segunda-feira, 13 de maio de 2013

Os subalternos podem falar: pelo fim do "urbanês"

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

Há alguns anos a escritora indiana Gayatri Spivak lançou uma pergunta no mundo da Antropologia que ecoou longe: "pode o subalterno falar?". O sujeito subalterno na definição de Spivak é aquele pertencente às camadas mais baixas da sociedade constituídas pelos modos específicos de exclusão dos mercados, da representação política e legal,e da possibilidade de se tornarem membros plenos no estrato social dominante. Em Joinville, como em qualquer outra cidade, convivemos com (e até mesmo somos) subalternos urbanos, pois somos reféns de um modelo de urbanismo imposto, conforme já relatei em outra oportunidade.

Após a regulamentação do Estatuto da Cidade em 2001, e de nosso Plano Diretor em 2008, os preceitos democráticos no planejamento urbano devem ser assegurados em qualquer ação estatal. Nesta lógica, todos possuem a oportunidade de participar, expressarem suas ideias e dialogarem. Afinal, planejar a cidade é lidar diretamente com a vida das pessoas. Infelizmente, alguns agentes (travestidos de grupos sociais de origem econômica) entendem de forma totalmente diferente.

Estas pessoas defendem que o planejamento urbano deve atender às demandas de mercado, aquelas que representam a vontade de um sistema que gera subalternos urbanos. Forma cidadãos que, por muitas vezes, não possuem o mínimo de dignidade para sobreviver. Não "aparecem". Moram na longínqua periferia. Tornam-se impessoais na coletividade. Respondem a regras anônimas de submissão ao trabalho. Não têm acesso a um adequado sistema educacional. Não "entendem" de planejamento urbano - e nunca entenderão, se a lógica dominante-dominado persistir.

Estes agentes sociais trabalham nos bastidores para a "tecnização" das discussões relativas ao planejamento urbano. O poder de dizer o que é melhor para a cidade não é mais do subalterno, mas sim do técnico, que é o responsável pela organização do processo. Este técnico, por sua vez, raramente é orientado a dar a oportunidade de falar a aquele que será o principal atingido. O processo democrático, de natureza inclusiva, é excludente: poucos participam da tomada de decisões e são representados "democraticamente" por aqueles dominantes interessados em articular os interesses de outros representados, os oriundos de setores extremamente segregadores e maléficos para as cidades como um todo (indústrias com necessidade de expansão, imobiliárias, construtoras, incorporadoras, loteadores, etc.).

Por isso, se o planejamento urbano é feito para as pessoas, pois elas que habitam a cidade, é para elas que as discussões devem se dirigir. Por mais que a maioria subalterna não entenda de termos técnicos ou mapas setoriais multicoloridos, ela pode falar e deve ser orientada didaticamente a tal situação. Sem mapas setoriais. Sem segredos. Sem siglas. Sem "urbanês". O movimento contrário a isto carateriza-se apenas por um motivo: esvaziar o principal espaço de mudança social, que é caracterizado pela participação popular de base e garantido por lei, o qual deveria combater interesses econômicos que, quase sempre, vão contra à cidade ideal e à cidade que todos queremos.

domingo, 12 de maio de 2013

Dia das Mães


POR ET BARTHES
O filme (emocionante) foi feito para as Olimpíadas de Londres, mas serve na perfeição para o Dia das Mães. O trabalho mais difícil do mundo é o melhor trabalho do mundo.


sábado, 11 de maio de 2013

E pra que serve, afinal, a história?



POR CLÓVIS GRUNER

O convite para escrever no Chuva Ácida, agora como colaborador fixo, não apenas reforça o vínculo com uma cidade que, talvez, nunca venha a ser apenas um retrato na parede. Ele me coloca uma vez mais diante da tarefa de pensar sobre o lugar de Joinville em minha trajetória. Já me ocupei disto em outras ocasiões. Aqui mesmo, em minha primeira colaboração com o blog, indagava em outra ocasião sobre uma incômoda tendência ao provincianismo, a reafirmar alguns lugares comuns sobre a cidade. Considerava-a, então, modelar da “modernização conservadora” que, reconheça-se, é característica intrínseca a muitas das cidades brasileiras que viram sua economia e população crescerem principalmente a partir dos anos 50 do último século.

