sexta-feira, 29 de maio de 2015

Apenas notas um pouco ácidas...

POR SALVADOR NETO

Reforma ou demolição?
A proposta (?) de reforma política que Eduardo Cunha (PMDB) enfiou goela abaixo dos colegas deputados esta semana, isso após incinerar a outra proposta criada por uma comissão especial que ele próprio incentivou, está mais com cara de demolição da democracia que para um reforma. Como se diz nos meios políticos, propõe-se mudar tudo para de fato, nada mudar.

Reforma ou demolição? (2)
Cunha fez surgir pelas mãos de seu amigo Rodrigo Maia (DEM) um projeto forjado para dar ares de mudança a algo que eles não desejam mudar. Como a um vestibular de múltipla escolha, colocaram lista de votação por tema. Ao final deste grande teatro, estão mantidos o financiamento privado das campanhas, agora somente a partidos; o voto proporcional, a manutenção das coligações para o legislativo, e o fim da reeleição para o executivo.

Reforma ou demolição? (3)
De costas para o povo, aquela massa que em 2013 alguns chegaram a dizer que era o gigante que havia acordado, Eduardo Cunha e a maioria dos deputados pioraram o que já era ruim. O financiamento privado aos partidos inviabiliza ainda mais a transparência, porque não se saberão os “preferidos” de cada presidente de sigla a receber os recursos. Uma jogada de mestre, sob o ponto de vista de quem não deseja luz no principal motivador da corrupção no Brasil: o financiamento privado das campanhas eleitorais.

Já em Joinville...
Já na provinciana maior cidade catarinense continua-se a conviver com o abandono geral das ruas, praças e obras. Buracos brigam por espaço no asfalto esfarelado, enquanto a gestão Udo Döhler (PMDB) não consegue fazer andar licitações para pelo menos recapar tais ruas, que dirá fazer os 300km de asfalto prometidos. Dizem que do estacionamento rotativo, após quase um mandato inteiro de estudos, agora vai. Há quem acredite, mas o povão da periferia não. É só dar uma visitadinha como faziam na campanha eleitoral.

Greve à vista?
Ainda na cidade onde qualquer chuva alaga vias, casas e escolas por pura falta de manutenção de rios, córregos e bocas de lobo, voltamos ao filme antigo: embate entre Sinsej e Udo Döhler na questão do aumento salarial dos servidores municipais. Udo oferecia nada. Depois a inflação parcelada em oito vezes de pouco mais de 1 ponto percentual ao mês. Piada de mau gosto até para quem não é servidor. O Sinsej, que no tempo de Carlito Merss botava prá quebrar, mas agora amansou, diz que vai para a greve na semana que vem... façam suas apostas!

LOT, lobbyes e vereadores
O prefeito Udo Döhler anunciou, via diários oficiais do governo, ah, desculpem, os jornais diários locais, que mandará para os vereadores a tão esperada (por inúmeros lados!) Lei de Ordenamento Territorial, a LOT. Embates renhidos ocorreram no Conselho da Cidade, na Justiça, e assim na base do arrasto, ela chega ao legislativo. Veremos momentos de alta tensão nos próximos meses, capazes talvez de paralisar um governo que está no ponto morto desde a posse.

E a cassação de Maycon César?
Na mira de vereadores que detestam seu modo de fazer política, atirando contra o espírito de corpo da Câmara de Vereadores, os colegas, Prefeito para se promover, o vereador Maycon César conseguiu cessar o processo de cassação que corria contra ele, pelo menos temporariamente. Agora, com a LOT na Casa de Leis, quem sabe se voltam a colocar a espada sobre a cabeça de Maycon?

E o caso Lia Abreu?
A servidora Lia Abreu, fiscal da Vigilância Sanitária em Joinville (SC), que foi afastada de suas funções no final de janeiro deste ano pelas acusações de desapreço no recinto da repartição, conduta escandalosa, abuso de poder e assédio moral, está pronta para falar. A tal sindicância foi prorrogada, mas o prazo finda este mês. Gente poderosa está por trás da medida, porque ela era uma pedra no sapato ao interditar escolas a cada momento por pura falta de manutenção das mesmas. Lia, em breve, vai falar tudo sobre o caso. Talvez até seja aqui no Chuva e para este jornalista. Leia o que escrevi no artigo “Lia Abreu, cadê você?”.






quinta-feira, 28 de maio de 2015

Descaso político


POR MÁRIO MANCINI

Joinville possui o maior colégio eleitoral de Santa Catarina, o suficiente para decidir uma eleição, tanto que os políticos sabem disso, quando em campanha são totalmente dedicados à cidade e, principalmente, a seus eleitores.
Passada a eleição, o descaso aparece, promessas (há quem acredite nelas) são esquecidas, junta-se a isso a participação pífia dos representantes locais nos governos Federal e Estadual.
Temos alguns exemplos para justificar a premissa acima. Comecemos pela Arena. Enquanto a local vive a míngua, à espera de recursos, enquanto as “lideranças” políticas locais trocam “elogios” pelas redes sociais, a de Chapecó está pronta, com todo respeito que a cidade merece, não tem comparação, em tamanho, habitantes, economia, etc., só que possuem representação mais ativa.
A duplicação da avenida Santos Dumont foi transformada em uma colcha de retalhos, trocada pelos famosos binários, um paliativo de duração limitada. A desculpa de sempre, o custo das desapropriações. Pergunto: fosse em Florianópolis já não estaria pronta?
A elevação da rua Minas Gerais, a duplicação da Rua Dona Francisca, a UFSC e seu acesso, o Hospital da Mulher, BR 280, etc.
Já passou do momento de cobramos dos nossos políticos o retorno dos votos neles depositados. Chega de sermos “vaquinhas de presépio”, cobrar resultados faz parte da democracia.
Sabemos que sem projetos não há dinheiro, e que projeto não é o forte da atual administração, nem licitações, pois cobremos deles.
Ano que vem tem eleição. Façamos a lição de casa, ou melhor, comecemos a arrumar a casa, mudando, se necessário, e assim sucessivamente, até acertar. Ou não?

***
JEC
O que está acontecendo com o time? Excesso de respeito é sinônimo de medo e em futebol é técnica suicida. Não é este o perfil do time.


Coragem, pois poderemos até perder, mas perder de cabeça erguida. Fica a dica...

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Planejar e investir em cidades médias pode ser uma solução?

Bilbao, na Espanha, tem cerca de 350 mil habitantes
Olhando assim, até que se parece com Joinville

POR FELIPE SILVEIRA

Talvez seja desconhecimento, mas nunca vi ninguém propor ou defender que uma das maneiras de resolver os problemas das cidades grandes é justamente diminui-las. Não sei o que geógrafos, sociólogos e urbanistas dizem, mas gostaria de saber, e também não vi a proposta no campo da esquerda, até porque ela bate de frente com outra.

