segunda-feira, 30 de julho de 2012

Respeito é bom...


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Há por aqui um leitor anônimo (espero que seja apenas um, porque se houver mais já será uma burricada) que não perde uma oportunidade para me exigir uma declaração de apoio a Carlito Merss. É uma obsessão do cara. E como eu já estou de saco cheio das abobrinhas desse energúmeno, hoje vou dedicar dois dedos de prosa ao assunto.

Sim, de fato há uma coisa que me liga a Carlito Merss: eu respeito o cara. Mais do que isso, eu respeito a sua história. Não vou ficar a filosofar porque a coisa é muito simples. Eu comecei a trabalhar na imprensa diária de Joinville na década de 80 e nem preciso dizer que era um tempo em que a ditadura - já um tanto enfraquecida, vale salientar -  ainda dava cartas. Permaneciam as estruturas autoritárias e não era fácil peitar o sistema.

É bom lembrar que nesse tempo ainda funcionava a lógica que vinha do tempo dos dois partidos: o partido do “sim” e o partido do “sim senhor” (no papel, o bipartidarismo acabou em 1979, mas os partidos de esquerda só foram legalizados mais tarde). Era o autoritarismo a dominar a vida das pessoas, a impor silêncios. Se na esfera privada as pessoas pensavam em liberdade, na esfera pública pouca gente se atrevia a questionar, brigar ou correr o risco de ir contra o poder instituído.

O jornalista que quisesse fazer alguma reportagem a envolver temas políticos, mesmo os mais irrelevantes, ficava sempre numa situação incômoda. Não havia dois lados a ouvir,  porque o contraditório simplesmente não existia. E não vamos esquecer que por muito tempo Santa Catarina foi governada por oligarquias que estendiam o seu poder por toda a malha social. Mas houve um momento em que surgiu um pessoal de esquerda – Carlito estava entre eles – que tinha os tomates no lugar. Que enfrentava o autoritarismo e mostrava a cara.

É certo que a ditadura perdera muito da sua força, mas ainda havia riscos. Você podia até nem ir preso, mas bastava um simples telefonema de um poderosão e os caras podiam arruinar a sua vida (o famoso "pedir a cabeça"). Eu próprio sou testemunha de que muitos tiveram prejuízos pessoais por terem feito oposição ao sistema. Aliás, pode parecer estranho para os mais jovens, mas houve um tempo em que ter um simples adesivo do Lula no carro podia provocar problemas no trabalho. Havia ameaças de demissão, trabalhadores marcados e aquilo que hoje chamamos assédio moral.

O fato é que como jornalista aproveitei para ouvir também a versão dessas pessoas nas minhas matérias. E como cidadão passei a admirar os caras. Porque finalmente começava a aparecer na cidade uma geração que demonstrava ter coragem intelectual e coragem física para mudar a situação. Aliás, vale o comentário: se é difícil ser de esquerda no Brasil, em Santa Catarina é ainda pior. Porque o fato de uma ditadura acabar não implica no fim da lógica do autoritarismo.

Eis as minhas razões, energúmeno anônimo. Mas duvido que você entenda. Porque parece que a sua noção de militância política é sentar à frente do computador e escrever meia dúzia de besteiras. E com a covardia do anonimato, claro. Os machos do teclado não gostam das pessoas que demonstram coragem física, dão o corpo ao manifesto e vão à luta.

P.S.: Aproveito para fazer uma pergunta: vocês sabem onde estavam, naqueles tempos, muitos desses caras de uma certa comunicação social que hoje faz da crítica Carlito Merss uma profissão de fé? Eu respondo: ou estavam caladinhos como ratos (fazendo do silêncio uma conivência) ou engajados no processo autoritário e aproveitando as benesses do poder para se ajeitarem na vida.

43 comentários:

  1. Sensacional Baço,

    o anonimo não é bobo de encarar um instrutor de taekwondo. rs

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  2. Lembro-me ter ficado impressionado, primeira vez que visitei Florianópolis, no final dos anos 70, o povo, de modo geral, se referia ao chefe oligárquico, com a devoção só vista no "Poderoso Chefão" do Coppola.
    Era outra era.

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    1. Era? Não tenho tanta certeza, André. Acho que esse período deixou muitas marcas de autoritarismo na cultura catarina.