Na época, apesar da visão pouco otimista sobre a cidade, a maioria dos comentários preferiu questionar minha crítica a certa interpretação da história local, o que pareceu soar para muitos como uma verdadeira heresia. Afinal, me achava no direito de colocar em questão alguns dos cânones historiográficos locais, como se o passado fosse coisa com a qual se pudesse mexer. Justo eu, que não possuo outras credenciais além de ser...  joinvilense e historiador. Quase um ano e meio depois, não vejo razão para desdizer nada do que escrevi.

OLHAR O PASSADO – Há poucos dias, o Jordi Castan ironizava aqui as promessas de futuro para Joinville. Contrastado o seu texto com a pequena série assinada pelo Charles Henrique, a propor do presente um diagnóstico nada complacente, a conclusão é desanimadora. Nestas horas, quando presente e futuro parecem não oferecer maiores ou melhores alternativas, olhar pelo retrovisor poderia ser uma estratégia: auscultar o passado pode nos ajudar a entender não apenas o que somos, mas principalmente como nos tornamos o que somos.

O problema é que Joinville é refém do seu passado. A cidade possui um Arquivo Histórico que já foi referência nacional e conta com um acervo documental invejável, além de um curso de graduação em História que completa 45 anos de atividades. Nas últimas duas décadas inúmeras dissertações e teses têm escrito a contrapelo sua trajetória, inclusive derrubando alguns de seus muitos mitos historiográficos – e cito, a título de exemplo, a excelente e inovadora pesquisa de Denize da Silva, defendida em 2004 no Programa de Pós-Graduação da UFPR, que colocou abaixo a versão de que não houve trabalho escravo na Colônia Dona Francisca.

Apesar disso, sempre que se fala sobre a história local prevalece quase sempre uma única versão, emblematicamente sintetizada na frase do historiador Apolinário Ternes em artigo publicado no dia 9 de março deste ano em caderno especial de A Notícia: “A vocação de Joinville é a de cidade industrial. O que disseram a mais tem a força apenas da retórica.” Dito de outro modo: nada do que se disse, diz ou dirá que contradiga esta alegada “vocação”, tem legitimidade histórica. O destino da cidade, a pautar-se pela afirmação de seu historiador oficial, já estava escrito desde sua fundação em 1851. Contradizer esta visão teleológica é nada mais que um esforço meramente retórico.

ESCREVER UMA OUTRA HISTÓRIA – Mas o passado, apesar de Apolinário Ternes, é sempre conflituoso. E no caso de Joinville, o que falta é assumir no presente este conflito. Seria simples e cômodo afirmar como natural a aceitação de uma leitura sempre a mesma da história. Simples, cômodo e enganoso. Porque se por um lado é verdade que o respaldo, inclusive midiático, desta versão oficial contribui para reproduzi-la e perpetuá-la até a banalização, também o é que os esforços para a desconstruir têm sido limitados. Até mesmo iniciativas interessantes e que renderam, algumas delas, bons frutos, foram sepultadas. 

Há alguns anos a professora Sandra Guedes foi responsável por organizar, no âmbito do curso de História da Univille, encontros onde pesquisadores de graduação e pós-graduação apresentavam resultados de suas pesquisas – eu mesmo, à época mestrando, participei duas ou três vezes do evento, apresentado fragmentos do que viria a ser minha dissertação. A coisa toda ficou no caminho lá pela quinta ou sexta edição, salvo engano. Em 2007, o Arquivo Histórico lançou o primeiro volume da Revista do Arquivo Histórico de Joinville. Primeiro, único e último, porque há seis anos espera-se pelo segundo. E não se pode nem mesmo culpar os altos custos de impressão, porque não são poucas as revistas acadêmicas, algumas muitíssimo bem conceituadas, que optaram por publicar apenas versões on-line, mantendo assim sua periodicidade e mesmo aumentando seu poder de inserção junto ao público leitor. Dos trabalhos acadêmicos, poucos são os que perfizeram a trajetória das bancas de defesa às prateleiras das livrarias e, mesmo estes, caem em relativo ostracismo, vítimas de uma política pouco agressiva de divulgação e distribuição da editora da Univille, responsável pela publicação da maioria deles.

