quarta-feira, 5 de junho de 2013

Monteiro Lobato e o politicamente correto

POR CLÓVIS GRUNER



Com este mesmo título, três pesquisadores cariocas publicaram, na última edição da revista Dados, artigo onde analisam a controvérsia gerada em torno ao livro “Caçadas de Pedrinho”, em 2010, e as manifestações racistas presentes na obra de Monteiro Lobato. As conclusões não chegam a ser uma novidade para quem já leu o escritor paulista: seja em textos adultos – como no romance “O presidente negro”, de 1926 –, em suas cartas ou  nos livros infantis, notadamente os do “Sítio do Pica Pau Amarelo”, Monteiro Lobato não cansa de afirmar e reafirmar suas convicções racialistas, enaltecendo a superioridade dos brancos ou acusando a inferioridade dos negros.

Os indícios se espalham pela sua obra – nas alusões sempre pejorativas a Nastácia; ou no epílogo de “O presidente negro”, onde a esterilização dos negros é apresentada como um “manso ponto final étnico ao grupo que a ajudara [a raça branca] a criar a América, mas com o qual não mais podia viver em comum” –, mas marcaram igualmente sua trajetória pessoal. Lobato foi um ardoroso defensor da eugenia e um entusiasta da Ku Klux Klan. Em carta ao médico e amigo Arthur Neiva, um dos mais ativos membros da Sociedade Brasileira de Eugenia, ele escreve que “país de mestiços onde o branco não tem força para organizar uma Kux-Klan, é país perdido para altos destinos. (...) Um dia se fará justiça ao Klux Klan; tivéssemos ai [no Brasil; nesta época, Lobato vivia nos Estados Unidos] uma defesa desta ordem, que mantém o negro no seu lugar, e estaríamos hoje livres da peste da imprensa carioca – mulatinho fazendo o jogo do galego, e sempre demolidor porque a mestiçagem do negro destrói a capacidade construtiva”.

Claro, pode-se objetar que se tratava de um pensamento comum à época e que Lobato pensava com as balizas intelectuais e morais do seu tempo. Mas é uma verdade apenas parcial. Primeiro porque a própria eugenia e seu projeto de purificação racial (eu = boa; genus = geração), embora tenha de fato seduzido governos e intelectuais de diferentes orientações, nunca foi um consenso. No Brasil ela foi combatida por, entre outros, Graça Aranha, Roquete Pinto e Lima Barreto, escritor de quem Lobato, inclusive, editou “Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá” em 1918. Além disso, ele não limitou sua militância racista à eugenia, revelando-se um simpatizante entusiasmado da KKK, organização que nunca foi conhecida pelas suas virtudes científicas.

Ora, não causa espanto que Lobato tenha tratado as personagens negras não apenas como subalternas socialmente, mas inferiores racialmente. Igualmente, não deveria provocar estranheza que o Ministério da Educação acatasse pedido de verificação dos conteúdos racistas em uma das obras do escritor, distribuída gratuitamente nas escolas brasileiras como parte do Programa Nacional de Biblioteca na Escola. Não deveria, mas causou. E como soe acontecer sempre que a direita se mobiliza, o estranhamento justificou o escândalo, e o escândalo se sustentou em uma mentira: a de que o governo federal estava querendo censurar Lobato. Nada disso: nenhum dos dois pareceres encomendados a especialistas pede o banimento ou censura da obra. Solicitam apenas que, além do treinamento dos professores para usar em sala o livro, fosse inserido nele uma “contextualização crítica do autor e da obra, a fim de informar o leitor sobre os estudos atuais e críticos que discutem a presença de estereótipos na literatura, entre eles os raciais”.

