quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Seria cômico, se não fosse trágico


POR FELIPE CARDOSO

Brasília. 27 de novembro de 2015. Sete dias após as celebrações do Dia da Consciência Negra e nove após a Marcha das Mulheres Negras, moradores do terreiro de candomblé no Paranoá, a 20 minutos do centro de Brasília, acordam com estalos de chamas que cobrem o local. Por volta das 5h30, “pessoas de bem” invadiram o espaço e atearam fogo no terreino. Mais um de tantos terreiros incendiados criminosamente este ano.

O mês da Consciência Negra trouxe muitos debates e reflexões. Em todos os cantos do país, milhares de pessoas pediram justiça, igualdade de direitos e respeito. Infelizmente, o coro não foi ouvido por todos.

Não foi ouvido, pois é notório o racismo por trás da intolerância. No Brasil, o que é produzido pelos negros é visto com maus olhos. Música, arte, literatura, intelectualidade, ciência, religião... A cultura negra é depreciada e silenciada, reflexo de um pensamento escravista que cisma em sobreviver no país. E os ataques a terreiros e ao povo de santo são provas disso.

A intolerância religiosa que atinge os terreiros frequentemente é alimentada e impulsionada por fundamentalistas religiosos que, em sua maioria, são cristãos, em especial evangélicos que vêm se destacando no quadro político e econômico brasileiro a cada ano que passa, ganhando mais espaço e poder.

No dia 30 de novembro, três dias após a invasão e depredação do terreiro, foi feriado em Brasília. Dia do Evangélico. O feriado existe desde 1995.

Apesar disso, ainda temos que ouvir de alguns representantes e líderes religiosos que há no Brasil uma “cristofobia”. É estranha tal argumentação quando se tem, há bastante tempo, um feriado exclusivo para apenas uma religião específica, na capital federal, sendo que é extremamente difícil fazer com que o dia da Consciência Negra seja um feriado municipal, em muitas cidades brasileiras. Engraçado também é o fato de não vermos com frequência notícias de que igrejas foram invadidas, depredadas ou queimadas. Tal perseguição parece inexistente. Ainda na capital federal, só este ano, 13 terreiros já foram incendiados.

E a intolerância ultrapassa a depredação de bens materiais, chega a agressões físicas. Se Brasília é distante, casos de intolerância religiosa acontecem aqui, perto da gente. Em Araquari, no dia 11 de outubro, um pai de santo foi agredido com pedradas enquanto os agressores gritavam “macumbeiro”.

Intolerância. No dia 20 de novembro, negros e negras gritaram, pedindo o fim do genocídio que atinge a população negra e pobre desse país. Momento de emoção, de esperança, mas que constantemente é quebrado por novos casos de racismo.

Recentemente, cinco jovens foram covarde e brutalmente fuzilados no Rio de Janeiro por policiais militares. Carlos Eduardo de Souza, Cleiton Correa, Wilton Esteves e Wesley Castro Rodrigues saíram para comemorar com Roberto de Souza Penha, o seu primeiro salário. Mais um número nas estatísticas, pois o direito de ir e vir não é permitido aos jovens negros.

Fica cada dia mais visível que a nossa voz é silenciada, que somos marginalizados e nossas vidas são descartadas. O negro no Brasil não tem valor. O negro no Brasil não é levado a sério. É o rodo cotidiano.


quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Três lições da resistência estudantil de SP

POR FELIPE SILVEIRA

A resistência dos estudantes paulistas contra o fechamento de escolas nos traz novas e velhas lições sobre política. A primeira é que um governo tucano, do PSDB, é uma das piores coisas que pode acontecer à população. Os 20 anos de gestão tucana em São Paulo, o governo espancador de Beto Richa no Paraná e a prefeitura de Marco Tebaldi em Joinville não me deixam mentir. Mas há outras.

