terça-feira, 5 de agosto de 2014

A Cota 40 não é negociável


POR JOSE ANTÓNIO BAÇO

Mudei para Joinville no início dos anos 80 para estudar na Faculdade de Engenharia. E fui morar numa república de estudantes chamada Mosteiro Boca Maldita, que ficava num prédio na esquinas das ruas do Príncipe e Abdon Batista. Uma das coisas mais legais do apartamento era a janela do meu quarto, que dava para o Morro do Boa Vista.

Na época ainda não havia prédios e a vista era ampla. Dava para acompanhar o ciclo da vida na cidade pelas mudanças nas tonalidades da vegetação do local. O espetáculo dos jacatirões a florescer e a dar outra cor ao morro é uma das imagens mais marcantes dessa fase da minha vida (a parte chata eram os “palitos” – as antenas).

Eu vinha do norte do Paraná, onde as árvores haviam sido derrubadas para dar lugar às plantações de soja, e tinha uma desconfiança de que aquela beleza toda pudesse acabar em nome do tal “progresso”. Mas um amigo, que fazia projetos arquitetônicos, explicou que a área estava preservada por causa de uma coisa chamada Cota 40.

Fiquei descansado. Aliás, desde então assimilei a expressão Cota 40 como exemplo de civilidade e de respeito pela natureza. É por isso que a formação desse grupo de estudo para analisar a tal cota deixa um elefante atrás da orelha. Qual o objetivo do tal grupo? O que se pretende? Tenho muitas dúvidas. E uma certeza: a Cota 40 não é negociável.

É natural que tenha surgido uma reação dos cidadãos. A simples ideia de mexer em algo que é exemplar soa a disparate. Tenho acompanhado os esforços das autoridades no sentido de desmentir qualquer pretensão de mudar as normas da Cota 40. O problema é que até agora as explicações têm sido pouco consistentes.

Se excluirmos os especuladores imobiliários, duvido que alguém na cidade seja favorável a alterações na Cota 40 (a não ser que queiram baixar para 30, claro). Portanto, o assunto é muito simples: basta o prefeito vir a público e dizer pessoalmente, de forma categórica, que não vai haver mudanças e os eventuais equívocos serão desfeitosAliás, recomenda-se. 

O que foi feito até agora em defesa da Cota 40 (a criação de uma petição pública e a divulgação do tema e debate nas redes sociais) é apenas uma amostra do que pode ser feito. Até este momento a repercussão do tema tem sido limitada. Mas o assunto tem tudo para ganhar uma outra dimensão e alcançar a maioria dos cidadãos.

O político que der guarida à ideia de alterações na Cota 40 está a pôr a sua imagem na linha de fogo. E vai inscrever o seu nome no livro negro da história da cidade.

É como diz o velho deitado: "A paciência dos eleitores tem limite. E o limite é a Cota 40".



P.S.1.: Este texto foi publicado às 05:06min. Por volta das 06h40min o prefeito Udo Dohler  publicou um twitt a garantir que não tem interesse em mudar a Cota 40. Por mim, está respondida a questão deste texto (destaque em amarelo).





3 comentários:

  1. Estão a desviar o foco da LOT, numa clara tática para atrais o vociferante articulista internacional de AN para a seara do debate da Cota 40 e, assim, abrir o caminho para passar o rolo compressor. Para quem não sabe, cota 40 e Jordi são uníssonos de uma mesma estrofe. Ao dissimular a discussão para a já "judiada" cota 40. Sim, pois para quem não sabe, Seinfra e Fundema trocam pareceres mútuos e liberam várias edificações em áreas "já urbanizadas", bastam continuarem escarafunchando, como sempre fazem, e acharão...

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  2. Quando o prefeito fala "(Nós) não temos interesse de mudá-la" ele fala por quem mais? Pelos ambiciosos da gangue do tijolo?

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  3. Alguém já pensou na região de Pirabeiraba? Sabiam que a captação da agua da cidade fica na cota 46? O salão da sociedade Rio da Prata fica na cota 52? Então NADA mais poderá ser construído naquela região? Há várias formas de se interpretar isso. O que não se pode é prejudicar pessoas que dependem de atividades nestes locais.A zona urbana já acaba na entrada da Estrada Mildau em Pirabeiraba. Até lá ainda pode-se edificar até 6 pavimentos. Mas após a LOT aprovada, o máximo será de 9m de altura. Não acho justo favorecer os proprietários do centro e ferrar os do interior.

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