Não adiantou, porque a gritaria seguiu seu rumo, desta vez acusando o perigo de interferir em uma obra literária sacrificando seu valor artístico em nome da “ideologia”. Interessante que o mesmo livro motivo de tamanha controvérsia já trazia em suas reedições uma nota explicando, em passagem onde Pedrinho organiza uma caçada, que a história foi escrita em uma época onde os animais silvestres ainda não eram protegidos, nem a onça-pintada estava ameaçada de extinção, e que tal prática hoje não é mais aceita. Ou seja, os mesmos que consideravam inaceitável interferir na obra de Lobato para “contextualizar” seu racismo, nada disseram quando se interferiu nela para explicar a diferença entre as caçadas de ontem e sua proibição hoje. Claro, não interessa a ninguém que uma criança negra se sinta humilhada ao ler passagens pejorativas a respeito de suas origens, sua cultura e a cor da sua pele. Já os sentimentos da onça...

MAS E DAÍ?, podem estar se perguntando alguns. Não acho que o artigo mencionado vá reavivar a polêmica. No Brasil, a produção acadêmica raramente pautou o debate público, porque a ela preferimos gente da inteligência e do caráter de um Reinaldo Azevedo. Mas o imbróglio envolvendo “Caçadas de Pedrinho” em 2010 é atualíssimo. Ele diz respeito a outro debate, travado principalmente nas redes sociais e nas mídias audiovisuais, em especial a televisão. Me refiro a oposição entre o que se convencionou chamar “politicamente correto” e “politicamente incorreto”. Não tem sido incomum ler e ouvir adjetivações negativas sobre o primeiro, como se a sua simples existência ameaçasse as liberdades de pensamento e expressão. Será?

Toda generalização é perigosa, mas vou assumir o risco: ao menos no Brasil, o politicamente incorreto tem servido aos fins mais pífios. Ele tem sido reivindicado sempre que jornalistas, blogueiros, formadores de opinião, artistas, intelectuais, humoristas, etc..., tentam justificar, defender e legitimar o que consideram seu direito inalienável de agredir, desqualificar, ofender e humilhar principalmente as chamadas minorias. Não, não são os brancos de classe média alta, nem os homens heteros os alvos privilegiados do politicamente incorreto – e quando acontece de o serem, as desculpas públicas vem a galope. Incapaz de ultrapassar o chamado senso comum, de fazer-lhe a crítica, de expor seu ridículo, o politicamente incorreto o reforça e reproduz atacando mulheres (as feias, principalmente, que devem agradecer quando estupradas), negros, índios, pobres, gays, deficientes e quem mais ele julgar inferior e incapaz de se defender. O politicamente incorreto não é apenas preconceituoso, racista, machista e homofóbico; ele é covarde.

E autoritário. Sim, porque o politicamente incorreto quer continuar agredindo, ofendendo e humilhando sem ser contestado, acusando - vejam só! - de intolerância quem o contradiz. Para sua desgraça, no entanto, os tempos são outros: estamos mais atentos a força das palavras, ao que elas significam e produzem socialmente. Ninguém, ao menos ninguém com um mínimo de bom senso (mas sempre há quem não o tem) levantará a voz ou deslizará os dedos no teclado para calar quem quer que seja. Mas igualmente não se aceita mais, resignadamente, como inevitável que se reafirmem estereótipos que são a expressão de uma violência simbólica a perpetuar ódios de classe, gênero e etnia, tão profundamente arraigados na nossa história. Ser politicamente correto é chato? Que seja. Mas é melhor que ser politicamente um protofascista.

25 comentários:

  1. O politicamente se tornou um tema cujas opiniões pipocam aos milhões na rede. Sugiro que busquem a origem do termo "politicamente correto" no google, com certeza alguns se surpreenderão.

