quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Pancadaria rola solta - Parte II

POR GABRIELA SCHIEWE

AS REGRAS - No meu texto de hoje, volto a tocar nesse delicado assunto, visto que alguns posts atrás tratei superficialmente, no caso, acerca da modalidade esportiva MMA.

O MMA é considerado modalidade esportiva e composto por várias regras, evidente, assim como todos os outros esportes. No entanto, o básico do futebol são dois times com 11 jogadores de cada time com o objetivo de vencer o oponente quem marcar mais gols; basquete quem realizar o maior número de pontos através de bolas na cesta e, por isso que disse, in suma no MMA não pode dedo no olho, chutes na partes íntimas. Mas isso não quer dizer que não existam regras bem determinadas para a prática e desenvolvimento do esporte.

VIOLÊNCIA DESDE PEQUENA - O que eu pretendi naquele texto e, agora, com, mais afinco, volto a tratar neste, é no que tange à violência existente e que atinge as nossas crianças.

As crianças estão criando as suas bases, construindo o seu caráter e aprendendo. E se vão assistir novelas com cenas mais picantes, ouvir músicas provocantes, participar de eventos com danças sensuais, joguinhos de videogame com elevada violência e, tantos outros exemplos, assim como ter acesso ao MMA, é mais do que óbvio que elas absorverão todas estas informações. E é evidente que isso não será absolutamente sadio.

A minha crítica e, persisto nela, não é contra o MMA, mas sim contra a liberdade que essa modadalide esportiva vem tendo em todos os meios sociais, culturais e na mídia. E torno a dizer, assim como todos os demais exemplos que citei.

Estamos criando monstrengos? Piriguetes? Atiradores de elite?

A verdade é que a violência a cada dia se torna mais presente no mundo esportivo de maneira espantosa e com uma disseminação avassaladora.

Estou dizendo que a culpa é do MMA? Claro que não.

A questão da violência vem da infância e daí o que escrevi dantes explica boa parte; da questão social, no que diz respeito às condições de vida miseráveis, pobreza, drogas, uma adolescência rebelde. Ou seja, tudo isto está diretamente relacionado à educação ou melhor, a falta dela.


"Entende-se o conceito de violência no esporte, como o uso da força física e/ou do constrangimento psíquico para obrigar alguém, a agir de modo contrário à sua natureza e ao seu ser, dentro do ambiente esportivo, perpetrado, quer seja pelos praticantes ou pelos espectadores" (CHAUÍ, 2001, p. 38).
ADRENALINA - Também temos a violência nos estádios, que é a mais notória e noticiada. Ora, em princípio a única intenção de se dirigir ao local de jogo é se deleitar com o seu time favorito e torcer por este, de forma sadia. Claro que podendo ficar puto da cara pelo gol perdido ou chegar às lágrimas de felicidade pela vitória conquistada aos 48 minutos do segundo tempo. Mas isso não dá o direito de no momento "puto da cara" desferir um tiro no oponente lhe tirando a vida; bater no adversário que gritou gol, pelo simples fato de "descer a porrada".

A psicologia vem tentando explicar as causas e consequências da violência pelo excesso de adrenalina que se processo nesses momentos de êxtase e, também pelas questões sociais, culturais e econômicas.

EDUCAÇÃO - Infelizmente temos visto que a relação esporte e violência está cada vez mais estreita, o que deveria ser o contrário. E, na minha simplória opinião, tudo gira ao redor da educação.

Quando houver uma educação plena desde criança, com os valores morais arraigados, numa sociedade digna, com certeza é pouco provável que a pessoa descaia para a violência e que use o esporte como desculpa para exteriorizá-la.

Alguém poderá dizer que isso não passa de utopia de minha parte e que isso seria a idéia de mundo ideal e perfeito, onde excluem-se os psicopatas e doentes de outra natureza que podem processar a violência. Mas o esporte, apesar de sempre envolver disputas em que se busca a vitória (com exceção do frescobol, que os parceiros desejam sempre que o opositor consiga rebater a sua jogada para ter a continuidade e esta é a graça), isso não significa que essa disputa seja desleal, e necessita que se degladiem entre atletas e inflamem a torcida para atos violentos.

Saber vencer e perder faz parte do aprendizado para o desenvolvimento do esporte e isso só a educação poderá fazer.

ESPORTE X VIOLÊNCIA - Portanto, caros leitores, mais uma vez digo que gosto muito de MMA, mas isso não me faz deixar de questionar se os seus atos violentos não estão sendo transportados do octógono para o mundo real por uma mídia desqualificada.

Ou seja, o problema não está (na maioria das vezes) no esporte, em qualquer dele que seja, MMA, tiro, arco e flecha mas na forma como ele atinge a sociedade como um todo.

Hoje o futebol, pela relação atleta-atleta, atleta-árbitro, atleta-torcedor, atleta-dirigente, torcedor-torcedor está caótico, desequilibrado e necessitando urgentemente de medidas sócio-educativas, num primeiro momento e, depois, então, as medidas punitivas.

E você, o que acha da relação esporte x violência?

10 comentários:

  1. Vale lembrar que isso pode ser um sucesso no Brasil e para um público periférico nos EUA. Mas está longe de ter uma dimensão mundial.