A segunda lição, e mais importante, é que a luta vale a pena. Alckmin já perdeu essa. Os estudantes organizados mostraram pra todo o Brasil como lutar pelos nossos direitos, como tratar a coisa pública e como resistir ao desmonte proposto pelo PSDB. Se a educação vai mal, como diz o senso comum, a melhor saída não é acabar de destruí-la, mas reconstruí-la. E a forma de organização e o currículo proposto pelos estudantes aponta um ótimo caminho.

Uma terceira é sobre a Polícia Militar. Sob comando tucano, não basta bater em professor, pobre e movimento social. Os adolescentes sentiram na pele a fúria dos fardados. E não se trata de despreparo, pois o treinamento da polícia militar é justamente para isto: tocar o terror. Quem acha que não que explique o assassinato de cinco jovens negros, no Rio de Janeiro, executado por policiais militares, com mais de cem tiros no carro que levava os garotos. Já é algo que não se pode admitir em hipótese alguma, mas dói muito saber que os cinco rapazes estavam comemorando o primeiro emprego de um deles.

Considerando os pontos acima, é preciso, com urgência, não votar mais em tucano (só pra começar); resistir e protagonizar a mudança na sociedade (como os estudantes estão fazendo); e desmilitarizar a polícia. O racismo, o machismo, a lgbtfobia e tantos outros preconceitos tornam a nossa sociedade bastante difícil para a maioria. Mas deixar passar, fingir que não é com você, não ajudar, não lutar e achar que nada vai mudar é parte da causa.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Eca! Que noja!


O problema de Udo Dohler é a rejeição

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Quem está melhor posicionado, neste momento, para ser o próximo prefeito de Joinville? Os trackings (monitoramento das tendências de voto) não param e os políticos sabem, mês a mês, a posição que ocupam na corrida à Prefeitura. Os números não podem ser publicados, mas há coisas tão evidentes que dispensam as sondagens. Então, vamos lá...

Não há segredo quanto aos putativos candidatos à Prefeitura de Joinville. Há quatro nomes no bloco da frente: o atual prefeito Udo Dohler, o deputado estadual Darci de Matos, o ex-prefeito Carlito Merss e um inesperado José Aluísio Vieira, o Dr. Xuxo, que vem correndo por fora. Há também o tucano Ivandro Souza, cuja candidatura insiste em não decolar e, por enquanto, o deixa a jogar num outro campeonato.

Apesar de já haver gente em campanha, o quadro da disputa sucessória não está definido. E é natural, portanto, que neste momento a preferência dos eleitores esteja pulverizada. No entanto, o grande abacaxi parece estar nas mãos de Udo Dohler, que tem índices de rejeição muito elevados. E não é preciso olhar para as sondagens para fazer essa constatação. Um olhar para as críticas nas redes sociais, por exemplo, permite ver que o prefeito tem um problemão em mãos.

A rejeição é um fator tão poderoso quanto a intenção de voto. Ou seja, enquanto os outros candidatos vão lutar por votos, Udo terá que vencer a frustração dos cidadãos com a sua administração. Eis o nó górdio. O atual prefeito chegou ao poder com um discurso “anti-política” e “pró-gestão”, mas acabou com uma imagem mais parecida com um político (da velha política) do que com um gestor.

É possível diminuir a rejeição? Claro que sim. Mas Udo Dohler não tem muito tempo. Num plano macro, vai precisar de pesquisas que ouçam segmentos qualificados da sociedade, para identificar o caminho para mudar a percepção dos eleitores. Num plano mais térreo vai precisar de ação, imaginação e obras. É difícil. E não pode esquecer que o diabo está nos detalhes. Exemplo? Ora, cada buraco nas ruas é uma armadilha contra a sua candidatura.


Udo Dohler conseguirá reverter esse quadro? Talvez. Se recorrer à lógica da velha política (aquela de investir vultosos recursos financeiro) poderá aumentar as suas chances, porque, afinal, isso ainda tem muito peso. Mas os tempos são outros e mesmo assim não há garantias. O mundo evoluiu. É preciso também saber usar técnicas de comunicação, conhecimento de marketing político e, claro, imaginação. É aqui que a porca torce o rabo.