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  2. Não havia comentado o primeiro texto do autor, para discutir a questão da inclinação Política dos cursos de História, porque acredito que você deixa bem clara suas posições - que margeiam a intelectual-esquerda atual. Este texto, aliás, é mais um exemplo disso. Longe de querer entrar no mérito, antes que me chamem de reaça, direita, classe média (o que, aliás, posso ou não ser), gosto de pensar nas coisas suscitadas pelo texto.
    Quando é afirmado "No Brasil, a produção acadêmica raramente pautou o debate público, porque a ela preferimos gente da inteligência e do caráter de um Reinaldo Azevedo." eu penso que eis um ponto nevrálgico da situação acadêmica do Brasil - e, talvez, do mundo, não o conheço o suficiente para estender a afirmação. A produção acadêmica não pauta as discussões porque se encerra atrás do muros que ela mesma ergue para distinguir-se dos "outros", do "povo" (o qual, aliás, é constantemente citado, defendido e enaltecido em alguns cursos, principalmente das Humanas), do "senso comum", dos "jornalistas", das "revistas (Veja) da vida". Se Reinaldo atinge as pessoas (não posso aferir seu caráter) é porque ele escreve para elas e toma os meios necessários para tal. Se as pessoas torcem o nariz para o politicamente correto, para a crítica ao racismo, elas carecem de explicações com as quais a academia poderia (ou deveria?) ajudar. Vejo inúmeros colegas acadêmicos que se debruçam sobre questões de gênero, do racismo, das liberdades e direitos e não os vejo transpondo este limiar. Encerram-se em si e em seus artigos para "revistas" (estas, sim, nobres) acadêmicas.
    Sobre o politicamente correto, gostaria de deixar a "pimenta", como o próprio Rubem Alves chama, do texto "Heil, Hitler". Numa sutil discussão sobre a "correção" da linguagem, ele atenta que esta é sempre um discurso de poder. "Mas o fato é que ninguém fala imaginando que sua linguagem não seja a correta. [e provoca] Cabe então perguntar: quem foi que disse e determinou que uma linguagem seja politicamente correta e a outra seja politicamente errada?". Seria o poder? A manipulação do poder das palavras? E, sabemos, o poder muda de mãos. E, como lembra o título deste texto dele, o poder muitas vezes está em mãos nem sempre corretas. Longe de querer concordar ou discordar ferrenhamente do texto, me interessei para os caminhos que ele abriu.

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    1. Fahyakc, você tem em parte razão na sua crítica a dificuldade de parte da academia e dos acadêmicos em estabelecer um diálogo para fora de seus muros. Particularmente, não acho que se trate apenas de arrogância (embora às vezes seja): cada área do conhecimento tem suas especificidades, inclusive linguísticas, que dificultam mesmo a troca de informações - eu, por exemplo, não entendo absolutamente nada do que o mecânico do meu carro me explica, porque sou absolutamente ignorante naquilo que ele é especialista.

      Por outro lado, acho que há um esforço mais ou menos significativo nas gerações mais atuais em estabelecer outras pontes. Sempre haverá as revistas acadêmicas, e acho que elas são uma necessidade inclusive profissional. Mas a presença mais assídua de intelectuais em jornais, revistas, blogs e redes sociais denota, a meu ver, uma tentativa de "desencastelamento" cujos resultados já se fazem perceber, mesmo que timidamente, quando vemos um Eduardo Viveiro de castro, por ex., ter centenas de seguidores no Facebook.

      Quanto ao Reinaldo Azevedo, eu me recuso a comentá-lo para além do que já disse no texto.

      Abraços.

