sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Joinville em poemas e problemas

POR GUILHERME GASSENFERTH

Joinville é uma cidade
lotada de problemas.
Vou sem dó nem piedade
falar sobre alguns temas.

A biblioteca, coitada,
se a visse Rolf Colin
deste jeito abandonada
choraria sem ter fim.

Biblioteca sem teto
Museu interditado
Não posso ficar quieto
Muito triste tenho achado.

E falando em interdição
lembrei-me das escolas:
descaso, decepção!
Como pode, oras bolas?

E da Câmara, que falar?
Os nossos maus vereadores
ao invés de legislar
só nos causam dissabores.

Além disso é só olhar,
com os carros do Odir,
não precisam trabalhar,
basta apenas dirigir.

E falando aqui de carro
nosso trânsito tá horrível.
Isto tudo é bem bizarro
pois o imposto está incrível.

De bicicleta nem pensar
não dá para ser feliz
se ninguém te atropelar
então foi por um triz!

De busão fica difícil
desconforto e lotação
além de tanto sacrifício
o preço é deste tamanhão!

Se eu não vou com a Transtusa,
"opto" pela Gidion
esta escolha é obtusa
porque como tá não está bom.

E nem mesmo de avião
é possível ter conforto
porque ali no Cubatão
já tá pequeno o aeroporto.

E agora vou dizer:
obrigado, seu Carlito
mais espaço pro lazer
nosso parque tá bonito

Mas não posso me furtar 
a falar com sinceridade:
É preciso batalhar
por um parque de verdade!

Não esqueçamos da saúde
muito menos do Zequinha
vemos cada vez mais amiúde
superlotado na telinha.

Vendo assim até dá pena
e a toda hora, o tempo inteiro
entoam a mesma cantilena
"Isto é falta de dinheiro!"

Mas não se engane, não Senhor
quando ouvir este bordão
digo isto sem temor
O problema é de gestão

O Carlito até tentou
melhorar a administração
E onde foi que ele errou?
Foi na comunicação.

Mas até gosto no geral,
da gestão deste Carlito.
Se tá errado eu meto o pau, 
mas se tá bom eu admito!

Acredite, Joinville ficará boa!
mas pr'isso se concretizar
e não ter sido tudo à toa
pense muito bem na hora de votar.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Escolher entre fazer o fácil e o difícil




POR JORDI CASTAN

Sem chegar ainda a ser uma situação apocalíptica, Joinville não apresenta muito bom aspecto. A quantidade de pessoas, das mais diversas origens e condições, que manifestam o seu descontentamento pelo estado em que a cidade se encontra é elevada demais para que se possa falar em orquestração.

Por que será que a cidade parece regredir em lugar de avançar, como todos gostaríamos. Alain de Botton, o conhecido filosofo suíço, que esteve no Brasil há poucos dias, responde com a simplicidade que lhe é característica: “A desordem, o caos e mais fácil, a ordem, a organização dão mais trabalho.” Simples assim.

Organizar, planejar, prever, fazer, resolver exige mais esforço e capacidade que procrastinar, esquecer, deixar de fazer ou em outras palavras olhar para o outro lado. A facilidade com que nos deixamos levar pela senda do menor esforço é evidente. Nem precisamos enumerar os prédios públicos que estão interditados ou em estado precário. As obras inconclusas, interrompidas ou deterioradas prematuramente: todos conhecemos mais de media dúzia. A situação é tão comum que a imprensa quase nem noticia mais.

Estes são os pontos em que as pessoas se fixam para chegar à conclusão de que as coisas não estão bem. A percepção, por outro lado, tem um peso importantíssimo. O que passa a ser verdade é aquilo que as pessoas percebem com verdadeiro. De nada adianta gastar pequenas fortunas para repetir que três praças são um parque, ou que nunca se fizeram tantas obras, ou que a qualidade das obras públicas agora é muito melhor que no passado. O que conta é a percepção.

À medida que o tempo passa, e há menos areia na parte de cima do relógio, é mais difícil acreditar que o que não foi feito antes será feito agora. Porque quem escolheu seguir o caminho mais fácil dificilmente vai mudar a sua forma de agir. Mudar a forma de agir toma tempo, exige esforço, mudanças comportamentais. E nem sempre tem sucesso. Quando se trata de uma pessoa já é difícil, quando se fala de cultura organizacional é quase impossível. Se além de todas estas dificuldades, ainda há resistências internas e se a organização em questão muda de direcionamento a cada quatro anos, pode ser uma missão impossível.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

A resposta da comunidade

POR FELIPE SILVEIRA

A discussão [sem noção] sobre parque ou praça ficou pra trás, conforme imaginado. No presente a história é outra e o Parque da Cidade mostra todos os dias o quanto era imprescindível para a população joinvilense.