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  3. Sobre a década de 70 e 80 eu não posso opinar, afinal sou de 1980.
    Lembro-me do PT enquanto oposição, fazia barulho, muito barulho. Lembro-me também que os ideais do partido, antigamente, lembram em muito partidos como PSTU, PSOL entre outros.

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    1. Nascer na década de 80 não impede o estudo da História. E o estudo da História pouparia o trabalho do Zé de ficar desenhando algumas coisas para certos anônimos.

      Apesar de inacreditável, é comum ver gente defendendo a ditadura civil-militar hoje em dia. É simplesmente inacreditável, mas tem sua explicação: a própria ditadura se encarregou de destruir a Educação no país. Gente educada a culta não interessa aos poderosos.

      No mais, acredito que é possível fazer oposição ao Carlito e mesmo assim respeitá-lo. Aliás, me parece o lógico.

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    2. É engraçado ler de um mal educado como o "Felipe" posição sobre o tema educação.

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    3. Felipe, falo de vivência (prática), ler sobre guerra não é o mesmo que segurar uma metralhadora.

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    4. Mas isso te impede de ter uma opinião sobre a guerra?

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    5. Alexandre, me desculpe, concordo com o Felipe.
      Quer dizer que para saber sobre um estupro é preciso ser um estuprador ou um estuprado? É praticamente o que você diz às 14:13... "falo de vivência (prática), ler sobre guerra não é o mesmo que segurar uma metralhadora."
      Colorado

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  4. Não sei se eu teria parado para dar explicações à um anonimo, mas sua atitude foi muito digna.

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  5. Nascer na década de 80 ou 90 não impede ninguém de estudar História, o que pouparia o trabalho do Zé de ter que explicar essas coisas a certos anônimos.

    Apesar de inacreditável, é comum ver gente que defende a ditadura civil-militar. É inacreditável, mas não inexplicável: a própria ditadura se encarregou de destruir o sistema educacional brasileiro. Um povo culto e educado não interessa aos poderosos.

    No mais, acredito que é possível fazer oposição ao Carlito e ainda assim respeitá-lo. Não só possível, mas também o lógico.

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  6. Meu caro Baço,

    Realmente, foram anos terríveis. A sorte (ou azar, não sei) é que ignorávamos tudo o que realmente acontecia, pois a imprensa era mantida totalmente amordaçada. A única coisa que entendíamos com clareza era que com certas pessoas e assuntos não se mexia.
    A partir da década de 80 as coisas começaram a ficar mais claras, e tomamos consciencia do que realmente aconteceu e ainda estava acontecendo. Até porque iniciava-se uma política de distensão comandada pelo próprio regime, a partir do governo Geisel.
    Mas posso confirmar, pois vivi aquela época, que apesar dos ventos democráticos que voltavam a soprar, durante a década de 80 aqui em SC a coisa continuava dura.
    Como voce disse, um simples adesivo do Lula (que na época era a única esperança, bem diferente de hoje) decretava prejuizos pessoais ao "abusado". E posso afirmar que nem era necessário vestir a camisa do PT ou usar adesivo. O simples fato de voce cuidar do seu trabalho sem se envolver com política já era considerado como declaração de guerra. Na empresa estatal onde eu trabalhava à época, meu superior deixava bem claro: quem não está comigo, está contra mim. Como não fiquei com ele, e apenas dei prioridade ao meu trabalho como funcionário, passei alguns anos "na geladeira", sem promoção salarial ou ascensão funcional. E olhe que eu era totalmente apolítico.
    Varios colegas passaram pelo mesmo.
    Só na década de 90 a coisa voltou ao normal.
    E apesar disso tudo, a gente comprava a edição semanal de "O Pasquim" pontualmente nas bancas de Joinville (começou a chegar aqui a partir da edição com a entrevista de Dina Sfat e Paulo José, até o fim. Acho que era a ed. 35)
    Hoje, não há como negar que algumas coisas são bem mais fáceis. Existe o conceito do políticamente correto, leis que previnem assédio moral nas empresas, Justiça do Trabalho e Ministério Público, instituições e mecanismos aos quais todos podem recorrer.

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    1. Pois é, Nelson. Mas acho que ainda hoje rola essa coisa de "pedir a cabeça". Só os atores é que são outros...

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    2. Nelson, bem lembrado, meu pai falava algo parecido sobre essa época, e ele trabalhava em uma empresa privada.

