quarta-feira, 30 de março de 2016
Gramado, Blumenau e Joinville
POR VANDERSON SOARES
Dias atrás
fui a Gramado a lazer e me encantei com esta cidade. Não tem semáforos, tem
muitas rotatórias, o trânsito para alguns segundos, mas logo flui novamente.
É
uma cidade altamente turística. Quase tudo ali gira em torno de turismo. As
construções são muito bem planejadas, a maioria em estilo alpino, lembram muito
a Suíça. O clima frio, os jardins floridos, as ruas bem cuidadas, os atrativos
turísticos, a proximidade com Canela, tudo ajuda na atração de turistas para
aquela região. Durante o ano todo há turistas, mas a grande ênfase é na Páscoa
e no Natal.
O
mais interessante em Gramado é que, com exceção do clima, nada do que existe
ali é privilégio natural da cidade. Tudo foi construído, pensado e planejado
para ser um polo turístico. O MiniMundo, a Aldeia do Papai Noel, as fábricas de
chocolate, o SnowLand, nada precisaria existir exatamente ali. E é nesse ponto
que quero chegar.
Joinville
tem privilégios que Gramado não tem. Temos uma área rural, estamos próximos da
Serra, estamos próximos do mar, temos história bem mais rica, temos gastronomia
e cultura alimentar próprios, temos o maior Festival de Dança do mundo e mesmo
assim o nosso turismo não deslancha, é pífio.
Quando
falo de turismo em Joinville, gosto sempre de citar Blumenau que, resguardadas
as devidas peculiaridades, é semelhante à Joinville. Blumenau, se não me engano
em 2003, começou a planejar o seu turismo. Não tenho conhecimento de meta ou
objetivo que traçaram, mas é fato que o turismo na cidade tem se desenvolvido
de vento em popa. A Vila Germânica é um grande Centro Turístico, o pessoal
vai lá para comer, beber, comprar souvernirs, para visitar os festivais, é um
local de encontro da cidade. Todo mês promovem um evento ou festival típico,
OktoberFest, SommerFest, Festival de Botecos, FestItália, FoodTruck Festival, e
sempre enche. Ao lado da Vila, estrategicamente, existe o Parque Ramiro Ruedger
que lota quase todos os dias com pessoas correndo, caminhando, pedalando ou
apenas passeando.
Joinville,
por sua vez, tem a Expoville e o Centro Comercial que formam a nossa “Vila
Germânica”. A Expoville recebe formaturas e congressos, estes últimos
contribuem para o turismo de negócios, mas ainda é pouco. Nossa cidade
“explora” 3 frentes de turismo: Rural, Cultural e de Negócios. Creio que
estamos falhando miseravelmente nos dois primeiros. Todos os anos, as
reclamações aumentam sobre o Festival de Dança, o incentivo ao Turismo Rural é
baixíssimo, o turista vem pra cá por algum motivo, mas não é incentivado a
desfrutar as belezas de Joinville.
Joinville
precisa planejar o seu turismo, investir em rotas, divulgação e trazer mais
gente que queira vir pra cá apenas por turismo, para aproveitar e conhecer a
cidade durante alguns dias. Joinville tem potencial para ser a capital nacional
do turismo, mas precisa deixar de focar apenas na indústria e investir em
formas de atrair o turista, desenvolver a economia criativa na região e,
principalmente, fazer a própria população joinvilense ir e restaurantes, querer
conhecer a sua cidade, seus pontos turísticos e históricos.
Você,
que mora em Joinville, já visitou o Museu Nacional de Imigração que fica aqui,
na frente da Rua das Palmeiras? Nossos cidadãos não tem o hábito de viver a
cidade. É preciso que nós mesmos valorizemos nossa riqueza.
terça-feira, 29 de março de 2016
É golpe, sim senhor!
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Há um movimento que tenta dar um ar de legitimidade ao golpe.
