quinta-feira, 11 de setembro de 2014

“i”- “di”- “o” - “ta”

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

A torcedora do Grêmio que chamou o goleiro Aranha de macaco é racista. Ponto final. É um fato captado pelas câmaras de televisão e não permite atenuantes. Não permite? Como sempre repito, no Brasil tudo o que é proibido é moderamente tolerado. E o caso ganhou contornos ridículos, porque houve muita gente a tentar “branquear” (a palavra é proposital) a imagem da moça.

Ora, há pessoas a dizer que, afinal, ela não é tão racista. Tive mesmo o desprazer de encontrar uma pessoa - torcedora do Grêmio, mas supostamente esclarecida - a defender que não foi um ato de racismo, mas um arroubo da juventude. É um daqueles absurdos que só se respondem com outro absurdo. E apliquei a Lei de Godwin (se não sabe o que é, a Wikipedia traz um verbete) para acabar logo com a discussão.

O gesto da moça não tem a ver com a idade ou o calor do momento. É racismo. É ignóbil. É escroto. É só olhar para a foto - essa que publico aqui - e ver que ofender o goleiro foi  uma questão de escolha. Enquanto a moça se esguela a repetir a palavra “ma”-”ca”-”co”, a loira do lado, que parece ter a mesma idade, permanece em silêncio. Aliás, sem ser um especialista em leitura de feições, parece que está incomodada.

Mas o absurdo só tende a piorar. E não é que tem gente da imprensa à espera de um encontro entre Aranha e a torcedora racista? Mas a ideia não é discutir o tema racismo de forma séria. O que se pretende é produzir um espetáculo, levantar as audiências. Uma música dramática, uma lagriminha no canto do olho, um abraço entre o goleiro e a torcedora. E pronto. O Brasil chora com a reconciliação. Não há mais racismo.

O bom nesse episódio é que Aranha não topou. Porque há o risco - ridículo, volto a repetir - de se desenhar um quadro invertido. A mocinha ainda acaba por se tornar heroína. E, se bobear, o goleiro ainda acaba virando o vilão dessa história. Enfim, mantenho a minha posição de primeira hora: aos racistas, sejam mocinhas simpáticas ou não, o rigor da lei. Sem contemplações.

É como diz o velho deitado: “i”- “di”- “o” - “ta”.

16 comentários:

  1. Segundo a legislação brasileira, o ato pode ser entendido como injuria de cunho racial devido ao agravante da palavra “macaco”, não como racista. Agora tudo é racismo, virou coqueluche apontar o dedo e chamar alguém de racista. Se ela foi racista por ser branquinha e gritar “macaco”, como qualificar dos caras negros que foram filmados ofendendo o goleiro com a mesma palavra? E o que dizer do torcedor que vai ao estádio e chama o jogador de “viado” ou que xinga a mãe do juiz? Por favor, um peso, uma medida! Ainda vivemos numa democracia com o artigo 5º da constituição.

    O profissional tem o direito, enquanto cidadão, de se manifestar em um momento de agressão verbal. Porém, lembro que o jogador Richarlyson, no exercício de sua profissão, nunca se manifestou quando a torcida inteira do time adversário o chamava de “viado”, nem houve tamanha comoção por parte da imprensa ou da opinião pública, mesmo se tratando do mesmo crime que a moça está sendo indiciada.

    Quanto a menina ao lado, no “pelotão de frente”, quem disse que a mesma em algum momento não gritou macaco junto da ilustre desconhecida? Em apenas alguns segundos a câmera só registrou a fulana e já bastou para o teatrinho dos horrores ser montado, ignorando as dezenas de torcedores que mantinham o mesmo coro.

    Não sei se a moça que gritou “macaco” seguiu a cambada no calor do momento, mas com certeza a imprensa marrom e um bando de hipócritas pieguistas não pensaram duas vezes em julgar e condenar a fulana, dando o nome, sobrenome, CPF, RG, local de trabalho e moradia.

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    1. Sério?Lá porque "i"-"di"-"o"-"tas" chamam Richarlyson de viado e ninguém vai preso, então está tudo liberado?

