terça-feira, 19 de agosto de 2014

Marina Silva tem cacife para vencer?

Foto que circula na internet
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Qual é a margem de erro de uma pesquisa de opinião pública feita quando o velório ainda nem acabou? Não vou fazer contas – é coisa para os especialistas -, mas todos sabemos que os fatores emocionais interferem nas respostas dos eleitores. E a comoção nacional pela morte de Eduardo Campos produziu um efeito instantâneo: alçou Marina Silva para o segundo lugar nas preferências do eleitorado, com 21% das intenções de voto.

Então, qual é a validade da pesquisa? Ora, é um bom método para tomar a temperatura política num momento específico, em que a memória do acidente ainda está fresca. Mas nos próximos dias, assim que esse clima de consternação passar (e, acreditem, passa rápido) a tarefa de Marina Silva começará a ficar difícil, caso o seu nome venha a ser confirmado pelo PSB, como tudo indica que será.

Vamos começar pelo óbvio. Marina Silva é problema de Aécio Neves. A correr o risco de não ir para o segundo turno, o candidato do PSDB vai gastar o seu tempo (inclusive os seus preciosos minutos de televisão) a atacar a ex-senadora. Aliás, os inomináveis chiens de garde aecistas já começaram a disparar sobre a adversária, como pudemos acompanhar em textos publicados ontem nos lugares do costume. É esperar para ver até que ponto a imagem de Marina Silva resiste.

Outro aspecto importante é a imagem da candidata. Marina Silva pode ser alternativa para um voto de protesto, mas não tem estatura para ser presidente de um país tão complexo como o Brasil. De fato, ela é desprovida de conteúdo e cheia de contradições, fato que não escapará aos eleitores. Aliás, tenho a intuição de que quando começar a falar, Marina Silva só tem a perder porque vai revelar as suas fragilidades. E vai dar munição para os adversários.

Exemplo? Mesmo que fruto de um acaso, aparecer a sorrir ao lado do caixão de Eduardo Campos é um azar colossal. A imagem pode atrapalhar as suas pretensões. E vou explicar, para que fique claro: não acredito que ela estivesse em regozijo, mas a imagem é um prato feito para os assessores de qualquer dos outros candidatos. Nada os impede de usar a foto ad nauseum como forma de atacar a sua imagem e estancar o crescimento da candidatura.

A foto tem uma história plausível – até já houve uma explicação – e é óbvio que a ex-senadora não estava feliz. No entanto, há um fato em política: boa parte dos eleitores não entende a complexidade do cargo de presidente, mas entende a simplicidade de um sorriso (que parece matreiro) numa foto. Pessoalmente, lamentaria que ele fosse alijada do processo por causa de uma foto (que ilustra este texto), mas quem está na chuva é para se queimar...

Marina Silva tem fragilidades que ganharão evidência quando ela puser a candidatura na rua. Não vamos esquecer que ela é acusada de ser contumaz em roer a corda dos seus parceiros políticos, o que cria uma imagem pouco aceitável. Ou seja, ela pode até dar uma embolada na disputa, mas com o tempo as suas deficiências irão ficar tão indisfarçáveis que muita gente ainda vai achar Aécio Neves um candidato aceitável.

Enfim, essa conversa de reinício do processo eleitoral, como se tudo fosse recomeçar do zero, é apenas o desejo de alguns. Porque com o andar da carroça as melancias se ajeitam. 


É como diz o velho deitado: “previsões só no final”.

P.S. Este texto foi escrito antes da entrevista de Dilma Rousseff ao JN. Tendo corrido bem ou mal (as opiniões divergem), é provável que a entrevista nada vá alterar nas intenções de voto.

