quando a classe média vai a um jogo pagando centenas de dinheiros e vaia a presidenta é porque algo vai realmente mal no país. É isso que está sendo mostrado, e que seja! Nós queremos um país bom pra turismo? Queremos sim. Mas especialmente queremos um Brasil para os brasileiros. E eu até tenho simpatia pela Dilma, não desejo impeachment de forma alguma. Até porque, muitas vezes muda-se a mosca, mas a merda fica. Tem muita gente pensando em benefício próprio no congresso, gente atrasada e preconceituosa. É pra essas o recado. Não subestimem mais o povo porque tudo tem limite.

No Tibet monges ateiam fogo aos seus próprios corpos pela libertação do seu povo. Não precisa ir tão longe, mas precisa sim ter coragem de incomodar. E em rede internacional se for preciso. E
olha que a imagem do Brasil aqui fora não está nem tão ruim quanto é na realidade. Desse lado pelo menos da Europa existe uma visão bem romântica do Brasil, da bossa nova, do carnaval, das praias, as pessoas nem imaginam o caos em que vivemos. Eu, em Joinville, fui assaltada 3 vezes à mão armada, tive o apartamento arrombado e nem sei quantas vezes levaram o som do carro. Isso não é normal.
Não é jeito de se viver.
Quando a zona tá demais, conquistam-se direitos assim, no grito. Infelizmente não conseguimos contar com o bom senso de quem está à nossa frente tomando decisões.

Repudio qualquer um que queira desmerecer os protestos. Dizer que demorou, que os motivos não estão certos, que isso não vai dar em nada.
Vai dar sim. Foi assim com as diretas já, foi assim para acabar com a ditadura. Se tem 1/2 dúzia de vândalos, se tem gente que está indo na onda, se tem alguns reaças infiltrados... nada deslegitima as manifestações, a revolta, a ação!

Cada vez que leio sobre os protestos ou assisto as passeatas, meu coração acelera, fico arrepiada, não consigo conter o choro, queria estar junto. Sofri muito assim que mudei por achar que estava dando as costas para as nossas lutas. Mas superei, vim ver o mundo sob outra perspectiva, aprender a viver e quem sabe levar isso de volta um dia. O Brasil está dentro de mim e isso nunca mudará e como eu, milhões de brasileiros que vivem fora (por inúmeros motivos) também demonstraram seu apoio. No fundo queremos todos o mesmo: um país melhor para todos. E isso se faz com investimento em educação, saúde, segurança, com respeito às diferenças, com bom senso.
É difícil se conter ao ver milhões de brasileiros nas ruas lutando por qualidade de vida e sendo alvejados por policiais coitados que não tem a menor noção do papel que estão cumprindo para manter o status quo.

Eu espero que o povo não páre. Que não sossegue enquanto não ver mudanças concretas.

Em Joinville inclusive e especialmente.
Temos muitas mudanças por fazer.
Toca o play e junte sua voz ao coro....

"Eu vejo a vida
Melhor no futuro
Eu vejo isso
Por cima de um muro
De hipocrisia
Que insiste
Em nos rodear

Eu vejo a vida
Mais clara e farta
Repleta de toda
Satisfação
Que se tem direito
Do firmamento ao chão

Eu quero crer
No amor numa boa
Que isso valha
Pra qualquer pessoa
Que realizar, a força
Que tem uma paixão

Eu vejo um novo
Começo de era
De gente fina
Elegante e sincera
Com habilidade
Pra dizer mais sim
Do que não, não, não

Hoje o tempo voa amor
Escorre pelas mãos
Mesmo sem se sentir
Não há tempo
Que volte amor
Vamos viver tudo
Que há pra viver
Vamos nos permitir

Pra frente Brasil. Salve a Seleção!

POR GABRIELA SCHIEWE

E viva a Copa das Confederações!

A Excelentíssima Presidenta Dilma não sabe como agradecer seu antecessor por ter conquistado para o nosso país a realização das Copas.

E temos que tirar o chapéu, o futebol é capaz de emoções que nenhum outro esporte causa. Quando que a massa se uniria e sairia as ruas se não tivesse começado a Copa das Confederações?

A Seleção Canarinho avançando e o povo invadindo. Que maravilha esse é o meu país. Esse é o meu Brasil!

Gente, desculpa, mas não me sinto capaz de fazer qualquer afirmação a respeito dos protestos que tomaram ênfase com a Copa das Confederações. Até porque não é possível saber qual o real motivo que o povo saiu as ruas.

Aumento das passagens de ônibus foi o mote, ok! Mas é essa mesma a causa? E a consequência destes protestos?