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  2. Se no estádio eu chamar o jogador de veado eu necessariamente terei de levar um taco de baseball comigo e agredir homossexuais nas ruas? Se eu chamar a mãe do juiz de p$t@, posso pedir um desconto com a cafetina no final do jogo?

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    1. Faz sentido. Se pegares num livro, talvez tenhas a oportunidade de aprender algo.

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  3. Não sei se fico mais triste com a gremista racista ou com o elemento acima que nos descreve sua "democracia" em ter direito de manifestar toda sua "cultura" de xingamentos para toda e qualquer minoria. Fio, vai pedir desconto na zona e deixa nossos olhinhos descansarem de tanta "elegância". SQN

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  4. O “politicamente correto” em países bem resolvidos com população educada é muito bonito, no Brasil pode ser perigoso, que o diga a guria que xingou o goleiro.

    Eduardo.

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    1. Não sei, Eduardo. Talves estejas a cometer um erro ao confundires sentimentos anti-racistas com politicamente correto. Não são a mesma coisa.

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  5. Hipocrisia sempre se ajusta a situação.... Dizer: A menina não cometeu um crime de racismo, é só injúria... mesmo assim ela é uma criminosa (o código penal prevê cadeia para este crime, de um a seis meses). Ai vão falar ah mais criminoso/bandido é assaltante, estuprador e assassino... estes merecem serem amarrados num poste e serem torturados e agredidos. A elite branca, heterossexual, classe média merece ser preservada de ataques por não serem perigosos pra sociedade? Para mim torcedor que vai pelo momento seguindo a massa xingando ou agredindo é tão perigoso quanto assaltante e assassino ou o pessoal se esqueceu da selvageria que teve na Arena ano passado.... e a pergunta surge, tem alguém preso por aquele crime? Quanta hipocrisia.

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    1. Ok, Rudimar!
      Já parou pra pensar o quão criminoso você foi quando xingou a mãe de alguém pela última vez?

      "Hipocrisia sempre se ajusta a situação..."

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  6. Oi Baço! Raramente concordo com vc, vc é PT e eu sou PSDB, vc é supostamente de " esquerda" e eu sou supostamente de "direita", contudo, assim como vc sou um ser humano que condena o racismo e concordo integralmente com o seu texto. Temos uma dívida histórica com os negros, talvez o avô do goleiro Aranha tenha sido escravo e só quem é afrodescendente sabe as dificuldades que passam devido a sua " cor".
    Andy

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    1. Só discordo nessa questão de eu ser PT. Sou de esquerda e tenho muitos amigos no PT, mas isso não faz de mim um petista. Está certo que muita gente vem aqui me chamar de "petralha", mas geralmente são pessoas que só conseguem ver a política em preto ou branco.

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    2. Você é PT, Baço, só tem vergonha de assumir.

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    3. Eu nunca teria vergonha das minhas escolhas, anônimo.

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  7. A mesma boiada que se compadece do efeito causado pela atitude da moça em questão, pedindo o abracinho entre a parte ofendida e agressora, é a mesma que apoiou a patrulha da "moral e bons costumes" em acorrentar um negro nu à um poste . Belo texto. Abraços.

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  8. O que não entendo é a quantidade de negros que estavam ali também proferindo "injúrias" (claramente visto nas imagens), já que falar falar que eles agiram com racismo vai ficar estranho, sendo eles negros.
    Ou seja, a coisa é complexa.
    Verdade seja dita, falta educação, integridade de caráter, humanidade, respeito, consideração e muito bom senso.

    TRISTE.

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    1. Anônimo 19:02, o estádio dá a falsa sensação de que toda ofensa é permitida, de impunidade. Temos de deixar as paixões de lado e analisar um pouco mais friamente a situação. A minha tese é de que tanto essa garota, quanto a maioria que estava gritando a palavra MACACO, faziam de forma a ofender e desestabilizar o profissional, só. A ofensa, neste caso, não é racista, mas ofensiva, tal qual é xingar a mãe do jogador. Não digo que não tinham torcedores racistas (no sentido bíblico da palavra) no meio, mas acredito que a maioria que gritou MACACO ou é formada por negros ou tem conhecidos e amigos negros.

      Eduardo.

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