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  7. Ditadura é ruim, democracia é bom. Nem direita nem esquerda são sinônimos ou antônimos de um ou de outro.
    Para existir democracia é necessária a oposição e muito salutar a alternância, o que me deixa perplexo é em tão pouco tempo supostos opositores do autoritarismo passarem a defende-lo e pratica-lo.

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  8. Ok ok ok sr. de todas as teses e instrutor de Taekwondo, eu sou um cabaço, burro, idiota, imbecil, tonto, panaca, retardado, doido, inútil, inerte, estúpido, desnorteado tolo, incapaz e endemoninhado. Porém, talvez pelo meus atributos já descritos, ainda acho que seus argumentos não se sustentam, são frágeis como as desculpas de Carlito aqui em Joinville. Sobre ditadura, autoritarismo e outras bobagens que vomitas aos olhos do energúmeno aqui, deixo outro questionamento. No jornal "A Notícia" para o qual escreves "Sempre aos domingos", você possui a tal liberdade que pregas? Tens a liberdade de criticar, como faz aqui, os desafetos de Carlito? E seu idolatrado Carlito Chilique Merss, não adotou a mesma prática ao comprar o silêncio dos meios de comunicação com recursos oficiais? Ora sr. de todas as teses e instrutor de Taekwondo, não humilhes mais a cavalgadura aqui, só responda e mostre a verdadeira face, se-dispa de sua pesudo intelectualidade petista.

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  9. O Brasil mudou da ditadura militar para a ditadura da corrupção.

    Rogério.

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    1. Parabéns, Rogério, por ignorar que o período da ditadura foi o mais fértil para a corrupção.

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    2. Felipe, os milicos roubavam também.
      Mas a roubalheira era infimamente menor, eles também se cagavam nas calças. Não tinham CPI tá certo. Hoje temos, e daí? Alguém já viu algum dinheiro voltar aos cofres públicos?
      Veja bem, não estou a defender a milicada, longe disso. Eles também ceifaram a vida de alguém que me era muito caro.
      Galo

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    3. Quem disse que a ditadura militar não foi corrupta? o que eu quis dizer é que mudaram as moscas mas merda ficou a mesma.

      Rogério

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    4. Vamos falar de corrupção? Vamos começar pelos socialistas?

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    5. Em democracia a corrupção aparece... já nas ditaduras...

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    6. Enfim, poder centralizado, nunca é bom.

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    7. Foi o que eu disse. Na ditadura não tinha CPIs. Ouvi da boca de um senhor que usou a farda do exército: "os milicos meteram a mão na cumbuca, mas muito, muito pouco... muito pela rigidez e punição que a própria instituição mantinha". Essa conversa foi lá pelo início da década de 90. Agora temos CPIs aos rodos e parece que nunca criam vergonha na cara. A roubalheira continua sem freios. E o pior de tudo, é a gente não ouvir dizer que um centavos sequer foi devolvido aos cofres públicos. Porque com certeza já estão a engordar a conta dos corruptos e seus comparsas, lá nos paraísos fiscais. Ou aqui mesmo, com belas mansões, carrões, viagens internacionais para si e amigos, misses (eu disse miss, não missa) e por aí vai. Como diria mamãe: "cambada de FDP..."
      Galo

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    8. Só para lembrar: o golpe e a ditadura não foram apenas militares. Ainda que os milicos tenham sido os protagonistas de um e de outra, eles não governaram sozinhos - entre seus acólitos, aliás, esteve o principal coronel da política catarinense. Além disso, boa parte da sociedade civil (aí inclusos orgãos de imprensa hoje preocupados com a liberdade de expressão) apoiou e emprestou legitimidade ao autoritarismo reinante naqueles 20 anos.

      Isto posto, fica a questão: acreditemos, por um momento, que os milicos "meteram a mão na cumbuca, mas muito, muito pouco..." - o que eu, particularmente, duvido. Pode-se dizer o mesmo dos civis que ocuparam funções ministeriais, que foram senadores e governadores biônicos, que presidiram estatais?

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  10. E dai Baço? Grande coisa. Você viveu apenas a mudança de um ciclo. Os jovens de hoje terão a mesma impressão que tinhas dos oligarcas em relação ao Carlito e ao PT. Terão "afeto" por novos "Carlitos", ainda não contaminados, e serão os futuros "Baços" e cabaços do amanha, defendendo-os quando os novos Carlitos assumirem o poder e se tornarem os oligarcas do futuro, sem perceberem que novo idêntico ciclo adveio.