Duas vezes por semana, pelo menos, eu vou ao parque para jogar basquete. Talvez porque estávamos em período de férias escolares, quase sempre tive que esperar para poder usar uma das tabelas, sempre ocupadas. Enquanto esperava, gostava de observar o movimento intenso do parque. Seja na academia da melhor idade, usada por gente de todas as idades, ou na pista de corrida. Ou mesmo nos banquinhos, sempre ocupados por amigos ou famílias, que gostam de ficar apenas conversando. Ah, claro, não posso me esquecer do senhor que ficava pulando corda, sozinho, bem no meio do setor Bucarein. Ele poderia fazer isso na garagem de casa, mas, sei lá por que, ali é mais legal. E nem vou falar da pista de skate e das quadras do setor Guanabara, já que mal passo por lá, mas sei que estão sempre cheias.

Então, parque ou praça, o importante é que o espaço desempenha um papel cada vez mais importante na vida de algumas pessoas. E nem vou falar da comunidade, já que eu já joguei bola com gente que veio do Itinga e com gente que veio de Pirabeiraba.

Ressaltei a importância do parque para as pessoas porque Joinville precisa de mais. Mais parque, mais praça, mais pista de corrida, mais pista de skate, mais tabelas para o basquete e mais redes de vôlei. Apesar de gostar de pedalar até o parque, eu adoraria poder jogar basquete aqui na Praça Tancredo Neves, do lado de casa, cuja fama, desde que eu me entendo por gente, é de "lugar de maconheiro". E eu tenho certeza que isso pode mudar.

Particularmente, não vejo motivo para que não tenha pelo menos duas tabelas de basquete em cada praça da cidade, já que o espaço necessário é muito pequeno. Digo o mesmo para a rede de vôlei, apesar de entender que neste caso o objeto está mais sujeito ao vandalismo. Confesso que fico um pouco decepcionado quando vejo uma praça nova sem uma tabelinha.

Ah, e não posso esquecer de uma velha reclamação do pessoal do basquete. A tabela não pode estar na quadra de futsal, pois isso gera uma disputa pelo espaço por diferentes grupos. Cada um com o seu espaço.

Sobre o vandalismo, apesar de ser um problema sério, é um problema que tem que ser encarado de frente, até que as pessoas tenham a consciência devida do que é público e o cuidado que se deve ter com aquilo que é de todos.

Fica, então, a minha singela sugestão para que cada vez mais seja investido em parques, praças, espaços para a prática esportiva e outros locais que sirvam simplesmente para um passeio com a família ou uma conversa com os amigos. O resultado, que é ganho em qualidade de vida, pode ser observado em poucos meses.


terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

iPads para os Deputados Estaduais. Computadores ultrapassados para as Escolas Básicas.

POR CHARLES HENRIQUE

Há alguns dias algo vem me martelando a mente. E mais uma vez, vem lá da Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina:

“Na volta dos deputados estaduais ao trabalho, nesta terça-feira, cada um deles vai ganhar um iPad para trabalhar. Os equipamentos foram comprados pela Assembleia Legislativa, que gastou R$116 mil na compra de 45 aparelhos e capas protetoras. […] A intenção, segundo a instituição, é facilitar o acompanhamento da tramitação de processos por parte dos parlamentares, reduzindo a circulação de documentos em papel.” (Grupo RBS, 6/2/2012)

Sobre esta importante aquisição para os nobres legisladores, temos dois pontos a debater: 1) a eficiência de um iPad para o dia-a-dia do deputado e 2) o custo financeiro.

(Foto: Divulgação ALESC)

Um deputado estadual já ganha um salário muito gordo (20 mil reais) e tem uma verba de gabinete estratosférica, com uma quantidade maior ainda de assessores, sem contar as diárias de 670 reais como já denunciamos aqui no Chuva. Será que mesmo assim o deputado precisa ganhar um iPad, visto que sua renda mensal é tão pouca, e que este item indispensável tem que ser comprado em massa, simbolizando um “presente”? O plenário é todo informatizado, os gabinetes também. Deputados não cansam de twittar de seus celulares mega potentes. E agora todos têm um iPad. Tá bom, fui convencido...

Por outro lado, este indispensável item custará em média 2.500 reais (R$116.000/45 = R$2.577,78). Este é o preço de mercado do iPad mais avançado que está a venda, com wi-fi, 64GB, e acesso 3G. Tudo tem que ser do mais top, não é?

