O que vimos
na “mininfestação” (mini+infestação) do último domingo? O bas-fond da sociedade
brasileira saiu às ruas. Bas-fond? Sim. Apesar de terem rechonchudas contas
bancárias, representam o que há de moralmente mais apodrecido em terras
tupiniquins. Aliás, muitos não saíram propriamente às ruas. Em Joinville, por
exemplo, os caras foram às ruas a bordo dos seus carros. Afinal, essa coisa da
“luta política” exige sacrifícios, mas não é preciso exagerar. O dia estava
quente.
E houve
para todos os (des)gostos. Alexandre Frota posando de artista - e do bem. Tradição,
Família e Propriedade no túnel do tempo a propor a era das trevas. Marombeiros que
apareceram na fotografia de forma acidental. Uma professora paranaense com um
sério déficit cognitivo. Um senhor que, num cartaz, pedia Tiririca na
presidência (será ironia?). Muitas bandeiras dos Isteitis. Uma micareta ridícula feita por dançarinos apatetados. E um inacreditável flashmob num shopping, protagonizado por militantes de ar condicionado.
Uma senhora
entrevistada pelo jornal português “Público” se disse decepcionada com a pouca
adesão à manifestação. E deu mostras de quanto o brasileiro é solidário: “Sabe quando vai encher? No dia em que
ela cortar o Bolsa Família daqueles filhos da puta. Aí vai encher”. Sim, você
leu direito. Para essa senhora, que é gente de bem, os beneficiários dos
programas sociais não passam de uns “filhos da puta”.
Aliás, a manchete do “Público”
foi muito feliz. O jornal lusitano anunciou que o “Tea Party brasileiro” tinha
saído às ruas. É a comparação que melhor define essa tranqueira que no domingo espalhou
bílis em muitas cidades do Brasil. Gente que faz da ignorância um culto e da intolerância uma
profissão de fé. Só é pena que a maioria nem saiba o significado de Tea Party.
A qualidade intelectual dos caras não dá para tanto.
Mas há outros detalhes
interessantes. O primeiro é a acentuada queda do número de participantes, que
chegou a cerca de 70% em São Paulo. Outro é o envelhecimento dos
protestantes, uma vez que a idade média passou dos 39,6 anos em março para 48,2
anos no domingo. É caso para pensar. Essa gente deve ter pelo menos sentido
alguns eflúvios da ditadura. Já era tempo de terem juízo e deixarem dessa coisa
de golpe.
É a dança da chuva.