Sim, sei que a tal cultural local, provinciana e conservadora, é uma das responsáveis pelo relativo marasmo histórico e historiográfico. Mas, como disse, tal constatação é, além de simples e cômoda, enganosa. Porque há outros meios – e se não há, trata-se também de inventá-los – além dos formais para se intervir no espaço público, que é onde efetivamente interessa que a história e os historiadores estejam presentes e atuantes. O problema não é apenas uma cidade centenária e seus mais de 500 mil habitantes terem com seu passado uma relação conformista, aceitando como verdade o que é apenas uma versão – e como toda versão, de força também retórica. O problema maior reside, a meu ver, na incapacidade crônica de contradizê-la, de desconstruir a verdade que ela não apenas insinua, mas pretende afirmar e impor; de mostrar, enfim, sua fragilidade, opondo a ela outras interpretações possíveis dos muitos passados que habitam a história joinvilense.

Como historiador, acredito que uma das funções do ofício que escolhi é nos educar para a descontinuidade. Historiadores prestam um desserviço ao presente quando insistem em escrever uma narrativa que estabelece um continuum entre o hoje e o ontem, entre o que somos e o que um dia já fomos. Indagado certa vez sobre a quem interessa a história, o filósofo francês Michel Foucault respondeu que ela interessa, sobretudo, ao poder. Apenas uma história capaz de nos libertar do fardo do passado cumpre uma função ética e política fundamental: mostrar que o que somos no presente não é natural, não é algo dado, mas uma construção. E se nosso presente não é a realização de uma vocação, o futuro pode ser indisciplinado na medida em que nossos desejos e nossa vontade o quiserem. Não é buscando no passado uma origem e uma identidade fixas e únicas, mas nos afastando dele, estabelecendo nossa distância e diferença, que Joinville talvez encontre um caminho para construir um futuro capaz de arrancá-la de sua incômoda zona de conforto. E a história terá valido a pena, porque não serviu apenas ao poder e aos poderosos.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Sou a favor da maioridade penal aos 16 anos, mas...

POR VANDERSON V. SOARES



Dias atrás o Baço explanou bem debochadamente, como lhe é típico, sobre a maioridade penal. Não concordo muito com o jeito que ele escreve, mas concordo com a essência do texto.
Enalteço abaixo que sou a favor da maioridade penal, mas se antes forem observados alguns outros pontos, que considero serem mais corretos e coerentes.

Sou a favor da maioridade penal de 16 anos, se...

1)   Houver uma grande chacoalhada no nosso sistema educacional. Nesta seara há muito que se fazer, seguem alguns pontos críticos:

a)    Revisão do programa didático: Atualizá-lo, aperfeiçoá-lo, adaptá-lo ao novo mundo que se faz mais próximo a cada dia. Excluir a disciplina de ensino religioso (um câncer conceitual no nosso sistema arcaico), inserir matérias como música, teatro, oratória, literatura, outro idioma além do inglês, criação de programas de iniciação científica, produção de conhecimento, etc.

b)    Programa de Inclusão: Não se contentar com um índice menor que 100% de crianças na escola. Criança tem que estar na escola. Ponto. Enquanto uma criança em idade escolar não estiver na escola, nosso sistema ainda será falho.

c)    Amplo incentivo à leitura: A biblioteca da escola não pode simplesmente ser uma salinha que fica no final do corredor mais sombrio. Tem que ser um espaço grande, com vários livros, disponíveis para empréstimo, com espaço para leitura, tanto dentro como fora da biblioteca. Promover concursos de declamação, leitura, produção literária, enfim.