Cidades com milhões de pessoas não fazem sentido. Muito menos quando estes números chegam a 6 ou 12 milhões, como Rio de Janeiro e São Paulo. Algumas comunidades nessas cidades têm 100 mil pessoas, muito mais populosas que milhares de cidades do país.

O que imagino como ideal é o investimento em cidades menores/médias de modo que possam atrair a população sem gerar um grande impacto. Imagino que o aumento moderado e planejado de certas cidades possa gerar um aumento do número de empregos principalmente nos setores do comércio e de serviços. Cidades médias precisam ou comportam mais jornais, restaurantes, lojas, médicos, advogados etc.

Cidades com 100, 200 ou até 500 mil pessoas são possíveis (não fáceis) de administrar e de planejar. Não vou dizer manter a ordem (vade retro), mas vocês entendem o que quero dizer. É claro que não se pode deixar de investir nas comunidades super-populosas que não contam com nenhum investimento do Estado que não seja tiro, porrada e bomba. Mas também é preciso pensar em outras maneiras de evitar e resolver o problema.

Pode ser que a conta não feche, que a premissa esteja errada, que eu tenha falado uma bobagem. Mas tenho pensado há algum tempinho nisso e não tive nenhum motivo ainda para "despensar". Alguém tem um?

Otimista!


terça-feira, 26 de maio de 2015

Luz no fim do...


Nossa justiça injusta

POR FELIPE CARDOSO

Queria acreditar que fosse coisa da minha cabeça. Queria acreditar que em 2015 não existisse mais isto. Mas os fatos transformam em ilusão o pensamento de quem afirma que o racismo não existe ou que acabou.

Poderia dedicar esse texto somente para tratar da questão da enorme tentativa dos veículos de comunicação tradicionais tupiniquins de ganharem mais apoiadores para a aprovação da lei da maioridade penal, mas aproveitarei esse assunto para falar também sobre a justiça brasileira.

Recentemente, uma das notícias que ganharam destaque na imprensa nacional foi o assassinato do médico Jaime Gold, que pedalava na ciclovia da Lagoa Rodrigo de Freitas, Zona Sul do Rio de Janeiro, na terça- feira, dia 19 de maio.

Um dos suspeitos de praticarem o ato foi preso dois dias depois. O jovem negro, com apenas 16 anos de idade e que já tinha15 anotações criminais, foi encaminhado ao DH.

Em 2012, Thor Batista, filho de Eike Batista, em alta velocidade e possivelmente embriagado, atropelou o ciclista Wanderson Pereira dos Santos. Thor já tinha cometido algumas infrações ao volante e, segundo informações, havia abandonado o carro. Mas o jovem de 20 anos teria retornado em seguida para fazer o teste do bafômetro. Até hoje não se sabe quanto tempo ele demorou para retornar. Os familiares da vítima afirmam que o ajudante de caminhoneiro fazia diariamente o percurso e alegam que ele estaria no acostamento no momento em que foi atingido. Mas a imprensa tratou logo de veicular que no local é comum acontecer acidentes e a versão do filho do milionário foi de que Wanderson atravessava a rodovia. Segundo o jornal O Globo, “Wanderson teve o braço e a perna arrancados e o peito aberto”. O carro do suspeito chegou a ser recolhido para um pátio da Polícia Rodoviária Federal, mas foi levado pelo advogado de Thor, que prometeu deixar o veículo “sem modificações” e à disposição da polícia.

Mesmo assim, após uma novela judiciaria, o filho do milionário foi absolvido e só teve que prestar serviços comunitários.

Os dois casos contém violência e assassinato, os dois casos envolvem ciclistas e os dois jovens já tinham cometidos erros anteriormente.

O único problema é que o jovem negro não teve a mesma sorte do jovem branco. Não nasceu rico e não pôde comprar pessoas para assumirem a culpa ou bons advogados para se livrar da cadeia ou até mesmo, quem sabe, “molhar a mão” do juiz para que o mesmo pegasse leve na sentença. Esse rapaz já nasceu morto e com os dias contados. Diferente do filho do milionário que acha que é o dono do mundo e tem na sua mente que é eterno. Por isso, apenas por isso, só o jovem menor de idade teve como pena  a privação do seu direito de liberdade.

O Brasil é um país que se categoriza e constrói seus estereótipos de acordo com sistema escravista. Aqui um engenheiro vale mais que um professor. Um médico vale mais que um gari. Um político vale mais do que uma empregada doméstica e assim por diante. E cada uma dessas profissões têm cor e para conseguir credibilidade nessas áreas é preciso seguir esse pensamento. Quanto mais alto for o salário, mais branco a pessoa é, e quanto menor for o salário mais negra a pessoa é. Isso está naturalizado. Faz parte do imaginário popular e da realidade brasileira.

Duvida?

Alguém lembra daquela jornalista que disse que os médicos cubanos tinham cara de tudo, menos de médicos e que pareciam mais com empregados domésticos do que “doutores”? Sim, pois a cor aqui no nosso país define o que você é, que profissão deve ter e por onde deve andar e morar. E, infelizmente, esse tipo de pensamento atinge a nossa justiça.

O lugar do negro tem que ser no subemprego, na periferia, nos presídios, nas ruas. O lugar do branco é em altos cargos, empregos bons, em condomínios fechados, viajando pelo mundo.

Já dizia Edi Rock na música “Negro Drama”: “me ver preso ou morto já é cultural”. E a nossa própria justiça já apresentou diversas evidências que também é vítima desse vício do pensamento escravista e acaba se tornando parte opressora ao continuar perpetuando e realizando tais atos.

Esses dois casos representam os excessos de um país desigual. De um lado se mata por não ter dinheiro e oportunidades. Do outro se mata por puro prazer, luxúria e ostentação.

Só que, infelizmente, a corda arrebenta sempre para o lado mais fraco, do lado mais pobre.

Assim, quando se mata um médico branco que transitava pela rua com sua bicicleta, e o assassino é um jovem negro, há uma sensibilização de toda a sociedade e, principalmente, da mídia que induz o coro a uma busca por justiça de tal caso. Mas quando acontece o inverso, quando se mata um trabalhador negro, que retornava de bicicleta do trabalho e o assassino é rico e branco, há um conformismo e um tapinha nas costas. E é assim que caminha a nossa humanidade.

Além disso, casos como acidente do filho do governador de São Paulo e do casal global Luciano Huck e Angélica merecem mais destaques midiáticos que a morte do garoto Eduardo, do dançarino DG, da injustiça cometida com Mirian França e vários outros casos rotineiros na periferia.

Eles nos forçam a sentir empatia por pessoas que nem conhecemos e estão muito distantes de nós e da nossa realidade e nos conduzem a desprezar nossos vizinhos.