21 comentários:

  1. Parabéns pela analise, vou pegar só um gancho: "Não vamos esquecer que ela é acusada de ser contumaz em roer a corda dos seus parceiros políticos, o que cria uma imagem pouco aceitável." Marina Silva pulou fora do governo Lula quando viu que as suas pretensões de ser a sucessora do Lula começaram a se ofuscar na agilidade e objetividade da então ministra Dilma. Todo mundo fala que foram divergências técnicas, mas é conversa prá boi dormir. Depois, quando não conseguiu juntar 0,35% das assinaturas do eleitorado para fundar a sua Rede, teve que se contentar com o partido do Eduiardo Campos, pessoa que aliás poucos meses antes criticava pois era aliado do PT e representava o velho e a continuidade. Marina Silva hoje congrega ruralistas, homofóbicos e possivelmente toda a direita num segundo turno. Ela representa o novo mesmo?

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    1. Parei na “agilidade e objetividade da então ministra Dilma”.

      Dilma foi escolhida como sucessora porque todos os caciques petistas estavam mais sujos do que pau de galinheiro, só sobrou a ministra de minas e energia (que entregou a refinaria aos bolivianos e cedeu aos desmandos do ex-padre paraguaio sobre Itaipu) para o lulinha paz e amor transferir todo o seu carisma. Já a experta Marina, quando viu toda a podridão do partido dos trabalhadores e a possibilidade de manchar sua “ilibada” imagem, meteu as mãos pelos pés, desafiou Lula e foi mandada embora.

      Dilma é uma PORTA e, como tal, seria a candidata ideal para governar o Brasil (aos olhos do PT, é claro!).

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    2. Não me surpreende... Mas a cartilha você lê, né?

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    3. beijinho no ombro anônimo querido e Dilminha na cabeça...

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    4. Respondendo ao Manoel, não. O PSB/REDE de Marina não representa o novo, o PT de Dilma também não. Porém, mesmo com essa política rançosa e viciada, por incrível que possa parecer, estes partidos são mais atuais do que aqueles formados por esquerdistas extremistas, comunistas de boutique que passam o ano sabático em Paris, rechaçam o capitalismo mas usufruem do melhor que o sistema pode oferecer. PSOL, PSTU, PC do B entre outros merecem orbitar em volta de um partido medíocre feito o PT. Nunca, mesmo com todo marketing esquerdista nas escolas e campis, esses partidinhos esquerdistas canalhas chegarão poder. Contente-se em votar na Dilma.

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    5. /\ Pois é, falou alguém que entende do assunto!

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    6. Não, não entendo do assunto: não sei declinar verbos em latim. Mas qualquer imbecil minimamente informado sabe que o plural de 'campus' é 'campi' o que, obviamente, não é o seu caso.

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    7. Ainda bem que eu não sou um imbecil minimamente informado.

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  2. Essa é mais perigosa do que a Dilma, porque mistura inteligência e intransigência – sobrava só intransigência à Dilma – mas não acho que tenha cacife para ir ao segundo turno. Quanto ao Aécio, digamos que 20% votam no PSDB, outros 30% (contanto com os 40 mi de beneficiados indiretos do bolsa família) seguem, acima do bem ou do mal, a cartilha e votam no PT. Então, sobram 50% de uma população desacreditada que, descontando os votos brancos e nulos, se distribuirão entre Marina, Aécio e Dilma. A tendência a médio prazo é a Dilma perder parte do eleitorado para Marina, é questão de tempo para a população deixar a novela das 9 e a “Malhação” de lado para perceber que a economia está definhando e o desemprego baterá à porta. Porém a ungida Marina não tem propostas a não ser a tal da sustentabilidade. Já as propostas de Aécio baseiam-se no pragmatismo econômico e na transparência nas atitudes do governo junto ao empresariado. A Dilma, bem, a Dilma se arrastará no saco do Lula, pois não tem muita coisa a mostrar senão as obras inacabadas do seu PAC. Se eu fosse o Aécio não me preocuparia, a briga é entre Marina e Dilma mesmo. E no segundo turno, após a apresentação das propostas dos presidenciáveis, não será surpresa que os votos de Marina sejam transferidos ao Aécio, mesmo sem o consentimento da ex-presidenciável, pois a mesma, após a derrota no primeiro turno, retornará a sua “neutralidade”.