Alguns meses atrás, tive a grata satisfação de participar de um projeto social que buscava o intercâmbio de cartas entre crianças do Brasil e da Romênia. Ambos os lados trabalharam em escolas públicas e as cartas eram escritas em inglês. Ao final do projeto, tive um sentimento ainda meio indefinido para mim, mas um misto de vergonha, compaixão, indignação e vontade de reverter esse quadro. As cartas das crianças da Romênia trabalhavam a escrita de maneira sensacional, detalhavam os pontos turísticos de suas cidades, falavam de costumes da sua região, contos da Romênia, enfim, um show de cultura e domínio do idioma. As crianças daqui, infelizmente, apenas conseguiam escrever seus nomes, onde moravam, e citar pobremente um ou outro ponto já batido do Brasil.

d)    Professor ser levado a sério: analisar, esmiuçar, preparar, dialogar um plano de carreira que faça o professor ter vontade de ser um professor cada vez melhor. Que os estudantes queiram ser professores, que os professores tenham incentivo para se aperfeiçoarem,  se especializarem, pós graduarem, enfim. Serem referências em suas áreas de conhecimento. Lembrando que quanto mais o professor se sentir bem sendo professor, mais a sua aula gerará resultados, mais preparará sua aula com vontade, com gosto, querendo que o estudante se encante pela sua disciplina.

2)    Se antes disso, incentivarmos os jovens a participarem ativamente de suas comunidades. Há tantos grupos associativistas juvenis que esculpem, dia após dia, tantos líderes e pessoas com iniciativa. Precisamos de gente inteligente, mas precisamos de gente inteligente com iniciativa também. O associativismo juvenil proporciona ao jovem, além de uma ampla oportunidade de desenvolvimento pessoal e profissional, a possibilidade da troca de ideias, do debate, das várias perspectivas. Esses grupos podem ser grêmios estudantis, clubes de xadrez, clubes de esporte, Interact Club, Rotaract Club, AIESEC, JCI, Leo Club, grupos de jovens locais, grupos de filosofia, enfim, há uma infinidade de grupos que o jovem pode, e deve, participar.

Vou me restringir a apenas estes dois itens que, por si só, já resolveriam uma boa fatia da criminalidade juvenil.  

Se mesmo assim, o menor for preso, defendo que deve ser enviado a um reformatório juvenil e não simplesmente para uma gaiola. O intuito é reinseri-lo na sociedade e não castigá-lo por anos a fio, de modo que quando saia esteja com mais raiva da sociedade do que quando entrou.

Na realidade, é isso que está faltando. Tratar o ser humano como ser humano e não partir da premissa que ele nasceu mau, mas sim que a sociedade, a exclusão social, o deixou assim. Antes que a extrema direita me acuse de “defender os bandidos”, devo lembrá-los que nem todos tiveram a educação, os privilégios e mordomias que vossos filhos tiveram. Apenas o que defendo é que tem muita, mas muita gente mesmo, não tendo o mínimo, o básico, para iniciar sua vida, para conquistar seu espaço na sociedade.

Valho-me das palavras de Mário Quintana, quando diz que "Democracia é oportunizar a todos o mesmo ponto de partida. Quanto ao ponto de chegada, depende de cada um."

Vanderson Soares é engenheiro civil e empresário 

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Uma prisão entre Garuva e Barra Velha



POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Nenhuma cidade pode aspirar à modernidade sem uma mídia moderna, sem bons formadores de opinião e sem intelectuais que possam servir de luminares. E esse parece ser um problema para Joinville, onde a opinião pública (e publicada) aponta para a anorexia cultural, a inanidade intelectual e frouxidão de ideias.

