terça-feira, 18 de junho de 2013

Educação e saúde sim. Turismo não?

Cenas tiradas do filme de televisão
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Para começar, deixo claro. Sou a favor de que as pessoas se manifestam por melhores condições de vida. Sou contra a repressão desproporcional da polícia. Sou contra uma meia dúzia de arruaceiros que transforma movimentos pacíficos em praças de guerra. Sou contra a velha mídia, que parece estar sempre contra o povo. Dito isto, vamos tema de hoje: a imagem do Brasil no exterior.

Vendo a partir da Europa é difícil entender os acontecimentos ocorridos nos estádios, nesses dias iniciais de Copa das Confederações. A minha análise é feita apenas a partir das coisas que nos chegam. E uma das imagens mais marcantes no jogo entre Brasil e Japão foi o desespero do casal japonês, com um bebê no colo, apanhado entre as balas da polícia e os objetos lançados por manifestantes.

Os últimos dias têm produzido imagens mais violentas, claro. Mas este episódio envolve turistas e por isso tem maior poder construir uma imagem do Brasil no exterior. Os estrangeiros, seja no Japão, Europa, Estados Unidos ou na Conchinchina, vão se sentir na pele do casal japonês e achar que o Brasil vive uma espécie de barbárie. Isso influencia. Eu próprio desmarquei uma viagem à Turquia no ano passado, quando ainda nem se imaginavam os protestos das últimas semanas.

Ok... muitos brasileiros vão pensar: que se danem os gringos, temos os nossos próprios problemas para resolver. Tudo bem. É um direito pensar assim. Mas é também uma forma de miopia. Fazer manifestações nos lugares onde se realiza a Copa das Confederações faz mais mal do que bem. Aliás, não duvido que haja a manipulação das massas por interesses escusos. Ou será esse pessoal só ficou a saber da construção dos estádios agora? Ora, isso é mais ou menos como chegar à estação depois que o trem já partiu.

É estranho quando se confunde futebol com política. Porque o mais lógico seria confundir futebol com economia: a Copa das Confederações, a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos permitem vender a imagem do país no mundo. E, num prazo mais longo, essa mediatização poderia ter retornos ao nível do turismo, da atração de investimentos empresariais e da consolidação da imagem do país no exterior. Tudo isso sem falar que, de imediato, temos direitos televisivos, viagens, ocupação dos hotéis, merchandising, publicidade.

Que lógica é essa onde as pessoas pedem dinheiro para a educação e a saúde e ao mesmo tempo rasgam o dinheiro do turismo? Lutar por educação e saúde é mais que legítimo. Mas levar as manifestações para perto dos estádios é queimar um dinheiro que não se tem e que pode vir a ser muito necessário. É irracional. Ou vocês acham que com estas amostras um turista vai estar à vontade para ir ao Brasil em 2014 e 2016? Ou que um empresário vai ficar se sentir tranquilo para investir no país?

Qual é a lógica? O turismo brasileiro representa miseráveis 3,7% do PIB, apesar de um enorme potencial de crescimento. E quando o país tem uma oportunidade de se mostrar para os estrangeiros tudo o que vê é essa esquizofrenia. Se querem protestar, o palco deveria ser os centros decisores da política, não os estádios. Mas o leitor e a leitora não precisam concordar comigo. Essa é a visão de alguém que vive em Portugal, um país em crise e cuja economia vendo sendo salva em grande parte pelo turismo, que representa 10% do PIB.


Para finalizar. Depois de sermos bombardeados com más notícias sobre a Copa das Confederações, todos percebemos que andávamos com uma ideia errada do Brasil. Enquanto escrevo este texto, um manifestante entrevistado por um canal de televisão português diz que o país nunca esteve tão mal. Aliás, no fecho da matéria a jornalista encerra a dizer “que tudo piorou no Brasil desde que Dilma Roussef é presidente do país”. E nós, incautos, a olhar aqui do exterior, pensando que nunca tinha estado tão bem como nos últimos 10 anos.