Redução da Maioridade Penal

Já era de se esperar que esse caso do médico assassinado serviria para reforçar a ideia dos conservadores para exigir a redução da maioridade penal. Nesse domingo, por exemplo, o “Fantástico” dedicou-se para espalhar o caos na pouca audiência que lhes resta. Mas o que não esperavam e não noticiaram foi o depoimento da ex-mulher da vítima que teve lucidez para comentar o ocorrido.

Fala-se muito que nossos políticos não querem nos fazer pensar, por isso não se investe em educação, mas já paramos para pensar o motivo de tais veículos de comunicação também não contribuírem para educar melhor os espectadores?

Enquanto alguns países se orgulham por estarem fechando cadeias, aqui no Brasil, que tem uma das maiores populações carcerárias do mundo, querem construir mais. Mas por que há tanto interesse nesse sistema prisional?

Porque cadeia dá lucro, então a ideia é a seguinte: aumentar o número de pessoas presas, mostrar a ineficiência do poder público na cadeia, destacar o descaso, o mau tratamento, a desumanidade, para deixar evidente, mais uma vez, que o Estado não é capaz de dar conta disso. Assim como não é capaz de dar educação, saúde, transporte… E como única solução para sair desse (e de qualquer outro) problema: PRIVATIZAR AS CADEIAS.

Sim, não basta querer privatizar a Petrobrás, as escolas, os hospitais, o transporte… Pensando apenas no lucro, as pessoas são tratadas como gado, apenas vão para onde mandam e fazem tudo o que pedem.

Não preciso nem dizer a cor e a classe que sustentará essa linda ideia de privatização, não é mesmo?

Para não me estender muito por aqui, compartilho o link de um texto mais completo e que relata muito bem a ideia apresentada aqui.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

A administração pública no escuro



Quem acha que a administração pública segue os princípios de eficiência, economicidade e bom senso - fatores que devem nortear qualquer economia da mais simples à mais complexa - talvez tenha que rever os seus conceitos.

Há uma tendência natural para a gastança irresponsável e o esbanjamento quando o que se gasta é o dinheiro dos outros. O dinheiro que comumente se chama “dinheiro público” é um dinheiro que, na cabeça do administrador público, cai do céu, como um maná bíblico. A situação é mais esdrúxula quando quem administra o dinheiro do contribuinte assume o papel de administrador exemplar, de cuidadoso zelador dos interesses do pagador de impostos e acaba cometendo os mesmos erros e vícios de quem paga as contas com dinheiro de outros.

Em Joinville, um caso interessante é o da iluminação pública. Na administração do prefeito Carlito Merss, na maioria das principais ruas da cidade foram trocadas as luminárias com recursos originários da COSIP. Dinheiro que todos os consumidores de energia pagam a cada mês na sua conta e que tem o seu destino determinado por lei: custear a iluminação pública. Dinheiro que se acumula mês a mês em conta espec´fica.

Alguém viu alguma ação deste governo para reduzir a conta? Não viu e não verá. Porque não há a menor preocupação com o dinheiro do pagador de impostos. O que poderia ser feito? Muito!

Começamos? Primeiro a troca de todas as lâmpadas dos sinaleiros de incandescentes por led. O sistema de led é mais econômico e representaria uma importante economia para uma cidade que fizesse da sustentabilidade uma das marcas da sua gestão. Vamos recapitular, trocar as lâmpadas incandescentes por leds representará menor consumo, uma cidade mais eficiente e a redução de custo deveria ser repassada ao contribuinte. Ainda o led tem uma duração maior, requer menos trocas e o custo da manutenção semafórica acabaria também sendo menor. Ou seja, outra redução de custo que deveria beneficiar ao joinvilense.

Continuamos? As luminárias que há menos de quatro anos foram trocadas pelas luminárias vermelho PT utilizavam lâmpadas alógenas de consumo maior que o led. Mas sendo menos eficientes. A administração municipal da época poderia ter aproveitado a troca das luminárias para dar um passo em frente e reduzir o consumo de energia. Não o fez. Perdeu a oportunidade de avançar na sustentabilidade. Afinal, como a conta é paga pelo contribuinte via COSIP ninguém teve a menor preocupação com a eficiência energética.

Agora esta administração inicia a troca das luminárias vermelhas por outras novas, mais eficientes, que utilizam a tecnologia led. Hora de aplaudir? Ainda não. Trocar luminárias com menos de 4 anos é necessário? Há áreas mais prioritárias? Ah... já sei. A turma de sempre vai comentar que o Chuva Ácida e o Jordi Castan, em particular, só critica esta gestão, que nada foi bem feito. Pode ser que tenham razão. Mas a verdade é que esta administração que se elegeu com o discurso da gestão esta cada vez mais parecida com a que a antecedeu. Há falta de obras, quer mostrar que dedica-se a trocar luminárias.

O resultado para o contribuinte é evidente. Se há dinheiro da COSIP para desperdiçar é porque a conta está muito alta. Querem elogio? Reduzam a conta da COSIP, façam o seu cálculo mais transparente. Há dinheiro demais na conta e este dinheiro é dinheiro meu, seu, de todos. Aliás, o legislativo faria bem me trocar às sessões de homenagem e bajulação por uma fiscalização mais eficiente do executivo. 

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Sobre gays, rock e alvarás alucinógenos


POR EMANUELLE CARVALHO

Recentemente a cena do rock em Joinville vem causando arrepios mas infelizmente não pelos arranjos bem feitos, muito menos pelas referências furiosas de contestação social, crítica ao sistema ou pelo crescimento dos espaços para o público mas sim pelo conservadorismo, pelo machismo e pela homofobia propagada por bandas, casas e materiais produzidos por parte deste público.

Não é a primeira vez que isso ocorre aqui na província, brigas ideológicas sempre margearam o cenário. Na década de 90 a acusação de apologia ao nazismo fez com que o cena se estremasse e teve até quem fugisse pra São Paulo depois de matérias vinculadas nos jornais locais.

Ainda no final da década era comum ouvir falar de brigas de skinheads versus punks e punks versus XXX. A cena era basicamente divulgada nos bares, botecos, programas de rádios específicos e zines. A interatividade e a possibilidade de diálogo com outros públicos era significativamente menor bem como a visibilidade das discussões tão necessárias.

O rock embalou uma porção de movimentos contestadores e embora não seja o ritmo curtido majoritariamente dentro do grupo LGBT haviam também bares perseguidos pela polícia na revolta de Stonewall por serem gayfriendly (esse termo só foi criado muito tempo depois), ou seja, onde a comunidade LGBT podia minimamente ser respeitada. Digo minimamente porque vivemos em uma sociedade homofóbica, lesbofóbica e transfóbica, então é praticamente impossível um ambiente livre dessas opressões.