Quando falo em cultura estou a pensar na alma coletiva da cidade: os costumes, a arte, a produção literária, a política, os mitos, a sexualidade, a economia, a forma como as pessoas leem o mundo. Uma boa formação de opinião é essencial para apontar o futuro e estimular o debate. O problema é que os formadores de opinião de Joinville padecem de um problema: uma falta de qualidade que os impede de ultrapassar as divisas de Garuva e Barra Velha.

O que eu quero dizer com isso? Não é novidade - já abordei o tema - mas a formação de opinião em Joinville é dominada por pessoas que estão prisioneiras das próprias incapacidades. Gente que passa a vida a zurzir tolices e, no entanto, até tem quem as ouça na paróquia. Mas são vozes cujo talento não vai além das divisas da cidade. Sem ser politicamente incorreto, metaforizo com o velho ditado: “vozes de burro não chegam ao céu.

Mas vamos por partes.

A MÍDIA - Em termos genéricos, é a mesma estrutura de décadas. Em que pesem as mídias digitais, que representam um avanço inquestionável, pouco mudou. Você liga o rádio e é o mesmo rame-rame que era nos último 20 ou 30 anos. Os mesmos nomes, os mesmo métodos, a mesma pequenez. E, em muitos casos, a mesma falta de cultura democrática.
Ah... houve outra mudança: também surgiu uma nova espécie de televisão, mas com escassos recursos técnicos, de produção e de criatividade. E não vamos esquecer que, nesse novos meio, os casos de maior sucesso são a transformação da televisão num rádio com imagem. Evolução? Não. Os mesmos nomes, os mesmos métodos, a mesma falta de horizontes. Mas agora com imagem.

Um dia destes o publicitário Pierre Porto fazia um lamento nas redes sociais. Nos últimos tempos, a única novidade em Joinville foi o surgimento do Chuva Ácida. Ok... não estamos aqui a falar de autopromoção ou imodéstia, até porque todos sabemos que é muito pouco e que o blog tem um peso muito relativo. O Pierre Porto tem razão: é preciso mais. Muito mais.

INTELECTUAIS - É certo que em Joinville há gente a pensar a sociedade. Mas por vezes essas pessoas acabam ilhadas a fazer monólogos, porque não há interlocutores. Não há o hábito do debate, do dissenso, do contraditório. E também são raros os nomes de referência, cuja opinião serve para balizar os debates, como acontece em outras sociedades.

Aliás, se você perguntar quem é o intelectual de referência na cidade, muita gente vai apontar o mesmo nome de 20 ou 30 anos atrás. E lembro bem que já naquela época o tal intelectual era improvável, pois a pessoa nunca produziu qualquer trabalho com qualidade digna de nota.

FORMAÇÃO DE OPINIÃO - Há um vazio (causal e casual) nesse campo. E o espaço foi ocupado por pessoas sem qualidades intelectuais, alguns com escrúpulos duvidosos e a maioria com visões de mundo que apontam para o passado. Não por acaso Joinville tem sido considerada uma cidade conservadora e provinciana. Os tais (de)formadores de opinião têm muitas culpas nesse cartório, porque apenas reproduzem ideias pífias e dos tempos de antanho.

P:S. Não venham com a conversa de que estou a “falar mal de Joinville”. Porque também é a minha cidade e obviamente desejo que ela evolua. Este texto é apenas um exercício do lídimo direito de discutir a cidade e tentar gerar debate.


quarta-feira, 8 de maio de 2013

Hábito de ler

Parque em frente a biblioteca central em Helsingborg

POR FERNANDA M. POMPERMAIER


Na Suécia não existe televisão em salas de espera, existem livros, revistas, jornais e até livros infantis.
Consultórios médicos, de dentistas, clínicas, órgãos do governo, nada de televisão. 

Uma amiga passou uma semana no maior hospital da cidade, internada por ter tirado o apêndice e outras complicações.  Fiquei impressionada, não tem televisão nos quartos. À princípio, me indignei, como assim? E o tédio? Como as pessoas fazem para passar o tempo? Simples, eles lêem.

Um parêntese: o hospital é público, e parecido, digamos assim, com o Da. Helena. Todos na cidade frequentam o mesmo hospital, as pessoas não costumam ter plano de saúde, não tem necessidade.