Os articuladores do impeachment já entenderam que Dilma Rousseff não vai
renunciar – o que faria o golpe parecer legítimo – e agora tentam construir
uma narrativa própria. A intenção é criar um discurso que inocente a palavra
“golpe”. Não adianta. Golpe é golpe. Quem adere ao golpe é golpista. E
golpistas odeiam a democracia.
Nos últimos dias, surgiu uma meia dúzia de juristas pingados
a defender a tese de que impeachment sem crime não é golpe. Traduzindo o
palavrório: é conversa para boi dormir. Por mais gente togada que apareça a
dizer o contrário, golpe é golpe. Essa gente quer esculhambar o estado de
direito. A construção da tal narrativa em juridiquês só tem um objetivo: dar um
álibi moral para os sacripantas cívicos. “Não é golpe, é legal”, dirão aliviados.
A “gente de bem” que adere ao golpe vive numa espécie de
terceiro mundo mental. Não importa se o impeachment está a ser articulado pela
pandilha Temer-Cunha-Aécio-Serra, políticos de caráter
duvidoso (para ser simpático) e sobre os quais recaem indícios mais que suficientes
para serem investigados. Mas se for para apear Dilma Rousseff do poder, os
adesistas do golpe não se importam de chafurdar na mesma lama. É o grau zero da
moralidade.
Os golpistas se esforçam por construir uma narrativa
auto-indulgente. Mas é gato escondido com o rabo de fora. Não dá para disfarçar, apesar da ajuda sentenciosa de velha imprensa nacional. Em sentido contrário, no
exterior a comunicação social despertou para o tema e denuncia
a existência de golpe. A palavra começa a aparecer cada vez com maior
frequência nas manchetes dos jornais. A opinião pública mundial também começa a
acompanhar essa tendência.
E, por fim, que tal um exercício de imaginação? Se Dilma
Rousseff for impedida, como será o dia seguinte? Os políticos articuladores do
golpe, por terem uma agenda própria, já sabem o que vão fazer. Tremei,
incautos! Mas e a tal “gente de bem” que se deixou manipular e aderiu à narrativa
golpista? Terá noção do que aconteceria no dia a seguir ao golpe? Pensem. Porque se pensarem vão perceber que a agulha da bússola não está a apontar para o Norte.
É a dança da chuva.
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A imprensa internacional chama o golpe de golpe |
segunda-feira, 28 de março de 2016
O radicalismo está fora de controle
POR JORDI CASTAN
Não votei no Lula, nem na Dilma. Temia que viesse a acontecer o que
está acontecendo. Não serve de nada, neste momento, descobrir que tinha razão.
Tudo isso era previsível. O que surpreende é o aumento do radicalismo. A
disparada da agressividade e da violência. O que assusta é o perto que estamos
que saia do controle. O assassinato do vereador Leandro Balcone, em Guarulhos, é
um indicador de que podemos estar próximos demais de atingir um ponto sem volta. O
risco é que este não seja um ato isolado, que haja uma possibilidade real e
imediata que outras execuções possam acontecer e se implante um clima de
terror.
Ninguém detém o monopólio da violência, tampouco há uma exclusividade
da corrupção. A quantidade de políticos de todas as siglas, estados e níveis envolvidos
em corrupção é escandalosa. Só é mais escandalosa a naturalidade com que isso é
recebido por parcelas significativas da sociedade ou a idiotia dos partidários de
um ou outro grupo, que insistem em querer convencer que os corruptos dos
outros são mais corruptos que os seus. Como se a corrupção dos outros justificasse
a sua. Há até uma disputa para provar que o Mensalão é maior que o Banestado, ou
que o escândalo do BNDES é maior ainda que o do Petrolão, buscando justificar o
injustificável. A insistência em querer nos fazer de corruptos a todos é a estratégia
do momento, é do ex-Ministro da Justiça a frase: "Até síndico de prédio superfatura capacho". A beatificação da corrupção, a sua universalização.