(Foto: Divulgação ALESC)

Em contrapartida, as escolas do Estado de Santa Catarina sofrem. E não vi nenhum deputado catarinense cobrar do Governo do Estado uma melhor política de inclusão digital nas escolas, bem como a compra de tablets (para as crianças aqueles tablets sem qualidade, por favor!) que favoreçam um diálogo maior de nossa juventude com a tecnologia mais avançada. Os computadores que aparecem por aqui são aqueles baratinhos, com a tecnologia mais simples possível, e professores de informática mal treinados, e, por fim, sem um responsável pela manutenção dos aparelhos. Deixam acumular uma quantidade significativa de aparelhos estragados, para aí sim licitar o conserto.

(Foto: Divulgação ALESC)

Não está na hora dos deputados olharem para Santa Catarina de outra forma?

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

No circo da Câmara, os palhaços estão na plateia!

POR GUILHERME GASSENFERTH

A Câmara de Vereadores de Joinville especializou-se em sair da sua especialidade.

No ano passado, vimos o bizarro espetáculo da mediação da greve dos servidores municipais – coisa que não tem nada a ver com as atribuições daquela Casa. Não sei se era um teatro de tragédia, comédia ou farsa. Soou como demagogia, mas deve ter sido apenas impressão minha.

No fim do ano, o presidente Odir Nunes – que depois de alguma pressão resolveu dividir a gostosa incumbência com outros vereadores – confundiu as atribuições do Legislativo com Executivo e passou a decidir o destino das sobras de recursos da Câmara. É de fazer Montesquieu arrepiar-se em sua tumba. Não é mais o Executivo que decide o que fazer com o dinheiro, é o Legislativo – como se as sobras não voltassem automaticamente para os cofres da Prefeitura. As entidades que receberam parte destes recursos têm o nobre edil em alta conta agora. Soou eleitoreiro, mas deve ter sido apenas impressão minha.

E volta a lenga-lenga com os polêmicos carros da Câmara. Quando assumiu, o presidente Odir resolveu moralizar o uso dos carros na Câmara. Os veículos antes só podiam pernoitar em órgãos públicos ou na própria Casa e serem usados de segunda a sexta – sem salvo-conduto para partidas de futebol. Com a posse de Odir, podem ser usados independentemente do dia, e podem agora pernoitar na casa do legislador, de seus assessores. Soou como confusão patrimonial, mas deve ter sido apenas impressão minha.

E aí, no ano passado, aumenta em 61,4% a quilometragem dos carros na Câmara. De 181,3 mil para 292,6 mil. Vamos escutar as razões que permitiram este pequeno aumento. Do diretor-geral da Câmara, Flávio Boldt, publicado em ANotícia deste 13/02/2012: “Eles [os vereadores] estão mais atuantes nos dois últimos anos. O aumento da quilometragem reflete o aumento do trabalho do Legislativo”. Oh, sim. Soou delirante, mas deve ter sido apenas impressão minha.

Odir, que disse ter implantado “um choque de gestão” na Câmara, deve ter se eletrocutado com o próprio choque e afetou sua capacidade de argumentação lógica. Veja o que ele diz, sobre o aumento da quilometragem e suas regras permissivas de uso dos carros: “Aumentou a quilometragem justamente porque o controle que fazemos é rígido”. Ah, bem. Soou incoerente, mas deve ter sido apenas impressão minha.

E a Câmara inicia o ano mais uma vez saindo de sua especialidade legislativa. Agora, o plenário da Câmara transformou-se também em palco de um hilário espetáculo de humor, de fazer inveja a qualquer bom circo. Mas os palhaços estão na plateia. 