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  3. Não havia comentado o primeiro texto do autor, para discutir a questão da inclinação Política dos cursos de História, porque acredito que você deixa bem clara suas posições - que margeiam a intelectual-esquerda atual. Este texto, aliás, é mais um exemplo disso. Longe de querer entrar no mérito, antes que me chamem de reaça, direita, classe média (o que, aliás, posso ou não ser), gosto de pensar nas coisas suscitadas pelo texto.
    Quando é afirmado "No Brasil, a produção acadêmica raramente pautou o debate público, porque a ela preferimos gente da inteligência e do caráter de um Reinaldo Azevedo." eu penso que eis um ponto nevrálgico da situação acadêmica do Brasil - e, talvez, do mundo, não o conheço o suficiente para estender a afirmação. A produção acadêmica não pauta as discussões porque se encerra atrás do muros que ela mesma ergue para distinguir-se dos "outros", do "povo" (o qual, aliás, é constantemente citado, defendido e enaltecido em alguns cursos, principalmente das Humanas), do "senso comum", dos "jornalistas", das "revistas (Veja) da vida". Se Reinaldo atinge as pessoas (não posso aferir seu caráter) é porque ele escreve para elas e toma os meios necessários para tal. Se as pessoas torcem o nariz para o politicamente correto, para a crítica ao racismo, elas carecem de explicações com as quais a academia poderia (ou deveria?) ajudar. Vejo inúmeros colegas acadêmicos que se debruçam sobre questões de gênero, do racismo, das liberdades e direitos e não os vejo transpondo este limiar. Encerram-se em si e em seus artigos para "revistas" (estas, sim, nobres) acadêmicas.
    Sobre o politicamente correto, gostaria de deixar a "pimenta", como o próprio Rubem Alves chama, do texto "Heil, Hitler". Numa sutil discussão sobre a "correção" da linguagem, ele atenta que esta é sempre um discurso de poder. "Mas o fato é que ninguém fala imaginando que sua linguagem não seja a correta. [e provoca] Cabe então perguntar: quem foi que disse e determinou que uma linguagem seja politicamente correta e a outra seja politicamente errada?". Seria o poder? A manipulação do poder das palavras? E, sabemos, o poder muda de mãos. E, como lembra o título deste texto dele, o poder muitas vezes está em mãos nem sempre corretas. Longe de querer concordar ou discordar ferrenhamente do texto, me interessei para os caminhos que ele abriu.

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  4. Logo logo, Clovis, voce vai olhar para o lado, andar para frente ou assoviar uma musica e vai pra cadeia porque isso estará "ofendendo" alguem.

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    1. Não entendi as aspas. Particularmente, eu acho ofensivo uma piada que ridiculariza e banaliza o estupro, mas não vou pedir cadeia para o tal humorista por conta disso, entre outras coisas, porque não acredito que cadeia corrija quem quer que seja. E certamente não tornará o Rafinha Bastos mais inteligente e engraçado.

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  5. 1. Caçadas de Pedrinho foi o primeiro livro que eu li e foi justamente por ele que nunca mais consegui deixar os livros. E eu era criança demais para ver o que os doutos veem hoje. Hegel disse sobre os índios americanos: "Há-de ainda passar muito tempo até que os europeus consigam neles atear algum sentimento de si (…) Foram olhados na Europa como desprovidos de Espírito e sem a menor capacidade de educação. A inferioridade destes manifesta-se sob todos os aspectos". E ninguém quer caçar ou cassar o homem.
    2. Acho que o politicamente correto pretende fazer uma eugenia do pensamento e tolher a liberdade de expressão. Não quer dizer que devamos ser brucutus do pensamento, mas a maturidade democrática regular essas coisas. Nos Estados Unidos, os programas do Jon Stewart fazem humor com os atentados de Boston sem ofender. Em Portugal, há humoristas que esticam a corda até onde ela aguenta, para não arrebentar. É uma questão cultural.
    3. Os acadêmicos precisam começar a ver o mundo para lá dos muros da academia. É preciso saber comunicar, descomplicar e falar ao homem comum, sob o risco de a mensagem não passar. Sartre dizia que o texto só faz sentido se for lido. Óbvio: é a leitura que confere a existência ao texto.
    4. Não consigo imaginar alguém que estude história e saia pela direita.
    5. Reinaldo Azevedo é o a expressão hiper-real de um real por si só ignaro.