A quem interessa esta radicalização? Quem a estimula? Quem ganha
com ela? A resposta não é simples. Mas com certeza quem tem a sua disposição um
“exercito” de militantes dispostos a partir para a violência ganhará com o
discurso violento e verborrágico. O ex-presidente Lula declarou nestes dias: “É
guerra, é guerra e quem tiver artilharia mais forte ganha". Quem pode contar com hostes agressivas
dispostas a partir para o confronto é quem mais interesse tem em estimular a violência
radical. O discurso do ódio não tem um único protagonista, mas evidente em quem
esta sob fogo cruzado. Frente ao risco de ser presos, a única saída é o ataque raivoso, a busca feroz de nos e eles. Os corruptos acuados partem para o tudo ou nada. Têm
pouco a perder. Sun Tsu, o estrategista chinês, escreveu no seu
livro “A arte da Guerra” que deve-se evitar deixar o inimigo sem uma via de
escape, porque nesse caso lutara até a morte.
Não restam muitas saídas. Todas elas implicam dor
e sacrifício. O projeto de poder do PT e dos seus partidos aliados está seriamente ameaçado. A corrupção tem contaminado todos os avanços sociais. O
governo passou de uma cleptocracia reconhecida, até o ponto que ex-ministro de Lula descreveu o governo
como um “sindicato de ladrões”, o próximo estágio de degradação é a oclocracia, o puro
esgoto. Em janeiro o Ministro Chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, em um repentino e pouco frequente, ataque de sinceridade, reconheceu que “Quem nunca
comeu melado quando come se lambuza”, evidenciando o nível de lambuzagem a que
chegamos. A resposta das manifestações do dia 13 foi a opera bufa da nomeação
de Lula como ministro.
A escalada de lado e lado não pressagia nada bom.
Quando o povo vai para a rua é como abrir a caixa de Pandora, o resultado
é imprevisível. É perigosíssimo que parlamentares aliados do governo afirmem que: "Estamos nessa guerra também, não tenho nada a perder." Pessoas e
governos desesperados são levados a cometer erros irreversíveis.
sexta-feira, 25 de março de 2016
Não gosta do que vê em Brasília? Mude a partir da sua cidade
POR SALVADOR NETO
Até porque é uma lista com mais de 300 nomes de políticos e outros seres humanos, sem checagem alguma, sem nenhuma investigação iniciada, com zero informação sobre os tais valores (se verdadeiros, se são grana de campanha, se foram doações legais, etc, etc). Uma temeridade com as pessoas listadas, suas imagens, reputações, em que pese alguns já serem presença batida em inúmeros escândalos ao longo de décadas.
Tragicamente vemos que a sociedade brasileira aceita a demonização da política como se vende em casos como estes e outros mais antigos. Não gosto de remar a favor da maré, até porque é muito fácil. Refletir sobre os fatos é mais produtivo porque se estimula o conhecimento mais próximo da verdade. Está em curso esse processo, que não é novo, que amplia o fosso entre nós, povo, e quem colocamos para nos representar, sejam vereadores e vereadoras, deputados e deputadas estaduais, deputados e deputadas federais, senadores e senadoras, governadores e governadoras, presidente da república.
O “aparecimento” da lista da Odebrecht não é algo fortuito. É pensado, calculado para embaralhar o jogo. Ao jogar todos na vala comum da maledicência, da corrupção na politica (ah, não esqueçamos que a corrupção está entre nós, na iniciativa privada, etc), deixa novamente no palco nacional os políticos e politicas, esquecendo os corruptores, os donos do capital. É muita infantilidade pensar que a corrupção na coisa pública é algo produzido somente pelos políticos. O interesse pelos grandes negócios públicos atrai os grandes empreiteiros, empresas internacionais, lobistas, e isso vêm de décadas aqui e em todo o mundo. E é deste nascedouro que cresce a corrupção no país há pelo menos 50 anos.