Em meados dos anos 2000, depois de já ter dado a luz ao meu filho, comecei a freqüentar a cena. Fui a centenas de shows no zepa, nas aberturas e fechamentos do garagem, peguei carona pro salão Jacob, as tardes lindas no bar do Luxe, as incontáveis garrafas de Maracujá Joinville no Old Bar, a polícia fechando o Stupp, as tentativas de fazer o bar Funil um ambiente pró roque, no Festival Linguarudos (que foi lindo pra caramba) e vez em outra migrava pra outras cidades como Guaramirim e Jaraguá em busca de um bom show. Paralelamente eu me descobria bissexual e foi uma barra. O ambiente do rock não é acolhedor,  pelo contrário, freqüentemente a gente ouve piadas nas rodas dos viados, e freqüentemente tem algum cara querendo beijar mina lésbica a força "pra mostrar como se faz".

Pois bem, nas duas últimas semanas duas publicidades da cena do rock geraram muita indignação nas redes sociais.

Primeiro, a imagem de uma mulher amarrada e ensangüentada dentro do porta malas de um carro, com a figura de um homem  com uma cara absolutamente assustadora convocava o povo para um show de roque. A discussão rolou, foi produtiva e os questionamentos de dezenas de feministas rolaram, houve pedido de desculpas da banda que fez o cartaz e posteriormente o mesmo povo começou a chamar aquilo de perseguição e "mimimi". Apologia a violência contra a mulher não é mimimi.

Na mesma semana outro cartaz de um evento de rock circulava. Desta vez uma mulher nua posava com uma garrafa  estourada de cerveja entre os seios, a cerveja espirrada lembrava propositalmente sêmen, e a garrafa fazia alusão ao pênis.

Ora, já não nos basta a indústria da beleza, os baixos salários, a falta de creches, a imposição da maternidade, a proibição do aborto, a cultura do estupro e de que "a culpa foi da mulher" é preciso também que as músicas de contestação e os espaços de diversão e confronto social também objetifiquem nossos corpos?

A publicidade pode ser mais inteligente. Melhorem.

E pra fechar com chave de ouro nosso dia de rock, ontem um bar de Joinville não conseguiu a liberação de alvará e culpabilizou a burocracia no país pelo índice de apenados (sim, isso mesmo que você leu) e de brinde disse que Joinville está virando a capital GLS!

Agora, além de destruirmos a família tradicional brasileira também detemos a liberação mundial de alvarás para bares de rock. É amiguinhos, a ditadura gay está chegando.

Pois bem, não é todo mundo do roque que é homofóbico e machista. Nosso querido Freddie Mercury que o diga, fez muito por todos nós!

Um bar precisa lembrar que é um estabelecimento jurídico, e que a internet não é terra de ninguém, onde você pode jorrar seu preconceito e não ser atingindo.
E pra quem fala de não combater a intolerância com mais intolerância:

Minorias não tem o poder de oprimir ninguém. O rock é composto majoritariamente de gente branca, classe média e estudada. Um bando de viado e sapatão não tem condições de perpetuar preconceitos com ninguém não.

Hoje não é dia de rock, bebê!

Irlanda vota "casamento gay"*


*Uso e expressão "casamento gay" para efeitos de título (por ser mais curto).



quarta-feira, 20 de maio de 2015

Há quatro ou cinco anos...

POR FELIPE SILVEIRA

Há quatro ou cinco anos, quando alagava o terminal central, choviam nas redes sociais montagens com o então prefeito Carlito Merss (PT) em botes, motos aquáticas, em cima do Fritz e em qualquer lugar que a criatividade dos internautas sugerisse.

Nos comentários das montagens o ódio se espalhava. Todo tipo de palavrão foi usado contra Carlito Merss e novos foram inventados para isso. Além do ódio, havia a crítica dos moderados. Não xingavam, mas não deixavam de responsabilizar a administração municipal pelos alagamentos e por tudo que era ruim.

Isso ocorre em alguma medida com o prefeito Udo Döhler (PMDB). Mas nada que se compare. Há alguma corneta, uma montagem ou outra, reclamações e piadas com a nova gestão. Mas a carga de ódio é completamente diferente. Aliás, o ódio é elemento ausente na repercussão de notícias que envolvem a nova administração, mesmo que os problemas sejam os mesmos.

Deixar de odiar é, sem dúvida, um avanço. Mas é preciso observar a razão. O governo Udo Döhler simplesmente deixou de ser responsabilizado pela massa joinvilense.

Imprensa

É controversa a relação da imprensa com o governo Udo Döhler. O jornal A Notícia, que pertence ao grupo RBS, recebeu o governo do empresário com uma megalomaníaca manchete “A ERA UDO”. Por outro lado, o jornal televisivo do mesmo grupo tem se voltado mais à comunidade nos últimos anos (por necessidade de audiência), levando a cobranças ao governo municipal. Tenho a impressão que a RBS opera em um “bate e assopra” nos últimos anos.

Mas acredito que neste caso importa menos o modo como a imprensa age do que o modo como as pessoas reagem ao governo. Não há dúvidas que o ódio nacional ao PT, que hoje alcança níveis estratosféricos, tem relação com o ódio a Carlito.

Um negócio da China e Petrobras

Já o ódio ao PT, que prejudicou Carlito, tem relação direta com a imprensa nacional. Um exemplo disso é a maneira como foram tratados os fatos relacionados à economia. Se o fraco desempenho da petrolífera brasileira ganhou todos os holofotes meses atrás, sua recuperação é escondida embaixo do tapete. Boa parte da população não bota fé na exploração do pré-sal, por exemplo, pois a imprensa e as redes levaram a desacreditar no negócio. Enquanto isso a Petrobras bate recorde atrás de recorde de retirada de barris.

Da mesma forma, a população brasileira é levada a acreditar que os recentes negócios com a China não são lá grande coisa. São só 53 bilhões de dólares em investimentos nos próximos anos. Uma notícia das mais impressionantes em qualquer lugar do mundo, mas que é tratada com desdém e desconfiança pela imprensa nacional.

Enquanto isso, na biblioteca

O exemplo acima mostra que a maneira como tratamos a informação importa. Há quatro ou cinco anos o prédio central da Biblioteca Pública Municipal estava interditado, abandonado. Hoje, reformado e bonito, funciona.

Mas a biblioteca pública não deixou de funcionar na gestão petista. Diante do desabamento, que ocorreu por causa de uma reforma porca da gestão anterior, os livros foram levados a um bonito e espaçoso prédio na rua Anita Garibaldi, um pouco mais ao sul.

Alguns meses após a mudança para o centro, encontrei uma funcionária da biblioteca e perguntei sobre a mudança, comemorando a volta. Ela me contou que a população frequentava mais o espaço da rua Anita Garibaldi.

Há quatro ou cinco anos...


