sexta-feira, 15 de agosto de 2014

O caso UFSC Joinville é a maior vergonha desta cidade

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

Não há, em minha curta memória de vida, algum outro caso tão pitoresco e lastimável como o caso da UFSC Joinville. Acompanho esta situação há anos, e, infelizmente, nunca pude falar ou escrever sequer uma coisa positiva sobre este tema. A última notícia veiculada é de que as obras ficarão prontas só em 2016. Ou seja: quase nove anos para construção e instalação de uma extensão de campus universitário, com apenas um curso. É, definitivamente, a maior vergonha de Joinville, pelo menos no começo deste terceiro milênio.

O projeto, diga-se de passagem, já começou muito errado. Além da localização do terreno na curva do arroz ser péssimo em vários aspectos, o Ministério Público Federal (MPF) denunciou a venda do terreno como abusiva, pois estaria muito acima do valor de mercado. Na mesma ação, o órgão alegou que a escolha dos cursos havia acontecido de forma unilateral para atender as demandas dos empresários locais, e não da sociedade joinvilense como um todo (já escrevemos muito sobre isso aqui no Chuva, nos jornais locais e na audiência pública que a Câmara de Vereadores fez em 2009). Enquanto a necessidade da cidade é por cursos na área de humanas, biomédicas e sociais aplicadas, temos mais engenharias "goela abaixo".

O segundo erro, ao meu ver, foi o de deixar o projeto a cargo da UFSC ao invés de torná-lo independente, com a criação de uma nova Universidade Federal. O exemplo da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) explica muito bem, pois, neste caso, a UFSC foi a organizadora do processo de criação da nova Universidade, mas a autonomia da nova instituição agilizou - e muito - o processo. Todos os campi da UFFS operam atualmente com uma grande diversidade de cursos. E tudo isto aconteceu no meio tempo entre o lançamento da pedra fundamental da UFSC Joinville e o dia de hoje. Para piorar, a UFSC parece não fazer esforço algum para que o campus de Joinville saia do papel, e se contenta com aulas improvisadas em espaços alugados (começou na Univille, depois foi para o antigo elefante branco Shopping América e agora está na Rua Prudente de Moraes). Alunos irão se formar sem nunca ter pisado no prédio da curva do arroz. No mínimo, lúgubre.

Por fim, é espantosa a omissão da classe política local neste assunto. Dificilmente vi, nestes anos de militância na questão, algum deputado (federal ou estadual) cobrar agilidade no processo, ou investigar o porquê disto estar acontecendo em Joinville. Nenhum senador. Três prefeitos diferentes e nada. Nem a própria ACIJ, tão interessada na instalação de mais cursos de engenharia em Joinville (fez um lobby enorme para tal fim), faz declarações firmes pedindo maior cuidado com a UFSC Joinville.

Além de ser vergonhoso, estamos falando do perfeito retrato de como a educação pública superior é tratada em Joinville: sempre no segundo escalão, longe das pautas principais, pois o que importa nesta cidade não é a construção do conhecimento, do debate, da crítica, do desenvolvimento social através da educação. O que importa nas terras da Dona Francisca é o trabalho, a reprodução massiva de moldes sociais, o discurso acéfalo, vazio.

Vazio como o meu sentimento de esperança sobre a breve mudança desta situação.


21 comentários:

  1. Mas porque você acha a localização péssima? Por ser longe da sua casa? Não entendi, cite os aspectos.

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  2. 1 - área alagável segundo a carta de inundações divulgada pela Prefeitura
    2 - área planejada para passar o contorno ferroviário
    3 - longe do centro urbano de Joinville, gerando espraiamento urbano e grandes gastos com infraestrutura
    4 - empreendimento que gera valorização imobiliária e pressão para alteração na legislação urbanística da cidade (vide discussão das ARTs)

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    1. 1- Infelizmente tem que aterrar mesmo.
      2- Ótimo, mais uma oportunidade para qualquer empresa prestar serviço de descolamento ferroviário para pessoas, e não só cargas.
      3- Desde quando gastos com infraestrutura são ruins. O espraiamento urbano é inevitável, e, com ele, bem trabalho, tornar-se positivo.
      4- Qual a novidade? A cidade deve se adaptar e evoluir conforme for crescendo.

