sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Sobre bullying

POR FELIPE SILVEIRA

Muita gente que conheço despreza a ideia de bullying, e, consequentemente, a ideia de combatê-lo. Muitas vezes vi e ouvi gente usar o próprio exemplo de vida para dizer que isso é uma bobagem da época atual. Quando ouço isso, a minha vontade é praticar bullying contra a pessoa: “Olha pra você, um adulto frustrado, medroso, que tenta compensar o fracasso na vida com mentiras e atitudes covardes, como a humilhação de outras pessoas supostamente mais frágeis”.

No entanto, como eu sou a favor de combater essa violência psicológica, seja na escola ou em qualquer lugar, guardo o pensamento para mim e tento iniciar um debate mais sadio. Aliás, a própria ideia de ter que sempre “ficar por cima”, de fazer a última piada grosseira em uma discussão, me parece resultado de uma frustração que a pessoa tem consigo mesma.

Uma das coisas que tento dizer é que, mesmo que não houvesse o termo bullying na época de escola da pessoa, havia a humilhação, a crueldade, e o consequente riso em decorrência disso. E isso, por si só, já é bastante grave.

Como eu disse no início, é comum que alguém use o exemplo da própria vida para chamar o combate ao bullying de frescura. “Eu mesmo era chamado de cabeçudo, gordo, rolha de poço, narigudo... e sobrevivi. Isso forma caráter”, dizem. Quando alguém fala isso eu já sei que a pessoa não tem a menor ideia do que é bullying.

Na verdade, nem eu tenho certeza do que é exatamente, mas não é segredo para ninguém que se trata de uma violência contínua, e, mesmo que velada, com a intenção da humilhação. Algo praticado geralmente contra aqueles mais frágeis, sem condições de reagir, de responder ou de simplesmente “tirar de letra” a questão. E essa humilhação vai trabalhando, causando danos irreparáveis nas crianças e adolescentes, que crescem com medos e frustrações que duram a vida toda.

Penso que há um bom trabalho sendo feito em relação ao combate ao bullying, ou, se você não é dessa época, da humilhação do outro. E é justamente nesse momento em que se torna necessário refletir e avançar na ideia. Dizer que você foi perseguido e tá aí vivão não ajuda em nada. No máximo, te torna um anônimo do Chuva Ácida que alivia um pouco a sua frustração ao tentar “ficar por cima” nos comentários.

7 comentários:

  1. Te quebro esse negócio que você chama de cara

    ResponderExcluir
  2. Muito bem escrito Felipe. Essa praga existe ha seculos e parece que só agora a sociedade está reagindo. Na Assembléia Legislativa do estado o deputado Joares Ponticelli tem feito um belo trabalho sobre esse tema (Pena que ele tenha saído do palanque da oposição e cooptado, mas isso nao tem nada a ver).
    Infelizmente a dificuldade de se combater esse mal fica cada vez maior, na proporção em que as nossas crianças "evoluiram" da fase de humilhar e bater nos amiguinhos e agora fazem o mesmo com as professoras. Geralmente com a ajuda dos "zelosos" pais.
    Seja como for, essa é uma luta que deve ter a participação de toda a sociedade, e acho que teremos que rever muitos conceitos que foram deturpados com o passar dos anos.

    ResponderExcluir
  3. Sempre é tempo de recuperar os erros do passado. Já fui vítima de bullying e sei bem o constrangimento que uma criança passa neste tipo de situação. Ainda bem que as autoridades estão acordando para o tema pois quando eu era criança achava-se que dia sempre briga boba de criança. Ninguém levava a sério e, não raro, ainda sobrava para os mais fracos. É claro que acima de qualquer lei ainda está a educação que recebemos em casa, ou seja, os pais precisam dar um bom exemplo para que seus filhos não sejam cópias de um preconceito velado e até público.

    ResponderExcluir
  4. Sempre estive "ao lado" do Felipe nas opiniões aqui no Chuva Ácida. Mas o que falar deste texto. Não é nem conservador e nem revolucionário.

    Parece um texto escrito pra dona de casa ler (aqui vai a minha dose de "bullying" com o autor e com as donas de casa).

    O tema é relevante, mas não nos trouxe nada de novo.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Não me bulinou, Eduardo. Mas, o que eu vou dizer do comentário? Eu tenho que ser uma das duas coisas toda semana? E precisa ser algo novo? Eu nem consegui fazer isso uma vez que seja. O texto é apenas uma reflexão minha sobre o tema, que, eventualmente, poderia provocar a reflexão de alguém também - de donas de casa a jogadores de softball. Se não provocou (a reflexão de) ninguém, paciência.

      Excluir
  5. Então vou dar "o meu exemplo de vida em pró do bullying".

    Sempre fui "bulinado" quando criança, das mais variadas formas possíveis. Hoje, com 21 anos, já superei e, apesar de ainda acontecerem algumas brincadeiras de mal gosto, deixo entrar por um ouvido e sair por outro.

    Até que uma certa pessoa, de nacionalidade diferente da do Brasil, mas também da América Latina, de um país que não soma em nada para o resto do mundo, vem me dizer que "o Brasil é uma merda". Ao sugerir então, que essa pessoa voltasse pro lugar de onde veio, já que aqui é tão ruim, ela resolveu me processar por bullying e xenofobia. O processo ainda está correndo, e eu lhe pergunto, Felipe:

    O bullying está tão bem definido assim para se tornar motivo para que você possa processar, tirar dinheiro, ou prender alguém?

    Aos meus olhos, o bullying ainda é algo muito subjetivo para valer uma pena, como por exemplo roubar ou matar.


    Hoffmann

    ResponderExcluir

O comentário não representa a opinião do blog; a responsabilidade é do autor da mensagem