Ofereço o texto a Cleonice Heller, que perdeu a vida na terça-feira, 19 de maio, quando a caminhonete em que estava afundou no rio que alagava a rua a qual o automóvel tentava atravessar.

Às margens do Cachoeira


terça-feira, 19 de maio de 2015

LHS e o Cisne renhido


POR DAUTO J. DA SILVEIRA*

Há duas formas de se explicar o interesse da mídia dominante catarinense e de alguns setores produtivos e sociais em reverenciar o ex-governador Luiz Henrique da Silveira. A primeira delas é a tentativa de colar à sua experiência política, construída em torno de interesses imediatos de grupos reitores, especialmente, catarinenses, a um figurino político intocável, inquestionável. A tentativa, portanto, é de demonstrar que não há outra forma de agir politicamente. Essa estratégia, tão fecunda, dissolve qualquer debilidade que possa surgir e eclipsar o “sucesso” do ex-governador e tira do horizonte as possibilidades reais de se enfrentar os problemas que assolam o nosso Estado.

A segunda forma de explicar é caudatária da primeira, ou seja, é o ocultamento dos interesses burgueses que corriam na veia do ex-governador que nos fornece a chave explicativa da defesa angustiante da mídia catarinense. Não é exagero dizer que o ex-governador, ao longo da sua vitoriosa vida política, demonstrou comprometimento, sagacidade e um considerável traquejo com os seus negócios. A manutenção e ampliação do prestígio político, que se manifestava de forma impactante nas urnas e, porque não dizer, no apreço, ainda que ingênuo, de boa parte dos joinvilenses não é algo que deva ser desconsiderado nesta análise. Ocorre que todo este espectro político não teve como ponto de partida o intento de transformar profundamente a sociedade: a única forma capaz de tornar um político verdadeiramente prestigioso.

Para ser sincero o ex-governador sempre foi um político de extrato burguês e que não possuía nenhum laço identitário com a classe trabalhadora. Era o representante orgânico dos interesses de setores da burguesia catarinense e joinvilense. Mesmo vindo de um período em que fez oposição ao regime militar, nunca se destacou por ser um político das massas, de um político que pensasse à frente dos limites liberais da política, razão pela qual sempre atuou com certa liberdade dentro do congresso militar. Por tal condição não avançou um milímetro na luta pela superação das desigualdades sociais. Ficou muito reconhecido por sua “habilidade” ou por sua “articulação política”. Não obstante aos seus “traquejos políticos”, tudo era realizado de acordo com os interesses reduzidos. Isso é mais verdade se olharmos a teia complexa de relações políticas, partidárias, sociais e comunicacionais que estavam jungidas ao seu crivo. O controle desta teia é o que ainda explicava a sua condição de “cacique político” do Estado de Santa Catarina.

Se o que estamos a dizer faz sentido o projeto de poder lançado com a formação da tríplice aliança, enquanto marca desta capacidade de articulação, enfraquece-se com o seu falecimento. Ainda que os interesses possam ser mantidos, o vazio deixado levará algum tempo para ser preenchido; se é que possa ser preenchido diante da crise política e institucional que passamos.

Diante do esgotamento do sistema político liberal e de coalizão (enquanto forma de governar) só terá chances reais aquele político que estiver a integrar um projeto político efetivamente popular; que socialize os rendimentos do estado, portanto proponha um ataque aos interesses privados, dissolva as formas de prestígio social e as formas de poder dominante. Obviamente que estamos a falar de um político de “novo tipo”.

* Professor e Sociólogo

FHC comprou deputados? (com vídeo)

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO





Rei do Rio.


segunda-feira, 18 de maio de 2015

Teje preso!


A LOT, o Fritz, a polícia e o futuro

POR JORDI CASTAN




         LOT E AS MEIAS RESPOSTAS - A LOT - Lei de Ordenamento Territorial segue parecendo mais uma interminável novela mexicana do que uma proposta concreta para uma Joinville melhor. Decisão da 2ª Vara da Fazenda Pública considerou cumprida pelo IPPUJ a exigência de apresentação de documentos sobre o projeto da LOT.

A mesma decisão, porém, reconhece que há pontos não esclarecidos nos documentos e estudos apresentados pelo IPPUJ. Os documentos não permitem identificar quais as regiões de Joinville terão maior volume de tráfego de veículos quando a lei for aprovada e entrar em vigor. Outro ponto sem resposta é se a mudança de zoneamento terá impacto no sistema de coleta de esgoto.

A decisão é um caso típico de "nim": sim... porém não. Assim a LOT avança para ser aprovada sem que haja respostas às questões levantadas desde o início do debate e sem que sejam apresentadas provas convincentes e estudos definitivos que permitam avaliar impacto que a LOT terá sobre a cidade. É estranha, para não dizer estranhíssima, a resposta do juiz que, por um lado, garante que o IPPUJ cumpriu a determinação, mas, pelo outro identifica os pontos que não foram respondidos. Reconhece que há dúvidas e perguntas sem ser respondidas mas aceita as meias respostas do IPPUJ.

O resultado é uma pá de cal, ao reconhecer que os estudos foram apresentados, e outra pá de areia, ao identificar quais pontos não foram atendidos. Daí que alguém possa achar que o tema da LOT envolve poderosos interesses econômicos ou os interesses econômicos de poderosos e que o tema deve ser tratado politicamente, quando deveria ser tratado juridicamente.

A decisão do juiz não responde a pergunta: foram ou não apresentados todos os estudos técnicos e as informações necessárias para que a população, em primeiro lugar, e a Câmara de Vereadores, posteriormente, possam se manifestar e votar com convicção e conhecimento, tendo em mãos todos os elementos? A decisão do juiz abre espaço para novas ações na justiça e acaba suscitando ainda mais dúvidas.

A MORTE DE FRITZ - Joinville perde mais um personagem ilustre. Símbolo da luta por um Rio Cachoeira limpo e despoluído, a morte, na semana passada, do seu habitante mais famoso é uma perda para quem acreditava que o rio algum dia voltaria a ser limpo. Quem tem oportunidade de viajar pela Europa não deixa de se surpreender com a transparência e a qualidade da agua dos seus grandes rios, seja o Reno em Colônia, o Sena em Paris, o Tamisa a sua passagem por Londres ou o Tejo em Lisboa. Aqui imaginar que um dia o Rio Cachoeira possa voltar a ser um rio limpo e se converter, um dia, numa opção de lazer ou no eixo de um parque linear que sirva para o lazer de todos é um sonho cada vez mais distante.

SEGURANÇA INSEGURA - Dados divulgados esta semana revelam que o número de policiais em Joinville, em relação ao índice de habitantes por policial, passou de 585 habitantes/policial em 2001, para os atuais 721 habitantes/policial. Não sei se fico mais incomodado com o descaso do Governo do Estado com Joinville ou com o silêncio das entidades empresariais, com a ACIJ à frente.