Vou de táxi

POR JOSÉ ANTÓNIO BACO
Não entendo muita coisa de mobilidade urbana (há muita gente mais habilitada que eu para discutir essas coisas). Mas fico à vontade para dar o meu pitaco quando sou afetado pela imobilidade urbana. É o que acontece em quase todas as minhas  férias em Joinville.
Tenho uma regra. Sempre que saio com amigos para tomar uma cervejinha (o turismo da cirrose é o único que realmente funciona em Joinville) não levo carro. Como vivo em Portugal e lá a tal lei seca é para cumprir,  estou habituado a não dirigir quando bebo. Então opto pelo transportes públicos.
Mas o lógica não serve para Joinville. Usar ônibus aqui é inviável. Os pontos são longe de casa, os horário não ajudam, não há grande conforto, o preço é um pouco salgado e as linhas não me levam onde eu preciso ir. Então a solução é usar táxi.
Ok... mas não é bem uma solução. Acontece que os preços praticados em Joinville são um bocadinho mais caros que em Lisboa. Exato. Os táxis em Joinville custam um nadinha mais que em uma capital européia.  E o serviço deixa a desejar, em especial para o turista habituado a outras realidades.
Dá para entender que seja o cliente a procurar o táxi, indo ao ponto ou telefonando. Tudo bem. Mas há momentos em que a coisa não funciona. Quando chove, por exemplo, é muito difícil encontrar um táxi na cidade. Os próprios taxistas com quem tenho conversado dizem que há necessidade de mais veículos.
Outra coisa que deveria ser levada em conta – porque os serviços devem ser focados na satisfação dos clientes – é a frota formada por muitos carros de baixa cilindrada. Digo isso não pela potência dos veículos, mas pelo conforto dos passageiros. Se eu estou a comprar um serviço quero ser bem atendido.
Tudo bem. Não precisamos chegar ao requinte de Lisboa, por exemplo, onde a frota é formada, em sua maioria, por Mercedes (carros obviamente mais espaçosos). Mas talvez devesse haver alguma exigência nesse sentido, porque andar encaixotado em carrinhos diminutos não é a minha idéia de bom serviço.
E há outro aspecto interessante do ponto de vista turístico. Os táxis de Joinville – na cor branca – parecem com outros carros particulares, não têm personalidade e não são memoráveis.  Pode parecer uma besteirinha, mas isso ajuda a construir a imagem da cidade na mente dos turistas.
Quem vai a Nova Iorque, Cidade do México, Madrid, Londres, Lisboa ou Curitiba sabe que os táxis ajudam a fazer a “marca-cidade”. Portanto, não havendo em Joinville uma alternativa aos ônibus (muita gente acha que há), talvez o pessoal devesse dar uma melhorada no serviço de táxis. Repito: não sou um especialista em mobilidade urbana e a minha análise é apenas o ponto de vista do turista.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Abortamento previsto em lei e políticas públicas: uma questão de direitos humanos


POR MIRYAM MASTRELLA

A temática do aborto é bastante polêmica, cercada de melindres e controvérsias. Mesmo nos casos em que a lei não pune a prática do aborto, percebe-se o peso de valores morais e religiosos na execução das leis e na formulação de políticas públicas, ainda que o Estado brasileiro seja, constitucionalmente, laico.(1)

O Código Penal de 1940 estabelece duas situações em que não se pune a interrupção da gravidez: 1) quando não há outra forma de salvar a vida da gestante; 2) quando a gravidez é decorrente de estupro e há o consentimento da mulher, ou seu representante legal, em relação ao aborto. Quando previsto em lei, fala-se em aborto legal. Caso a mulher decida pela interrupção, deve ter seu direito garantido pelo Estado.(2)

Na prática, entretanto, observa-se uma lacuna entre o que o dispositivo legal estabelece e a garantia de acesso ao procedimento nos serviços públicos de saúde. As políticas públicas foram implantadas tardiamente: somente em 1989, por iniciativa da Prefeitura de São Paulo, foi fundado o primeiro serviço de aborto legal, no Hospital Dr. Arthur Ribeiro de Saboya, uma unidade da rede pública de saúde.(3)

Somente em 1997 o Ministério da Saúde passa a regulamentar, por meio do Sistema Único de Saúde, o atendimento nos casos de aborto legal em âmbito nacional. Em 1999, com a publicação da Norma Técnica para Prevenção e Tratamento dos Agravos Resultantes da Violência Sexual contra Mulheres e Adolescentes, percebe-se a tentativa do Ministério da Saúde em orientar as equipes de saúde para o atendimento às vítimas de violência sexual.(4)

Oficialmente são 70 serviços de referência credenciados pelo Governo para a realização do aborto legal em todo território nacional.(5) Nem todos, porém, chegam a realizar a interrupção da gestação, por diversas razões. Dentre elas, destacam-se: a insuficiência de profissionais dispostos a atuar nestes serviços; resistência de alguns profissionais que integram estas equipes a realizar o procedimento, mesmo nos casos previstos em lei; desconhecimento de alguns profissionais da legislação e das técnicas adequadas para a realização do procedimento; falta de padronização no treinamento das equipes; falta de apoio/atenção/acompanhamento aos profissionais responsáveis pelo acolhimento e assistência nestes serviços; falta de divulgação dos serviços de aborto legal existentes no País; desconhecimento, por parte das mulheres, da legislação.
Santa Catarina foi o último Estado da região Sul a implementar o serviço de abortamento legal: foi criado em 2006 e funciona no Hospital Universitário da UFSC, em Florianópolis, sendo o único do Estado a realizar a interrupção da gravidez. No ano de 2007 foram atendidas 437 mulheres vítimas de violência sexual em Santa Catarina. No entanto, até setembro de 2008 o serviço só atendia as catarinenses residentes na capital. A justificativa da médica da equipe, à época, foi a de que não realizar o procedimento em mulheres de outras cidades forçaria a criação de outros serviços de aborto legal no Estado. Até 2007, sete mulheres interromperam a gestação na capital catarinense.(6) Faltam estudos e dados oficiais sobre a efetiva atuação destes serviços no País. Sem o devido acompanhamento do cotidiano destas unidades, as dificuldades vivenciadas, pelas mulheres e pelos profissionais de saúde, acabam negligenciadas.