É a dança da chuva.

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Procon e Black Friday


POR JORDI CASTAN

"Tudo pela metade do dobro". Falar de Black Friday no Brasil é, na maioria de casos, falar de consumidores indefensos frente aos abusos. Por aqui, o Black Friday celebra o dia em que se pode comprar qualquer produto pela "metade do dobro do mês anterior". Pior ainda. Apareceram já nas redes sociais dezenas de casos de aumentos descarados de preços. Etiquetas com  preços mais altos, toscamente coladas sobre os preços praticados nos dias imediatamente anteriores ao chamado Black Friday.

Quem defende o consumidor? A primeira resposta é o Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon). Mas a quantas anda o Procon por aqui? O Procon é um órgão municipalizado, vinculado ao Departamento de Defesa do Consumidor da Secretaria de Estado da Justiça e Cidadania do Estado de Santa Catarina. A sua atuação e força são os melhores indicadores de como o governo trata o cidadão. Um Procon forte e atuante é sinônimo de uma sociedade forte e de um consumidor protegido.

Como esta o Procon em Joinville?  Qual é a estrutura que tem para cumprir a sua função? Cumpre essa função? Se olharmos o que o Procon divulga é bom ficar preocupado, porque diz muito pouco do que faz. Apresenta poucos dados que permitam avaliar os resultados do seu trabalho. E os dados apresentados são difíceis de utilizar pelo consumidor, acabando por ser um "faz de conta".

O ponto que deveria merecer maior atenção é aquilo que o Procon denomina “Audiências do Procon”. Tem o objetivo de buscar um acordo entre o consumidor e a empresa que tenha ocasionado prejuízo ou não tenha cumprido suas obrigações e responsabilidades, de acordo com o código de defesa do consumidor. A quantas anda a sua resolutividade? Qual é o resultado? Quantos acordos foram conseguidos? Quantos não tiveram solução e acabaram na justiça? Quantos consumidores acabam sendo orientados a procurar o juizado de pequenas causas pela ineficiência das ditas audiências do Procon?

O Procon tem que mostrar serviço. Tem que fazer muito mais que divulgar a lista de preços dos produtos para churrasco. A defesa do consumidor é um direito da sociedade. O Site do Procon deixa muito a desejar, traz pouca informação local e faz enlaces com o outros sites de fora de Santa Catarina.

Um Procon municipal deveria focar sua atuação no âmbito local. Produzir conteúdo e informar sobre as empresas locais. Trazendo informações sobre as empresar locais com as que o consumidor precisa ter cuidado. A divulgação dos preços de combustível, cesta básica e de churrasco é muito pouco e disponibilizar em pdf é pouco pratico para consulta. Há muito que melhorar no site para que possa ser considerado uma ferramenta de apoio e de defesa ao consumidor.

Nesta semana de Black Friday as informações disponibilizadas pelo Procon de Joinville se resumem a um link do Procon SP. O que deveria ser feito é disponibilizar em site específico com domínio do Procon municipal a relação das empresas "fake" ou que prejudicam o consumidor. Por que mandar o consumidor pesquisar no site de SP?

Ficou faltando ao Procon o que muitos consumidores, escaldados com os abusos cometidos pelos comerciantes em edições anteriores do Black Friday, já fizeram. O monitoramento e seguimento dos preços dos produtos e serviços que pretendiam adquirir. O resultado verificado pelos consumidores é que os preços subiram em média 10% por semana, nas semanas anteriores a sexta-feira negra. O que reforça a imagem de que o contribuinte encontrará preços iguais ou mais altos que os praticados normalmente pelo mercado.

O Procon Joinville também divulga no seu site os links:



Onde esta localizado o Procon? O Procon já mudou de local várias vezes e isto dificulta o acesso de quem precisa do serviço. E antes do final do mandato deve mudar de novo. Estava na Piazza Itália. Mudou-se para fazer espaço para a recém criada SEMA (Secretaria do Meio Ambiente). Da Piazza Italia foi para o prédio da Seinfra, no Bairro Saguaçu, na subida do mirante, onde antes estava a aprovação de projetos e parcelamento de solo. Aliás este é outro setor que também foi transferido para a Piazza Itália.