Em resumo,  os opositores desses investimentos no turismo estão cheios de razão: o Brasil não tem condições para promover esses eventos.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

A espoliação camuflada em dez centavos

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

Acompanhamos nos últimos dias o início de uma onda de protestos nas principais cidades brasileiras. Os problemas urbanos, tão característicos dos anos 70 e 80, voltaram como a pauta principal de nossas manifestações. O pífio transporte público, a falta de moradia adequada, e a inexistência de democracia são questões muito visíveis e que, felizmente, estão sendo questionadas pela população. Já em Joinville, influenciado pelas manifestações e o escândalo do ouro no Dona Helena, como bem alertado pela colega Fabiana Vieira no sábado, Udo Dohler baixou a tarifa de ônibus em dez centavos, seguindo uma normativa nacional de isenção de impostos que baixa os custos do transporte coletivo.

Tecnicamente, não há nada de extraordinário neste ato, pois foi apenas um repasse do corte de custos (da mesma forma que ele faria se houvesse um incremento nos custos, repassando tudo para o usuário). Politicamente, foi uma bela cartada, pois ao baixar o preço da tarifa do ônibus e passar a ideia de que é um "enfrentamento" às permissionárias, está escondendo (e se utilizando da imprensa parcial para tal fim) as realidades da sua gestão urbana, a qual segue diretrizes antidemocráticas e que promovem - apoiando-me na brilhante ideia de Lúcio Kowarick - uma espoliação urbana em Joinville.

Ao trazer à tona as arcaicas discussões sobre planilhas, o prefeito e sua equipe demonstram que esta é a única discussão em pauta quando o assunto é transporte coletivo, inclusive já alertando que até o fim do ano poderemos ter novo aumento. Reforça, assim, tudo aquilo que nós já vimos. Em nenhum momento nesta semana (posso estar enganado) ouvi técnicos da Prefeitura explicando o andamento do plano de mobilidade (está há três anos em elaboração no IPPUJ, desde o término da pesquisa origem-destino, primeira etapa do processo) ou replicando a visão parcial do prefeito anterior, o qual limitou as transformações mais radicais à licitação (teve quatro anos e não tirou do papel).

A atual gestão promove a espoliação recuperando estes discursos de seus antecessores (muito pouco para quem diz promover uma qualificação da máquina pública), e quando também esquece-se do que está escrito no Plano Diretor; não faz esforço para confeccionar instrumentos que garantam uma melhor qualidade de vida para a população, não diz nada sobre a licitação do transporte coletivo (estamos há apenas seis meses do vencimento do contrato de Gidion e Transtusa e uma licitação deste porte não é coisa simples), priva as camadas mais populares da gestão democrática da cidade (basta lembrar a imposição do CNPJ na construção do conselho da cidade) rasgando o Estatuto das Cidades, e insere a lei de ordenamento territorial (ao contrário do plano de mobilidade, a LOT já está pronta, pois serve a praticamente todos os interesses das entidades empresariais da cidade) como "salvadora da pátria", colocando-a na comissão de frente da política urbana joinvilense.

Resultado: sem democracia, não há um pensamento voltado para o social. A espoliação domina. Desta forma, continuaremos com um Conselho da Cidade que atende interesses do grande capital, sem plano de mobilidade, licitações sem previsões e sem perspectivas de mudança, transporte coletivo ruim e caro, sem infraestrutura urbana (o macrozoneamento, base da LOT, promove o aumento do perímetro urbano e a consequente segregação socioespacial), entidades empresariais colocando a tinta na caneta de nossos governantes, especulação imobiliária, verticalização travestida de adensamento, aumento do índice de automóveis per capita (62 mil veículos a mais nos últimos três anos, defasando, assim, a pesquisa origem-destino de 2010), reprodução da pobreza, mídia parcial, aumento da violência urbana, aumento de impostos, sem ciclovias, sem calçadas, e sem a garantia de nossos direitos enquanto cidadãos.

Espoliação maior do que isso, somente aquela provocada pelo cassetete do PM.

sábado, 15 de junho de 2013

Uma imagem que vale ouro

                                                                               POR FABIANA A. VIEIRA


Se há uma coisa que eu reconheço no governo Udo é a preocupação com a imagem. Não sei se parte de uma cabeça, ou de um coletivo, mas o mote da imagem está bem trabalhado. Senão vejamos o episódio do anúncio da redução da tarifa de ônibus, realizada na última semana, logo após pipocar comentários maldosos sobre participação do prefeito Udo Dohler na operação Fariseu, que investiga o envolvimento do Hospital Dona Helena, de Joinville, na compra de ouro para camuflar recursos e não perder o certificado filantrópico, que garante isenção tributária até para importar equipamentos. Mesmo com resposta da assessoria isentando Udo de qualquer participação ilícita, o estrago estava feito.