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    1. Vamos por partes:
      1-) Ninguém quer caçar nem cassar Monteiro Lobato.
      2-) Eu acho o John Stewart genial, e não conheço os humoristas portugueses. Mas no Brasil também se faz humor com inteligência; era o caso, por ex., do Marcelo Adnet, ao menos na MTV, porque não sei o que ele anda a fazer na Globo. O TV Pirata já fazia humor inteligente nos anos 80, inclusive tirando sarro dos muitos cacoetes da classe média de esquerda, como no quadro "Debatendo a piada". O que critico é o humor rasteiro, destes que não chegam a ser novidade, mas ganharam força nos últimos anos por conta de gente de inteligência rasa e senso crítico idem, como Rafinha Bastos.
      3-) Eu não quero tolher a liberdade de expressão e não conheço ninguém do meu círculo de relacionamentos, real ou virtual, que queira fazê-lo. Se na Europa a coisa chegou a este nível, é uma pena. No Brasil, pelo menos, se há alguém que ameaça a liberdade de expressão não somos nós, os considerados "politicamente corretos".
      4-) Sartre não era e nem é lido pela maior parte dos "homens comuns". Mantenho o que eu disse para a Fahyac logo acima: há especificidades no mundo acadêmico, como há no mundo dos mecânicos de automóveis. Com todo respeito, Baço, dizer que a academia não vê além dos seus muros é só mais uma das muitas mistificações em torna à academia. Eu e minha mulher somos ambos acadêmicos, e não consigo imaginar porque não somos comuns: criamos um filho, temos uma rotina, trabalhamos, vivemos com um orçamento apertado, enfrentamos diariamente nossa cota de engarrafamento, somos abordados nos semáforos, vamos a festinhas de criança e eventos na escola, viajamos nas férias.
      Se minha escolha profissional me instrumentaliza a abordar minha experiência sob um prisma que não é o mesmo de outras profissões - nem melhor, nem pior, só diferente - por que cargas d'agua eu deveria me ressentir por isso?
      5-) Se você não consegue imaginar quem estude história e saia pela direita, precisa passar um tempinho aqui no Brasil :). Falando sério: há bons historiadores de direita, inclusive aqui - como é o caso do José Murilo de Carvalho, por exemplo. Assim como há historiadores ruins à esquerda, quer por razões de ordem metodológica (sei lá, Zilda Iokoi?), quer pela truculência teórica (Ciro Flamarion Cardoso é o que me ocorre, sempre).
      6-)Reinaldo Azevedo é o a expressão hiper-real de um real por si só ignaro.

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    2. 1. Tem gente querendo caçar o Monteiro Lobato. Não és tu, mas certamente são defensores do politicamente correto. A minha tese é que o politicamente correto deve ser uma opção, uma questão de bom senso e não um patrulhamento.
      2. Quando falo nos EUA e Portugal é apenas para ressaltar a questão cultural. Se formos discutir a democracia, por exemplo, as opiniões serão diferenças porque a vivência da democracia é diferente (a democracia não é um valor absoluto).
      3. O politicamente correto tenta tolher sim. A ideia inicial era tirar Monteiro Lobato da grade curricular. Um dia li Julio Verne e a descrição de uma caçada me deixou escandalizado. Mas entendo que o homem é fruto do seu tempo e do seu espaço e isso deve ser considerado.
      4. Não te esqueças que apesar de não me posicionar como acadêmico de profissão, continuo na academia só deixei de dar aulas porque preferi ensinar taekwondo. Vivendo nos dois mundos - a iniciativa privada e a academia - acredito ter um ângulo mais amplo nessa análise. O mundo acadêmico é muito autocentrado e conservador.
      5. É uma questão pessoal. Se você toma conhecimento aprofundado dos fatos é fatal se tornar um humanista. E o humanismo aponta para a esquerda (não estou a falar de partidos).
      6. Reinaldo Azevedo é a expressão hiper-real de um real por si só ignaro.

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    3. Resumo: no Brasil o Politicamente de "C" é rola!

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    4. Nunca pensei que fosse concordar com o José Baço, mas aqui fui obrigada - em todos os pontos. A linguagem é a linguagem do poder. Hoje é uma, amanhã outra. Aí o "correto" e o "errado" ficam à mercê disso. Apesar das colocações do Clóvis, a universidade está muito aquém de onde deveria estar na nossa sociedade, os muros são muitos e fortes. Entre direitas e esquerdas, a formação humanista tornou-se jóia rara, mal se vê.

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    5. E eu continuo sem entender direito por que uma nota de rodapé sobre onças não provoca nenhum estranhamento ou indignação, mas quando se pede para minimizar o conteúdo racista tanto gente se sente melindrada. Estranhos estes tempos onde é mais fácil sentir empatia com uma onça, do que com uma criança negra.