Você não gosta do que vê em Brasília? Pois saiba que você pode mudar muito o que chega à capital federal iniciando em sua cidade. Sim, ao eleger vereadores e vereadoras, prefeito, você começa a girar a roda política que elegerá deputados, senadores, governadores, e o Presidente da República. Eles estão em partidos políticos controlados por grupos dos mais diversos, que se coligam para vencer eleições. E até 2014 esse sistema todo foi financiado 99% por grandes empresas, empresários, empreiteiros, grupos de pressão, que jamais aparecem e apostam suas fichas em vários políticos.
Este ano você pode mudar junto com o sistema. Basta querer. Não aproveite só os momentos agudos de crise, amplificados pela grande mídia, para participar ativamente da política. Porque nestes momentos você apenas poderá espernear, porque eles já estarão nos cargos, e muitas vezes, defendendo somente as empresas financiadoras e grupos. A partir das eleições de 2016 o financiamento de campanhas será somente via pessoas físicas. Os valores máximos de gastos caíram. O tempo de campanha também. Observe bem que abusa do poderio econômico desde já. Desconfie da “força” do candidato.
Identifique quais valores julga mais importante e quais valores quer ver seu representante defender. Para saber o que o candidato pensa, o eleitor deve conhecer a carreira dele, assim como sua atuação profissional, seu histórico de vida, sua postura ética e sua conduta diante da sociedade. É preciso analisar suas propostas, o partido ao qual está filiado e quem são seus correligionários.
E informação das mais importantes é saber quem são os financiadores do candidato, mesmo este ano, pois as pessoas que financiam as campanhas eleitorais têm interesses que nem sempre se coadunam com os interesses da coletividade. Os políticos reproduzem as nossas escolhas, boas ou más. E são também as nossas falhas enquanto sociedade. Ajude a mudar o nosso país participando mais, gostando da política.
Senão, os ocupantes dos cargos a partir da sua cidade até a longínqua e poderosa Brasília continuarão os mesmos. E você? Vai se lamentar e reclamar sem ver nada mudar.
É assim nas teias do poder...
quinta-feira, 24 de março de 2016
Temer, Gilmar, Aécio e Serra assustam políticos portugueses
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Michel Temer, Gilmar
Mendes, Aécio Neves e José Serra. Esses são os cabeças de cartaz
do seminário “Constituição
e Crise – a Constituição no contexto das crises política e económica”, a ser realizado de 29 a 31 de março em Lisboa. O evento tinha tudo para passar despercebido, mas nos últimos dias os políticos
portugueses se viram confrontados com aquilo que a imprensa chamou “governo
brasileiro no exílio”. E começou a dar chabu.
O jornal “Público”, um dos principais diários
de Portugal, publicou, na última quarta-feira, uma matéria com o seguinte
título: “Encontro em Lisboa reúne oposição e juízes brasileiros e assusta
políticos portugueses”. É o resumo da ópera. O seminário virou um problemão para os políticos europeus que, para não
serem contaminados pela ideia do golpe, subitamente passaram a ter "dificuldades de agenda". Tem muita gente a desembarcar da iniciativa.
Uma das ausências mais relevantes vai ser a do recém-empossado presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que
faria o discurso de encerramento num simbólico dia 31 de março. Logo no seu
primeiro mês de governo, o presidente, um conservador que foi professor na
Faculdade de Direito, ficou com essa bota para descalçar. Ou segue as normas
da diplomacia e não participa ou mergulha no ninho dos golpistas. Mas nada que a alegação de uma
agenda sobrecarregada não possa resolver.
Em nota enviada ao mesmo jornal “Público”,
Rebelo de Sousa fala em outros compromissos: “O
Presidente da República foi convidado para encerrar um colóquio académico na
Faculdade de Direito de Lisboa, escola com a qual tem, como é sabido, uma
relação particular. Seria a primeira oportunidade após a tomada de posse de lá
regressar. No entanto, há um problema de agenda muito complexo. O Presidente
não sabe ainda se poderá participar. Mas será de certeza muito difícil…”
Há outras desistências a ser anunciadas, mesmo de gente à direira no espectro político. Qual a
razão? Pode haver muitas explicações, mas uma delas parece ser mais
consistente: ao longo das últimas semanas a opinião pública portuguesa, acompanhada
pela imprensa, parece ter reajustado a bússola. No exterior, a percepção da
ideia de golpe fica cada vez mais evidente. E a reunião dos golpistas em Lisboa
– num evento no mínimo questionável – é algo que os democratas, mesmo que de direita, têm dificuldade em engolir.
