sexta-feira, 12 de setembro de 2014

A xenofobia só atinge o pobre, o negro, o favelado?

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

Após a experiência prática de algumas situações, e a leitura de manchetes de jornais (e seus respectivos comentários no facebook), encontro cada vez mais pessoas xenófobas. Segundo o dicionário Michaelis, xenofobia é a aversão a pessoas e coisas estrangeiras. Este fenômeno é crescente, e reproduz uma série de preconceitos. Entretanto, precisamos nos lembrar que a vida é um atuar migrante, uma adaptação às circunstâncias... e muitos esquecem-se disto.

Quando uma cidade quer controlar o seu crescimento populacional, por exemplo, é comum levantarmos notícias de Prefeituras que colocaram mendigos, profissionais do sexo, e demais pessoas pobres em ônibus e mandaram para alguma outra cidade, bem longe dali. Mas são as mesmas Prefeituras que querem mais empresas na cidade e mais executivos morando nela. Até que ponto a xenofobia atinge as mais altas classes de nossa sociedade?

A última onda xenófoba muito presente em nosso dia-a-dia atinge os haitianos. Após incentivos do governo brasileiro, vários deles estão vindo para o Brasil para ter uma vida diferente de seu país natal, que há décadas sofre com problemas políticos internos e uma grande desigualdade social. É um retrato muito parecido com a onda migratória dos anos 1800, quando alemães vieram para nossa região, fugindo do cenário catastrófico que estava a Alemanha pré-unificação. Ou semelhante aos italianos que vieram décadas depois, fugindo da Primeira Guerra e das poucas esperanças na Itália. São estes, inclusive, responsáveis por boa parte da herança étnica que temos aqui no sul do país, juntamente com os afro-descendentes, os ibéricos e a população indígena que aqui habita há muito tempo. Se olharmos mais recentemente, o forçado êxodo rural do século XX nas cidades brasileiras trouxe muita gente do interior para o litoral em busca de melhores oportunidades. O joinvilense médio não é o descendente germânico, mas, sim, uma mistura de várias etnias.

Os haitianos não vieram para invadir o país ou declararem guerra. Vieram para ter uma vida diferente e ocuparem postos de trabalho que geralmente não são ocupados por brasileiros. Há muitos municípios em que as Prefeituras locais criaram programas de atendimento específicos para estes migrantes, mas a população em geral ainda carrega um preconceito bobo, fantasiado de xenofobia. O executivo alemão que vem morar na região por causa da BMW não recebe o mesmo tratamento que o haitiano que expõe a sua trajetória de vida num jornal. O motivo: o primeiro é rico, o segundo é um "pobre coitado". Joinvilenses reproduzem há muitos anos piadas contra paranaenses, só pra citar um outro exemplo.

Infelizmente é uma praga que se espalha não só pela nossa cidade, mas por todas aquelas que sofrem grande crescimento demográfico. Dói demais escutar e ler pessoas com estes preceitos, esquecendo-se que, antes de mais nada, somos todos seres humanos nos adaptando às nossas diferenças, às nossas realidades, às nossas desigualdades. Somos todos migrantes em algum momento de nossas vidas, seja por nós mesmos ou nossos antepassados.

6 comentários:

  1. Belo texto Charles. Eu acredito que a situação é um pouco mais complexa, o ser humano é muito intolerante com as diferenças, sejam elas quais forem. Já sofri preconceito por pessoas com situação financeira diferente da minha, tanto as que tinham muito mais, como as que tinham muito menos. Já fui rotulado por ambos e o preconceito e a xenofobia ocorreu dos dois lados. Sempre que me tornei uma "minoria" acabei sofrendo preconceito. O combate deve ocorrer dentro dos lares, das escolas, na infância principalnente (onde a criança absorve valores/ "padrões de conduta" e etc) a respeitar o diferente. Ninguém é o que é por acaso, sempre tem um passado por trás de cada um e quando passamos a conhecer as pessoas, passamos a entender a história delas, deixamos de julgar e passamos a ajudar. O Estado/política/governo só vai mudar quando as pessoas mudarem!
    Andy

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  2. Bem lembrada esta questão da xenofobia seletiva do joinvilense. Se tiver grana pode até ficar, mas se não tiver....Falam mal dos paranaenses que foram as forças motoras das industrias e construção civil da cidade e hoje formam um contingente expressivo da população. Falam mal de gaúchos e paulistas por ocuparem seus postos de trabalho. E em relação aos negros e especialmente os haitianos, não vejo por que não aplicar exatamente o proposto pelo Baço no texto anterior do Chuva. O rigor da lei. Discriminou, cadeia para estes idiotas!

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  3. Então, que engraçado ver o Charles falar sobre Xenofobia... E a Xenofobia religiosa que determinados blogueiros praticam contra candidatos evangélicos? Esta, também, deve ser condenada? Criticar alguém por sua pratica religiosa, o desmerecendo e ridicularizando, seria uma forma de Xenofobia? Pois é, fica o questionamento... ; )

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  4. Estão confundindo xenofobia com preconceito. Xenofobia é um preconceito exclusivo ao que é “estrangeiro/forasteiro/exótico”. Ser rico ou pobre não é ser exótico. Ser negro ou branco não é ser exótico. Ser católico, evangélico ou espírita não é ser exótico. O exotismo refere-se ao que vem de fora e não presente no meio.

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    1. Concordo. Alemão pode vir quanto quiser, haitiano a gente manda pro paraguay.

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    2. Tanto o alemão quanto o haitiano poderiam ser vistos com xenofobia, não pela cor da pele (tem brancos e negros em Joinville), mas pelos idiomas alemão e francês, distintos do português, ou pelas características culturais, como o alemão que não toma banho ou haitiano adepto do vodu, que que são exóticas comparadas aos nossos “hábitos higiênicos” e a nossas religiões cristãs. Óbvio que um alemão endinheirado seria bem mais visto do que um haitiano pobre, mas isso em qualquer parte do mundo.

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