POR FELIPE CARDOSO
Queria acreditar que fosse coisa da minha cabeça. Queria acreditar que em 2015 não existisse mais isto. Mas os fatos transformam em ilusão o pensamento de quem afirma que o racismo não existe ou que acabou.
Poderia dedicar esse texto somente para tratar da questão da enorme tentativa dos veículos de comunicação tradicionais tupiniquins de ganharem mais apoiadores para a aprovação da lei da maioridade penal, mas aproveitarei esse assunto para falar também sobre a justiça brasileira.
Recentemente, uma das notícias que ganharam destaque na imprensa nacional foi o assassinato do médico Jaime Gold, que pedalava na ciclovia da Lagoa Rodrigo de Freitas, Zona Sul do Rio de Janeiro, na terça- feira, dia 19 de maio.
Um dos suspeitos de praticarem o ato foi preso dois dias depois. O jovem negro, com apenas 16 anos de idade e que já tinha15 anotações criminais, foi encaminhado ao DH.
Em 2012, Thor Batista, filho de Eike Batista, em alta velocidade e possivelmente embriagado, atropelou o ciclista Wanderson Pereira dos Santos. Thor já tinha cometido algumas infrações ao volante e, segundo informações, havia abandonado o carro. Mas o jovem de 20 anos teria retornado em seguida para fazer o teste do bafômetro. Até hoje não se sabe quanto tempo ele demorou para retornar. Os familiares da vítima afirmam que o ajudante de caminhoneiro fazia diariamente o percurso e alegam que ele estaria no acostamento no momento em que foi atingido. Mas a imprensa tratou logo de veicular que no local é comum acontecer acidentes e a versão do filho do milionário foi de que Wanderson atravessava a rodovia. Segundo o jornal O Globo, “Wanderson teve o braço e a perna arrancados e o peito aberto”. O carro do suspeito chegou a ser recolhido para um pátio da Polícia Rodoviária Federal, mas foi levado pelo advogado de Thor, que prometeu deixar o veículo “sem modificações” e à disposição da polícia.
Mesmo assim, após uma novela judiciaria, o filho do milionário foi absolvido e só teve que prestar serviços comunitários.
Os dois casos contém violência e assassinato, os dois casos envolvem ciclistas e os dois jovens já tinham cometidos erros anteriormente.
O único problema é que o jovem negro não teve a mesma sorte do jovem branco. Não nasceu rico e não pôde comprar pessoas para assumirem a culpa ou bons advogados para se livrar da cadeia ou até mesmo, quem sabe, “molhar a mão” do juiz para que o mesmo pegasse leve na sentença. Esse rapaz já nasceu morto e com os dias contados. Diferente do filho do milionário que acha que é o dono do mundo e tem na sua mente que é eterno. Por isso, apenas por isso, só o jovem menor de idade teve como pena a privação do seu direito de liberdade.
O Brasil é um país que se categoriza e constrói seus estereótipos de acordo com sistema escravista. Aqui um engenheiro vale mais que um professor. Um médico vale mais que um gari. Um político vale mais do que uma empregada doméstica e assim por diante. E cada uma dessas profissões têm cor e para conseguir credibilidade nessas áreas é preciso seguir esse pensamento. Quanto mais alto for o salário, mais branco a pessoa é, e quanto menor for o salário mais negra a pessoa é. Isso está naturalizado. Faz parte do imaginário popular e da realidade brasileira.
Duvida?
Alguém lembra daquela jornalista que disse que os médicos cubanos tinham cara de tudo, menos de médicos e que pareciam mais com empregados domésticos do que “doutores”? Sim, pois a cor aqui no nosso país define o que você é, que profissão deve ter e por onde deve andar e morar. E, infelizmente, esse tipo de pensamento atinge a nossa justiça.
O lugar do negro tem que ser no subemprego, na periferia, nos presídios, nas ruas. O lugar do branco é em altos cargos, empregos bons, em condomínios fechados, viajando pelo mundo.
Já dizia Edi Rock na música “Negro Drama”: “me ver preso ou morto já é cultural”. E a nossa própria justiça já apresentou diversas evidências que também é vítima desse vício do pensamento escravista e acaba se tornando parte opressora ao continuar perpetuando e realizando tais atos.
Esses dois casos representam os excessos de um país desigual. De um lado se mata por não ter dinheiro e oportunidades. Do outro se mata por puro prazer, luxúria e ostentação.
Só que, infelizmente, a corda arrebenta sempre para o lado mais fraco, do lado mais pobre.
Assim, quando se mata um médico branco que transitava pela rua com sua bicicleta, e o assassino é um jovem negro, há uma sensibilização de toda a sociedade e, principalmente, da mídia que induz o coro a uma busca por justiça de tal caso. Mas quando acontece o inverso, quando se mata um trabalhador negro, que retornava de bicicleta do trabalho e o assassino é rico e branco, há um conformismo e um tapinha nas costas. E é assim que caminha a nossa humanidade.
Além disso, casos como acidente do filho do governador de São Paulo e do casal global Luciano Huck e Angélica merecem mais destaques midiáticos que a morte do garoto Eduardo, do dançarino DG, da injustiça cometida com Mirian França e vários outros casos rotineiros na periferia.
Eles nos forçam a sentir empatia por pessoas que nem conhecemos e estão muito distantes de nós e da nossa realidade e nos conduzem a desprezar nossos vizinhos.