O resultado é que Joinville é hoje uma cidade muito mais insegura. Os assaltos têm aumentado e a sensação de que a impunidade campeia à vontade não se restringe aos bairros mais distantes ou as áreas tradicionalmente mais inseguras. Hoje não há quem não tenha uma historia de violência urbana, de insegurança vivida pessoalmente ou por alguém muito próximo. O prefeito deve achar que a Guarda Municipal vai mudar esse quadro e por isso faz pouco para se esforçar em trazer para Joinville os 179 policiais militares que Joinville precisa para voltar aos índices de 2001.

CELERIDADE - Depois de cinco anos sem uso, o prédio que abrigou a CASAN primeiro e a Gerência de Educação mais recentemente, o Governo do Estado está pedindo autorização para colocar o imóvel à venda. Foram cinco anos. Ainda há quem ache que foi rápido. Se compararmos com outros exemplos locais, pode ser que sim, que este processo ande rápido. O joinvilense é campeão no quesito esperar sem reclamar, e a gente que se aproveita desse jeito pacato de ser.

- E assim vamos, cada dia dando um passo mais avançando na direção a Joinville do futuro.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Para onde irão chorar as viúvas e viúvos?

LHS deixou centenas de viúvas e viúvos políticos
(foto Salmo Duarte/Ag. RBS)
POR SALVADOR NETO


Neste final de semana, uma semana após a morte do senador Luiz Henrique da Silveira – o quase imortal político que a tudo controlava na política catarinense – poderemos ter uma análise melhor do novo quadro que se anuncia. É só dar uma verificada nas três missas de sétimo dia agendadas para Joinville e Florianópolis. Para além do valor humano, da perda que é dura aos familiares, ao qual respeito, há que se verificar para onde irão as viúvas e viúvos do poderoso LHS agora que ele foi a outro plano.


Imaginemos, pois, para onde irão as viúvas penduradas, digo, aninhadas no impoluto senado federal? No velório as falas eram muitas, e as fontes muito próximas garantiam: só por lá seriam entre 60 e 65 que prestavam seus serviços aqui, lá e acolá. Talvez migrem, com o coração peemedebista partido, para o colo tucano do senador que assume a vaga, Dalírio Beber. Talvez. Ou então para outro bicudo, Paulo Bauer? Mas vejam, esses galhos tucanos já estão prá lá de lotados. Imagino o choro por um pedacinho do graveto.

Viúvas e viúvos aboletados em cargos do governo de SC? Não são poucos! Eles e elas estão por toda Santa Catarina, ou nas cabideiras SDRs – que estão na mira do governador Colombo – ou em cargos nas autarquias, secretarias, empresas, conselhos e outros ramos da mãe estado. Qual dos líderes políticos vai oferecer guarida a tantos “assessores”? Colombo? Mauro Mariani? Eduardo Moreira? Dário Berger? Fico a imaginar quanto faturam neste momento as fotocopiadoras por este estado afora! Dá-lhe currículos!

LHS foi um paizão. Na imensa rede onde descansam, ou descansavam, vários “assessores”, há de tudo. Desde grandes letrados (?) que ocupavam, e ocupam, cargos estratégicos para que seus projetos tenham caminho aberto, até seguradores de mala, motoristas, mantenedores de currais eleitorais, tocadores (?) de obras, e claro apaniguados de muitos deputados estaduais e federais dos mais diversos, todos certamente empenhados em dar o melhor para a gente catarinense.

Ah, sim! Viúvos e viúvas do empresariado que tanto tinham apreço por LHS, para onde correrão neste momento difícil? Dá para imaginar? Voltarão ao projeto Bornhausen? Amin? Ou já miram para os filhotes de Colombo como Gelson Merísio, Antônio Gavazzoni, João Rodrigues? LHS, LHS, porque nos abandonaste, era a cantilena ouvida pelos cantos do Centreventos Cau Hansen durante as exéquias ao grande líder. Se apurarmos os ouvidos, sons chegam da Fiesc e associações empresariais de muitas cidades. Mas estes, bom, estas viúvas tem muitos pretendentes sempre.

O que dizer dos partidos nanicos, cujos líderes viúvos ficaram tão sentidos a ponto de brigar para segurar na alça do caixão do senador falecido à saída para o féretro que levaria o grande líder em um caminhão de bombeiros para sua última morada. Não é invenção não, meninos e meninas, eu vi! E o seu PMDB, o maior viúvo do talento de LHS para manter o poder, que será deste? A argamassa que conseguia unir tantos desunidos se foi. As pequenas repúblicas internas se desprenderão rumo a outros pretendentes?

Em Joinville, onde o senador mandava há décadas no seu partido e em outros tantos, o engalfinhamento tende a ser magnífico. Senão uma luta fratricida, talvez traições inimagináveis tempos atrás. O atual prefeito Udo Döhler, que só é o alcaide pelas mãos de LHS, vai colocar seu poder para tomar de assalto a legenda? Ou então aproveitará a deixa para voltar à redutos mais adequados ao seu modo de ser, tipo PSD, DEM, PR, etc? O que farão os deputados Dalmo Claro, Mauro Mariani? Os vereadores Rodrigo Fachini, João Carlos, Mauricinho e Claudio Aragão? Essa reunião de viúvas de LHS será difícil de unir.

Mas se o espólio político de Luiz Henrique deixou muitas viúvas e viúvos a chorar, embaralhando o cenário estadual, por outro lado atiçou ainda mais o desejo do PSD de controlar o cetro deixado pelo senador. Com o comando do governo estadual, e sabendo manejar o poder como poucos, os pessedistas devem acelerar a máquina contra o PMDB, de olho já em 2016 e 2018.


Se quem mais enviuvou foi o PMDB, a choradeira pode aumentar e muito mais. Porque viúvas e viúvos também traem a memória e o legado deixado. É esperar e conferir para onde correrão as lágrimas de tantas viúvas e viúvos mal acostumados com os benefícios do poder.



quinta-feira, 14 de maio de 2015

Joinville bem de saúde?

POR MÁRIO MANCINI



A Prefeitura de Joinville tem R$ 579 milhões previstos para a área, o que equivale a 25,7% do orçamento para 2015. Um bom dinheiro, pena que não reflita em ações reais.