Antes de que acabe esta gestão ainda está prevista uma nova mudança de endereço, com o Procon mudando-se para a Cidadela Cultural Antártica. Com todas estas mudanças de endereço é frequente que os cidadãos façam uma romaria antes de encontrar o local. E acabem se queixando do fora de mão e a dificuldade de acesso do contribuinte que requer os serviços do Procon. A mudança para a Cidadela Cultural Antártica é um avanço, porque facilitará o acesso dos joinvilenses.

Outro ponto que o Procon precisa implantar - e está devendo - é o acesso ao bloqueio do telemarketing, para que os consumidores possam bloquear seu telefone para deixar de receber publicidade e serviços não solicitados e possam verificar se o seu telefone esta na lista dos  bloqueados.

Eficiência, efetividade e resolutividade, acrescidos de transparência deveriam ser a base para avaliar o trabalho do Procon. 


sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Zólho.


Nos fios da teia #3


POR SALVADOR NETO












Vamos tecendo mais alguns fios dessa teia do poder, este emaranhado difícil de decifrar e compreender!

Udo Navalha – O Prefeito de Joinville acaba de apagar de vez sua fama de “gestor” construída ao longo de anos, e principalmente na campanha eleitoral de 2012. Ao anunciar cortes pífios para “gerir” a Prefeitura, cortando direitos dos servidores municipais, fazendo maquiagens de mudanças de secretarias e outras ações que não farão as contas equilibrarem, ele assina embaixo: falta dinheiro, mas também falta gestão, e muita!

Udo Navalha 2 – Os cortes do Natal Luz, e do Carnaval, festas que motivam a população e ajudam o comércio em épocas de vagas magras, e jogar dinheiro público fora na tal de “Bierville”, mostram a falta de planejamento, de visão e principalmente, de apreço à população mais pobre, com menor poder aquisitivo. Não temos obras, não temos ruas sem buracos e sinalizadas, não temos praças limpas, falta saúde conforme o prometido em 2012, a insegurança aumentou significativamente. Esses são os grandes presentes do prefeito Udo a quem apostou seu voto. O povo já diz: 2016, venha logo.

País da lama – O desastre ambiental que acabou com o meio ambiente em mais de 600km a partir de Mariana (MG) até o litoral do Espírito Santo, matando toda a fauna, flora e impedindo a renda e ganho de vida de milhares de pessoas, mostra que vivemos em uma grande lama suja que envolve ganância empresarial, falta de fiscalização efetiva por parte de órgãos governamentais das três esferas públicas, e a incapacidade de agirmos rápida e emergencialmente em casos de catástrofes.

País da lama 2 – Mais risível é a multa que anunciam. R$ 1 bilhão pelo MP, e R$ 250 milhões pelo Ibama. Piada de mau gosto. Somente a Samarco lucrou, apenas no ano passado, R$ 2,8 bilhões. Lucro, limpinho. O lucro de um mês é suficiente para pagar a multa de R$ 250 milhões. A exploração que vivemos nos tempos coloniais, hoje revive após a “entrega” feita pelo governo tucano de FHC da nossa maior mineradora, a Vale. O entreguismo nos deu isso: mais exploração, menos recursos para o Estado, e prejuízos incalculáveis para o meio ambiente e as pessoas. E tentam enganar o povão via grande mídia largando um bilhão como se fosse muito!!