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    6. Eu respondo: a onça está em extinção.

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  6. Ë censura, ooops, controle social da mídia, comendo pelas beiradas.

    Urgente assistir todos episódios de South Park antes que a militância queime tudo em praça pública.

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    1. Como eu respondi ao Baço, Dirk: se tem alguém no Brasil que ameaça a liberdade de expressão, não somos nós, os considerados "politicamente corretos".

      Aliás, South Park é um ótimo exemplo do humor cáustico, inteligente e necessário. Provavelmente você percebe que eles fazem exatamente o oposto dos nossos humoristas brasileiros "politicamente incorretos". Eu adoro.

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  7. Sei não, mas, daqui à pouco vão começar a culpar o Santos Dumont pelos acidentes aéreos...

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    1. Monteiro Lobato não era culpado pelo racismo, pois não o criou. Mas, como racista que era, ele o reproduziu e legitimou. São coisas diferentes e bem fáceis de entender.

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    2. e aí quem gosta do monteiro lobato é racista tb? todas as crianças do brasil que leram monteiro lobato se tornaram racistas? Baço: "Um dia li Julio Verne e a descrição de uma caçada me deixou escandalizado". é assim que funciona: baseado nas suas experiências, na educação que recebem dos pais e na relação que mantém com os outros as crianças vão formando seus conceitos. se esse caldo gera distorção o distorcido carrega isso e a vida - ou se ele extrapola a polícia - se encarrega dele. Hitler é um bom exemplo?
      e que papo é aquele de "branco de classe média alta"? acho essa frase meio racista...

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    3. É assim que funciona, 20:05: você aprende a articular alguma ideia, qualquer ideia, com um pouco mais de clareza, e depois conversamos.

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    4. topo o desafio, apesar da grosseria:
      pelo seu discurso, o leitor precisa que alguém - os órgãos oficiais, olha o perigo - explique e contextualize os detalhes racistas na obra do lobato. eu afirmo que a tutela é desnecessária. Se uma pessoa acredita nessa bobagem de divisão de raças não vai ser nota em pé de livro que vai mudar isso. E usei como exemplo a frase do baço: não foram discursos oficiais politicamente corretos nem notas em pé de livro que o fizeram se escandalizar. foram as informações que ele recebeu da VIDA - a educação recebida dos pais e as experiências adquiridas até o momento da leitura do julio verne. Como vc não entendeu, vou te usar como exemplo. Na sua formação, se vc leu as caçadas de pedrinho, havia alguma contextualização sobre as frases racistas no texto? a ausência delas fez com que vc olhasse os negros como inferiores?
      na boa, acho essa discussão desnecessária. muito mais pernicioso e digno de atenção é o ensino de religião católica nas escolas públicas, pq não se preocupam com isso?
      e pra terminar que eu, uma mistura de índio, negro e europeu vou tomar cerveja com um amigo negão e outro japonês: te perguntei se vc não acha que "branco de classe média alta" é uma frase racista. como vc preferiu ser grosseiro no lugar de responder a pergunta pergunto de novo. é ou não é?

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    5. Não, eu não acho racista a afirmação "branco de classe média alta", principalmente no contexto em que eu a usei.

      Eu concordo com você que o ensino religioso nas escolas é pernicioso, o que não nos autoriza a fazer vistas grossas a outras práticas perniciosas.

      E sim, eu li todo o "Sítio do Pica Pau Amarelo" quando era criança. Minha irmã caçula, hoje já adulta, ganhou de presente, de mim, toda o "Sítio..." quando era criança. Meu filho, que tem quatro anos e meio e mal começou a ler, já tem toda a coleção do "Sítio...", e eu espero muito que ele a leia daqui a algum tempo.

      Contraditório? Não. E sabe por que? Porque isso não é só sobre mim, minha irmã ou meu filho. Porque isso não é só sobre você.