Usarei como exemplo o bairro onde moro, o Costa e Silva. No papel é muito bem servido, pois possui dois postos de saúde e um pronto atendimento (PA 24h). Seria um exemplo, inclusive já usei o PA e fui bem atendido em um passado não muito distante.
A realidade atual é que apenas um posto de saúde está funcionando e o outro está em reforma. Já o PA foi sendo sucateado, tanto patrimonial como profissionalmente e antes de ser interditado já não possuía ortopedista e pediatra, pois na região ninguém se machuca e crianças não adoecem.
O posto de saúde está em reforma eterna, segundo a placa, financiado pelo Governo Federal com entrega prevista para junho de 2014. A Copa deve ter atrapalhado, como a equipe foi transferida para o posto novo, mesmo quando pronta a reforma (2030?) deve demorar para voltar a operar normalmente.
O PA também passa por reforma. Até agora foi repintado e só! Não se vê obra por lá, mas sejamos otimistas, as obras podem ser internas.
Portanto, devemos ter muito cuidado ao analisarmos propagandas de grandes feitos na saúde municipal, pois mostra o que foi entregue, uma ilusão de tudo bem, não o que está em “reforma”, que é em quantidade maior.
Já escreveram neste espaço que a PMJ inaugura até pintura de faixa de pedestre, comemora roçadas (que são poucas), como se o básico fosse o extraordinário; pelo que vemos é o que temos para hoje. Pior, ainda teremos um ano e sete e meses de marasmo administrativo.
E para aqueles, que sem o menor respeito e/ou pudor, comemoram a passagem do senador Luiz Henrique da Silveira, deixo o velho ditado: “ruim com ele, pior sem ele”. Espera e verás.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Um novo tempo, quem sabe...

POR FELIPE SILVEIRA

Luiz Henrique da Silveira apelou quando recorreu a Udo Döhler para ganhar a prefeitura de Joinville. Empresário, alemão, gestor de hospital, santo etc. A nova tentativa não deveria falhar, em contraposição à experiência de quatro anos antes, quando apostou as fichas no “forasteiro” Mauro Mariani.

Esse é apenas um pequeno exemplo da influência de LHS no cenário político local, que, com a morte do senador, passa a ter uma nova configuração e um novo modus operandi, já que o principal articulador não está mais entre nós.

Udo Döhler, como um Muricy Ramalho de olhos azuis, deve apostar no trabalho de sua equipe para mais quatro anos. E, junto com a máquina de propaganda, a qual apenas o capital detém a chave, deve conseguir. Kennedy Nunes deve mobilizar sua pequena máquina local para tentar o trono da Hermann Lepper. Vai incomodar. O PT junta os cacos em âmbito municipal. Parece ter desaparecido após 2012. Talvez seja reflexo do trauma somado à crise de identidade do partido nacionalmente. Sobre isso, cabe observar o posicionamento dos vereadores da sigla na atual legislatura.


E a população?

O que interessa nisso tudo é como fica a população joinvilense, observando a disputa e esperando pra ver quem vai ficar com o chicote na mão.

Vivemos um novo momento no mundo, de super-exploração no campo do trabalho, de violência no campo social, de retrocesso no campo político. Como reação a tudo isso, levantes acontecem mundo afora e inclusive aqui. No entanto, parecem ser engolidos pelo dia a dia, pela necessidade de sobrevivência e de vivência de cada um de nós.

Mas até quando os trabalhadores e estudantes de Joinville vão deixar seu mirrado salário no aluguel, na passagem do transporte coletivo, na mensalidade da faculdade? Até quando vão comer poeira nos bairros de ruas não asfaltadas? Até quando vão ver seus parentes sofrer nos corredores dos hospitais e nas filas dos postinhos? Até quando vão se contentar com as frases de efeito de empresários e comunicadores, que vendem uma Joinville planejada, mas não dizem para quem?


Novo ciclo

A morte de LHS representa o fim de um ciclo, certamente. Talvez ele representasse a política de outra época, embora estivesse à frente de muitos jovens no campo estratégico. A nova etapa da política local dá a impressão de um “cada um por si” na política eleitoral e tradicional da cidade.

Mas talvez seja justamente este momento de “fragilidade” do capital local que nos possibilite impor outros valores ao debate político. Com levantes nos bairros, nas escolas, nas fábricas e nas ruas é possível estabelecer outra relação.

Talvez não consigamos nada. Mas é preciso sonhar. E realizar.

terça-feira, 12 de maio de 2015

Trabalha, vagabundo! 2


Trabalha, vagabundo! 1


Liberdade para quem?


POR FELIPE CARDOSO

Amanhã, dia 13 de maio, muitos veículos de comunicação e professores de história lembrarão da libertação dos escravos no Brasil. No dia 13 de maio de 1888, o maior país da América Latina liberta seus cativos, tornando-se o último no mundo a abandonar o sistema escravista.

Sem direito a terras, educação e saúde, abandonados e à margem, milhares de negros espalhados pelo país comemoraram a sua liberdade.

Mas qual liberdade?

Privados dos seus direitos, tendo apenas deveres, milhares de negros tiveram que se contentar com subempregos e com a moradia em morros com barracos. Além de contar com a violência e a opressão policial.

Uma liberdade maquiada, isso sim.

As senzalas tornaram-se favelas, as mortes, torturas e castigos antes praticados pelos senhores e capitães do mato, hoje são dadas por políticos e policiais. A casa grande? Não preciso nem dizer o que são. A música e a cultura ainda são criminalizados e, muitas vezes proibidas, assim como a capoeira e o samba foram. Os terreiros de Candomblé e Umbanda recebem diversos ataques de intolerantes.

Nos jornais, na moda, na publicidade, nas novelas, na política, nos altos cargos das empresas, nas universidades e vários outros lugares não vemos representatividade.

As piadas, as chacotas e as humilhações ainda são as mesmas.

Corpos ainda são arrastados. Eterna Cláudia. Corpos ainda estão desaparecidos. Eterno Amarildo. Corpos ainda são presos injustamente. Eterno Vinícius. Corpos ainda são mortos: Cláudia, Amarildo, Eduardo, DG… Melhor parar, pois a lista é grande.

Movimentos sociais ainda são criminalizados e silenciados. Enquanto isso, continuam reproduzindo o discurso da meritocracia e agora propagando o discurso do racismo reverso.

Por falar em meritocracia, quando vão nos pagar os nossos méritos de 400 anos de trabalhos forçados? Vamos seguir a lógica ao pé da letra? Um pouco de coerência faria bem nesses momentos.

Pelos erros do passado, por aprender com muitas dores e humilhações, percebemos que nada mudou. Notamos que a princesinha pintada de santa durante muito tempo, só libertou os escravos por estratégia financeira, motivos econômicos. Nossa história foi apagada, nossas árvores genealógicas estão incompletas. Até disso nos privaram.

A nossa liberdade começa a ser construída na nossa cabeça, ao observarmos os fatos, ao lermos, ao escrevermos, ao denunciarmos, ao reivindicarmos, ao nos unirmos, ao lutarmos. A liberdade do negro está sendo construída por conta própria. O PT deu algum espaço, mas esse espaço foi exigido pelo povo negro. Os movimentos estão crescendo, estamos nos conscientizando e não estamos mais aceitando tudo calado.