País da lama 3 – Só para os leitores entenderem mais ainda o que é o poder, principalmente o econômico. Mesmo em meio à crise econômica do Brasil e com a redução do preço do minério, tanto a Vale quanto a BHP Billiton, controladoras da Samarco de Mariana, têm conseguido se manter estáveis. Este ano, a Vale acumulou receita líquida de R$ 62,8 bilhões. No último trimestre, ela foi de R$ 23,3 bilhões, valor 117% em relação ao mesmo trimestre do ano passado. Já a gigante BHP Billiton, maior mineradora do mundo, registrou lucro de US$ 6,4 bilhões de junho de 2014 a junho deste ano. A empresa, que divide com a Vale os capitais da Samarco, estipulou a meta de investimento de US$ 8,5 bilhões até junho do próximo ano. Que tal? Deu pra entender?

Delcídio – Realmente surpreendente a determinação de prisão ao senador petista Delcídio do Amaral, decidida pelo STF. Primeiro por ter ele sido inocentado meses atrás pelas investigações da Lava Jato, por falta de provas. Segundo por não ter sequer processo aberto para ser determinada a prisão preventiva. E claro, era um senador bem quisto pelos seus pares tanto na Câmara como no Senado. Mas mais surpreendente foi a decisão do Senado de entregar um dos seus aos lobos do STF.

Delcídio 2 – Será que a decisão do STF foi motivada pelo aparecimento dos nomes de vários ministros da alta corte nas gravações? Assustaram-se com a chegada da investigação no Poder Judiciário? O STF é o guardião da nossa lei maior, a Constituição Brasileira. Lá diz que artigo 53, § 2º, da Constituição Federal, que “desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável”. O STF pensa que é Deus. O Senado se ajoelhou. Os direitos fundamentais choram.

Delcídio 3 - Criaram uma exceção à regra da Constituição que pode ser um tiro mortal na democracia, e no Estado Democrático de Direito. Flexibilizar a lei ao gosto do clamor, ou desejo, ou torpor da massa, é um risco alto para um Estado de exceção. O senador deve responder sim, mas dentro do rito legal existente, com ampla defesa. Prisões preventivas que viram prisões eternas, uma espécie de tortura psicológica até que se aceite o que alguém deseja, são inaceitáveis. Estejamos alertas, e não sejamos enredados nas teias do poder midiático, e dos poderosos do capital, do judiciário, do legislativo e do executivo. Pensemos. Povo que não pensa, será sempre um povo escravo.


É assim, os fios da teia nas teias do poder...

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Joinville na UTI

POR JOSÉ ALUÍSIO VIEIRA - DR. XUXO

Parece que Joinville não é mais aquela cidade ordeira e que nos orgulhávamos de tudo o que aqui existia e criávamos. A Cidade das Flores, das Bicicletas, a Manchester Catarinense está na UTI. 

Éramos orgulhosos de sermos os primeiros em tudo. Com o tempo, através dos anos, não soubemos acompanhar e ordenar nosso crescimento e fomos ficando para trás.
Nossos vizinhos catarinenses estão mais organizados. Itajaí já nos vence na arrecadação de ICMS. As entradas da cidade são todas duplicadas e a mais ao sul com jardins e ciclovias. Em Balneário Camboriú amplas avenidas que desafogam o trânsito e a implantação do esgoto sanitário vai a todo vapor.

Quando olhamos Jaraguá do Sul vemos avenidas bem asfaltadas, teatro em pleno funcionamento, belíssimo ginásio de esporte e dois hospitais superbem equipados dando segurança a população. Por falar em segurança, já passamos dos 100 casos de homicídios este ano e os tiroteios de quadrilhas de traficantes nos nossos bairros matam até crianças.

Há insegurança para qualquer pessoa chegar em casa. Nosso índice de desenvolvimento urbano de 0,809 é menor que de Florianópolis, Balneário Camboriú e Joaçaba. Um estudo da revista Exame mostra que nossos índices de governança, saúde e emprego da tecnologia digital estão abaixo de 50% do esperado e que a educação, de que tanto nos vangloriamos, está 40% abaixo também.

Na avaliação geral estamos pior que Blumenau e Florianópolis. Especialistas em mobilidade urbana estão divididos quando ao uso de elevados. Mas para avaliar a capacidade de trazer recursos e resolver problemas dessa natureza, alerto que nos últimos anos Florianópolis construiu mais de 20 e Joinville nenhum. Todos nós conhecemos os maravilhosos elevados da saída da ponte no lado da ilha. Nós não temos capacidade de duplicar por completo a Avenida Santos Dumont e as entradas da cidade são uma vergonha.

