POR AMANDA WERNER
É
certo de que os horrores acontecidos na segunda guerra, nos causam repulsa até
hoje. Além do Holocausto, podemos citar os campos de trabalhos forçados na
Sibéria, relatados com muitos detalhes por Soljenítsin em seu Arquipélago
Gulag, o Khmer Vermelho no Camboja, as ditaduras, inclusive a nossa, e tantos outros, nos chocam e nos fazem pensar do que o ser humano foi capaz.
Foi?
A história nos esclarece que não é bem assim. São fenômenos cíclicos e, quase
sempre, decorrentes de crises econômicas.
O Holocausto
foi feito por pessoas normais, e não monstros. Pessoas que torturavam e
matavam, com os conhecidos requintes de crueldade, e depois voltavam para as
suas casas, onde comiam, rezavam, e contavam historinhas para os seus filhos.
Tragédias
sociais como essas corroboram nada mais do que o pior da natureza humana. Não sei
se Maslow tinha razão ao hierarquizar as necessidades humanas. Fato é, de que
quando falta o mínimo necessário (emprego, alimentos, moradia, segurança), o
homem parece agir de forma extintiva, e sem racionalidade. E adota, sem nenhuma
reflexão, comportamentos de massa.
Quando
há tensão social, os sussurros emergem. Quem é de extrema direita, ou extrema
esquerda, ou, quem simpatiza com alguma ideia raivosa, como ódio a grupos étnicos,
gays, ao ouvir determinado rumor sobre o grupo contrário, tende a repeti-los.
Até como forma de aliviar suas tensões emocionais. Esses rumores se modificam e
vão se amoldando de maneira a melhor se ajustar às crenças e antagonismos de cada um. E aos poucos, se
tornam verdades para uma coletividade.
É
preciso que, ao invés de buscarmos argumentos
para consolidar nossos preconceitos, ao contrário, formemos a nossa opinião com
base em argumentos. Sempre depois de conhecer os dois lados. A democracia, o
equilíbrio, é uma noção que se adquire com o tempo.
Aceitar
o desafio do conflito, as opiniões diversas, ser tolerante, é sinônimo de
maturidade. A tentação da homogeneização dos pensamentos e ações, deve ser
repudiada, a xenofobia, o fundamentalismo, e o sentimento de superioridade em
relação aos que não pensam de forma igual, já mostraram fazer parte da receita
de bolo para que o pior se repita.
Todo
cuidado é pouco. A mão esquerda carregou
a foice e o martelo, já a direita, ergueu
bandeiras com a suástica. E não foram fenômenos isolados. Me parece que o
caminho do meio é aquele que melhor pode reger os nossos destinos.
* Segue vídeo sobre o tema
Como é bom ler a delicadeza de uma mulher por estas bandas, já que a minha os anos levaram. A lição de hoje: Aprender é mudar, é dar chance ao novo.
ResponderExcluirParabéns Amanda.
Zé Bolacha
Valeu, Zé Bolacha! Sempre há outra forma de ver as coisas. Todas as formas merecem respeito.
ExcluirPode adicionar à lista de maneiras extintivas de agir do ser humano: "Trânsito lento"
ResponderExcluirExtintivas e instintivas.
ExcluirObrigada pelo comentário!
ExcluirE como fica a luta de classes neste contexto que vc coloca Amanda? É sabido que muitos povos oprimidos do mundo só encontraram uma libertação (mesmo que caissem em outra dominação) através da luta armada e da revolução. E esta se dá através de caminhos violentos. Nenhum tirano entrega o poder e suas benesses de graça. Acho que o caminho da guerra em alguns casos pode ser argumentado, sem que venha a ser banalizado, generalizado ou necessite de perpetuação. Seria uma ação isolada e extrema. Em muitos casos não é opção, é a unica forma de sobrevivência.
ResponderExcluirManoel, não considero a guerra a única opção. Talvez já tenha sido, se considerarmos que a sociedade está em constante evolução. Nos nossos dias, não acho a guerra nada natural e nem necessária. Creio ser mais uma opção política. Mais e mais países estão aderindo à tratados internacionais de todos os tipos: de paz, de comércio, de direitos humanos. Com diversas punições previstas para o Estado que não cumpri-los. Acredito que hoje, a ameaça de quebra de relações comerciais, por exemplo, faz muitos Estados andarem na linha. É um dos lados bons do mundo globalizado, não é mesmo? Podermos defender nossos pontos de vista com outras armas.
ExcluirObrigada pelo comentário!
ExcluirNão foi colocado a guerra como única opção, foi colocado como instrumento legítimo ao alcance de uma população oprimida perante um poder totalitário, numa dada circunstância da História. Temos vários exemplos, um que não me sai da lembrança foi a revolução sandinista na Nicarágua, que depôs o ditador Somoza que era apoiado pelos EUA. Outros poderiam ser os vários levantes de povos indígenas dizimados pela Espanha e Portugal, como o Baço comentou, o genocídio americano. É claro que a saída pacífica e política é a melhor, mas nem sempre está disponível.
ExcluirPerdão Manoel. Me expressei mal. O que quis dizer foi que acho que a guerra nunca é a única opção, ao menos nos dias de hoje. Mas que acredito já ter sido a única.