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    2. 1 - área alagável não pode receber novas edificações. tem certeza que aterrar é a solução, simples e eficaz?
      2 - o impacto que um contorno ferroviário gera não combina com uma universidade, pela poluição sonora, sem contar que, para comprar o terreno da ufsc, passaram por cima do planejamento já feito para o contorno ferroviário (jênios!)
      3 - espraiamento urbano nunca é positivo. prefiro gastar com infraestrutura nas atuais áreas necessitadas a criar novas e desnecessárias áreas.
      4 - ok, a cidade é resultado de uma demanda social, mas, flexibilizar a lei como estão fazendo na curva do arroz é, no mínimo, ir contra aos preceitos modernos de urbanismo

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    3. Anônimo das 13:28, se o seu desenvolvimentismo fosse tão grande como o seu conhecimento técnico as coisas estariam mais justificadas. Já passou pela sua cabeça que a água que preenche a área alagada tem que alagar outra quando é aterrada? Isto sem falar que para aterrar uma área daquelas foi desmontado um morro da metade do Boa Vista...E daí, ainda acha que preservacionismo e planejamento ambiental é coisa de desocupado?

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    4. 1 - Já que fizeram a trapalhada de comprar um terreno que pega água, das duas uma, ou vende, ou aterra. Sim, simples assim. Eficaz, não! uma obra pública nunca pode-se dizer eficaz, principalmente antes de pronta. Pode sim receber novas edificações.

      2- não combina, mas não é um bicho de sete cabeças. Até parece que o trem vai passar no meio do pátio.

      3- Falaram isso da Univille quando construíram lá. Infraestrutura sempre é bem-vinda, seja lá onde for.

      4- Ou flexibiliza a lei ou vende o terreno. Teus preceitos modernos urbanísticos são, no mínimo, discutíveis.

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    5. Exatamente o que ie falar: Univille, Garten Shopping...
      Sem contar com as características do terreno, achei uma boa escolha. Quem conhece Joinville além do centro, sabe...

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    6. Argumentar com quem acha o melhor caminho flexibilizar leis é f....

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    7. A lei pode e deve ser flexibilizada=modernizada quando a própria impede claramente o progresso. Para verificar se isso é adequado, temos a câmara de vereadores, um poder executivo e um judiciário, além da sociedade civil organizada. Neste caso concreto, e como sempre deveria ser, todos deveriam trabalhar em harmonia, com o objetivo de chegar a um denominador comum, a fim de atender as demandas da sociedade, ou pelo menos para não atrapalhá-las, o que, neste caso, significa que flexibilizar a lei é um passo para solucionar o problema. Flexibilizar aqui significa progresso, modernização, menos burocracia e não solapar as normas como tem gente que enxerga.

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    8. Felizmente eu sou legalista e nunca tive problemas com a Justiça. Seu conselho é o típico presente de grego para qualquer administrador.

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    9. Pois é, para a construção da fábrica da GM não houve quem se opusesse a mudança de zoneamento, já para o campus...

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    10. Legalista? O que você quer dizer com isso? Eu deixei bem claro que não devemos solapar as leis e nem mesmo as instituições, por isso que temos os 3 poderes e a sociedade civil para que, quando uma lei impede a solução de um problema e consequentemente o progresso, ela deve sim ser revista e reavaliada. Não confunda leis regulatórias com normas materiais. Meu conselho é o da harmonia enquanto o seu conselho é o da desavença, arcaico... que só visa tumultuar. O presente de grego aqui é justamente você, praguinhas barulhentas com cabeças de vento.

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  3. Precisamos de engenharias. Chega de "historiadores" esquerdistas frustrados!

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    1. Eh, Joinville! Essa cidade ainda me mata de orgulho.

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    2. Ô Clóvis, como vc acha que Joinville é e continua assim? Infelizmente esse é o pensamento médio da joinvilândia.

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  4. Parabéns Charles, apesar da repetição de frustrações o assunto é sempre atual por se tratar, como disse, de educação na "terra do trabalho". Para complementar, a LOT criou a ART da BR-101 em função do campus da UFSC, mas é claro pensando na acomodação de "pessoas de bem" no seu entorno...

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  5. O "coroné" da foto acima faturou uma grana com essa tal UFSC.

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    1. Qual, o que está a esquerda da placa? O que governou Jlle?
      Que nada... esse tá morto e enterrado.

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    2. Coroné só tem um por aqui, e ele está do lado direito da placa.

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  6. O difícil é que:
    Se escolhem terreno perto da cidade é porque estão pensando nos ricos;
    Se escolhem terreno longe da cidade é porque não estão pensando nos pobres;
    Dai realmente fica difícil agradar.
    Esquecem de que entre o ideal e o possível há uma distância considerável.
    Falando em discursos vazios, gostaria de ver seu projeto sendo apresentado ao povo, que tal?

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  7. Tirando a questão da área ser alagável, o que não é raridade em Joinville, achei o local bem situado, pois, com certeza esta unidade não irá servir somente a estudantes baseados em Joinville. Jaraguá, Massaranduba, Schroeder, Guaramirim, Araquari e Guaruva poderão se beneficiar muito mais de uma Universidade à beira da BR-101 do que de uma universidade cravada no meio de Joinville.

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