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sexta-feira, 8 de maio de 2020

Conversas à Chuva - Arno Kumlehn



POR JORDI CASTAN

Nosso convidado é o Arquiteto e Urbanista Arno Kumlehn. O tema é como o COVID19 impactará nossas cidades, seu impacto na mobilidade, no mercado imobiliario, na forma como as pessoas moram e como os negocios mudarão e o efeito que estas mudanças terão sobre nossas vidas.

A pandemia só acelerou mudanças que já estavam a caminho. A velocidade com que as mudanças se produzirão nos afetará muito mais e de forma mais rapida do que poderiamos prever. As mudanças irão além e impactarão as relações de trabalho e sociais.  O trabalho como o conhecemos também será impactado e haverá uma redução na demanda por mobilidade com a redução dos deslocamentos. 
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segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Galpões de reciclagem nos quatro cantos de Joinville?


POR JORDI CASTAN

Alguns vereadores tem uma especial habilidade para envolver seus nomes em projetos “esdrúxulos”. Nunca é casualidade que sejam sempre os mesmos e é bom que nestes casos a população fique de olhos bem abertos, para depois não lamentar o impacto e os prejuízos que estes projetos, caso sejam convertidos em lei causarão a sociedade.

Infelizmente o Vereador Bento e outros pares estão, novamente, prestando um desserviço à população. Toda essa movimentação na Câmara, toda essa pressão e especialmente o fato de estar usando catadores e recicladores, (muitos deles são pessoas simples e sem o mínimo de instrução, de acordo com o estudo apresentado recentemente pela própria prefeitura de Joinville)  Gente bem intencionada e que enfrenta problemas por conta da atividade que realiza, presa fácil de vendedores de ilusões, trambiqueiros, enganadores e vereadores de qualquer ideologia. Que os tem convertido em massa de manobra para pressionar pela aprovação de uma lei que precisa ser bem conhecida, especialmente para todos aqueles moradores que correm o risco de um dia para outro ter um galpão de reciclagem instalado ao lado do seu imóvel. Faltam como sempre dados verazes, mapas detalhados e os estudos técnicos pertinentes. Aspectos estes que os nossos vereadores acham que carecem de importância. Deveriam estar previstas Audiências Públicas sobre esta questão, sob o ponto-de-vista ambiental.

É bom lembrar que um projeto anterior, (PLC 01-2015) com o mesmo objetivo já  foi vetado pelo Prefeito Udo Dohler e mesmo assim um novo projeto está em tramitação da Câmara com mesma roupagem.

O Vereador Bento e o Vereador João Carlos Gonçalves não desistem e estão mobilizando catadores e recicladores vendendo a ideia de que a poderão ser instalados galpões de reciclagem em quase todas as áreas de Joinville. É bom entender o que é e como funciona um galpão de reciclagem e não se deixar iludir com as palavras mansas dos nossos legisladores. É importante entender que são atividade poluidoras e potencialmente poluidoras, que devem estar restritas a áreas especificas da cidade. Que não podem e não devem ser instaladas perto de áreas residenciais, que permitir que se instalem nas áreas previstas nos projeto de lei é um atentado ao futuro de Joinville. É vergonhoso o que os dois vereadores estão fazendo. No caso do Vereador Bento (PT) poderia se fosse o caso ser acusado de reincidência, não só pela insistência em aprovar este projeto, mas pelo perfil e objetivos da maioria dos projetos que tem liderado, quando o tema é urbanismo. Foi dele a iniciativa de aumentar o perímetro ..... e foi dele o projeto da Lei Bentinho que já foi objeto de um post aqui no Chuva Ácida. Chego a conclusão que esse senhor é perigoso para o futuro de Joinville. Que esta pouco preocupado com Joinville e que só esta focado nos seus interesses pessoais.

É esse aspecto pessoal e humano o que esta sendo explorado pelos vereadores e divulgado pela imprensa. Corre-se o risco novamente de não tratar com a seriedade e a tecnicidade que requer o tema, por conta do enfoque sentimentaloide e pontual acrescentado a isso a pressão que se faz não só para que seja aprovado, mas para que não seja discutido adequadamente.