Quem está lá protestando diz que é pelo aumento das passagens. Outros o gasto demasiado do dinheiro público na construção de estádios que sequer serão utilizados de maneira eficiente após o término da Copa do Mundo. Outros que é a violência das polícias. Outros que é a PEC 37. Outros a saúde. Outros a corrupção excessiva... Hummm, tá bom, cada um levantando uma bandeira e todos em busca do...?

Não sou contrária à realização da Copa das Confederações e da Copa do Mundo, já declarei isso outras vezes. No entanto, sou contra sim em como os investimentos foram - e estão sendo - realizados aqui no Brasil para que esses eventos ocorram.

Construção de estádios em locais totalmente inapropriados, sem a menor chance de ser utilizado de forma efiza depois, é um despautério e requer protesto sim, mas agora????

Por que essa massa não fez todo esse barulho quando foram definidas as sedes e a construção dos estádios?????

Eu sou muito pé atrás com essas coisas, e costumo esperar mais tempo para acreditar no que se propõe qualquer protesto.

Esses protestos estão me parecendo, nesse momento, muito midiáticos, algo que foi aviltado por mentes pensantes e que não se encontram no poder neste momento, para acabar com a imagem da Dilma. Tudo muito orquestrado. Foi aguardado o momento para dar "start".

Hellooooo, aumentos de passagens não começaram agora, vem de tempos. Falta de educação? Bom, Santa Catarina está sendo um exemplo e não vejo nenhum grande movimento aqui. Seria porque não há construção de estádio na Bela Santa Catarina.

Por toda Santa Catarina há um grande e imenso silêncio. Ah tá aqui não vai ter jogo de Copa nenhuma então não precisa protesto, é isso?

Acho que o Brasil precisa acordar sim, #ogiganteacordou, mas tem que ter causa e consequência. Ficar só nas causas não rola.

Vai terminar Copa das Confederações, vai passar Copa do Mundo e aí, o que vai rolar nas urnas, seja no papel, na urna elotronica, na biometria, você vai votar e é aí que eu quero ver o que realmente motivou esses protestos e se eles tiveram uma consequência.

Bom, se o Brasil for campeão da Copa das Confederações fica tudo bem? Será?

E já pensou se for hexa? Eu quero ver, aí sim, o povo ir às ruas, ascender o Planalto e protestar pelo que realmente importa, pra acabar com esse monte de bolsa (e olha que nem é uma Chanel) que fica dando dinheiro pra malandro, de graça, enquanto toda essa quantia poderia estar sendo investida em medidas socio-educativas de base, isso sim iria melhorar a qualidade de vida no país, mas aí não da voto não é. Quero ver a Dilma ser macha e acabar com essas trocentas bolsas de tudo que é ajuda que existe hoje.

A Copa não vai deixar de se realizar, já os protestos, bom, espero que não seja fogo de palha e realmente tenham causa e consequência.

E, quem sabe, se não fosse a Seleção, #ogigantecontinuariaadormecido.

Pra frente Brasil, Salve a Seleção!

terça-feira, 18 de junho de 2013

Educação e saúde sim. Turismo não?

Cenas tiradas do filme de televisão
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Para começar, deixo claro. Sou a favor de que as pessoas se manifestam por melhores condições de vida. Sou contra a repressão desproporcional da polícia. Sou contra uma meia dúzia de arruaceiros que transforma movimentos pacíficos em praças de guerra. Sou contra a velha mídia, que parece estar sempre contra o povo. Dito isto, vamos tema de hoje: a imagem do Brasil no exterior.

Vendo a partir da Europa é difícil entender os acontecimentos ocorridos nos estádios, nesses dias iniciais de Copa das Confederações. A minha análise é feita apenas a partir das coisas que nos chegam. E uma das imagens mais marcantes no jogo entre Brasil e Japão foi o desespero do casal japonês, com um bebê no colo, apanhado entre as balas da polícia e os objetos lançados por manifestantes.

Os últimos dias têm produzido imagens mais violentas, claro. Mas este episódio envolve turistas e por isso tem maior poder construir uma imagem do Brasil no exterior. Os estrangeiros, seja no Japão, Europa, Estados Unidos ou na Conchinchina, vão se sentir na pele do casal japonês e achar que o Brasil vive uma espécie de barbárie. Isso influencia. Eu próprio desmarquei uma viagem à Turquia no ano passado, quando ainda nem se imaginavam os protestos das últimas semanas.

Ok... muitos brasileiros vão pensar: que se danem os gringos, temos os nossos próprios problemas para resolver. Tudo bem. É um direito pensar assim. Mas é também uma forma de miopia. Fazer manifestações nos lugares onde se realiza a Copa das Confederações faz mais mal do que bem. Aliás, não duvido que haja a manipulação das massas por interesses escusos. Ou será esse pessoal só ficou a saber da construção dos estádios agora? Ora, isso é mais ou menos como chegar à estação depois que o trem já partiu.