A omissão do Estado em efetivar políticas públicas que garantam o acesso ao abortamento previsto em lei representa uma violação dos direitos humanos das mulheres, sobretudo das mais pobres. Retira das mulheres que engravidaram em decorrência de um estupro a autonomia de decidirem sobre prosseguir, ou não, com a gravidez, violentando-as novamente. A dificuldade de acesso à realização do procedimento em unidades de saúde, por profissionais capacitados, leva à busca pelo abortamento clandestino e inseguro, que pode colocar em risco a saúde e à vida destas mulheres que deveriam ser amparadas pelo Estado.

Referências:

1 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 05 de outubro de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm. Arquivo consultado em fevereiro de 2012.

2 BRASIL. Código Penal. Colaboração de Antonio L. de Toledo Pinto, Márcia V. dos Santos Wíndt e Lívia Céspedes. 39. ed. São Paulo: Saraiva, 2001, 794.p.

3 TALIB, Rosângela Aparecida; CITELI, Maria Teresa. Dossiê: serviços de aborto legal em hospitais públicos brasileiros (1989-2004). São Paulo: Católicas pelo Direito de Decidir, 2005.

4 TALIB, Rosângela Aparecida. O aborto legal no Brasil. 2009. Disponível em: http://www.catolicas.org.br/artigos/conteudo.asp?cod=2840. Arquivo consultado em fevereiro de 2012.

5 NEGRÃO, Télia. Não será fácil recolocar o aborto na agenda política: depoimento. [22 de dezembro de 2011]. Rio Grande do Sul: Sul 21. Entrevista concedida a Vivian Virissimo. Disponível em: http://sul21.com.br/jornal/2011/12/nao-vai-ser-facil-recolocar-aborto-na-agenda-politica-diz-telia-negrao/. Arquivo consultado em fevereiro de 2012.

6 SAKAE, Juliana. HU oferece serviço de aborto legal a mulheres da capital. [setembro de 2008]. Florianópolis: Zero. Disponível em: http://blogdozero.files.wordpress.com/2008/11/pg_141.pdf. Arquivo consultado em fevereiro de 2012.

Miryam Mastrella é Socióloga, doutoranda em Sociologia pela Universidade de Brasília, pesquisadora da Anis - Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Transporte coletivo de graça em Joinville

POR GUILHERME GASSENFERTH

A Frente de Luta pelo Transporte Público (que tomo a liberdade de abreviar como FLTP) propõe que o transporte coletivo seja gratuito. Ou propõe uma mensalidade baixa, pelo menos enquanto o sistema não puder ser 100% subsidiado (ver no item 10 abaixo). Fizeram uma bonita defesa de seus ideais durante a primeira audiência pública do transporte coletivo em Joinville.

Comentei pelo Twitter que eu dei um passo à esquerda na audiência. Saí de lá convencido de que é preciso brigar pelo transporte coletivo gratuito. Explico porque é justa a gratuidade do transporte coletivo. Segundo a Constituição Federal, o transporte coletivo é essencial (art. 30, inciso V). E me parece que o também constitucional acesso universal a direitos fundamentais, como saúde e educação, depõe contra as catracas. Ora, se eu preciso ir ao hospital, mas não tenho dinheiro para o ônibus, estou sendo alijado de minha cidadania. Alguém discorda?

Uma família que ganha um salário mínimo por mês não tem recursos para pagar transporte coletivo, seja para educação, seja para lazer, seja para ir ao hospital, seja para o que for. Gasta tudo em supermercado, aluguel ou financiamento do imóvel, água, luz e telefone. Não sobra nem para o IPTU, prestação das Casas Bahia, para assistir a uma peça de teatro, comprar uma revista... Façam as contas. Quem tiver dúvidas, fale comigo que eu demonstro.

Sabemos que há duas formas básicas de mobilidade social no Brasil. Educação ou tráfico de drogas. Se a família quer dar estudo pros filhos, um curso técnico ou faculdade, não dá. Por que mesmo que consiga uma bolsa de estudos integral, são necessários R$ 121,00 para ir e voltar todos os 22 dias da escola ou da faculdade, de ônibus. Lembram-se que acabou a grana só nas despesas primárias? Bem, ainda sobra a opção do tráfico de drogas.

TRANSPORTE GRATUITO E DEMOCRACIA

Não há democracia e cidadania sem mobilidade urbana, sem acesso aos direitos fundamentais, sem a possibilidade de o cidadão viver a cidade. Já basta de sermos a cidade operária, que relega suas pessoas a simples conjuntos de braços para trabalhar na linha de produção. É preciso dar condições aos cidadãos, e o transporte coletivo gratuito seria a mais bela demonstração de democracia que Joinville poderia viver.

