quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Marina é um desvio da direita

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

O leitor e a leitora já devem ter visto acontecer aqui no blog (e não só). Tem gente a defender que, por viver em outro país, uma pessoa não pode opinar sobre o Brasil. Mesmo que esteja muito antenada. É uma atitude provinciana e um erro crasso. Mas por sorte há outras pessoas, em número significativo, que aproveitam para a troca de ideias e de intercâmbio de narrativas.


Aliás, no que toca à organização social, política e econômica, por exemplo, as experiências vividas em outras sociedades deveriam servir como alerta para os brasileiros. Porque há situações que vão além do plano teórico e estão a ser vividas pelos analistas nos seus lugares de origem. É o caso do europeus, que neste momento enfrentam a lógica desumanizadora do neoliberalismo.


Quer dizer, os europeus sabem o quanto as políticas neoliberais podem ser ruinosas para os povos. Os brasileiros escaparam disso nos últimos 12 anos. No entanto, há muitos entre os mais velhos que parecem ter esquecido. E os mais novos ainda não sentiram as presas do neoliberalismo na jugular.  É por isso que muitos ainda se deixam seduzir pelo canto da sereia neoliberal. 

Austeridade. Desemprego. Empobrecimento. Precariedade. Ruína. Desespero. Essas palavras são a luz no fim do túnel neoliberal. É assim na Europa e quem tem noção desse fato – e dois dedinhos de testa – só poder rejeitar essa lógica. Aliás, é algo que venho repetindo aqui, mas que hoje reforço através do sociólogo Boaventura Sousa Santos, outro português (neste caso um português ilustre).


É caso para dizer: faço minhas as palavras do professor da Universidade de Coimbra. Em especial no que se relaciona à candidata Marina Silva, apontada por ele como um desvio da direita para voltar ao poder, uma vez que ela será manipulável. E também quando fala na proposta de independência do Banco Central, que é a regra de ouro do neoliberalismo. 

"A independência do Banco Central é a regra de ouro de todo o neoliberalismo. Esqueçam políticas sociais, esqueçam educação, esqueçam saúde, esqueçam o que for. A ideia de que há uma independência do Banco Central significa efetivamente que a lógica dos mercados financeiros vai regular as políticas públicas", diz Sousa Santos.

E arremata ao analisar a candidata Marina: "A direita não pode voltar ao poder diretamente. Tem que usar um desvio de esquerda. Tem que instrumentalizar alguém para chegar ao poder. O desvio é a Marina, claramente". E mais não digo. O filme com Sousa Santos é suficientemente esclarecedor. Assista, porque são três minutos que valem a pena.


34 comentários:

  1. E o que você sugere, que o Estado mantenha o aparelhamento nas instituições e áreas estratégicas da economia com vem fazendo de forma desastrosa com a companhias elétricas? Ah, desculpe, você e esse português não vivem no Brasil e não dependem desse serviço oneroso e falho. Tu citas os países europeus que enfrentam problemas com a “lógica desumanizadora” do neoliberalismo. Eu cito os exemplos que vêm da Venezuela e Argentina que seguiram o exemplo do aparelhamento estatal. Quem está pior, o europeu ou o venezuelano?

    Falta sensibilidade para entender que dar mais independência ao Banco Central significa liberar parcialmente a instituição para adotar medidas estratégicas e não políticas, como vem fazendo até então. Não é um “quarto poder”, como afirmou a presidente mal caráter, atrapalhada e mentirosa na entrevista ao telejornal. O BC, BNDES, CF e BB, todos enlaçados ao governo federal, foram responsáveis pela liberação indiscriminada de recursos públicos a empresários poderosos (um em especial causou prejuízo de 15,5 bi), financiaram a construção de elefantes brancos na copa (que seriam inicialmente investimentos privados) ao custo de 7,5 bi, sem contar com a vergonhosa “doação” de 400 mi ao Corinthians numa desastrosa operação entre CF e BB. Hoje têm famílias sem-teto ocupando bens particulares e públicos quando investimentos que poderiam ser feitos em habitação popular (ao custo de 1 bi) estão empregados no elefantão inacabado de Itaquera.

