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Cenas tiradas do filme de televisão |
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Para começar, deixo claro. Sou a favor de que as pessoas se manifestam por melhores condições de vida. Sou contra a
repressão desproporcional da polícia. Sou contra uma meia dúzia de
arruaceiros que transforma movimentos pacíficos em praças de guerra. Sou contra
a velha mídia, que parece estar sempre contra o povo. Dito isto, vamos tema de
hoje: a imagem do Brasil no exterior.
Vendo a partir da Europa é difícil entender os
acontecimentos ocorridos nos estádios, nesses dias iniciais de Copa das Confederações. A
minha análise é feita apenas a partir das coisas que nos chegam. E uma das
imagens mais marcantes no jogo entre Brasil e Japão foi o desespero do casal
japonês, com um bebê no colo, apanhado entre as balas da polícia e os objetos
lançados por manifestantes.
Os últimos dias têm produzido imagens mais
violentas, claro. Mas este episódio envolve turistas e por isso tem maior poder
construir uma imagem do Brasil no exterior. Os estrangeiros, seja no Japão,
Europa, Estados Unidos ou na Conchinchina, vão se sentir na pele do casal
japonês e achar que o Brasil vive uma espécie de barbárie. Isso influencia. Eu próprio
desmarquei uma viagem à Turquia no ano passado, quando ainda nem se imaginavam
os protestos das últimas semanas.
Ok... muitos brasileiros vão pensar: que se
danem os gringos, temos os nossos próprios problemas para resolver. Tudo bem. É um
direito pensar assim. Mas é também uma forma de miopia. Fazer manifestações nos
lugares onde se realiza a Copa das Confederações faz mais mal do que bem.
Aliás, não duvido que haja a manipulação das massas por interesses escusos. Ou será esse
pessoal só ficou a saber da construção dos estádios agora? Ora, isso é mais ou menos como chegar
à estação depois que o trem já partiu.
É estranho quando se confunde futebol com política.
Porque o mais lógico seria confundir futebol com economia: a Copa das
Confederações, a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos permitem vender a imagem do
país no mundo. E, num prazo mais longo, essa mediatização poderia ter retornos
ao nível do turismo, da atração de investimentos empresariais e da consolidação
da imagem do país no exterior. Tudo isso sem falar que, de imediato, temos direitos
televisivos, viagens, ocupação dos hotéis, merchandising, publicidade.
Que lógica é essa onde as pessoas pedem dinheiro
para a educação e a saúde e ao mesmo tempo rasgam o dinheiro do turismo? Lutar
por educação e saúde é mais que legítimo. Mas levar as manifestações para perto
dos estádios é queimar um dinheiro que não se tem e que pode vir a ser muito necessário. É
irracional. Ou vocês acham que com estas amostras um turista vai estar à vontade
para ir ao Brasil em 2014 e 2016? Ou que um empresário vai ficar se sentir
tranquilo para investir no país?
Qual é a lógica? O turismo brasileiro representa
miseráveis 3,7% do PIB, apesar de um enorme potencial de crescimento. E quando
o país tem uma oportunidade de se mostrar para os estrangeiros tudo o que vê é essa esquizofrenia. Se querem protestar, o palco deveria ser os centros decisores da
política, não os estádios. Mas o leitor e a leitora não precisam concordar
comigo. Essa é a visão de alguém que vive em Portugal, um país em crise e cuja
economia vendo sendo salva em grande parte pelo turismo, que representa 10% do PIB.
Para finalizar. Depois de sermos bombardeados com más
notícias sobre a Copa das Confederações, todos percebemos que andávamos com uma
ideia errada do Brasil. Enquanto escrevo este texto, um manifestante
entrevistado por um canal de televisão português diz que o país nunca esteve
tão mal. Aliás, no fecho da matéria a jornalista encerra a dizer “que tudo piorou no
Brasil desde que Dilma Roussef é presidente do país”. E nós, incautos, a olhar aqui do
exterior, pensando que nunca tinha estado tão bem como nos últimos 10 anos.
Em resumo, os opositores desses investimentos no turismo estão cheios de razão: o Brasil não tem condições para
promover esses eventos.