Palestras com Serra ou Aécio? A Faculdade de Direito é uma instituição
respeitada. É incômodo vê-la a ser usada como palco para iniciativas que apontam para o golpismo.
É a dança da chuva.
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Matéria do jornal português Correio da Manhã |
Parabéns, imprensa: é fascismo
POR FELIPE CARDOSO
O Brasil vive um momento delicado, política e economicamente falando. As duas questões estão associadas, interligadas, e isso tem influência da crise mundial, deflagrada em 2008. É importante lembrarmos disso.
Internamente, vivemos um grande momento de polarização em que, mais uma vez, a imprensa tenta guiar os passos do país.
Uma crescente onda fascista se propaga. Diversos casos de agressões são registrados e denunciados por pessoas que utilizam alguma vestimenta ou objeto da cor vermelha. Homens, mulheres, crianças e animais estão sofrendo agressões por andarem simplesmente de vermelho.
Até o líder do grupo Revoltados On-line, Marcello Reis, teve que sair escoltado de uma manifestação¹ pelo simples fato de dizer aos manifestantes pró-impeachment, que ocupavam a Avenida Paulista, que deveriam desocupá-la, pois no outro dia aconteceria o ato a favor da democracia. “Eles estão na lei, temos que respeitar”, disse. Recebeu como resposta gritos acusando-o de ser comunista, “petralha”. Parece que o feitiço voltou contra o feiticeiro. Agora, talvez, ele perceba que quem planta ódio, colhe ódio.
Estamos vendo os ataques violentos que antes ficavam restritos ao meio virtual dominando o mundo real, o espaço físico, dificultando, ainda mais, a convivência. O discurso fascista se transformando em atitudes.
Percebam, pessoas que levantam a mesma bandeira se agredindo. Agredindo outras pessoas por pensarem diferente ou por não concordarem, ou por apenas não querer participar. CRIANÇAS e BEBÊS² que nem sabem o que está acontecendo.
O fascismo promove essa paranoia de achar que todo mundo está errado. Faz as pessoas se isolarem cada vez mais e atacarem tudo o que pareça diferente, por mínima que seja a representação dessa diferença (um gesto, uma palavra, uma roupa).
São essas as consequências que quem desvaloriza o trabalho dos Direitos Humanos trazem para o Brasil. Esse é o resultado, a contribuição dos que gritam fortemente que esses direitos só existem para defender bandidos.
Mas agora o mantra “direitos humanos para humanos direitos” serve para quem? Os ditos “cidadãos de bem” estão abusando da violência. Agressões e ameaças são feitas a luz do dia. “Humanos direitos” que saem com seus filhos, voltam para casa após o trabalho, passeiam com seu cachorro, estão sendo agredidos por bandidos manifestantes³.
São essas as consequências que todos sofreremos por conta de pessoas que dispensam a leitura diversificada, a História, as opiniões contrárias, o diálogo, o debate, a democracia, que não pensam com a própria cabeça, que não sentem empatia, que não são capazes de respeitar o outro.
É isso que a ignorância promove, é isso que a alienação televisiva faz. Essas são as consequências da atuação e do discurso de ódio fantasiado de jornalismo da Rede Globo e de outros veículos de comunicação da “grande mídia”.
Ainda assim, continuam investindo no mesmo discurso, sem dar espaço para denunciar as violências ocorridas. Insistem em mostrar o “protesto pacífico”, dando a liberdade para que tais atitudes sejam repetidas. Igual ao caso da jornalista Raquel Sheherazade que estimulou a justiça com as próprias mãos, em rede nacional. O que vimos, logo após, foi uma onda de mortes causadas por linchamentos em todo o país.