Ademais, com menos veículos nas ruas, conseqüência natural da gratuidade do transporte coletivo, há um ganho de qualidade de vida: menos estresse no trânsito, menos poluição atmosférica, menos ruídos, mais educação, mais saúde, mais direitos, menos doenças cardiorrespiratórias... Pode não financiar a proposta, mas representa um valor para o povo.

A Frente de Luta pelo Transporte Público faz algumas propostas interessantes neste sentido – não concordo com todas elas, mas após escutá-las, passei a ser favorável ao transporte gratuito, o principal ponto da proposta.

O diretor-executivo do IPPUJ, Vladimir Constante, afirmou em reportagem publicada por AN no início do mês, que segundo suas estimativas, a operação do transporte gratuito custaria cerca de R$ 200 milhões anuais à Prefeitura (o dobro da receita anual atual das concessionárias do serviço). À primeira vista, parece inviável. Mas vamos aos cálculos.

O FINANCIAMENTO DA GRATUIDADE

A FLTP sugere que o transporte gratuito seja subsidiado das seguintes formas:

1. Multas de trânsito. Hoje, a arrecadação é de cerca de R$ 12 milhões/ano, o que serve para pagar o aluguel dos equipamentos, a operação do sistema e o repasse que é feito às polícias do valor. Com o aumento do número de equipamentos dos atuais 25 pra 100, o custo fixo tende a cair, a arrecadação aumentar, mas acho que não será uma fonte de financiamento rentável. Descarto no cálculo.

2. Estacionamento rotativo. Se a CONURB passar a operar o sistema, os custos subirão, pois os funcionários públicos são mais caros que as fiscais da empresa privada. Talvez com inovação e criatividade consiga se reduzir o custo, mas hoje a arrecadação anual do estacionamento rotativo para a Prefeitura é da ordem de R$ 1 milhão. Vamos contabilizar tal valor no cálculo.

3. Publicidade no espaço dos ônibus. Cada busdoor custa R$ 550 por mês (acho barato), se TODOS os espaços dos 354 ônibus forem locados, estamos falando de R$ 3,5 milhões anuais. Mas creio que é possível pensar em ampliar os espaços publicitários e, com isso, aumentar a arrecadação. Mas não será o divisor de águas.

4. Aluguel dos pontos comerciais dos terminais. Vamos lembrar que não há espaço para locar no Terminal Central (dá pra pensar no assunto?), e apenas uma lanchonete no Terminal Norte, Tupy e Sul (que deve pagar não mais que 2 mil por mês). Dos 10 terminais, em 6 há possibilidade de locação. Se pensarmos em 20 mil por terminal por mês, chegamos a cerca de R$ 1,5 milhão por ano. É possível adequar o espaço, construir mais salas, mas hoje não chega a mais que isto.

5. Criação de taxa-transporte para empregadores. Polêmica à vista. Não sei como poderia ser institucionalizada, se é possível, se é legal, mas enfim, vamos lá. Um empregador que pague um salário mínimo custeia cerca de R$ 84 por empregado para o transporte coletivo (R$ 121 menos os R$ 37 que são descontados do empregado, 6% do salário). Um que pague R$ 1.200 de salário custeia cerca de R$ 49,00. Vamos supor que esta taxa-transporte seria de R$ 30,00 por empregado por mês. Considerando aí uma população economicamente ativa de 200.000 pessoas, estamos falando de R$ 72.000.000 anuais. Para a maior parte dos empregadores, é negócio – o vale-transporte de empregados com menos de R$ 1.500 de salário (a grande maioria) custam mais que R$ 30,00 para os empregadores. Será uma parada dura, mas é preciso cabeças pensantes, inovadoras e criativas para pensar nisso. E muita saliva.

6. Menos obras. A economia do orçamento público com obras de infraestrutura: com a maximização do uso do transporte coletivo em detrimento do individual, será preciso investir menos na manutenção do asfalto, em alargamento de ruas, em binários, em novas avenidas, elevados etc. Consta do site do TCE que Joinville gastou R$ 130 milhões em urbanismo no ano passado. Quanto disto poderia ter sido economizado? 10%? Seriam R$ 13 milhões.

7. Menos internações. Consta-me que 49% das internações no Hospital São José advém de acidentes com motociclistas. Se houver forte redução no número de motociclistas, será possível reduzir fortemente os gastos com a internação e com a saúde no geral. Joinville gastou R$ 135 milhões com “Assistência Hospitalar e Ambulatorial” em 2011. Seria possível reduzir 10% deste valor? São mais R$ 13 milhões.

8. Qualidade de vida. Vale dizer que o custo por passageiro tende a cair, uma vez que teremos ônibus mais cheios, acabarão os custos com os tíquetes e os cartões, o fim da catraca libera mais espaço interno nos ônibus, acaba a Passebus e por aí vai.