É estranho quando se confunde futebol com política. Porque o mais lógico seria confundir futebol com economia: a Copa das Confederações, a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos permitem vender a imagem do país no mundo. E, num prazo mais longo, essa mediatização poderia ter retornos ao nível do turismo, da atração de investimentos empresariais e da consolidação da imagem do país no exterior. Tudo isso sem falar que, de imediato, temos direitos televisivos, viagens, ocupação dos hotéis, merchandising, publicidade.

Que lógica é essa onde as pessoas pedem dinheiro para a educação e a saúde e ao mesmo tempo rasgam o dinheiro do turismo? Lutar por educação e saúde é mais que legítimo. Mas levar as manifestações para perto dos estádios é queimar um dinheiro que não se tem e que pode vir a ser muito necessário. É irracional. Ou vocês acham que com estas amostras um turista vai estar à vontade para ir ao Brasil em 2014 e 2016? Ou que um empresário vai ficar se sentir tranquilo para investir no país?

Qual é a lógica? O turismo brasileiro representa miseráveis 3,7% do PIB, apesar de um enorme potencial de crescimento. E quando o país tem uma oportunidade de se mostrar para os estrangeiros tudo o que vê é essa esquizofrenia. Se querem protestar, o palco deveria ser os centros decisores da política, não os estádios. Mas o leitor e a leitora não precisam concordar comigo. Essa é a visão de alguém que vive em Portugal, um país em crise e cuja economia vendo sendo salva em grande parte pelo turismo, que representa 10% do PIB.


Para finalizar. Depois de sermos bombardeados com más notícias sobre a Copa das Confederações, todos percebemos que andávamos com uma ideia errada do Brasil. Enquanto escrevo este texto, um manifestante entrevistado por um canal de televisão português diz que o país nunca esteve tão mal. Aliás, no fecho da matéria a jornalista encerra a dizer “que tudo piorou no Brasil desde que Dilma Roussef é presidente do país”. E nós, incautos, a olhar aqui do exterior, pensando que nunca tinha estado tão bem como nos últimos 10 anos.

Em resumo,  os opositores desses investimentos no turismo estão cheios de razão: o Brasil não tem condições para promover esses eventos.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

A espoliação camuflada em dez centavos

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

Acompanhamos nos últimos dias o início de uma onda de protestos nas principais cidades brasileiras. Os problemas urbanos, tão característicos dos anos 70 e 80, voltaram como a pauta principal de nossas manifestações. O pífio transporte público, a falta de moradia adequada, e a inexistência de democracia são questões muito visíveis e que, felizmente, estão sendo questionadas pela população. Já em Joinville, influenciado pelas manifestações e o escândalo do ouro no Dona Helena, como bem alertado pela colega Fabiana Vieira no sábado, Udo Dohler baixou a tarifa de ônibus em dez centavos, seguindo uma normativa nacional de isenção de impostos que baixa os custos do transporte coletivo.

Tecnicamente, não há nada de extraordinário neste ato, pois foi apenas um repasse do corte de custos (da mesma forma que ele faria se houvesse um incremento nos custos, repassando tudo para o usuário). Politicamente, foi uma bela cartada, pois ao baixar o preço da tarifa do ônibus e passar a ideia de que é um "enfrentamento" às permissionárias, está escondendo (e se utilizando da imprensa parcial para tal fim) as realidades da sua gestão urbana, a qual segue diretrizes antidemocráticas e que promovem - apoiando-me na brilhante ideia de Lúcio Kowarick - uma espoliação urbana em Joinville.

Ao trazer à tona as arcaicas discussões sobre planilhas, o prefeito e sua equipe demonstram que esta é a única discussão em pauta quando o assunto é transporte coletivo, inclusive já alertando que até o fim do ano poderemos ter novo aumento. Reforça, assim, tudo aquilo que nós já vimos. Em nenhum momento nesta semana (posso estar enganado) ouvi técnicos da Prefeitura explicando o andamento do plano de mobilidade (está há três anos em elaboração no IPPUJ, desde o término da pesquisa origem-destino, primeira etapa do processo) ou replicando a visão parcial do prefeito anterior, o qual limitou as transformações mais radicais à licitação (teve quatro anos e não tirou do papel).