Redução da Maioridade Penal
Já era de se esperar que esse caso do médico assassinado serviria para reforçar a ideia dos conservadores para exigir a redução da maioridade penal. Nesse domingo, por exemplo, o “Fantástico” dedicou-se para espalhar o caos na pouca audiência que lhes resta. Mas o que não esperavam e não noticiaram foi o depoimento da ex-mulher da vítima que teve lucidez para comentar o ocorrido.
Fala-se muito que nossos políticos não querem nos fazer pensar, por isso não se investe em educação, mas já paramos para pensar o motivo de tais veículos de comunicação também não contribuírem para educar melhor os espectadores?
Enquanto alguns países se orgulham por estarem fechando cadeias, aqui no Brasil, que tem uma das maiores populações carcerárias do mundo, querem construir mais. Mas por que há tanto interesse nesse sistema prisional?
Porque cadeia dá lucro, então a ideia é a seguinte: aumentar o número de pessoas presas, mostrar a ineficiência do poder público na cadeia, destacar o descaso, o mau tratamento, a desumanidade, para deixar evidente, mais uma vez, que o Estado não é capaz de dar conta disso. Assim como não é capaz de dar educação, saúde, transporte… E como única solução para sair desse (e de qualquer outro) problema: PRIVATIZAR AS CADEIAS.
Sim, não basta querer privatizar a Petrobrás, as escolas, os hospitais, o transporte… Pensando apenas no lucro, as pessoas são tratadas como gado, apenas vão para onde mandam e fazem tudo o que pedem.
Não preciso nem dizer a cor e a classe que sustentará essa linda ideia de privatização, não é mesmo?
Para não me estender muito por aqui, compartilho o link de um texto mais completo e que relata muito bem a ideia apresentada aqui.
Ah, claro, se o jovem negro cometer um crime ele está acima de qualquer suspeita pela sua condição: “ei, eles prenderam porque é negro!” Poupe-nos desta demagogia nojenta! O jovem preso conserta bicicletas e já tem várias passagens pela polícia – o fato dele ser negro é um mero detalhe que vocês usam para blindar o criminoso. Em tempo, já viste as cenas de adolescentes empunhando facas e desferindo-as nos transeuntes? A maioria dos criminosos é formada por adolescentes negros. Os crimes com facas brancas viraram coqueluche nas grandes cidades, e nada se pode fazer. “Não há vagas nas FEBEMs!”, dizem, enquanto isso a justiça solta os criminosos para que possam continuar cometendo crimes e ferindo (quando não matando) as pessoas.
ResponderExcluirO filho de Eike Batista, Thor, não estava embriagado quanto atropelou o ciclista, e nem fugiu, ele o caroneiro aguardaram a polícia para fazer o BO. Não tenho simpatia nem pelo pai, nem pelo filho, mas é a sua palavra contra os fatos relatados pela polícia e apontados pela promotoria.
Uma coisa é um acidente de trânsito, por mais imperícia que tenha o condutor, quando não embriagado, é tratado como um “crime culposo”, outra é desferir golpes de facas (quatro, para ser exato) em alguém que não demostrou reação, apenas para furtar a bicicleta, isto é um “crime doloso”, com intenção e com motivo fútil.
Quando a segunda parte, você tem sérios problemas de complexo de inferioridade, aceite a sua cor que a sociedade fará o mesmo. O problema no Brasil está mais ligado a condição econômica do que de cor.
Aumentar o número de pessoas presas para sustentar um capitalismo carcerário? Você está louco!
O custo do preso no Brasil nas cadeias públicas é de R$32 mil/ano (o do aluno é R$15 mil/ano), já os custos nos presídios privados, que além de dar condições melhores ao apenado ainda o faz trabalhar, é de R$ 36mil/ano, portanto uma diferença irrisória.
Privatização das cadeias para dar o mínimo de humanidade a quem for usar, já que o Estado não tem capacidade para nada (apenas para cobrar impostos) e diminuição da maioridade, já!
A sociedade quer uma resposta para tanta barbárie!
Eduardo, Jlle
ai, eduardo, tão previsível que esses teus comentários! Aprende a interpretar, estuda um pouco de história e leia, no mínimo, umas três vezes antes de comentar. Aposto que não chegou nem a ler os links compartilhados. Normal do fã de carteirinha aqui do chuva. Fica esperando os textos para comentar as mesmas coisas 10 milhões de vezes. Complexo de inferioridade? Ah, brancão, dá um tempo.
ExcluirVocê comparou um CRIME de irresponsabilidade com um CRIME de pura maldade. Mas você vê a diferença deles na cor dos envolvidos. O racista é o branco mesmo né Felipe Cardoso dos Santos.
ExcluirO "crime de pura maldade" foi comprovado que não foi cometido pelo menor acusado. Foi preso porque era branco e rico né? Eu comparei diferenças nos tratamentos. Igual a moça negra que sofreu abuso de autoridade enquanto participava de uma festa na piscina do EUA. Foi imobilizada por um policial homem, que ainda sacou uma arma e ameaçou quem tentou reclamar da abordagem. O mesmo tratamento não ocorreu com o rapaz branco que invadiu uma igreja e matou várias pessoas negras. Procure as fotos e veja as diferenças de tratamento.
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