Quem trabalha com marketing sabe que, num momento de crise, o segredo é tomar decisões rápidas. E a resposta veio em um anúncio reduzindo a tarifa de ônibus de Joinville - numa semana recheada de manifestações polêmicas, lideradas pelo Movimento Passe Livre (MPL) em grandes centros do Brasil com destaque para São Paulo.

A decisão foi acertada. Ninguém mais fala do ouro. Udo já trabalhou bem com isso em outras ocasiões. Na campanha ainda, a decisão de doar o salário de prefeito para entidades assistenciais, nos últimos dias de campanha, é dada para alguns estudiosos como a grande virada nas urnas. Outro momento decisivo para a imagem de Udo foi revogar o anúncio deixado por Carlito Merss, também sobre a redução da tarifa. Começou o governo no lucro midiático.

Mas voltando sobre a decisão de baixar a tarifa de ônibus na última semana, cabe salientar que a medida é resultado da decisão anunciada há  um mês pelo governo federal, que isentou as empresas de transporte coletivo do PIS e Cofins. Esta ação foi tomada, inclusive, por outras prefeituras do Brasil Em São Paulo, por exemplo, já foram seis cidades que anunciaram a redução da tarifa do ônibus após medida do governo federal. Portanto houve também um benefício para as empresas.

Na visão do Movimento Passe Livre (MPL) de Joinville essa redução de impostos atendeu as necessidades diretas dos empresários do setor - não foi uma política pública para atender a população joinvilense que usa o transporte coletivo. Outra alegação do MPL é que ainda falta discutir em Joinville a questão da licitação que pode garantir mais concessões e acabar com o monopólio do ônibus na cidade. Saindo um pouco da opinião do MPL, vale destacar a opinião de enquete realizada pelo jornal A Notícia, onde os entrevistados lembram que não adianta baixar a tarifa agora e aumentar em dezembro, como já sinalizou o prefeito.

Mesmo com essas contradições após o anúncio de Udo, eu acho que sua imagem foi preservada, ou pelo menos restaurada. Pois quem utiliza o ônibus todos os dias sabe que uma redução de 10 centavos, faz diferença no bolso no final do mês. Mesmo que sejam seis meses apenas. Acho que esse joinvilense aprovou sim o anúncio de Udo. Agora ele já pode pensar em novas estratégias para dezembro, quando as empresas irão pressionar por um novo aumento.

Momentos filosóficos dos leitores



OS COMENTÁRIOS MAIS ESCLARECIDOS DA SEMANA

1.

parabéns policia mete o pau nesses vagabundos em Bala de borracha, prisão por porte de vinagre, pancadaria... eles morrem de medo de um mundo melhor
2.
Tinha que ter levado o tiro no meio da testa! Bando de vagabundo, arruaceiros, baderneiros, socialistas do caralho! Vão destruir a casa de vocês seus maconheiros ... Os "chavistas" quebram a cidade e a polícia não pode intervir? Parabéns a PM de SP! Maconheiro se trata assim mesmo!! on Bala de borracha, prisão por porte de vinagre, pancadaria... eles morrem de medo de um mundo melhor
3.
"Um mundo melhor" feito por mauricinhos maconheiros e baderneiros. plac, plac, plac. em Bala de borracha, prisão por porte de vinagre, pancadaria... eles morrem de medo de um mundo melhor

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Bala de borracha, prisão por porte de vinagre, pancadaria... eles morrem de medo de um mundo melhor

POR FELIPE SILVEIRA

Posso estar errado, mas acredito que ocorreu nesta semana um dos fatos mais importantes da nossa história recente. Falo dos protestos contra o aumento da tarifa de transporte coletivo em várias cidades do país, mas, sobretudo em São Paulo (de R$ 3 para R$ 3,20), onde o tamanho da manifestação foi maior e contou com uma absurda violência policial proporcional ao tamanho do ato.

Mulher, homem, velho, jovem, criança, repórter, cinegrafista... a PM paulista não se importou com quem tava na frente. Saiu descendo o cacete e atirando bala de borracha a uma distância de cinco metros de distância de manifestantes (distância mortal, diga-se de passagem), além de não economizar no gás lacrimogêneo. Só na quinta-feira (13), mais de 40 pessoas foram detidas por - vocês não vão acreditar - porte de VINAGRE!!! O produto usado na cozinha de qualquer casa brasileira atenua os efeitos do gás usado pela polícia. E bota usado nisso. Há muitas questões a discutir sobre isso, e vou dar uma pequena opinião sobre as que mais me chamam atenção.