O cuidado para blindar essas manifestações pró-impeachment não são os mesmos das manifestações organizadas pelos Movimentos Passe Livre, Marcha da Maconha, Mulheres Negras, greve dos professores e servidores, dentre tantos outros. Os termos utilizados são de vândalos para baixo.
Fica evidente a seletividade e o interesse da imprensa burguesa por trás da atuação da manifestação pró-impeachment. Já vimos esse filme antes, em 1964.
Não podemos assistir a história se repetir como tragédia. Não podemos deixar o ódio cego guiar nossos caminhos. Tenhamos autonomia e coragem para resolvermos os nossos problemas de forma eficaz.
No mais, meus parabéns para a "grande" imprensa brasileira, o monstrinho guardado em 1985 renasceu e o seu nome é FASCISMO. Está de volta ao cenário político, mas sempre esteve presente nas redes sociais e nas periferias das cidades, só aguardando o convite para retornar. Parece que o momento chegou.
¹https://goo.gl/kO9TyB
²http://goo.gl/x6YaUk
³http://goo.gl/NDaA96
http://goo.gl/5XEOLY
quarta-feira, 23 de março de 2016
Para "coxinha" ler
POR FELIPE SILVEIRA
Minhas considerações resumidas sobre o atual momento da política brasileira. É uma explicação breve, simplificada, sobre as questões que envolvem o impeachment de Dilma Rousseff, a prisão de Lula, o juiz Sérgio Moro e sobre como algumas peças são movimentadas. Fiz pensando numa forma de explicar as questões com clareza para pessoas que defendem a queda de Dilma porque acham que o governo é ruim ou que todos devem ser presos, como se isso fosse acontecer só porque elas querem. O título é uma brincadeira com o termo popular para as pessoas que defendem o impeachment.
1) Coragem é crucial para o momento. Coragem não só para assumir posições, mas principalmente para ouvir o outro. Coragem para considerar que o que pensamos pode estar errado e coragem para aprender.
2) Chamar alguém de petista porque ele defende que Dilma não deve sofrer impeachment é um erro. Para saber que não é, basta ouvir o argumento de alguém que não é petista e defende a manutenção do governo. Mas, aqui, é preciso coragem para ouvir e para tentar entender.
3) Meu principal argumento contra o golpe (ou contra o impeachment, como queiram) é relacionado com a substituição de Dilma. Por mais que você não goste dela, por mais que ache seu governo ruim, Dilma não é nem citada na Operação Lava Jato, ao contrário de sua linha de sucessão. Eduardo Cunha é réu na Lava Jato, Temer é citado. Temer já está articulando seu futuro governo com Serra, que é do PSDB, partido envolvido até o pescoço em inúmeros casos de corrupção e todo tipo de falcatrua.
4) Você querer que prendam todos é uma coisa, achar que isso vai acontecer é uma tolice. Até parece que não se lembram da infância, cuja primeira lição é “querer não é poder”. Assim que Dilma cair e Lula for preso, a Lava Jato acaba. Talvez prenda algum figurão da oposição, como o já soterrado Aécio Neves, mas dificilmente terá continuidade. A melhor maneira de garantir que a operação continue a funcionar é torcendo pela continuidade de Dilma no governo. Assim a caçada aos corruptos tem alguma chance de continuar.
5) Economia. Um dos argumentos usados para defender a derrubada de Dilma é aquele que diz que ela afundou o país. De alguns pontos de vista, isso até pode ser verdade (embora eu não concorde). Mas você não pode sair afirmando isso sem entender como isso funciona. Neste ponto, é preciso de muita coragem e vontade para aprender.
