terça-feira, 1 de outubro de 2013
Esse e o transporte público que você quer?
POR JORDI CASTAN
É um vai e volta. O tema da licitação do
transporte coletivo em Joinville acaba por vir sempre à tona. Não sai nunca de
pauta, porque é um tema em que o poder público optou pela conveniente
procrastinação.
Quem é o maior beneficiado – ou beneficiados
– com a prorrogação da situação atual? Esta é uma pergunta que tem muitas
respostas. A única resposta que não encaixa é esta: o que o usuário do
transporte coletivo ganha com a postergação da licitação?
Que não haja um amplo debate com a sociedade
sobre o modelo a ser implantado em Joinville, ou que depois de anos de estudos
o que se proponha seja mais do mesmo, é uma prova que falta capacidade para ir
além do trivial. A demora é provocada mais pelo esforço em manter a situação
atual e menos pelo fato de que se possa estar elaborando uma proposta moderna,
avançada e melhor que a atual.
Alguns dos pontos que têm vazado, de forma
pontual e parcial, devem servir para iniciar o debate, que este post relançar.
O primeiro ponto é que as atuais permissionarias têm direito a um passivo
econômico significativo por conta das vezes que os prefeitos de plantão fizeram
politicagem com o preço da passagem. Seja concedendo aumentos abaixo do cálculo
da planilha, seja postergando aumentos que, se concedidos, poderiam se converter
em argumento dos oponentes durante a campanha eleitoral. Essa situação cria uma
vantagem significativa para as atuais operadoras do sistema.
Outro ponto a ser destacado é a contratação
por parte da Prefeitura Municipal de uma empresa de consultoria especializada,
para auxiliar na elaboração do modelo de licitação. Não haveria problema se,
pasmem, a consultoria fosse a mesma que presta serviços para as empresas Gidion
e Transtusa. Uma situação no mínimo estranha. Pode ser que haja poucas empresas
de consultoria nessa área, mas a situação e no mínimo estranha.
Também o tema do número de empresas que
operarão o sistema vem com frequência à tona. Neste quesito, chama a atenção
gente que, com pose de esclarecido, defenda a teoria que a participação de um maior
número de empresas reduzira a tarifa. Defendem os que acreditam nessa falácia
que mais empresas operando sistema, haverá una tendência baixar o preço da
passagem.
Alguns pontos são evidentes. A falta de
noções elementares de como funciona o serviço público, o desconhecimento de
economia básica e a dificuldade de lidar com preços diferentes para o mesmo
serviço. Como se fosse possível que cada empresa praticasse uma tarifa
diferente ou dizer agora que o preço atual esta muito alto e deveria baixar. Se
o preço atual estivesse alto, os prefeitos anteriores não precisariam aumentar
tanto a tarifa e tampouco haveria um passivo acumulado.
Se ao longo do tempo a tarifa tem aumentado
muito acima da inflação, e o poder público tem concedido os aumentos solicitados
(depois de fazer um pequeno jogo de cena para iludir a patuleia) é evidente que
o nosso sistema é cada vez mais caro e menos eficiente. Não há nenhuma
sinalização no sentido de reduzir o custo pela melhoria da eficiência.
Um bom
exemplo disso é a passagem única que encarece de forma brutal os percorridos
curtos e subvenciona os trajetos mais longos. Contribuindo a uma cidade mais
espalhada e menos eficiente. Se a passagem entre o Terminal Central (um
anacronismo) e a estação da memória custa o mesmo valor, uma viagem entre o Rio
Bonito e o Catarinão é evidente que há um desajuste, em quanto um é muito caro
o outro esta subvencionado.
Também o número e a proximidade dos pontos
de ônibus, contribuem para um sistema menos eficiente. Os especialistas asseguram
que o para e arranca consome muito combustível, pneu e aumenta o tempo de
viagem e cria mais desconforto para passageiros.