    Após as eleições o preço dos combustíveis vai aumentar, tal qual o preço da energia elétrica já está aumentando para tentar recuperar o valor original. A inflação que já está em 6,5% ainda conta com a aquela reprimida que será sentida pelo consumidor com os custos na cadeira produtiva. De que adiantou segurar a inflação artificialmente se agora o povo brasileiro terá de pagar o custo dessa operação politiqueira calamitosa com juros e correção monetária? Se o BC tivesse liberdade para atuar de forma racional naquilo que ele se propõe o custo original desses serviços seria diluído e a inflação controlada.

    Dilma é um fantoche cercada de incompetentes, não a Marina. Coloque as duas para debater ideias e verás do que eu estou falando.

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    1. Esse discurso é datado. Tem um atraso de 15 ou 20 anos (para não retroceder até Thatcher, Reagan e Pinochet). E lembro que o Brasil não era um bom lugar para se viver. Nessa altura, só havia uma saída para quem não era "gente de bens": o aeroporto.

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  2. Êhhh, Bação, também aderiu ao marketing do medo no CA?

    Felizmente os que leem o CA são suficientemente informados e já têm seus candidatos. Não creio que uma entrevista com um estrangeiro mudará a opinião de alguém.

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  3. Estrangeiros são todos uns merdas. Xô, colonialistas.

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  4. Hum, mandei um comentário bem educado contestando a opinião do autor que não foi postado, por quê?

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  5. Baço, e demais, vocês colocam nome e sobrenome para defender uma ideia sem pé nem cabeça sobre supostas mazelas com a independência do BC proposta por Marina. É sabido que essa independência será meramente política. É muita estupidez ou ardis seguir a linha de raciocínio apresentada pelo PT nas suas campanhas mentirosas. Sugiro rever esse conceito e essa exposição ridícula.

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    1. Não é a linha do PT. É a linha de dois caras que vivem em Portugal, têm o Banco Central na Alemanha e são obrigados a comer e calar.

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  6. Não ia liberar este post. Porque o filme é uma merda tão grande e está tão mal feito que qualquer criança percebe o corte e a montagem. Enfim, o produto é ridículo e tem que ser muito otário para ficar partilhando. Mas sabe, Anônimo, percebi que era uma oportunidade de te expor ao ridículo. Tem que ser muito asno para acreditar nesse tipo de fancaria. E é pena que sejas anônimo, porque eu gostaria de dar nome ao burro.

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  7. Fico impressionado, o Chuva Ácida é exatamente como novela, você pode ficar um tempo sem ver, mas quando dá uma espiada nada mudou, especialmente a falta de educação mútua entre escritores e participantes.
    E ainda acreditam que podem colaborar significativamente para alguma mudança.

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    1. Pelo menos a novela parece boa, porque sempre vale a pena ver de novo.

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    2. A gente tenta, na esperança de que ao ver novamente algo tenha mudado.
      E estou falando de algo que você como bom educador entende muito bem, estamos falando de EDUCAÇÃO, e não conhecimento.
      É possível se ter muto conhecimento, mas se não for acompanhado de educação, de pouco valerá.
      Isso não é uma crítica, é apenas uma observação.

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  8. Você realmente consegue acreditar num argumento falho como este? Se sim, volte três casas.
    Os países com o BC independente tem as menores taxas de juro possíveis do mundo. Os EUA pré-crise de 2008, tinham juros tão baixos quanto são o do BNDES ou a nossa poupança.(Antes do governo intervir e causar a crise)
    E lembrando que, como o presidente do BC ainda é indicado pelos governantes (mas sem a sua influência direta), este argumento de entregar a economia na mão dos banqueiros não faz o menor sentido.
    Através da figura da SELIC, o BACEN não independente cria na realidade o famoso "Bolsa-Banqueiro", fazendo com que tenhamos uma das maiores taxas de juros do mundo e se crie um mecanismo de transferência de renda do povo para os donos do banco.
    Por isso nos últimos anos, as empresas que mais lucraram no Brasil foram os bancos (públicos ou privados).
    Se isso não é entregar a economia nas mãos dos banqueiros eu não sei o que é.
    O BC independente é tirar dos interesses eleitoreiros a condução da economia do país.
    Tem um texto de economia para leigos que pode ajudar:
    http://mercadopopular.org/2014/09/o-que-e-autonomia-do-banco-central-um-manual-para-nao-economistas/

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    1. Desculpa aí, Mattiola, mas acho que não estás bem informado. Se não sabes a razão para as taxas baixas do BCE, então tens que aprofundar a pesquisa.