Primeiro, se você defender a PM depois de se informar sobre o que aconteceu, se você defender o abuso de autoridade e todos os crimes e violência que a polícia cometeu, você é um baita de um safado, mau caráter e vagabundo. E UM BOSTA. Já discuti aqui no Chuva Ácida que a polícia no Brasil não é despreparada, como muitos dizem, mas é justamente preparada para ser assim: violenta. Uma polícia que rouba, mata, forja, trafica... E, se você duvida, eu recomendo alguns livros e filmes que podem ajudar a formar uma ideia melhor sobre o assunto. E você pode começar também pelo que houve nesta quinta, nos links abaixo:

Retratos da violência praticada pela PM

"Sem violência", diziam os manifestantes, mas a PM que precisava ouvir

Policial quebra vidro da viatura... ou será um manifestante disfarçado fazendo baderna?

Repórter é preso por porte de, pasmem, VINAGRE!

Jornalista é espancado pela polícia

É evidente que nem todo policial é vagabundo, mas a instituição é falida e quem está lá dentro dificilmente não é cúmplice das barbaridades que são praticadas contra a população pobre e negra (sim, somos um país extremamente racista), principalmente na periferia. Lá as balas não são de borracha... De qualquer forma, torço para os bons policiais, são poucos, mudarem a polícia, ainda que eu não acredite nesta possibilidade.


Segundo, é triste demais ver o rumo que o Partido dos Trabalhadores (PT) tomou e o lugar onde está. Já fui petista (hoje faço parte do PSOL) e saí por ter me decepcionado faz tempo, mas mesmo assim sou um otimista e acredito que o PT trouxe alguns avanços ao país. Trouxe e pode trazer ainda mais. No entanto, esses avanços são jogados no lixo diante de situações como essa. O prefeito Fernando Haddad (eleito na eleição de 2012 - e não custa lembrar, depois de vermos Lula apertar a mão de Maluf) parece ter cruzado os braços para a situação, e assim sua omissão passa a ser apoio à violência da polícia comandada pelo tucano Geraldo Alckmin, governador do estado.


Em terceiro lugar está a cobertura da imprensa. É vergonhosa, como quase sempre (há exceções para esta regra), mas passou dos limites dessa vez, quando o editorial do Estadão mais pareceu um chamado à ação violenta da polícia. Ultrapassou as raias da loucura quando a Veja publicou que “a polícia impediu a ação de vândalos”. Se bem que a Veja já ultrapassou as raias da loucura há tempos e dali só podemos esperar desgraça mesmo. De qualquer forma, a cobertura, da TV, principalmente, influencia negativamente demais o avanço da cidadania nessa país. Faz isso quando trata quem luta por direito como bandido e corruptos (empresários, políticos, fiscais, cidadãos) como heróis.

Ah, em tempo, se você lê a Veja (acreditando), você é um BOSTA!


E, em quarto lugar, e dessa vez, mais importante, está uma notícia boa. É apenas uma opinião pessoal, mas eu acredito que a sociedade e a forma de fazer política está mudando a passos largos. Tem a ver com a mudança de valores e de hábitos e também com tecnologia, que permite uma nova fase no campo da comunicação e -  por que não? - da ação. Primavera Árabe, Occupy Wall Street, Revolta do Vinagre (galera do twitter já achou um apelido)... são levantes contra a injustiça, liderados pela massa (e não por uma figura a ser presa ou morta), que surgem na internet e ganham as ruas, e continuam a contar com ajuda da internet, seja na articulação, na denúncia ou no apoio. É isso que me faz ter esperança em um mundo melhor.

É a primavera - e ela não pode ser detida...


Importante:

- Não discuto com e nem sobre vagabundo que fica incomodado com protesto parando o trânsito. Esse é só um lixo que a sociedade produz.

- Todo meu apoio à luta do povo e parabéns ao Movimento Passe Livre (MPL) de todo o Brasil, que puxa essa luta e tem forte atuação em Joinville contra o oligopólio das empresas de ônibus que, de mãos dadas com o governo municipal há décadas, avacalham a vida do joinvilense.

- Leia também o texto do jornalista Pedro Henrique Leal, que aborda essas e outras questões do caso. Aqui.