POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Michel Temer, Gilmar
Mendes, Aécio Neves e José Serra. Esses são os cabeças de cartaz
do seminário “Constituição
e Crise – a Constituição no contexto das crises política e económica”, a ser realizado de 29 a 31 de março em Lisboa. O evento tinha tudo para passar despercebido, mas nos últimos dias os políticos
portugueses se viram confrontados com aquilo que a imprensa chamou “governo
brasileiro no exílio”. E começou a dar chabu.
O jornal “Público”, um dos principais diários
de Portugal, publicou, na última quarta-feira, uma matéria com o seguinte
título: “Encontro em Lisboa reúne oposição e juízes brasileiros e assusta
políticos portugueses”. É o resumo da ópera. O seminário virou um problemão para os políticos europeus que, para não
serem contaminados pela ideia do golpe, subitamente passaram a ter "dificuldades de agenda". Tem muita gente a desembarcar da iniciativa.
Uma das ausências mais relevantes vai ser a do recém-empossado presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que
faria o discurso de encerramento num simbólico dia 31 de março. Logo no seu
primeiro mês de governo, o presidente, um conservador que foi professor na
Faculdade de Direito, ficou com essa bota para descalçar. Ou segue as normas
da diplomacia e não participa ou mergulha no ninho dos golpistas. Mas nada que a alegação de uma
agenda sobrecarregada não possa resolver.
Em nota enviada ao mesmo jornal “Público”,
Rebelo de Sousa fala em outros compromissos: “O
Presidente da República foi convidado para encerrar um colóquio académico na
Faculdade de Direito de Lisboa, escola com a qual tem, como é sabido, uma
relação particular. Seria a primeira oportunidade após a tomada de posse de lá
regressar. No entanto, há um problema de agenda muito complexo. O Presidente
não sabe ainda se poderá participar. Mas será de certeza muito difícil…”
Há outras desistências a ser anunciadas, mesmo de gente à direira no espectro político. Qual a
razão? Pode haver muitas explicações, mas uma delas parece ser mais
consistente: ao longo das últimas semanas a opinião pública portuguesa, acompanhada
pela imprensa, parece ter reajustado a bússola. No exterior, a percepção da
ideia de golpe fica cada vez mais evidente. E a reunião dos golpistas em Lisboa
– num evento no mínimo questionável – é algo que os democratas, mesmo que de direita, têm dificuldade em engolir.
Palestras com Serra ou Aécio? A Faculdade de Direito é uma instituição
respeitada. É incômodo vê-la a ser usada como palco para iniciativas que apontam para o golpismo.
É a dança da chuva.
Matéria do jornal português Correio da Manhã |
Até porque o Lula não assusta mais ninguém.
ResponderExcluirBuuuu!
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