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    2. Está muito enganado Marco, não existe correlação entre BC independente. O Banco do Brasil é apontado hoje como o maior banco mundial público, ao contrário dos privados que tiveram uma redução da margem de lucros em 2013. Dá uma lida nisto que vai te dar mais informações. http://jornalggn.com.br/noticia/os-sofismas-sobre-a-independencia-do-banco-central

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    3. Manoel, nunca antes na história deste país os bancos privados tiveram tantos lucros, independente da situação do BB. Itaú, Bradesco, Santander, tiveram lucros pornográficos nos últimos 10 anos.

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  9. O mercado é sábio, José. Vivemos de dólar e recursos estrangeiros. A Dilma sobe nas pesquisas, a bolsa cai, o dólar sobe, a inflação também. Essa mulher não pode governar por mais quatro anos. Se você tem algum apreço pelo Brasil, não devia apoiar essa candidata.

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  10. É bom que Dilma vença as eleições. Devia vencer já no primeiro turno.
    Mais quatro anos de PT para colocar um pouquinho de juízo no desqualificado eleitorado brasileiro. Só tenho pena do trabalhador da indústria...

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    1. Segundo as pesquisas, talvez o teu desejo seja realizado. Não acredito, mas torço por ti. E eu também tenho pena do trabalhador da indústria: o capitalismo é foda.

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    2. De fato, o capitalismo é foda quando se tem representantes corruptos no governo, como existem no Brasil. Capitalismo e comunismo são indiferentes quando se objetiva transformar uma estatal num balcão de negócios, como faziam os comunistas na URSS e ainda fazem na China, por exemplo.

      Porque na Alemanha, na Austrália e até nos EUA, o capitalismo vai muito bem com trabalhador da indústria, obrigado.

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    3. Precisas ler mais a imprensa internacional. O capitalismo não está a ir bem. Os capitalistas estão. Mas isso sempre foi assim.

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    4. Ah, claro, o socialismo, por outro lado, vai muito bem... Venezuela, Bolívia e Argentina são exemplos para os trabalhadores do Brasil, pois estamos mais próximos desses países do que da Suécia, por exemplo... E não estou me referindo a proximidade geográfica, mas ideológica.

      Já entendemos, Baço. Você torce para o PT como quem torce para o Benfica.

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    5. Gosto dessa profundidade dos conceitos. Não tenho que explicar o que entendo por socialismo... basta dizer Venezuela. Ah... e torço pelo Sporting.

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  11. Baço, o chavismo fez bem aos venezuelanos?

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    1. Não sei. Tu sabes (sem usar o discurso da Veja)?

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    2. Eu não sei, por isso estou apenas perguntando. Não leio a Veja e nem teria como porque nem no Brasil moro. Relaxa, homem.

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    3. Podes ver online no acervo digital. Só que dias depois. http://veja.abril.com.br/acervodigital/

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    4. Tem a sua opinião lá? Como não tem, quero saber a sua opinião.

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  12. É, o sonho acabou, companheiros. Mesmo se Dilma ganhar, o sonho socialista foi destroçado pelos companheiros nadando nesse mar de lama.

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    1. Sonho socialista? Fale mais a respeito, ex-petista.

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    2. Você sabe muito bem do que eu estou falando, Baço. No início o PT era a esperança do socialismo no Brasil, o discurso foi sempre esse desde que eu era filiado ao partido, hoje sou do PSOL. O PT ainda se autoproclama “partido de esquerda” ignorando os partidos pequenos e honestos que ainda levantam a bandeira do socialismo no país. O PT jogou no lixo anos e anos de militância de pessoas que, iguais a mim, imaginaram um Brasil melhor, muito diferente deste que está aí, cercado de incertezas. Sou de esquerda, sim, mas também tenho discernimento.

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    3. Eu acho estranho quando alguém fala de socialismo no Brasil. Nunca sei o que esperar. Grosso modo, há muitas definições. Existe o socialismo dos que se dizem socialistas. Os socialismo dos que odeiam o socialismo. E o socialismo como ele realmente é.

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