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    6. Não acho contraditório não, clóvis. essa tua atitude mostra que concordamos enfim. pq tenho certeza que vc vai explicar para o seu filho que determinados pontos de vista levantados no livro são equivocados. é assim, na base da educação que talvez um dia acabe este grande equívoco que é acreditar que o ser humano é dividido em raças, e - o pior -, que algumas são superiores.

      Ao governo cabe criar sistemas de inclusão educacional, qualificar o sistema educacional e propor leis que punam a prática de racismo. aceitar que ele tenha o direito de "editar" (a palavra certa aqui seria censurar. eu li o texto que vc linkou. a facada no fim dele eh bem clara...) qualquer obra que seja para nos "proteger" abre um precedente perigoso demais, pq não sabemos quais serão as próximas "boas intenções" de um outro governo. e aí acho que temos que gritar contra essas "boas intenções" sim, à parte o fato que nem todos gritaram pelas mesmas razões.

      e sei muito bem do que se trata racismo. como te disse antes, tem sangue negro aqui dentro, e a cor da minha pele não pode ser considerada branca. ver um filho vítima desse tipo de preconceito pode crer é uma merda, os sentimentos que afloram são os piores. mas posso até apostar que aquele loiro de olhos azuis não agiu daquele jeito por causa do monteiro lobato. foi ignorância mesmo. ah, e à minha filha eu disse que ela não pensasse que aquele ignorante representava todos os brancos loiros de olhos azuis. caráter e educação não tem cor.

      enfim, uma boa discussão, apesar dos percalços. desculpa qualquer coisa, um abraço e bom domingo.

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    7. Desculpe a grosseria anterior: mas como é de praxe anônimos encherem o saco com picuinhas, adotei uma postura padrão com a maioria deles, até que alguém me convença do contrário.

      Não pretendo me alongar muito mais sobre isso, porque a coisa já soa repetitiva. Mas vamos lá: quem primeiro levantou a polêmica em 2010 foram as organizações Globo, por meio de seus jornais. Não por coincidência, a editora responsável pela publicação e distribuição de “Caçadas de Pedrinho” pertence a mesma organização, e não me causa espanto que tenham sido comerciais, mais que estéticas ou literárias, as razões por detrás da mobilização – afinal, como eu mesmo disse, a mesma editora inseriu, voluntariamente, uma nota de rodapé explicando que caçadas já não são “ecologicamente corretas”, mas se recusou a fazer a mesma coisa em relação às manifestações racistas.

      E não se trata do meu filho lendo Monteiro Lobato. Trata-se de 30, 40 ou 50 crianças, brancas e negras, lendo uma obra de teor racista e tomando como verdade o que lêem, salvo orientação contrária. Toda a polêmica se resumia a negar a estas crianças o direito de terem, e a seus professores o dever, de explicarem a estes pequenos leitores o contexto histórico daquilo que lêem.

      E enfim: Monteiro Lobato era racista. Conan Doyle era um defensor do imperialismo inglês. Ezra Pound aderiu ao nazismo. Celine foi um colaboracionista. Jorge Borges era racista. No Brasil não faltam exemplos de autores que aderiram ou simpatizaram a variadas formas de autoritarismo – o varguismo, o stalinismo, a ditadura civil-militar, Cuba. Não acho que estes autores deixem de ter valor literário por conta de suas escolhas políticas. Mas, por outro lado, acho também que seu valor literário não deve obscurecer ou justificar estas escolhas. E acho muitíssimo pouco provável que um intelectual como Lobato, que viveu anos nos Estados Unidos, desconhece a natureza e as práticas da Ku Klux Klan, que ele não só defendeu, mas de quem se mostrou um simpatizante entusiasmado.

      Em sua argumentação, o Baço usou Hegel como exemplo. Pois eu acho que, alemão por alemão, Lobato estava mais para Heideger que para Hegel.

      Um abraço e bom domingo.

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    8. Ainda bem que voce reconheceu que adota a postura padrao da grosseria, já na primeira linha.

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    9. Para o anônimo padrão, grosseria padrão. Salvo disposição em contrário.

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