    Mas fique com medo não, Baço, esperamos que a sua amabilíssima Dilma vença as eleições e enterre, de uma por todas, o PT do cenário político brasileiro.

    João.

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    1. Não estou preocupado, João. Mas espero que voltes daqui umas duas semanas para confirmar se as tuas previsões não se alteram.

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  3. Baço, você viu a entrevista da Dilma no jornal nacional? Ela falou sem travar!!!! Para os petistas já é o suficiente.

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    1. Ela estava segura. As perguntas eram previsíveis e seguramente as respostas estavam ensaiadas. Bonner errou a mão na pergunta sobre economia. Aliás, os antipetistas só puderam comemorar as perguntas de Bonner, porque as respostas não comprometeram.

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  4. Não acredito que Marina Silva consiga chegar no segundo turno e se chegar, terá o mesmo efeito "pólvora" do candidato Kennedy aqui em Jlle. Existem políticos que nasceram para o legislativo e outros para o executivo, Marina deveria se contentar em ser senadora/deputada, ela realmente é uma mulher inteligente e etc, mas de fato não é administradora e se ganhar, estaremos elegendo um novo Jânio Quadros...
    Quanto a Dilma no JN, acho engraçado o fato de ver ela contra a parede, afinal, ela é sempre autoritária e chega a ser engraçado vê-la contra a parede, mas ela melhorou muito da última eleição pra cá. Só acho que se o PT continuar usando seus 12 minutos de horário político para mostrar a Dilma como guerreira, que não desiste e ficar colocando o Lula com trilha emotiva para falar, a Dilma tende a perder cada vez mais votos. Já cansou esse sentimentalismo. Assim como o sentimentalismo (por mais triste que pareça) com a morte do Eduardo Campos sumirá em breve. Uma pena, pois a longo prazo era uma liderança muito mais viável do que Marina Silva.
    Andy

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  5. "o candidato do PSDB vai gastar o seu tempo (inclusive os seus preciosos minutos de televisão) a atacar a ex-senadora."

    Não vai atacar a Marina. Sua leitura está totalmente equivocada. Marina chegou aos 21% com os votos dos brancos, nulos e indecisos e mais os do Eduardo enquanto Aécio e Dilma se mantiveram intactos na última pesquisa. Marina sempre teve este ativo de votos, no entanto não passa disso. O desafio dela como o de Aécio está em tirar votos de Dilma mostrando as imperfeições do atual governo e convencer o eleitorado a mudar de opinião. Os eleitores de Marina e Aécio não mudam seus votos, o que não faria sentido algum ambos se digladiarem entre si. Aécio tem os eleitores que não são aventureiros, querem o pragmatismo do tripé macroeconômico, já os de Marina são eleitores que têm o total desgosto pela política e acreditam que ela pode ser uma chance de renovação(pura fantasia).

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    1. " Aécio tem os eleitores que não são aventureiros, querem o pragmatismo do tripé macroeconômico,...". Acharam um novo sinônimo para oportunismo e trambicagem.

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    2. Então o tripé macroeconômico é trambicagem e oportunismo? Ó glória! Realmente o Brasil vai de mal a pior...

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  6. O duro é saber que a escolha está entre o RUIM E O MENOS RUIM.
    Mas, o importante é saber em quem não votar.
    O resto... é mera especulação, mesmo porquê, sabemos que quem governa não é, e nunca foi o presidente, por mais que possa se considerar extremamente "complexo" seu papel.
    Considerando que o texto foi escrito antes da entrevista, e considerando a ridícula participação de Dilma, e considerando que o escritor considerou antes mesmo que nada mudaria, acabo entendendo suas posturas e considero que se assim for, realmente continuaremos fritos.

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    1. Eu não votarei na Marina, nem na Dilma, mas publicar uma foto com a candidata sorrindo com o filho do falecido sem levar em consideração um contexto da situação, é forçar muito a barra. Esse tipo de “marketing” é modus operandi do PT contra os seus opositores.

      Eduardo

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    2. E emitir uma opinião sem ler o texto é tolice, Eduardo.

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