Como último ponto, deste que pretende ser o
início de um debate, trago a falta de propostas concretas sobre o modelo de
transporte coletivo que fica firmemente ancorado no passado, baseado na matriz
dos combustíveis fósseis. Em que o pneu o petróleo são o modelo e não há espaço
previsto para que a fantasiosa Joinville do milhão de habitantes nos próximos
30 anos projete um sistema de transporte coletivo diferente do atual ancorado
firmemente no século passado.
segunda-feira, 30 de setembro de 2013
Matar Hitler ainda criança
POR ET BARTHES
Atenção, não é um comercial da Mercedes. É apenas um comercial de estudantes de cinema alunos da Academia de Cinema do estado alemão de Baden-Württemberg. Mas está muito bem feito tecnicamente que até parece.Só a ciclofaixa não funciona
POR CHARLES HENRIQUE VOOS
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Fonte: http://anoticia.rbsdirect.com.br/imagesrc/7255243.jpg?w=620 |
Até pouco tempo, acreditava na ciclofaixa como uma solução para amortizar o conflito existente entre bicicleta e automóvel. Acreditava também que ela era a solução mais barata, visto que os órgãos públicos possuem pouco poder de investimento. Pensava na ciclofaixa como o primeiro caminho para repensar o papel da cidade, abrindo espaço para os modos não-motorizados de transporte. Olhava para a ciclofaixa como uma maneira de abrigar os mais de 11% dos deslocamentos feitos por bicicleta na cidade. Triste engano, confesso.
Está muito claro que a ciclofaixa não dá segurança. Tachões e pintura diferenciada não impedem de um acidente acontecer. O ciclista, juntamente com o pedestre, não possuem condições de concorrer com o automóvel no mesmo espaço, devido à potência do motor destes. E cada vez mais as ciclofaixas estão ficando estreitas, desconexas, e longínquas das vias secundárias (perfeitas para eliminar o conflito intenso com os modos motorizados de transporte).
Precisamos parar de medir ciclofaixas pelos quilômetros, mas medir a quantidade de pessoas transportadas em segurança por dia. E se esta conta for feita corretamente, o déficit é enorme, considerando todos os fatores que ocasionam a sensação de insegurança da ciclofaixa.
O que resolve, então?
Primeiro, as utopias (pois está longe de aparecer algum Prefeito no Brasil que pense assim): adensamento urbano e criação de vias segregadas para o ciclista (as famosas e quase esquecidas ciclovias). Adensar a cidade significa se locomover pouco para os afazeres diários. Se a locomoção é curta, a bicicleta pode ser uma boa opção, pois é rápida, custa pouco, e é ambientalmente correta. Ou ainda: se a cidade é adensada, o transporte coletivo pode ser mais eficiente e incluir mais pessoas, eliminando a necessidade de se ter um carro, conforme já expliquei aqui, aqui e aqui.
Por outro lado, a realidade: tirar as bicicletas das principais ruas da cidade, "colocando-as" em vias secundárias e alternativas. Infelizmente, o automóvel domina a nossa sociedade, ainda mais uma cidade como Joinville, onde quase 1/3 dos deslocamentos são feitos por este modo de deslocamento. Não há como concorrer. O poder público, então, necessita pensar em formas diferenciadas para quem usa a bicicleta, e não apenas incentivando o conflito com um tachão de "anjo da guarda". Entre andar junto aos carros ou andar em vias com menos tráfego, com ciclovias e maior respeito, preferiria a segunda opção, sem dúvidas.
Enquanto uns pensam que "todo cidadão terá seu carro um dia", outros pensam que "a cidade será do cidadão um dia". De que lado você está?
domingo, 29 de setembro de 2013
Os três porquinhos de Alana
POR FABIANA A. VIEIRA
Circula na internet um vídeo extremamente carismático de uma criança de Pinhalzinho (http://www.youtube.com/watch?v=eEZOrLmstYo) e que já ultrapassa 250 mil visualizações. Dotada de notável precocidade intelectual a menina Alana conta a história dos três porquinhos para sua mãe.
É sempre saudável e contagiante a vivacidade das crianças inocentes. Uma sensação gostosa brota de comentários pueris, ingênuos, desprovidos de construções intelectuais próprias dos tempos modernos em que a versão importa mais do que o fato. Neste mundo encardido pelo mau humor da indiferença e pelo terror da violência urbana, um sentimento de alegria que brota do nada é quase como um desses vírus de cinema futurista que parece ameaçar o extermínio de toda a humanidade.
A criança conta que os três porquinhos estavam construindo suas casinhas e eram amedrontados por um terrível lobo. O lobo pegou os porquinhos e os levou para sua casa. E quando a gente espera o lado trágico da história, Alana simplesmente diz que os porquinhos viraram nada. Um tempo depois, um suspiro e ela conclui: “viraram carne”. Para apimentar ela acrescenta: “que tristeza né?”. É claro que numa região dominada pela pecuária suína falar que o porquinho virou carne pode parecer uma rotina. Mas a conclusão, da forma como delicadamente é apresentada, emociona.