5.1) Para compreender a situação econômica do país, é preciso voltar alguns anos, ao início da história, quando Lula escreveu a Carta aos Brasileiros. Foi em junho de 2002, no início da campanha que levou Lula à presidência. Nela, Lula e o PT deixam claro que não vão rachar com a classe rica do Brasil. No seu governo, todos iriam ganhar, como, de fato, aconteceu. Salvo exceções, ricos ficaram mais ricos e pobres ficaram um pouco menos pobres. O fato de os pobres terem ficado menos pobres é muito importante. Assim se erradicou a fome, se deu algum poder de consumo (que é, sim, algo muito importante), se criou vaga na universidade e no ensino técnico, entre várias outras coisas. Eu, que não sou petista, acho que foi insuficiente. Mas não tenho dúvida que foi muito importante.
5.2) Acontece que, em 2008, ocorre a crise econômica mundial. Se você acha que ela não existe e que todo mundo já se recuperou, sinceramente, lhe falta coragem para enxergar a realidade. Alguns países ricos estão se recuperando a passos lentos, o que é óbvio, pois algo que todo mundo sabe é que dinheiro faz dinheiro. Com a crise de 2008, a coisa começou a ficar complicada, pois começaria a faltar o dinheiro que antes ia para ricos e pobres. Mesmo assim, o Brasil elegeu Dilma em 2010, sendo Lula o fator mais influente da campanha. Dilma, então, que sempre foi uma mulher corajosa e de confronto, decidiu enfrentar uma parte dos mais ricos.
5.3) Para entender como ela fez isso, é preciso entender uma coisa. Muito basicamente (muito basicamente mesmo), os setores da economia se dividem em dois: produtivo e financeiro. O produtivo, você sabe, é a indústria, a agricultura, a pecuária, comércio e os serviços (os dois últimos existem em consequência dos primeiros, né?). Já o financeiro é, basicamente, o sistema bancário, que, em contraposição ao primeiro, nada produz. Afinal, o que o banco te vende, além de dívida? E aqui está o pulo do gato. O sistema financeiro vive de juros, que, por sua vez, são determinados pelo governo. No Brasil, ele é altíssimo, gerando muito dinheiro para quem nada produz, mas que já tinha dinheiro para investir em títulos que rendem juros.
Voltando à Dilma, em 2011 ela decidiu peitar essa parte do mercado e baixar os juros, fazendo com que fosse mais lucrativo investir no outro setor, o produtivo. Este, então, geraria emprego e consumo, fazendo com que todo mundo ficasse feliz novamente. Na economia política, porém, não se pode fazer nada sozinho, e ela fez um trato com o setor produtivo, representados por entidade como Fiesp e Firjam, e com os trabalhadores, representados pela CUT. A coisa até que deu certo no começo, mas por pouco tempo. Em 2013, as entidades empresariais retiraram o apoio à Dilma, após desconfiarem que os juros voltariam a subir para controlar a inflação (aumento do consumo gera inflação e subir os juros é uma forma de diminuir). E quem lucra com juros? O sistema financeiro. Mas não foi só isso. A política desenvolvimentista fortalecia o Estado e os trabalhadores, de modo que o que chamamos de burguesia, achou melhor pisar no freio e brecar a coisa toda.
5.4) E como isso afeta a situação atual? Bom, afeta que as pessoas que mais querem o impeachment são as que derrubaram o acordo desenvolvimentista em 2012. A Fiesp, presidida por Paulo Skaf, candidato à prefeitura de São Paulo, é praticamente o quartel-general do golpe. Como os juros são altíssimos no Brasil, o andar de cima não está perdendo dinheiro, pois diversifica seus investimentos, aplicando no sistema financeiro. Com todos contra Dilma, movimento que tomou as ruas em 2013, a partir de reivindicações de esquerda que foram suplantadas pela direita, virou o que temos hoje.
5.5) Ainda sobre economia, é importante destacar que Dilma adotou o programa econômico de Aécio em 2015, depois de se reeleger. Ao invés de manter a política desenvolvimentista, que passa pela redução de juros, Dilma adota a estratégia neoliberal, inclusive com um economista ligado ao sistema financeiro como ministro, de manter os juros altos.
Então, antes de sair dizendo que Dilma afundou o país, tente compreender um pouco como funcionou este processo e quais são os outros atores dessa história. Nessa briga, você pode estar apoiando gente que ajudou a afundar o país e nem se deu conta.