9. Aquecimento econômico. Considerando que os R$ 100 milhões que a Transtusa e Gidion arrecadam para operar o sistema passariam a ser injetados na economia local (sim, porque os investidores e especuladores não são clientes do transporte coletivo), a cidade ganha mais empregos, a economia cresce e a arrecadação sobe – podendo até mesmo subsidiar uma parte do transporte gratuito. Bacana, né?

10. Mensalidade dos usuários – a FLTP propõe que os usuários (que não sejam vinculados ao Bolsa Família, pois estes receberiam total isenção) paguem uma mensalidade enquanto o sistema não conseguir ser totalmente custeado pela Prefeitura. Algo como R$ 45,00, e pode usar à vontade. Representaria aí cerca de R$ 97 milhões anuais, considerando 200 mil usuários/dia menos 20 mil beneficiários de Bolsa Família. A proposta prevê que esta mensalidade deverá ser regressiva e extinta em no máximo 10 anos.

Somando as receitas acima, chegamos ao valor total de R$ 201 milhões de reais. Então, é sim possível (do ponto de vista financeiro) acatar a proposta da FLTP.

ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA E IPTU PROGRESSIVO

Mas para extinguir a mensalidade proposta no item 10, a alternativa prevista é a implantação do IPTU progressivo. Especuladores, tremei! Corre à boca miúda que um habitante de família tradicional, ligada à indústria e à ACIJ solicitou à Prefeitura que levasse seus carnês de IPTU de Kombi. Parece que a história de que uma família tem um terço dos imóveis da cidade não é de todo uma lenda. E dá-lhe especular.

Não sou contra a propriedade privada nem a acumulação de riqueza e patrimônio. Quando obtidas de forma lícita, evidentemente. Só que a especulação imobiliária tem um destino previsto no Estatuto das Cidades: o IPTU progressivo, que institui o aumento da cobrança de IPTU gradativamente sobre imóveis desocupados, caso o estes não cumpram a constitucional função social – de habitação.

O IPTU representa R$ 90 milhões de arrecadação anual. Vamos supor que 20% dos imóveis de Joinville estejam destinados à especulação imobiliária (o percentual de imóveis vazios, com ou sem construção, é maior).  Então suponhamos que 20% dos R$ 90 milhões, ou seja, R$ 18 milhões, seja o valor pago de IPTU pelos imóveis destinados à especulação. Se a alíquota é de 0,5% do valor dos imóveis, e 0,5% arrecada 18 milhões, 4% (percentual a ser alcançado em 3 anos, considerando que o IPTU dobraria no IPTU progressivo) representariam R$ 144 milhões de arrecadação, ou seja, R$ 126 milhões a mais. Se chegarmos ao percentual máximo de 15% previsto na Lei, estaríamos falando de R$ 540 milhões só nas áreas de especulação – valor MUITO MAIS que suficiente para custear 100% do transporte e investir em educação, infraestrutura, turismo, políticas públicas, habitação etc.

IPTU PROGRESSIVO NÃO É LENDA

São Paulo aprova IPTU progressivo – http://glo.bo/zHOILh

STF declara IPTU progressivo constitucional – http://bit.ly/wO3Vtt 

Bem, sabemos que a situação real, caso se consiga aprovar o IPTU progressivo, não será tão maravilhosa, pois muitos conseguirão escapar da tributação de alguma forma, além da possível inadimplência. Mas se o IPTU progressivo for aplicado a um terço dos imóveis especulativos, estaríamos falando de R$ 180 milhões de reais.

A intenção é defender o acesso dos cidadãos aos seus direitos. Os cálculos apresentados estão longe de serem científicos, comprovados ou verossímeis. Sou um leigo em planejamento urbano (e em muitas outras coisas). Não tenho a pretensão de ser exato, nem de apresentar a grande solução para todos os problemas de Joinville. Há muitas outras coisas que podem ser feitas para apoiar esta ideia, boa parte delas envolvendo criatividade e inovação. Não falamos sobre outros modais de transporte (é assim que se fala?), sobre a questão da velocidade média dos ônibus (quanto mais rápidos, menos veículos são necessários), sobre a possibilidade de espaçar um pouco mais os pontos de ônibus – e também aumentar a velocidade média, sobre mudar o terminal central de lugar, entre outros temas.