Outro vídeo, chamado de “o anúncio tailandês que fez todo mundo chorar” (http://www.youtube.com/watch?feature=player_detailpage&v=kuBNEs-1vTc) também é pródigo de mensagens humanistas. Neste anúncio um pequeno comerciante socorre um menino que está sendo castigado por ter roubado medicamentos para a sua mãe doente. Trinta anos depois a história vai reconhecer esse gesto de compreensão.
O sorriso espontâneo de Alana alimenta esperanças. E o tailandês generoso mostra que o futuro depende das ações do presente. É por isso, porque acredito que não podemos nos render aos pessimismos do século, que endosso outra campanha que acho genial: “Gentileza gera Gentileza”.
Para quem não sabe a expressão é de José Datrino, o Profeta Gentileza, paulista que nos anos 80 fazia inscrições humanistas nos viadutos e que plantou um jardim no lugar das cinzas do Gran Circus Norte-Americano, que pegou fogo em Niterói em 1961 e matou 500 pessoas, quase todas crianças. Nesta oportunidade o Profeta abandonou sua vida material e passou a cuidar das famílias desamparadas.Marisa Monte gravou “Gentileza” para lembrar as inscrições do poeta que foram apagadas pela tinta cinza dos viadutos.
Isso tudo recomenda que é preciso se emocionar. Obrigada Alana, pela inspiração para esse texto.
sexta-feira, 27 de setembro de 2013
Sobre espaços públicos
POR FELIPE SILVEIRA
Na discussão sobre o uso dos espaços públicos em Joinville, um comentário me chamou muito a atenção. Bastante gente falou sobre a impossibilidade de levar as famílias/crianças aos parques e praças quando estes são tomados pelos jovens, que “fazem baderna” (como beber, fumar, fazer malabares e usar drogas) e deixam tudo sujo. Apesar de achar que há um exagero nesse comentário, acredito também que ele tenha alguma razão de ser e que é preciso pensar sobre o assunto para achar uma solução - e não apenas empurrar “soluções” goela abaixo, de um lado ou de outro.
A cultura joinvilense não é a do uso do espaço público. Foi nos anos 60 e 70, com a necessidade de manter o controle da sociedade, transformada pela forte migração de trabalhadores, que se criou a cultura do lazer no espaço privado. Assim, as recreativas das empresas tomaram o espaço dos parques e praças da cidade, que foram abandonados e marginalizados. Eu mesmo cresci, nos anos 80 e 90, vendo a praça Dario Salles como um lugar marginal e frequentando a recreativa de grandes empresas da cidade, onde pai e tios trabalhavam.
A recreativa, porém, é muito diferente da praça. Ela é uma extensão do trabalho, onde o trabalhador e sua família é vigiado pelo patrão e pelos colegas. É preciso andar na linha e essa cultura é muito forte ainda hoje. Quem trabalha ou trabalhou no chão de fábrica (meu caso) sabe como é.
No entanto, na última década, e mais fortemente no governo Carlito Merss (2009-2012), os espaços públicos começaram a ser tratados de outra maneira pelo poder público. E, como o próprio Carlito dizia, a partir de uma demanda da população, que votou maciçamente para investir em áreas de lazer na experiência do Orçamento Participativo.
Digo isso para chegar à seguinte conclusão: temos pouquíssimos espaços públicos de lazer e uma cultura de convivência que ainda engatinha, pois ainda é assolada por uma ideia de sociedade vigiada e controlada pelo poder do capital.
É, então, por isso que eu imagino que um “joinvilense tradicional” tenha dificuldades para dividir o espaço com adolescentes barulhentos com cabelos esquisitos e coloridos que deixam garrafas de cerveja e chepas de cigarro espalhadas pelos parques.
Acredito, portanto, que é preciso construir essa cultura de convivência nos parques e praças. E é curioso porque a própria ideia de uso dos parques e praças tem esse objetivo de ser um lugar de convivência. Essa construção, na minha opinião, poderia começar pelos seguintes itens:
1) Investir na criação de mais espaços públicos e na estrutura dos que já existem. Ainda há poucos parques para serem usados pela população. Eu, por exemplo, estou procurando uma casa para alugar que fique próxima ao Parque da Cidade, pois gosto de jogar basquete, correr e fazer exercícios por lá. Se tivesse um espaço no Saguaçu, onde moro, no qual eu pudesse fazer isso, eu certamente faria bem mais uso do que faço atualmente. A mesma coisa vale para o Parque das Águas, ao lado da Cidadela Cultural Antarctica. Gostaria de fazer mais piqueniques lá, mas já desanimei várias vezes por ser longe de casa.