6) Sérgio Moro. Não sei se o juiz paranaense é honesto ou não, mas ele certamente usa dois pesos e duas medidas para fazer o que está fazendo. Se não usasse, sua atuação no caso Banestado teria sido similar à da Lava Jato, já que eram as mesmas empreiteiras envolvidas e o rombo era imenso. Na época, o presidente era FHC, do mesmo partido que o pai de Moro ajudou a fundar em Maringá.
6.1) A Operação Lava Jato é inspirada na Operação Mãos Limpas, que prendeu um monte de corruptos na Itália. Sérgio Moro, em 2004, escreveu um texto acadêmico sobre a experiência italiana. Lá ele fala do uso da mídia e de outros instrumentos que deveriam ser usados na versão brasileira. É o que está acontecendo, inclusive com uma longa e elogiosa matéria no Fantástico do último domingo. A construção da imagem de Moro como um herói nacional é um sucesso.
6.2) É esse suporte midiático que possibilita a Moro o atropelamento das regras jurídicas. As pessoas que o apoiam apenas dizem: foda-se a regra, o que importa é pegar o bandido. Não é bem assim. Se fosse com elas, aposto que não gostariam que o juiz quebrasse as regras. Uma dessas regras quebradas é o grampo de advogados, desrespeitando uma regra básica de qualquer Estado Democrático de Direito, que é proteção ao sigilo entre advogado e cliente. Desconfio que o próximo passo de Moro é grampear consultórios de psicologia. Outra regra desrespeitada é a condução coercitiva de pessoas que nem haviam sido intimadas ou convidadas a depor. Tudo faz parte de um jogo midiático. Moro joga pra torcida. É como se um árbitro de futebol apitasse descaradamente a favor de um time e a torcida, reconhecendo isso, aplaudisse.
6.3) O que as pessoas precisam entender é que Moro não pode desrespeitar as regras sozinho. Ele tem o apoio da população e o apoio de gente graúda, de seus superiores. Se não fosse o ódio forjado ao PT, um juiz jamais conseguiria fazer algo similar sem sofrer sanções externas. Como isso tudo faz parte de um projeto de retomada do poder total pela elite financeira e política do país, Moro tem o apoio de todos.
7) Golpe. Você pode achar que não é, pois sempre há um elemento ou outro para justificar as ações contra Dilma e o PT. Mas o fato é que essa série de irregularidades – na Justiça, na Mídia, na Política –, combinadas, fazem com que a coisa toda seja um golpe. Querem tirar uma presidente que não tem acusações contra ela para colocar gente bandida que vai aplicar a principal política do capitalismo: enriquecer ricos e empobrecer pobres.
Em 1964 aconteceu algo parecido. Acusaram Jango de ser comunista, coisa que ele não era, assim como Dilma não é, e usaram a corrupção para desculpa para mobilizar o povo. Naquela época, o povo foi as ruas e a democracia foi pro espeto. Foram 21 anos de ditadura, com muito sangue derramado da esquerda e muito suor pingado dos trabalhadores, que sofreram sem poder reclamar.
8) Por fim, a ascensão do fascismo marca o nosso tempo. Derrubar Dilma, Lula e o PT é um atentado contra toda a esquerda, mesmo que o PT não faça mais políticas econômicas de esquerda há tempos. O clima instaurado, de ódio à política, tratando todos como ladrões, serve de trampolim para candidatos que parecem ser desgarrados da política, como Bolsonaro. Ao afastar a população da política, ela vai votar naquele que fala mais fácil, que oferece soluções fáceis, praticamente prontas, como a redução da maioridade penal, o aumento das penas, a industrialização do sistema prisional, o armamento. Ao promover o ódio ao PT, cada um está promovendo o ódio ao outro, ao que pensa diferente, erguendo muros e derrubando pontes. As consequências serão muito graves.
Como eu disse antes, coragem é fundamental para o momento. E vai ser cada vez mais. Pena que é para poucos.
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