POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Rosangela Elisabeth Müller. Reconhece o nome? Talvez não. E se eu disser que é a mulher que confundiu a bandeira do Japão com a bandeira de um Brasil comunista? Aí fica fácil lembrar, né? Afinal, o vídeo publicado pela tal senhora nas redes sociais é um dos maiores micos que as nossas cansadas retinas já tiveram o desprazer de ver neste (ainda insipiente) século.
Por que falar na senhora? Ora, porque ela é arquétipo pronto e acabado da estupidez que assola o enorme circo político chamado Brasil. Rosangela é uma espécie de ponta de lança de um time que se orgulha da própria ignorância e faz da desinteligência uma forma de vida. Esse tipo de gente sempre existiu (todos conhecemos alguém assim), mas as redes sociais criaram o palco perfeito para as suas necedades.
Mas quando essa esquizofrenia invade a esfera pública, é preciso estar atento. Porque essa gente é violenta, anti-intelectualista, irracional e ignorante. Parecendo ser apenas picarescos, são perigosos. Porque são hospedeiros para o vírus da doença chamada fascismo. Sob a aparência de inofensivos palhaços, aos poucos vão inoculando esse veneno na sociedade. Nunca se deve menosprezar o poder de despertar fascismos adormecidos.
A rejeição do pensamento está a viver o seu período de ouro. Os irracionalismos pululam aqui e acolá por todo o mundo. Mas no Brasil a febre está a atingir os estertores. E nem é preciso ir longe para encontrar as explicações. A história recente mostra que o antipetismo, um sentimento insuflado pelas elites e pela velha mídia, acabou por se tornar uma corrente política. E o antipetismo vem recheado de anti-intelectualismo.
Eis o problema. O antipetismo é uma fórmula simplória que, bem ao gosto dos fascismos, desconhece a complexidade da política. Ou seja, há uma sanha simplificadora que obriga a ver tudo em preto e branco, com um discurso construído através de clichês mal amanhados. Tudo isso, claro, mergulhado em boas doses de ódio. E é aí que mora o risco para a democracia.
Por que Rosangela é perigosa? Porque é uma idiota motivada. É o tipo de gente que vê o mundo com viseiras a tapar a visão periférica. Há uma espécie de glaucoma político. Em tempos de digital fica mais fácil Rosangela se mostrar, mas também fica mais difícil esconder a estupidez. Quem der uma passadinha pelo perfil de Facebook da senhora vai ver uma pessoa a perseguir delírios. Desde a paródia de gestos militares (bater continência) até, claro, admirar o sobrenome “Bolsonaro”.
Há gente a prever que as próximas eleições no Brasil serão entre a direita e a extrema direita. É um risco. E Jair Bolsonaro, representante do que há de mais atrasado em civilização, é um nome a ter em conta. “Não, isso não vai acontecer”, pensarão o leitor e a leitora que ainda acreditam na razão. Talvez. Mas os episódios recentes, em especial no caso de Donald Trump, nos Estados Unidos, são um aviso: se cochilar o cachimbo cai.
Como alguém já disse, o preço da liberdade é a eterna vigilância.
É a dança da chuva.