A Câmara de Vereadores tem divulgado este release:

Atualização: No final da sessão de hoje os vereadores da Comissão de Urbanismo Jaime Evaristo (PSC), João Carlos Gonçalves (PMDB), Maurício Peixer (PSDB) e Manoel Bento (PT) apresentaram requerimento convocando reunião extraordinária para amanhã (28) às 16h30.
A Comissão de Urbanismo deve debater no dia 5 de novembro, em reunião extraordinária, o Projeto de Lei Complementar 46/2015, que tem como objetivo permitir que galpões de reciclagem possam se instalar em mais áreas da cidade. O projeto estava na pauta da reunião da Comissão hoje, mas não foi votado.
A Câmara de Vereadores já havia aprovado projeto de lei com o mesmo objetivo, o PLC 1/2015, mas ele teve veto do prefeito Udo Döhler. De acordo com a justificativa do veto, as emendas ao projeto aprovadas pelos vereadores causaram a “desconfiguração dos seus objetivos exorbitando o âmbito da matéria”.
O presidente da cooperativa de trabalhadores de material reciclável Recicla, Anderson Ramalho da Silva, pediu em Plenário que o projeto seja aprovado com rapidez. “A demanda por material reciclado só aumenta e nós não podemos trabalhar”, afirmou.
Texto: Marina Bosio 


Fazendo uma leitura do mapa elaborado para aprovar o projeto de lei, pode se ver claramente (em vermelho) que a área destinada a permitir a instalação de galpões e de empresas de serviços de reciclagem. No caso de Pirabeiraba a situação será de converter a maior parte da área do distrito em área para a instalação deste tipo de atividades. Precisa mesmo fazer uma coisa dessas com a população daquela região? Tampouco é melhor a situação dos Bairros São Marcos, Boa Vista, Espinheiros e da Zona sul. Vamos assim converter Joinville numa imensa área de reciclagem.

Região de Pirabeiraba


Amanha 3ª. Feira (03/11) haverá uma reunião na Comissão de Urbanismo, a partir das 14h30min na Câmara para a discussão final deste projeto absurdo.

É de importância vital que os moradores dos bairros atingidos pelo projeto, individualmente ou através das suas associações de moradores tomem conhecimento deste projeto, pois será permitido em 5 regiões da Cidade e próximo às zonas residenciais (No Santo Antônio está prevista nas proximidades da Avenida Marquês de Olinda e para a divisa do bairro com o Costa e Silva e Distrito Industrial e no lado da Rua Arno Waldemar Dohler) que os catadores e recicladores constituam depósitos de reciclagem.

Projeto autoriza a instalação de empresas de reciclagem em quase todos os bairros


E no caso que sejam autorizados estes depósitos, infelizmente, como a fiscalização da PMJ é zero, representam um foco permanente de roedores, insetos, doenças, mal cheiro, poluição ambiental e visual, problemas de mobilidade urbana, segurança e um convite à desvalorização imobiliária, muito embora nossos legisladores usem a demagogia do discurso da renda e dignidade à estas pessoas

Um detalhe que corre abertamente pelos gabinetes da Câmara é que um dos panos de fundo deste projeto é que empreendedores ligados à área funerária estão fazendo um lobbie poderoso para aprovar o uso de Crematórios nestas regiões, já que o atual Crematório está embargado pela Justiça por conta das trapalhadas cometidas pela administração municipal.

Conhecendo os nomes envolvidos no projeto, o seu empenho e pertinácia não se deve duvidar de que esse seja também um dos objetivos por trás de tanta insistência.


segunda-feira, 13 de maio de 2013

Os subalternos podem falar: pelo fim do "urbanês"

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

Há alguns anos a escritora indiana Gayatri Spivak lançou uma pergunta no mundo da Antropologia que ecoou longe: "pode o subalterno falar?". O sujeito subalterno na definição de Spivak é aquele pertencente às camadas mais baixas da sociedade constituídas pelos modos específicos de exclusão dos mercados, da representação política e legal,e da possibilidade de se tornarem membros plenos no estrato social dominante. Em Joinville, como em qualquer outra cidade, convivemos com (e até mesmo somos) subalternos urbanos, pois somos reféns de um modelo de urbanismo imposto, conforme já relatei em outra oportunidade.

