POR JORDI CASTAN
Era uma vez na sambaquiana capital do reino dos manguezais.
O burgomestre andava fascinado com a segurança, ao ponto de criar uma
secretaria de segurança sui generis. Sonhava ver os seus
agentes uniformizados desfilando garbosos e armados - e bem armados.
Acreditava que aí sim a segurança de Arapongaville estaria resolvida. Roubos,
assaltos e outros crimes diminuiriam porque a sua pomposa guarda municipal
traria a tranquilidade para os arapongavillenses, coisa que nem a Policia
Civil, nem a Policia Militar tinham conseguido garantir.
Mas enquanto a sua guarda local não começava o seu
patrulhamento ostensivo - e enquanto a segurança de fato não melhorava - o
burgomestre decidiu dedicar-se a curtir o seu brinquedo mais novo: a belíssima
“Central de Arapongagem da Estrela”. Um brinquedo lindo, equipado com o último
grito na tecnologia da bisbilhotagem. Não havia telefone fixo nem celular que
não pudesse ser grampeado. Não havia secretário que não tivesse a sua agenda
esquadrinhada com atenção. Nada escapava ao olhar implacável da dita central.
Os relatórios seriam detalhados. Quem? Quando? Onde? Com
quem? O que? A que hora? Quanto tempo? Lembravam os da Stassi (Ministerium für
Staatssicherheit, MfS) da antiga Alemanha Oriental, a policia política do
ex-presidente Erich Honecker, que acumulou toneladas de relatórios, dezenas de
milhares de horas de gravações, milhares de terabites de informações inúteis.
Informações que incluíam desde receitas de bolo a medidas da roupa interior dos
amantes do regime, passando pelo número de colheres de açúcar que uma
determinada pessoa colocava no cafezinho.
Só havia um problema. Havia quem dissesse que o velho
general estaria usando os recursos públicos do orçamento municipal para
bisbilhotar. Muitos diziam: se quisesse brincar de James Bond dos manguezais
com o seu patrimônio, tudo não passaria de uma excentricidade de um velho gagá
que nunca superou a sua fascinação pelas marchas militares prussianas e crente
de que ordem é progresso. Mas dedicar recursos públicos, tempo dos funcionários
e o próprio tempo que seria destinado a resolver os problemas de Arapongaville
preocupava e entristecia os arapongavilenses. Porque o velho general não
percebia o ridículo da imagem de um coscuvilheiro de pijama e pantufas
lendo mexericos da vida alheia, como quem acompanha, sem perder detalhe, o
enredo a novela das oito.
Mas esta história, como uma novela das oito, é ficção.
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