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  2. Gabriela, acredito que a questão está muito além do MMA. Tenho um filho de cinco anos que pratica judô, uma das artes também explorada no MMA. A forma como o esporte é tratado no tatame, é de dar inveja a qualquer teoria sobre educação. A criança que pratica esporte desde cedo (em escolas competentes, com profissionais especializados, seja judô, futebol, natação, basquete...) aprende a dividir, a respeitar, a ter seu momento, a dedicar-se para algo que deseja, e a perder. Isso mesmo, a ser derrotado e enfrentar que o adversário foi melhor, reconhecendo seus erros, algo tão difícil nos dias atuais. O que não podemos deixar acontecer é transformar tudo em dinheiro - e acredito eu ser esse o maior problema do futebol no país. O esporte tem seu valor e os praticantes de MMA também.
    A violência vai muito além do MMA ou desenhos violentos. Muitas vezes a violência está dentro de casa, na forma como os pais se tratam e tratam seus filhos dentro de casa. Nada adianta não deixar seu filho assistir a desenhos de super-heróis ou lutas de MMA e sair na disputa a força com motorista no trânsito, destratar empregados, funcionários de empresas e outros tantos exemplos que temos atualmente...

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    1. Exatamente Fê. Trouxe novamente a questão do MMA por ter sido pauta de texto anterior e deixei claro que o problema não está no esporte, seja ele qual for. A violência possui várias causas, dentre elas a mídia mal vinculada, assim como questões sociais, culturais e financeiras, como explanei no texto. E, como resumi, toda a solução está na Educação, sempre.
      Obrigada pela contribuição.

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  3. A questão da violência vai além da prática de MMA. Tenho um filho de cinco anos que pratica judô, uma das artes utilizadas no MMA, e garanto que se mais crianças tivessem acesso ao esporte muita coisa seria diferente. A forma como as crianças aprendem o judô dentro é de dar inveja a qualquer manual de educação. Com o esporte eles aprender a respeitar o próximo, respeitar sua vez, dedicar para algo que desejam e ainda a perder. Isso mesmo, a reconhecer sua fraqueza, reconhecer que o adversário é/foi melhor, algo tão difícil de ver nos adultos nos ultimos tempos...
    Nada adianta não deixarmos os filhos terem acesso a MMA e sair na "porrada" no trânsito, destratar funcionários, empregados e outros. Acredito que o combate à violência incia primeiramente com exemplo e educação!

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    1. Fernanda. Acho que o judô não entra nas técnicas de MMA. Em termos técnicos, o judô depende da roupa, porque o lutador precisa agarrar o adversário. A "pegada" (na roupa) é um ponto essencial no judô. E são poucas as técnicas - e nada eficientes para um combate do MMA - que se pode fazer se o adversário estiver só de calções.

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    2. Baço, obrigada pela contribuição. De lutas, em geral, você entende muiiiiito mais do que eu!

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  4. A relação esporte X violencia sempre existiu em maior ou menor grau, até porque em todos eles o resultado final é a derrota de um e a vitória de outro. Sempre. Dependendo de como o esporte é jogado, e também da esportividade dos adversários, eventualmente surgem situações que os levem às "vias de fato".
    Lembro-me que na minha infância, no tradicional joguinho de ludo real, as vezes "o pau comia". Até em calmos jogos de dominó a coisa pode esquentar.
    Lembram da rivalidade das nossas meninas do vôlei com as cubanas? Muitos cabelos foram puxados ali. São exceções, claro, ainda bem.
    Mas não posso chamar de esporte uma luta cuja principal regra é não existir regra nenhuma, por isso chamar-se tambem de "vale-tudo", onde o final invariavelmente vira um selvagem massacre feito através de uma saraivada de golpes na cabeça de um adversário dominado e inerte. E onde o juiz só encerra a luta ao ver que o pobre coitado está próximo de um apagamento.
    Me perdoem os aficcionados, mas não consigo ver nobreza nisso. É pura selvageria, alimentada agora pelas redes de televisão visando despertar nosso DNA troglodita (na Roma dos Césares já se fazia isso) e obter farto lucro.

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    1. O esporte é uma coisa que deveria aprimorar a mente e o corpo. O que esses caras fazem é barbárie.

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    2. Entendo que deva existir esporte para todos os gostos. No entanto deve haver o cuidado de como esse esporte é divulgado e quem ele irá atingir e, na minha opinião o MMA não é um esporte para o apreço de crianças que estão construindo o seu discernimento.

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  5. Gabriela, concordo plenamente com você e tenho um exemplo dentro de casa. Meu filho tem 3 anos. O acesso dele à televisão é só aos desenhos educativos e sem agressividade da Discovery Kids. Ele é e sempre foi uma criança dócil, educada, carinhosa. Pois bem. Esses dias ganhamos um DVD dos Simpsons. Colorido, bem bacana. Ele adorou a capa e pediu para assistir. Colocamos e descobrimos que só tem pancadaria e violência. O que aconteceu? Dois dias depois de ter assistido ao desenho lá estava meu filho enfileirando os backyardigans dele no chão e "matando" com um garfo de plástico. Ele nunca tinha feito isso até assistir algo parecido no desenho. Joguei o DVD fora. Conversei com ele e graças a Deus, esqueceu e não quer mais "matar" os backy. Não sou educadora mas acredito que tudo tem hora e devemos cuidar mais e monitorar o que os nossos filhos têm acesso. O MMA virou febre mas deveria vir com restrição "só para maiores". É o que eu acho.
    Cris

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