O município gasta mais de 30% em saúde. Isso não significa que o atendimento é bom. A sempre esquecida população da zona sul cresce quando se somam a ela populações da cidades vizinhas que buscam atendimento em Joinville. Somente um PA 24 horas, construído há 30 anos, para atender uma população maior que 300 mil.

Estamos ou não na UTI?

Há muitos outros desafios, mas há cura. Fazer um grande diálogo com a sociedade joinvilense. Buscar entre o empresariado, comunidade acadêmica, líderes comunitários, entre todos de boa vontade e de bem forças e união para vivermos criarmos uma cidade com crescimento sustentável, qualidade de vida, desenvolvimento econômico e preservação do meio ambiente. Depois, saber utilizar a tecnologia da informação para economizar recursos financeiros e humanos e atender melhor a população.

Afinal é disso que Joinville precisa. Precisamos tirar Joinville da UTI.



                                                                                                             José Aluísio Vieira, o Dr. Xuxo,
                                                                                                                              é médico em Joinville.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

A publicidade e um prefeito com tomates






POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

De repente todo mundo desatou a falar nos gastos da Prefeitura de Joinville com publicidade. E tem para todos os gostos. Um vereador quer dar mais R$ 16 milhões, outro quer cortar R$ 12 milhões e até um pré-candidato a prefeito embarcou na onda, inundando as redes sociais com filmes para lá de oportunistas a dizer que vai investir essa dinheirama em outras áreas.

O problema é que pouca gente sabe do que está a falar, com exatidão. Porque os municípios precisam investir em comunicação. E aqui está o nó górdio: esse pessoal confunde “comunicação” com “publicidade”. Não é a mesma coisa, óbvio. Mas o hábito do cachimbo deixa a boca torta. Nunca houve, ao longo de décadas e décadas, um projeto de comunicação na Prefeitura de Joinville.

Qual o problema? É que o dinheiro tem sido historicamente investido em ações clientelistas. O toma-lá-dá-cá produz silêncios, submissões e omissões. E também faz falar (bem). Quem nunca ouviu a expressão “boca de aluguel”, por exemplo? Ou de gente da mídia que integrou comitivas oficiais à custa do dinheiro público? Ou de jornais sem leitores que têm sempre anúncios do poder público? E quem nunca usou a expressão “isso a imprensa não mostra”?

Tudo isso tem um preço. E desde os tempos do “yellow journalism”, que surgiu logo no início do capitalismo, sabemos que os meios de comunicação dependem das verbas publicitárias. Hoje calcula-se, por exemplo, que em média as publicações precisam obter 50% dos seus recursos através da publicidade. Ou seja, há silêncios e falas condicionados pelas verbas publicitárias.

Mas a questão deste texto é outra. As prefeituras precisam manter estruturas de comunicação e isso exige dinheiro. Aliás, vou cometer um atrevimento: é possível uma prefeitura ter um sistema de comunicação que seja, também, uma fonte geradora de recursos. Como? Não me perguntem. Há pessoas pagas para isso. Mas isso é possível desde que haja ideias. Pena que as administrações públicas sejam o deserto da criatividade.

A comunicação (entendida num plano mais lato) é necessária porque cumpre uma função social e comunitária. E isso é coisa que os anúncios autopromocionais não fazem. Aliás, anúncios não são publicidade... são propaganda. Qualquer pessoa com dois dedinhos de testa percebe a diferença conceitual entre os dois termos. Se houver alguma imaginação e vontade política é possível desenvolver um sistema de comunicação eficaz e que não deixe as administrações municipais reféns dos sanguessugas da mídia.

O que é preciso para isso? Muito pouco. Basta um prefeito com os tomates no lugar. Infelizmente esses são raríssimos.


É a dança da chuva.