Sala de televisão no hospital
Os únicos espaços onde tinham televisões, eram as salas reservadas para elas. Uma sala com café, chá, poltronas e uma tv num canto, num espaço pouco privilegiado (como aparece na foto). Haviam ainda outras salas para receber as visitas, sem televisão.

Nas paredes muitas obras de arte, e os pacientes, a maioria, com um livro na mão.

Isso demonstra como a leitura é presente na sociedade sueca.

Educação aqui é coisa séria e não se mede esforços quando o assunto são livros, informação, estudo.

Nas bibliotecas você pode pegar até 50 livros por mês e 30 dias é o prazo para devolver. Vencido o prazo, no próprio site da biblioteca (link abaixo), você pode renová-lo para mais 30 dias, e mais, e mais, desde que o livro não esteja reservado por alguém. As reservas também podem ser feitas pelo site, na sua página pessoal. Se a biblioteca não tiver o livro, eles consideram a possibilidade de comprar. A maioria dos livros são em sueco, claro, mas tem um acervo grande em outras línguas, inclusive em potuguês, com obras de Machado de Assim ou José de Alencar. É possível reservar e-books, dvds, audio-books, cds, ou livros infantis.

As bibliotecas são pontos de encontro.
Na central existe um café sempre bastante movimentado que serve almoço, lanches e doces. No inverno eles servem uma sopa que é a melhor que já comi na vida.

Além da biblioteca central, existem algumas em bairros, também com estrutura para receber bem os leitores e seus filhos. Em todas, espaço para a criança ler ou brincar.

Nas estações mais quentes é possível pegar uma rede e pendurar nas árvores do parque que fica em torno da biblioteca como mostra a primeira foto do post.

Eu nem vou discutir os hábitos de leitura da maioria dos brasileiros, nem a frequencia, nem as escolhas, apesar do nome, eu não acho que auto-ajuda, ajuda muita coisa. Não estamos mesmo acostumados com horas e horas de estudo e leitura no Brasil. Tive uma professora que dizia que qualquer professora que não lê 1 livro por mês devia ter vergonha de ser educador. Eu confesso que não consigo tanto, mas tento.

O que eu queria mesmo era que alguém me dissesse que a principal biblioteca pública de Joinville não está ainda assim:  


Eu realmente espero que o prefeito consiga mudar o quadro e dar o incentivo literário que nosso povo merece.

Fonte: http://biblioteksnv.se/web/arena/startsida;jsessionid=8C4407A3FC26A2938844213A791907C1


A avozinha dá um show...

POR ET BARTHES
Exercícios difíceis de realizar... em especial se você tiver 86 anos de idade...


"Reformaram" a Arena Joinville. Que lindo!

POR GABRIELA SCHIEWE

Caros molhados, vocês viram que sensacional? "Reformaram" a Arena. Isso é um espetáculo que antevê o outro grande espetáculo que será o jogo JEC x Santos.

Antes, só para não passar batido, no que tange à questão dos valores do ingresso, estou em total acordo com a diretoria do Joinville. O clube vive de receitas e esta é uma grande oportunidade de obter uma ótima arrecadação para pagar contas.

Sem aquele blá blá blá de que é uma falta de respeito com os que comparecem a todos os jogos e agora não poderão ir ver o grande duelo. Não, né? Parou. O clube depende de dinheiro e agora tem uma grande oportunidade de forrar o bolso.

Então, voltando a "reforma", é abominável ver isso. Pintar a Arena por causa do Santos? Aumentar ingresso para captar mais receita é totalmente aceitável. Agora sair jogando umas tintas pra ficar mais bonitinho é ridículo.

Tá bom, eu sei que a minha linguagem está bem vulgarzinha, mas não é possível tolerar essas "reforminhas" que o governo local fica fazendo e varrendo a sujeira para baixo do tapete.