2) Trabalhar uma cultura de pertencimento da comunidade. O espaço público tem que ser usado e cuidado pela comunidade do local onde ele está inserido. Às vezes ele é visto pela própria comunidade como algo ruim, por causa da “baderna”.
3) Trabalhar contra a demonização da juventude. Eu sei que às vezes somos mesmos uns “demonhos” (pra ficar no dialeto local), mas não é tanto como as pessoas mais conservadoras veem. Tem barulho, tem bebida, tem fumaça, mas isso não pode ser visto como coisa do tinhoso porque simplesmente não é. Tem um preconceito de classe e estético aí que tem que ser combatido.
4) Trabalhar a conscientização em relação à limpeza. Eu, sinceramente, não sei como alguém tem coragem de ir num lugar, sujar e sair sem pelo menos ficar constrangido. Mas sei que isso existe e que vai ser assim por um bom tempo. É preciso trabalhar pela conscientização de todos em relação a isso. Não só da juventude, que muitas vezes sai como culpada por um problema que é de todos. Não isento, porém, a prefeitura da responsabilidade de limpeza e manutenção desses espaços.
Esse é somente o princípio de um diálogo que deve envolver a todos. Essas são as minhas sugestões para resolver o problema, sem pensar tanto em culpar um lado ou outro. E vocês, têm alguma sugestão?
Em tempo, sobre a tragédia em São Chico
Todo o meu apoio e solidariedade aos cidadãos de São Chico e aos bombeiros, policiais e outros profissionais que estão trabalhando para resolver o problema. É uma situação muito triste para as pessoas, para a fauna e para a flora de uma das regiões mais lindas do Brasil. Ainda há muitas dúvidas a respeito das consequências e eu torço para que sejam as mais amenas possíveis.
quinta-feira, 26 de setembro de 2013
Humildade, pés no chão e bola no gol!
POR GABRIELA SCHIEWE
O jogo começou de um jeito, com o time sem coesão e a torcida sem emoção e a Copagril só na pressão.
Os minutos se passavam, as jogadas não fluíam, a torcida não se manifestava e a Copagril, em peso, atacava.
Mas aí, aqui tem Vander e se tem Vander, é isso aí, bola na rede e a torcida saciou a sua sede e a o time técnico da Krona a Copagril não mais deteve.
Segundo tempo, goleiro linha, equilíbrio até o gol contra de Rangel e a torcida chegou no céu!
E como o jogo começou, ele terminou, time e torcida na mesma batida.
Krona jogando com emoção, torcida fazendo pressão e a Copagril sucumbiu à tricolor nação.
Nada faltou, a vitória aconteceu, a torcida estremeceu é a classificação aconteceu.
Nelson Possamai sai da CAJ
POR ET BARTHES
Nelson Possamai, presidente da Companhia Águas de Joinville e sócio da Global Logística, onde ocorreu o acidente químico de São Francisco do Sul, pediu demissão. O prefeito Udo Dohler ainda não tem substituto. O comunicado da prefeitura.
Bizarro, muito bizarro!
POR CLÓVIS GRUNER
Em seu último texto, o Charles Henrique listou alguns dos
eventos bizarros que marcaram a semana em Joinville e região. Gostei da ideia,
nacionalizei os parâmetros de busca e inspirado no Stanislaw Ponte Preta, decidi
listar o meu próprio Febiapa, o Festival de Bizarrices que Assola o País. A
lista, claro, não é definitiva. Bizarrice é como ônibus em Joinville: sempre
cabe mais um.
ERA PRA SER UM FESTIVAL DE ROCK – Mas virou um samba do
crioulo doido. Pode ser purismo, mas mesmo com o showzaço do Bruce Springsteen é
difícil engolir Beyoncé e Justin Timberlake.
“Ah, mas o Brasil é um país rico e eclético musicalmente, então é super normal ver
a Ivete Sangalo no Rock In Rio”. Tudo bem, mas então por que ninguém chama o Iron
Maiden para tocar no carnaval da Bahia?