A atual gestão promove a espoliação recuperando estes discursos de seus antecessores (muito pouco para quem diz promover uma qualificação da máquina pública), e quando também esquece-se do que está escrito no Plano Diretor; não faz esforço para confeccionar instrumentos que garantam uma melhor qualidade de vida para a população, não diz nada sobre a licitação do transporte coletivo (estamos há apenas seis meses do vencimento do contrato de Gidion e Transtusa e uma licitação deste porte não é coisa simples), priva as camadas mais populares da gestão democrática da cidade (basta lembrar a imposição do CNPJ na construção do conselho da cidade) rasgando o Estatuto das Cidades, e insere a lei de ordenamento territorial (ao contrário do plano de mobilidade, a LOT já está pronta, pois serve a praticamente todos os interesses das entidades empresariais da cidade) como "salvadora da pátria", colocando-a na comissão de frente da política urbana joinvilense.

Resultado: sem democracia, não há um pensamento voltado para o social. A espoliação domina. Desta forma, continuaremos com um Conselho da Cidade que atende interesses do grande capital, sem plano de mobilidade, licitações sem previsões e sem perspectivas de mudança, transporte coletivo ruim e caro, sem infraestrutura urbana (o macrozoneamento, base da LOT, promove o aumento do perímetro urbano e a consequente segregação socioespacial), entidades empresariais colocando a tinta na caneta de nossos governantes, especulação imobiliária, verticalização travestida de adensamento, aumento do índice de automóveis per capita (62 mil veículos a mais nos últimos três anos, defasando, assim, a pesquisa origem-destino de 2010), reprodução da pobreza, mídia parcial, aumento da violência urbana, aumento de impostos, sem ciclovias, sem calçadas, e sem a garantia de nossos direitos enquanto cidadãos.

Espoliação maior do que isso, somente aquela provocada pelo cassetete do PM.

sábado, 15 de junho de 2013

Uma imagem que vale ouro

                                                                               POR FABIANA A. VIEIRA


Se há uma coisa que eu reconheço no governo Udo é a preocupação com a imagem. Não sei se parte de uma cabeça, ou de um coletivo, mas o mote da imagem está bem trabalhado. Senão vejamos o episódio do anúncio da redução da tarifa de ônibus, realizada na última semana, logo após pipocar comentários maldosos sobre participação do prefeito Udo Dohler na operação Fariseu, que investiga o envolvimento do Hospital Dona Helena, de Joinville, na compra de ouro para camuflar recursos e não perder o certificado filantrópico, que garante isenção tributária até para importar equipamentos. Mesmo com resposta da assessoria isentando Udo de qualquer participação ilícita, o estrago estava feito.

Quem trabalha com marketing sabe que, num momento de crise, o segredo é tomar decisões rápidas. E a resposta veio em um anúncio reduzindo a tarifa de ônibus de Joinville - numa semana recheada de manifestações polêmicas, lideradas pelo Movimento Passe Livre (MPL) em grandes centros do Brasil com destaque para São Paulo.

A decisão foi acertada. Ninguém mais fala do ouro. Udo já trabalhou bem com isso em outras ocasiões. Na campanha ainda, a decisão de doar o salário de prefeito para entidades assistenciais, nos últimos dias de campanha, é dada para alguns estudiosos como a grande virada nas urnas. Outro momento decisivo para a imagem de Udo foi revogar o anúncio deixado por Carlito Merss, também sobre a redução da tarifa. Começou o governo no lucro midiático.

Mas voltando sobre a decisão de baixar a tarifa de ônibus na última semana, cabe salientar que a medida é resultado da decisão anunciada há  um mês pelo governo federal, que isentou as empresas de transporte coletivo do PIS e Cofins. Esta ação foi tomada, inclusive, por outras prefeituras do Brasil Em São Paulo, por exemplo, já foram seis cidades que anunciaram a redução da tarifa do ônibus após medida do governo federal. Portanto houve também um benefício para as empresas.

Na visão do Movimento Passe Livre (MPL) de Joinville essa redução de impostos atendeu as necessidades diretas dos empresários do setor - não foi uma política pública para atender a população joinvilense que usa o transporte coletivo. Outra alegação do MPL é que ainda falta discutir em Joinville a questão da licitação que pode garantir mais concessões e acabar com o monopólio do ônibus na cidade. Saindo um pouco da opinião do MPL, vale destacar a opinião de enquete realizada pelo jornal A Notícia, onde os entrevistados lembram que não adianta baixar a tarifa agora e aumentar em dezembro, como já sinalizou o prefeito.

Mesmo com essas contradições após o anúncio de Udo, eu acho que sua imagem foi preservada, ou pelo menos restaurada. Pois quem utiliza o ônibus todos os dias sabe que uma redução de 10 centavos, faz diferença no bolso no final do mês. Mesmo que sejam seis meses apenas. Acho que esse joinvilense aprovou sim o anúncio de Udo. Agora ele já pode pensar em novas estratégias para dezembro, quando as empresas irão pressionar por um novo aumento.