O Ivan Rodrigues e o Abel Schulz continuam a mesma porcaria, sem reforma, pinturinha e absolutamente nada feito. Aí vão lá passar uma "maquiagem" na Arena para esconder as suas "rugas".

É a mesma história quando se aproxima a data de um grande evento na cidade, principalmente o Festival de Dança. Até uma semana antes do seu começo, o mato toma conta dos canteiros, as ruas estão cheias de buraco, o Centreventos está "desbotado", Eis que chega a fatídica data e tudo se transforma, como num passe de mágica. E depois que termina, é como se o relógio badalasse e a grande carruagem virasse abóbora.

Não concordo com este tipo de solução que pra mim é mentirosa. Eis que não soluciona nada, já que esta tinta que hoje foi passada, logo irá começar a desbotar e descascar. E só quando um outro "Santos" aparecer ela será retocada.

Ahhhh, só para esclarecer e que fique tudo muito claro, eu dizer que "reformaram" a Arena foi em tom irônico. Ok, leitores?

terça-feira, 7 de maio de 2013

Pensar a Joinville do futuro é bom. Mas o futuro é agora...

POR JORDI CASTAN

Um dos melhores negócios é vender, e cobrar hoje, um produto que só será entregue (ou não) no futuro. Quanto mais longínquo e indefinido for o prazo e o conceito de futuro, melhor o negócio.

O prefeito Udo Dohler é um homem aplicado, que aprende rápido. Tanto que em pouco tempo o empresário tem se convertido num hábil político. É cada vez mais difícil identificar nele e na sua gestão o que a diferencie das anteriores.
A inauguração com algaravia de ordens de serviço, o lançamento de parques pomposos (que continuam sendo só praças) ou a ampla divulgação da instalação de um sinaleiro fazem com que o seu governo seja parecido com qualquer outro dos predecessores. É quase impossível identificar alguma das características que projetaram a imagem do empresário.


Uma das habilidades que um "bom" político deve aprender - e dominar com rapidez - é a arte da mentira política. E nesse quesito o nosso prefeito tem se convertido num mestre. Quanto mais atolada anda a gestão e quanto menos coisas acontecem, mais aumentam os discursos e as mensagens que propõem soluções e projetos para a Joinville do futuro. A mensagem é clara. Enquanto as coisas continuam na linha de "mais do mesmo", ganha expressão a promessa de uma Joinville melhor... no futuro.


Quando? Bem distante, digamos 30 anos. Se já se esqueceram as promessas de campanha, feitas há pouco mais de meio ano? Quem vai lembrar e cobrar as promessas feitas hoje, para serem cumpridas daqui a três décadas. Daqui a 30 anos há uma chance grande que estejamos quase todos carecas e, pior ainda, que ninguém lembre mais de quais os projetos prometidos para essa Joinville de dois milhões de habitantes.

Em modo de desafio, quem lembra quem era o prefeito há 30 anos? E quais eram os projetos daquela Joinville? Quais tiveram continuidade? Quais nunca saíram do papel? A quem cobrar o que não foi feito? A impressão é que o prefeito conta com esse esquecimento natural. E se lança a prometer um futuro melhor, para ganhar, o que menos tem: tempo. Já desperdiçou uma parte do seu mandato. Propõe que a solução dos problemas atuais estaria cada vez mais distante.

Como sugestão, e se o tema da arte da mentira política merece seu interesse, recomendo duas leituras. A primeira é a "Arte da Mentira Política", de Jonhatan Swift, que parece ter se convertido no livro de cabeceira do prefeito, que tem posto em prática seus ensinamentos. A segunda é um texto meu publicado no jornal A Noticia, na mesma linha.