Acho que muitos jogarão pedras, outros ridicularizarão as ideias, sem contar as contestações técnicas. Mas a intenção foi simplesmente lançar uma luz sobre o assunto e afastar a resposta automática de que não é viável, sem sequer fazer alguma análise a respeito.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

As minorias de sempre

POR JORDI CASTAN

As respostas e atitudes posteriores à liminar concedida pela Justiça, atendendo a ação popular que questiona a legitimidade do Conselho da Cidade, permitiu identificar claramente o papel de muitos dos protagonistas desta LOT (Lei de Ordenamento Territorial). Os ataques furibundos aos suspeitos habituais, aquela minoria absoluta que discorda de tudo e que é contra o desenvolvimento e o crescimento de Joinville, estiveram na ordem do dia.

Quanto mais virulento o ataque, quanto maior a crispação do orador ou oradora, quanto mais direta a personalização do ataque, mais evidente o nível de interesse pessoal no tema. E é esta personalização do interesse que precisa ser analisada com atenção.

De um lado, temos uma parte da sociedade que não acredita que a condução deste processo tenha sido o melhor para Joinville. Neste caso, o conceito é Joinville como um todo, sem pontualismos, sem defender ou questionar esta ou aquela emenda, esta ou aquela mudança de zoneamento.

Esta parte da sociedade, contrariamente ao que se insiste em divulgar, não é uma minoria absoluta, não são só três ou quatro pessoas. Envolve também entidades, ONGs, sindicatos e associações de moradores, todas elas com CNPJ, para atender esta curiosa forma de representatividade que o poder público municipal defende e pratica. Aliás, curiosa esta fixação que esta administração tem com o CNPJ.

Um grupo cada vez maior de pessoas está se somando ao movimento e subscrevendo as ações que na justiça questionam não só a legitimidade do Conselho da Cidade, como também a não realização de audiências públicas em cada bairro e a gestão democrática da cidade preconizada na legislação federal. Não deixa de ser irônico que este debate surja numa administração do PT, em outras épocas paladino da democracia participativa, do orçamento participativo e do assembleísmo permanente.

Do outro lado, outra minoria absoluta, formada por lobistas do tijolo, especuladores conhecidos e vereadores próximos a este movimento desenvolvimentista que defende o princípio de que vale tudo em nome do crescimento. Em alguns casos a proximidade e o grau de intimidade é tal que pode parecer promíscuo e indecente a olhares menos experientes.

Também fazem parte desta outra minoria representantes do poder executivo, que tem pressionado de forma descarada a própria sociedade, impondo um modelo de participação em que só resta acatar ou discordar. Escolher entre o céu ou o inferno. Ser adulado e ter os seus pleitos atendidos ou ser cozinhado em óleo fervendo são as duas opções oferecidas.

Entre essas duas minorias permanece uma enorme parcela da sociedade que não sabe, não conhece e não se interessa pela LOT, pelo planejamento urbano. Mas é quem primeiro protestará com veemência ao escutar o barulho do bate-estaca ao lado de casa e alegará que não sabia. Ou mesmo quando descobrir que passará a ter como vizinho uma indústria ou um comércio de porte. Aí já será muito tarde.

Agora ainda há tempo.

Contraponto



Prezado Vereador Alodir Cristo

Agradeço que participe do blog com os seus comentários e desta forma possamos, tanto você como, principalmente, eu esclarecer eventuais mal entendidos originados tanto do meu texto, como da sua própria resposta.

É importante que passe a incluir, na propedêutica de quem escolheu a vida pública, outras matérias que hoje lhe escapam. Estar preparado para conviver com o contraditório, respeitar os que pensam de forma diferente, ouvir as opiniões que mesmo contrárias às suas são igualmente válidas e merecem atenção e consideração. Particularmente, se pensa seriamente em disputar de novo um cargo eletivo, me pareceria prudente que reveja os seus conceitos e principalmente os dos possíveis eleitores.

Acho desnecessário dizer que prescindirei da sua graciosa oferta de receber os seus ensinamentos e espero que não fique desapontado por não aceitar tão generosa proposta. Defendo, por princípio, que todos somos ao mesmo tempo aprendizes e professores na escola da vida e que podemos desde a humildade aprender dos outros, mesmo dos que podem parecer inferiores social ou intelectualmente, não consigo, mesmo com a minha melhor boa vontade, identificar um único ponto seu, que possa me servir de referência ou de ensinamento. Tenho que reconhecer que é decepcionante chegar a esta conclusão.

Ainda a correlação que insidiosamente faz do meu mundo, como sendo diferente do seu, é absolutamente correta. Vivemos em mundos de valores e princípios diferentes, eu diria opostos. Lembro que foi você, a menos que venha de público a desmentir, quem afirmou que: “Vocês vão ficar milionários”, evidenciando a troca efetiva que há entre as mudanças de zoneamento propostas e o surgimento de uma nova geração de milionários. Só falta ainda esclarecer qual é a unidade de medida que utiliza para medir a “riqueza” gerada se é o vil dinheiro, os amigos, os votos, os metros quadrados de área construída ou qualquer outro.

Jordi Castan