    Se apegas em algo que não existe mais, és um saudosista de fatos que nunca existiram.

    Bem vindo a raça humana.

    TW

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    1. Não é a toa que é o pior com esse nível de "argumentação"

      "E daí, sou ignorante mesmo!!"

      É mais ou menos por aí.

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    2. "E daí, sou ignorante mesmo!!"

      Quem bom que admites sua ignorância. É o começo da mudança. Parabéns.

      TW

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  11. É Baço...com tantas teses,acho que o anonimo te achou tesudo demais!!hahahahahahahahahaha! Noís sofre mas nóis goza!!

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    1. Eu gosto desse cão sarnento ahahahahahahah (esses zóinhos)
      Anônima

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    2. Falei que a Anonima tava se apaixonando...eu preciiiiiiiiiiiiiiiiiso!!!!

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    3. Isso aqui tá parecendo o tal do feicebuqui casamenteiro, sô...

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    4. Eu acho que querer diminuir o terror e a dor da ditadura militar é no mínimo uma infâmia. Um regime que prendeu, torturou e matou muitas pessoas. Países um pouco mais civilizados que o nosso já botaram vários torturadores na cadeia.
      Se acham que os esquerdistas de ontem são os reacionários de hoje, tudo bem, temos vários exemplos como Serra, FHC, até o nosso LHS.
      Agora não dá nem prá comparar a liberdade que temos hoje com a dos anos 60 e 70.
      E uma coisa o Baço tem razão: até hoje colocar adesivo de partidos de esquerda no carro pode gerar demissão em Joinville.

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    5. Aí Maneca, não estou a defender a ditadura militar. Aos meus olhos, cada um tem que ter a liberdade de fazer e dizer o que quiser. E o principal: com quem quiser :)eheheh ... Mas tenho a sensação que não estamos livres da tortura. Hoje ainda é pior: é legalizada! Os caras roubam na cara dura, você paga milhões de impostos e no final, todos se reuniem para brincar com a melhor champanhe francesa.
      É pura sacanagem. Será que se a gente participasse desta roda, também faria parte desta sacanagem?
      Galo

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    6. É uma questão de opção Galo, eu por exemplo jamais faria parte desta roda exatamente pelo motivo que não dançaria a musica. Admiro os que estão lá e resistem à dança (e são os que receberão o meu voto).

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  12. Onde andava o Tebas na época da ditadura? Aposto que era um líder político que liderava as massas contra os milicos... Max

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    1. ahahahahah... tás de piada, 20:49?
      Colorado

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  13. Parabéns BAÇO,
    dito e bem dito!
    du grego

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  14. Bom texto, Baço. Embora continue de esquerda (até porque, a outra opção é ser de direita) tenho, hoje, inúmeras reservas ao PT, e não apenas ao joinvilense. Mas as reservas de hoje não mudam o lugar que o partido e suas lideranças (algumas delas, dissidentes) tiveram nos anos derradeiros da ditadura.

    Em Jville., particularmente, lembro também da barra pesada que era ser de esquerda nos anos 80 e conheço pessoalmente gente que foi ridicularizada, estigmatizada, perseguida e mesmo agredida fisicamente, por conta de suas opções políticas.

    Quanto ao anônimos (ou anônimos) que vive a demandar uma "posição" de sua parte, talvez ele se encaixe naquela definição que deu de fascismo o Roland Barthes: "Fascismo não é impedir de dizer; é obrigar a dizer".

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  15. Tambem respeito o Carlito por sua historia. O que nao suporto nele é aquela velha cantilena de esquerda de sempre culpar o passado para justificar o presente. O agora gestor tem que fazer acontecer. O discurso desgastado de que a culpa pelo marasmo é da imprensa, das gestoes anteriores, da oligarquias nao cola mais.Carlito tem que se libertar de sua historia e agir.
    Jelo

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  16. Muito bom o texto. O que me indigna é a cara-de-pau de alguns setores em culpar uma administração de 4 anos, enquanto os problemas a cidade são crônicos e não se resolvem em 4 ou 8 anos coisas de décadas. Carlito paga o preço de romper com o status que sempre foi dominante na cidade: A administração dos Barões econômicos, sem o mínimo interesse com o coletivo!!!!

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