Após 127 anos ainda não estamos livres, mas estamos construindo os nossos próprios caminhos para a liberdade… Como sempre foi.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

A Secretaria das Roçadas

POR JORDI CASTAN



Quem esperava um choque de gestão vai ter que começar a aceitar: a maior obra desta administração são as roçadas. Na falta de outra coisa para mostrar, a poderosa Secretaria de Comunicação, a SECOM, dedica o seu esforço, a sua equipe e o seu orçamento a divulgar a trivialidade do quotidiano. Tudo aquilo que passaria despercebido se alguma coisa importante estivesse acontecendo passou a ganhar o destaque de um grande acontecimento.

Roçadas de mato, troca de lâmpadas queimadas e novos uniformes passam a ser notícia de capa. E podemos juntar a boa disposição da imensa maioria da imprensa sambaquiana, que não tem a menor dificuldade em assumir o papel de caixa de ressonância das notícias diariamente encaminhadas pela a assessoria de imprensa da Prefeitura Municipal.

Noticiar o trivial, o dia a dia de uma cidade como Joinville é um exemplo interessante de como fazer jornalismo. Imagino os profissionais que um dia sim e outro também precisam escrever notas sobre a roçada do mato na Rua dos Caraminguás ou a troca de lâmpadas na servidão do Zé das Couves. Talvez a repintura de alguma faixa de pedestres ou a reparação, pela enésima vez, do buraco entre as Ruas dos Macacos e dos Saguis se esforçando em dar uma nova redação ao texto que será encaminhado para a imprensa local. A única diferença é que o texto que ontem falava da Rua Xis, hoje fala da Rua Ípsilon. E até poderá ser utilizada a foto da mesma rua de ontem, só que tomada desde outro ângulo.

Mas temos que ser compreensivos. À falta do que mostrar, à falta do que inaugurar é bom saber em que é gasto o dinheiro público em Joinville. Imaginamos, inclusive, um projeto de reforma administrativa criando a Secretaria Municipal das Roçadas e dos Capins, com recursos oriundos do Fundo Municipal do Mato e realocando funcionários deslocados do cerimonial que, não tendo muito que inaugurar ultimamente, terão lugar em áreas em que o seu trabalho se faz mais necessário. O risco é que passemos a inaugurar roçadas e capinas, organizemos velórios para lâmpadas queimadas e que organizemos cursos de desenho de moda para uniformes da Guarda Municipal. Ou seja, que glamourizemos o nada absoluto, convertendo em notícia a ausência de notícia. 

Ops!!! mas se já estamos fazendo isso hoje.


quinta-feira, 7 de maio de 2015

Que a Força esteja com você!


O menino, a mãe e o juiz




POR VALDETE DAUFEMBACK NIEHUES

No segundo domingo do mês de maio costuma-se homenagear as mães. Seja qual for a motivação que deu origem a esta tradição, pode-se afirmar que hoje, em razão desta data, o comércio é o maior beneficiado, uma vez que movimenta a economia cujo lucro somente é superado pela festa natalina. Porém, não é sobre valor econômico o tema ao qual me reporto, mas tão somente o valor à vida, à capacidade de nos indignarmos diante de injustiças e à sensibilidade de nos manifestarmos por meio de gestos singulares em determinadas situações que resultem em direitos, dignidade, esperança e cidadania. 

Homenagear as mães de forma genérica pode ser importante para cumprir um ritual simbólico positivista por reconhecer as virtudes e a grandeza espiritual que somente elas possuem. Afinal, o marketing sabe muito bem como abordar e conduzir este tema para agradar às mães, aos filhos, à família. 

A partir daí dá-se atenção especial a esta data consagrado que, conforme reza a história, foi inspirada em um caso de profunda dor e solidão de uma filha, cuja mãe havia falecido. O espírito solidário de quem presenciara a tristeza da menina, fez nascer o sentimento coletivo de reconhecimento e valorização da presença materna por todo e sempre na vida dos filhos, independente de quem quer que seja. Assim, elegeu-se um dia, o “Dia das Mães”, que o comércio dele também se apropriou e o popularizou, embora nem todos os filhos e nem todas as mães conseguem fazer parte deste círculo e freqüentar templos de consumo para cumprir o ritual que se espera nesta data. 

Existem muitos meninos e meninas que, por vários motivos, sequer têm a possibilidade de viver na companhia de sua mãe, crianças que desde muito cedo aprenderam a dura realidade que as cerca, em face, principalmente, das dificuldades econômicas, sociais e culturais. Por estas crianças, não somente o mercado, mas também a sociedade tem desprezo, pois ambos não vislumbram nelas futuros consumidores, quando não as estigmatizam como uma ameaça. Daí decorre a adesão de tantos “cidadãos de bem” aderirem à ideia da redução da maioridade penal como medida de prevenção à segurança pública. Afinal, já é sabido que o sistema carcerário no Brasil tem cor e tem classe social. E o Estado punitivo é o mesmo que permite a desigualdade social e o abandono de crianças, jovens e mulheres à sua própria sorte. 

Se já não bastasse isso, a sociedade, de maneira geral, está cada vez mais intolerante, mais odiosa, menos solidária e disposta a analisar e compreender o contexto que envolve as famílias pobres, dentre as quais, aquelas que sobrevivem graças aos programas de governo e instituições que prestam assistência social.    

Porém, cada vez mais me convenço de que nas instituições públicas ou privadas algumas pessoas fazem a diferença porque são “dotadas” de sensibilidade e capacidade para tomar decisões orientadas pela ética e solidariedade. Cada pessoa dessa qualificação vale por mil. 

Recentemente, os meios de comunicação deram atenção a um caso que envolveu três personagens, um menino, sua mãe e um juiz, cuja história comoveu muita gente pela sensibilidade da atitude, tanto do menino (que enviou uma mensagem de agradecimento ao juiz por ter permitido que sua mãe, doente, deixasse a prisão para passar seus últimos dias em companhia dos filhos), como do juiz (que por meio de uma decisão judicial extremamente humana devolveu ao menino a perspectiva de sonhar). No entanto, não faltou quem reprovasse a decisão do juiz, pois o embrutecimento do olhar punitivo dissemina a cegueira coletiva e impede o exercício da justiça e da cidadania. Por outro lado, não há como negar de que a atitude do juiz tenha provocado a possibilidade de um debate reflexivo sobre ética e direitos humanos. 

O que nos torna humanos é a capacidade de raciocínio para tomar decisões que, por vezes, desestruturam a nossa zona de conforto ao se configurar tendências que fogem dos padrões aceitos pela maioria. As leis e a tradição são instrumentos de manutenção da ordem social. No entanto, a compreensão, a sensibilidade, a solidariedade e a justiça são valores responsáveis pela promoção da cultura da paz. Assim, nossos meninos e meninas estarão protegidos e livres para sonhar.