Após a regulamentação do Estatuto da Cidade em 2001, e de nosso Plano Diretor em 2008, os preceitos democráticos no planejamento urbano devem ser assegurados em qualquer ação estatal. Nesta lógica, todos possuem a oportunidade de participar, expressarem suas ideias e dialogarem. Afinal, planejar a cidade é lidar diretamente com a vida das pessoas. Infelizmente, alguns agentes (travestidos de grupos sociais de origem econômica) entendem de forma totalmente diferente.

Estas pessoas defendem que o planejamento urbano deve atender às demandas de mercado, aquelas que representam a vontade de um sistema que gera subalternos urbanos. Forma cidadãos que, por muitas vezes, não possuem o mínimo de dignidade para sobreviver. Não "aparecem". Moram na longínqua periferia. Tornam-se impessoais na coletividade. Respondem a regras anônimas de submissão ao trabalho. Não têm acesso a um adequado sistema educacional. Não "entendem" de planejamento urbano - e nunca entenderão, se a lógica dominante-dominado persistir.

Estes agentes sociais trabalham nos bastidores para a "tecnização" das discussões relativas ao planejamento urbano. O poder de dizer o que é melhor para a cidade não é mais do subalterno, mas sim do técnico, que é o responsável pela organização do processo. Este técnico, por sua vez, raramente é orientado a dar a oportunidade de falar a aquele que será o principal atingido. O processo democrático, de natureza inclusiva, é excludente: poucos participam da tomada de decisões e são representados "democraticamente" por aqueles dominantes interessados em articular os interesses de outros representados, os oriundos de setores extremamente segregadores e maléficos para as cidades como um todo (indústrias com necessidade de expansão, imobiliárias, construtoras, incorporadoras, loteadores, etc.).

Por isso, se o planejamento urbano é feito para as pessoas, pois elas que habitam a cidade, é para elas que as discussões devem se dirigir. Por mais que a maioria subalterna não entenda de termos técnicos ou mapas setoriais multicoloridos, ela pode falar e deve ser orientada didaticamente a tal situação. Sem mapas setoriais. Sem segredos. Sem siglas. Sem "urbanês". O movimento contrário a isto carateriza-se apenas por um motivo: esvaziar o principal espaço de mudança social, que é caracterizado pela participação popular de base e garantido por lei, o qual deveria combater interesses econômicos que, quase sempre, vão contra à cidade ideal e à cidade que todos queremos.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

O urbanismo escravagista

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

Ao longo dos últimos dez anos venho acompanhando mais de perto a política de planejamento urbano de várias cidades brasileiras, e não somente de Joinville. A impressão que me passa - e reforçada cada dia mais - é que fomos escravizados e nem sabemos. Porém, ao contrário do que aconteceu em séculos passados, a população brasileira foi escravizada por um urbanismo que limita, impõe e regra a vida social em uma cidade.

Somos todos escravos de um sistema econômico baseado na indústria automobilística e imobiliária/incorporadora. Os maiores volumes de dinheiro não surgem mais da produção de bens manufaturados, mas sim das articulações realizadas com a propriedade fundiária nas cidades. Para ser mais claro, fomos escravizados pelo fenômeno chamado "especulação imbiliária", que, ao meu ver, cumpre o mesmo papel que o senhor do engenho cumpria na estrutura escravista e tem na indústria automobilística o seu "capataz".

Ao transformar "terra rural" em "terra urbana", "menos valorizado" em "mais valorizado", "longe" em "perto", "barato" em "caro", "fazendas unifamiliares" em "condomínios fechados", "zonas de moradia de trabalhadores" em "condomínios industriais", "zonas frias" em "zonas quentes" (sic!), "vizinhança de cemitério" em "vetor do crescimento imobiliário", "descaso com o meio ambiente" em "pogresso" de acordo com as suas necessidades, a cidade tem seu perímetro urbano aumentado, incentivando o espraiamento urbano e uma dificuldade de locomoção pela cidade. Logo, se está difícil se locomover, principalmente pelos modos coletivos (o poder público é legitimador deste processo, da mesma maneira que legitimou a escravidão), o cidadão é forçado a adotar um estilo de vida: o estilo do automóvel. E não tem outra solução para sobreviver economicamente em meio ao caos urbano. É isso, ou é isso (ou as chicotadas da estigmatização e marginalização)!

