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segunda-feira, 21 de março de 2016

Não vivemos montados num drone...

POR JORDI CASTAN




A perspectiva muda completamente a percepção do que vemos e a forma como vemos. Na medida que nos afastamos do objetivo de observação perdemos precisão. Quem não se deslumbra com a beleza carioca da Bahia de Guanabara? O Corcovado e o Pão de Açúcar formam com Botafogo e Copacabana uma das paisagens mais maravilhosas do mundo. Na distância desaparecem a poluição, os cheiros, a insegurança, o trânsito caótico e só se percebe a beleza de uma natureza impressionante.

Em Joinville, não ficamos atrás no quesito beleza da natureza. A visão do amanhecer na Baía da Babitonga, a Lagoa de Saguaçu, o verde das encostas dos Morros do Boa Vista e do Finder, a linha serpenteante dos rios Cachoeira e Bucarein ou a vista do sol se pondo na Serra do Mar, destacando a silhueta do Jurapé ou do Morro da Tromba, são imagens que impressionam pela sua beleza. Impossível não nos emocionarmos cada vez que as vemos.

Joinville tem se reencontrado com a sua vista desde o alto. Finalmente o mirante do Morro do Boa Vista foi concluído. Os joinvilenses voltam a poder olhar o horizonte desde os 250 metros de altura. Quem escolhe subir a pé acaba por não entender o porquê pavimentar um acesso que não permite o passo de veículos. Será parte dos 300 km prometidos durante a campanha? O coordenador do parque informa que não há um controle do número de visitantes, mas que superam as expectativas. Seria bom saber quanto custou, qual era o valor inicialmente orçado e qual tem sido o custo final. Hora de celebrar? Sim. E também de prestar contas. Com transparência e precisão.

Como não vivemos nem no mirante e nem montados num drone, não são estas paisagens maravilhosas com as que convivemos no nosso dia a dia. A nossa realidade está no nível do chão. A nossa realidade quotidiana é muito diferente. Saber diferenciar entre fantasia e realidade se faz hoje mais necessário que nunca. Ter a capacidade de emocionar-se sem perder o contato com a realidade é o desafio. 

UM BRASIL EM SOBRESSALTO VISTO DO ALTO - E no plano nacional? Nos últimos dias, vimos centenas de cenas aéreas das manifestações do dia 13, imagens que converteram os milhões de brasileiros que se manifestaram numa mancha verde amarela. Na sexta, as imagens das centenas de milhares que foram as ruas para apoiar o governo do PT coloriram de vermelho ruas e praças.  O Brasil do alto fica reduzido a uma massa colorida.

Do alto, é difícil precisar os objetivos de uns e outros, mesmo a quantidade de manifestantes. Os números discrepantes divulgados, pela imprensa, os organizadores e a polícia, mostram o quanto é difícil obter informação precisa olhando desde o alto.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

A Cota 40 não é negociável


POR JOSE ANTÓNIO BAÇO

Mudei para Joinville no início dos anos 80 para estudar na Faculdade de Engenharia. E fui morar numa república de estudantes chamada Mosteiro Boca Maldita, que ficava num prédio na esquinas das ruas do Príncipe e Abdon Batista. Uma das coisas mais legais do apartamento era a janela do meu quarto, que dava para o Morro do Boa Vista.

Na época ainda não havia prédios e a vista era ampla. Dava para acompanhar o ciclo da vida na cidade pelas mudanças nas tonalidades da vegetação do local. O espetáculo dos jacatirões a florescer e a dar outra cor ao morro é uma das imagens mais marcantes dessa fase da minha vida (a parte chata eram os “palitos” – as antenas).

Eu vinha do norte do Paraná, onde as árvores haviam sido derrubadas para dar lugar às plantações de soja, e tinha uma desconfiança de que aquela beleza toda pudesse acabar em nome do tal “progresso”. Mas um amigo, que fazia projetos arquitetônicos, explicou que a área estava preservada por causa de uma coisa chamada Cota 40.

Fiquei descansado. Aliás, desde então assimilei a expressão Cota 40 como exemplo de civilidade e de respeito pela natureza. É por isso que a formação desse grupo de estudo para analisar a tal cota deixa um elefante atrás da orelha. Qual o objetivo do tal grupo? O que se pretende? Tenho muitas dúvidas. E uma certeza: a Cota 40 não é negociável.

É natural que tenha surgido uma reação dos cidadãos. A simples ideia de mexer em algo que é exemplar soa a disparate. Tenho acompanhado os esforços das autoridades no sentido de desmentir qualquer pretensão de mudar as normas da Cota 40. O problema é que até agora as explicações têm sido pouco consistentes.

Se excluirmos os especuladores imobiliários, duvido que alguém na cidade seja favorável a alterações na Cota 40 (a não ser que queiram baixar para 30, claro). Portanto, o assunto é muito simples: basta o prefeito vir a público e dizer pessoalmente, de forma categórica, que não vai haver mudanças e os eventuais equívocos serão desfeitosAliás, recomenda-se. 

O que foi feito até agora em defesa da Cota 40 (a criação de uma petição pública e a divulgação do tema e debate nas redes sociais) é apenas uma amostra do que pode ser feito. Até este momento a repercussão do tema tem sido limitada. Mas o assunto tem tudo para ganhar uma outra dimensão e alcançar a maioria dos cidadãos.

O político que der guarida à ideia de alterações na Cota 40 está a pôr a sua imagem na linha de fogo. E vai inscrever o seu nome no livro negro da história da cidade.

É como diz o velho deitado: "A paciência dos eleitores tem limite. E o limite é a Cota 40".



P.S.1.: Este texto foi publicado às 05:06min. Por volta das 06h40min o prefeito Udo Dohler  publicou um twitt a garantir que não tem interesse em mudar a Cota 40. Por mim, está respondida a questão deste texto (destaque em amarelo).