Num ponto o prefeito está certo, vender e cobrar hoje para entrega a futuro é um bom negócio.
É justamente esse o sucesso da maioria das igrejas que tanto prosperam no Brasil: oferecer um paraíso no futuro, para quem pague as prestações, o dizimo, o de os votos hoje. Porque a moeda que se usa para comprar esta Joinville paradisíaca do amanhã pode mudar, mas o negocio é o mesmo. A diferença é que o prefeito quer convencer ao eleitor que desta vez a garantia esta representada pela sua credibilidade. "La garantia soy yo"

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Joinville, a vila do senso comum - Parte II

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

Em uma vila, a principal área de interação social é a pracinha central, ou, em casos mais extremos, a igreja da cidade. Tudo acontece apenas em um dia da semana, e o processo é engessado por uma dinâmica que não promove a troca, o diálogo, e a construção de diferenças. Só existe um local, um momento, e as mesmas pessoas. É ali que o senso comum é (re)produzido. Na nossa Joinville não é diferente: o senso comum é consolidado nos lugares em que cada grupo social se reúne. Não há lugares cosmopolitas na cidade, cada local é um reduto específico de guetos. Típico comportamento de vila em meio a mais de 520 mil habitantes.

Um dos grandes símbolos desta visão é a recreativa das empresas locais. O trabalhador (sem essa conversa fiada de "colaborador", por favor!) esgota-se durante a semana no trabalho, e no final da semana, momento oportuno para o seu momento de ócio criativo (no sentido mais "demasiano" possível), vai para a recreativa da empresa se divertir. Detalhe: o seu chefe é o churrasqueiro da festa, o seu subordinado o goleiro do time de futebol e o dono da empresa distribui patéticos brindes no bingo vespertino. Não há espaço para fluir o diferente, a crítica (como criticar o patrão, se ele tá ao meu lado?) muito menos a consciência de que a cidade não é formatada para o trabalho e que este não é o único responsável por uma qualidade de lazer inalcançável, caso estivesse desempregado. A empresa faz, com suas recreativas, o possível para o trabalhador acreditar que a sua função é ótima. De forma mais concreta, é uma manipulação para manutenção do comportamento preferido dos joinvilenses.

A partir da década de 1980 a cidade se transformou e a abertura econômica ao consumo criou espaços até então típicos de países "desenvolvidos": os shoppings centers. Seja com o Americanas, Mueller, Cidade das Flores, Center Leste (alguém lembra?) e o Garten, todos são produtos de um comportamento que, ao longo dos anos, manteve a - e pediu pela - formatação de espaços segregados e distantes da "realidade das ruas", reduto principal das extremas diferenciações sociais. Resumindo, o shopping center se tornou o local perfeito para alienação referente ao que acontece "lá fora", e é óbvio que seria um templo majestoso para a maioria de nós, joinvilenses. Um espaço que orienta o que você vai consumir, vai comer, e vai ter de lazer (nem que seja só ficar dando voltas pelos corredores) é, conseqüentemente, um espaço que excluirá a possibilidade de trocas.

Os joinvilenses adoram ver vitrine, rodar os estacionamentos lotados, almoçar, lotar salas dos cinemas com filmes de baixa qualidade em cartaz, e "verem e serem vistos" com os últimos lançamentos da moda. De tão iguais, eles se tornam invisíveis enquanto indivíduos e representam uma única massa, enorme, sem cor, e maleável de acordo com as novas representações desta coletividade que não pensa e constrói cativeiros sociais a serviço do pensamento acrítico. É a partir daí que o tipico joinvilense não aceita quem pensa diferente de si.

A pior tragédia neste sentido acontece de forma silenciosa: a cidade perde, aceleradamente, o seu papel de transformação, de diálogo e de trocas. Se fomos historicamente acostumados a não evidenciar isto, a cidade (ou seja: as ruas, as praças, os parques, etc.) é o último local em que precisaremos estar. Aliás, só o nosso carro precisa. A cidade não é mais vista como espaço de "construção" para se tornar um mero espaço de "passagem". O espaço coletivo, em Joinville, não existe (talvez nunca tenha existido): ele deu lugar às pracinhas e igrejas da vila do século XXI. Só faltou uma faixa, dando as boas-vindas: "1ª sensocomumfest, nos bares da Via Gastronômica e shows na calçada do Batalhão".