Deste modo, o sistema escravagista pós-moderno está montado: grandes periferias urbanas sem infraestrutura, pobres morando "longe", deslocamento infernal devido ao excesso de carros, especulação imobiliária ganhando dinheiro como nunca, e políticos comemorando um crescimento econômico excludente e que só servirá aos senhores do engenho (e a eles mesmos!). Nada é ilegal. Tudo é fundamentado em leis parciais (com pouca participação popular), em uma polícia violenta e em uma mídia que é amiga de todos (e patrocinada por estes), menos dos escravizados.

Talvez nem percebamos, mas fomos escravizados. E a cidade é a nossa senzala.

domingo, 16 de outubro de 2011

Chufa*




POR ARNO KUMLEHN

Barcelona tem inúmeros predicados. A simpatia e a amabilidade do seu povo é o mais importante. Porto por nascimento, virou cosmopolita na medida certa, guardando ainda o desenho urbanístico promovido por Hausmann no final do século XIX. Planejou a Olimpíada de 1992 durante décadas e o rejuvenescimento é o legado que hoje pode ser vivido por moradores e visitantes.

Em 2009, Barcelona lançou licitação para a limpeza urbana e impôs que os veículos da prestadora de serviços vencedora não usassem combustível fóssil. Norma simples: quem limpa não pode sujar.

Mobilidade e acessibilidade eficiente e segura é a realidade de uso coletivo, em dimensão e qualidade.
As modalidades de transportes diferentes tornam mais fácil e rápido, para os seus moradores, o uso do transporte público em detrimento do privado. Neste contexto se encaixa o sistema de aluguel de bicicletas, vinculado a rotas de ciclovias turísticas e comerciais que complementam percursos ou inserem usuários ao transporte público motorizado (ônibus/metrôs/trem).

SISTEMA INTEGRADO - A bicicleta, enquanto alternativa de deslocamento sustentável, tem sido utilizada como recurso urbanístico ainda saudável e não poluente, frente à impossibilidade da criação de mais espaços (faixas de rolamento e estacionamentos) para o deslocamento motorizado individual nas áreas urbanas muito adensadas.

Preocupa que se pense ou alardeie o modelo de deslocamento cicloviário como solução para os problemas de trânsito em Joinville. Porque é necessário criar ou garantir as complementaridades necessárias a um sistema de transporte público intermodal, integrado e sustentável. Tudo passa inicialmente pelo projeto de mobilidade urbana de Joinville, que vemos ser constantemente adiado ou que justifica eternas pontualidades.

OUTRAS CIDADES - Barcelona merece uma visita. O que não podemos medir são as demandas promovidas por cinco milhões de pessoas da sua região metropolitana, somadas a milhares de visitantes. É diferente da realidade joinvilense. Pudesse sugerir uma visita técnica internacional ao alcaide, indicaria em proporção: Portland (575 mil habitantes) ou Grenoble (450 mil).

Se quisesse ver um projeto em fase de implantação de estações de bicicletas, cuja conclusão prevista é 2025, diria Dijon (150 mil habitantes). E todos os modais eficientes e simultâneos (trem / VLT / ônibus /bicicletas / vans / motos / carros / pedestres), sem pestanejar Delft – Holanda (100 mil habitantes). Na Holanda, existem veículos leves sobre trilhos em cidades do tamanho de Delft, mas aqui os especialistas dizem não haver viabilidade. E os holandeses contam com ciclovias que ligam todas as cidades do país.

Infelizmente não podemos levar cidades para expor em museus, como fazemos com telas e esculturas, para possibilitar a todos uma real comparação das ofertas e qualidades ou deficiências nos ambientes de vivência. Por isso, viagens são fundamentais. O provável mesmo é que a intenção das estações de bicicletas seja mais uma “chufa”, entre tantas que temos em nossos jardins.

Arno Kumlehn é arquiteto urbanista

*Chufa – em catalão, língua falada em Barcelona é apenas
tiririca.