ExcluirDevo dizer que uma das melhores "aquisições" do Chuva Ácida foi a Amanda. Um toque feminino para nos agraciar com um vocabulário rico e uma visão mais sensível dos fatos, das coisas, das ideias que, muitas vezes, deixamos passar batidos à razão.
ResponderExcluirQuanta gentileza, Vanderson! Obrigada! Só não vale pegar leve por eu ser mulher, combinado?
ExcluirBelíssima resposta Amanda.
ExcluirBelíssima resposta Amanda.
ExcluirFINALMENTE UMA FLOR NO MEIO DOS CACTUS!!
ResponderExcluirObrigada anônimo! Hehehe!
ExcluirDuas coisas.
ResponderExcluir1. O perigo é des-historicizar o que é histórico.
2. O maior genocídio da humanidade foi cometido contra os indígenas da América Latina. Sem sequer serem considerados humanos, eles foram negados, escravizados, mortos. Não sei o que fariam para encontrar o caminho do meio.
Interessante o teu comentário, Zé. Por coincidência, estou lendo um livro que trata da questão da matança dos Incas pelo espanhóis. O autor afirma que boa parte dos andinos comemorou a chegada dos espanhóis. E diz que os espanhóis não teriam conseguido acabar com os Incas sem a ajuda desses andinos, pois se sentiam oprimidos pelos Incas, que impuseram sua religião à força para esses povos. Mas não considero o caminho do meio fácil. Acredito que é um processo evolutivo. Não de neutralidade. Mas funciona de forma parecida com a balança, cujos pratos atingem o equilíbrio após penderem para um lado e para o outro.
ResponderExcluirRecomendo então que leias Bartolomeu de Las Casas. Ou qualquer escritor ligado à Filosofia da Libertação. Pode ser muito esclarecedor.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ExcluirRecomendo o "Filosofia da Libertação: Crítica à Ideologia da Exclusão" de Enrique Dussel.
Excluiroutra coisa importante, além das leituras indicadas por aqui, é conhecer as comunidades indígenas que estão próximas de Joinvas. Vale a pena.
ExcluirMaikon
Fodido, Vanderson, é que caras como o Dussel são completamente desconhecidos (e ignorados) pela inteligentsia brasileira. Neguinho só quer saber de Foucault, Habermas, Baudrillard, Ricouer e o escambau. E esquece que existe um pensamento latino-americano
ExcluirÉ uma grande verdade, Baço.
ExcluirÉ raro escutar alguém citando, filosófica e cientificamente, baluartes do pensamento latino-americano.
Ouso dizer que ignora-se até mesmo a própria cultura. Se perguntar a jovens que anseiam por viajar, uma boa porcentagem só tem a Europa na cabeça. Não que ela não seja boa e rica em história e cultura, mas a nossa boa e velha América Latina dá um bom show também!
Vanderson,
ExcluirEu nāo consideraria a frai Bartolome de las Casas como um expōente da literatura e do pensamento latino americano.
;-)
Mas Jordi, eu e Baço estamos a falar de Dussel.
ExcluirAinda não tive a oportunidade de ler o de las Casas. :)
O fato, Jordi, é que o Bartolomeu (Bartolomé)de Las Casas é um expoente do pensamento latino-americano. Os registros dele têm enorme importância no sentido de construir uma historiografia latino-americana. Ah ah ah... e não venha tu dizer que "nem latino-americano é..."
ExcluirNegativo Vanderson, não conheço o Dussel (mal consigo ler um gibi), mas coloquei como priori conhecer toda a cultura latino-americana, antes de me lançar aos quatro cantos do mundo. Se comentam tanto da peruana, mas a boliviana é espetacular.
ExcluirZé Bolacha
Olá Amanda, muito bom o seu texto.
ResponderExcluirAcho que faz parte do no ser humano ter posicionamento em um ou outro extremo. A própria sociedade cobra-lhe isto.
Mais uma vez excelente texto Amanda ... Parabéns ...
ResponderExcluirObrigada Emerson!
ExcluirEis que um homem morreu.
ResponderExcluirNo além, se encontra sobre um enorme muro, infindável.
De ambos os lados, enormes campos verdejantes se estendiam para além do alcance da vista.
Vendo o homem sobre o muro, num dos lados um gupo de anjos, querubins, serafins, santos e bons homens começa um coro chamando freneticamente o homem para junto deles.
Do outro lado, um cavalheiro se aproxima, assenta-se numa cadeira e apenas observa, enquanto pita seu cachimbo.
Depois de algum, a curiosidade do homem indaga ao cavalheiro:
- Quem és tu?
- Me chamam Diabo.
- Por que do desespero do outro lado?
- Te querem lá.
- E tu, porque também não insiste, não me queres aí?
- Não me importa. O muro é meu.
Olá Anônimo! Quando escrevi este texto, sabia que fatalmente o argumento da neutralidade se faria presente. A minha proposta é bastante diferente. Não é a de não tomar posição. E sim, após reflexão, tomar posição de não se fazer guerra (no sentido literal). Por vezes a única forma da guerra não acontecer é tomar partido, não nos permitindo agir como animais de rebanho, seguindo cegamente quem vai à frente. Renunciar aos extremos não significa ficar em cima do muro. Os meios pacíficos para a resolução de conflitos estão aí. Basta termos o discernimento, após tanto sofrermos com as guerras, de usá-los. Estudar as possibilidades, sopesar, visando sempre o bem comum.
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