Pelo menos o espírito rebelde do rock esteve presente na
noite em que tocou o Capital Inicial. Claro, já não se fazem discursos como
antigamente, mas ninguém tem culpa do Dinho Ouro-Preto não ter a mesma
eloquência, sei lá, de um Renato Russo. A ironia é que no auge do Brock, os
anos de 1980, o Capital era uma banda meio coadjuvante; quem frequentava a
primeira divisão eram a Legião Urbana, Ira!, Titãs. Mas como as bandas da
primeirona ou acabaram ou viraram caricaturas de si mesmas, inesperadamente sobrou
ao Capital encarnar nos palcos o que restou da década. É foda cara, diria Dinho
Ouro-Preto. Eu acho bizarro.
UM PARTIDO PARA OS “HOMENS DE BEM” – Cansados de passar os
dias de pijamas lendo Reinaldo Azevedo, os militares decidiram que é hora de
colocar o bloco na rua e estão empenhados na viabilização do Partido Militar Brasileiro (PMB).
E que ninguém os acuse de serem despretensiosos: “100% democrática”, a sigla
pretende mandar menores infratores para a cadeia, garantir o porte de armas
para homens de bem (não dizem nada sobre as mulheres) e instituir a prisão
perpétua. E se depender do PMB, beneficiados pelo Bolsa Família não votam – talvez
o primeiro passo para a volta do voto censitário.
O embasamento teórico do novo partido vem da fina flor do
pós-estruturalismo. Diz a cartilha do PMB que o “filósofo Michel Foucault
pregava a segregação das pessoas nocivas à sociedade, para evitar que elas
viessem a cometer novos crimes, protegendo a população de bem”. O PMB jura que
está tudo lá no “Vigiar e punir”, o mesmo livro onde, segundo Reinaldo Azevedo,
Foucault defendeu que “o castigo físico é preferível
às formas que entende veladas de repressão postas em prática pelo estado
moderno”. Eu nunca li nada disso em Foucault, apesar de conhecer toda a sua
obra. O PMB e o “tio Rei” ou não conhecem ou não entenderam Foucault, apesar
da referência. São desonestos ou ignorantes, portanto. Bizarros, de qualquer forma.
“UM CHUTE NOS BAGOS INFRINGENTES” – Foi assim que o Sandro
definiu a aprovação dos tais “embargos infringentes” em mais um episódio do maior julgamento da
história do mundo de todos os tempos. Claro, quem levou o tal chute
foi o Joaquim Barbosa, mas os sacos doeram Brasil afora. Não se contendo de
tanta indignação, o joinvilense Roger Robleño postou em seu Facebook foto de
uma página da biografia de José Dirceu onde ficamos a saber que ele e o ministro
Celso de Mello dividiram um quarto em alguma república, ainda estudantes.
Talvez na ocasião Dirceu lhe trouxesse quitutes sempre que retornava das
visitas à família no interior e agora lhe cobra o favor. Robleño também
simulou espanto com a falta de coerência do ministro, mas bastaria uma googlada
para lembrar que Celso de Mello foi bastante coerente em seu voto: ele já havia
afirmado, em 2012, ser favorável aos réus recorrerem do julgamento, se
necessário, lançando mão justamente dos embargos infringentes, previstos no regimento do STF.
Mas nenhuma reação repercutiu como a das atrizes globais que
postaram foto no Instagram, em gesto rapidamente copiado pela família da ex-É o
Tchan Carla Perez. E o que era pra ser um protesto, foi rapidamente transformado em piada. Além do exagero, há mais em comum na indignação de Robleño e do elenco da
novela das nove: seletiva, ela revela o baixíssimo nível de informação de seus
protagonistas. Bastaria ler o editorial da Folha de São Paulo
sobre o assunto, um jornal que desde a ditadura civil
militar já ofereceu carros e credenciais o suficiente para provar que não faz
parte de nenhuma conspiração lulo-petista para
acabar com o Brasil. Por que, em tempos onde informação não é mais monopólio
de alguns poucos e o acesso é não apenas relativamente fácil como
democrático, há quem prefira brincar de Teletubbies, é algo que não sei
responder. Mas é bizarro. De novo, de novo: bizarro.
LEU A VEJA? AZAR O SEU – Saiu em
“O Globo” e repercutiu nas redes sociais: o governador Sérgio Cabral seria
alçado à condição de Ministro de Estado no início do ano que vem. Um assessor da
presidenta tratou de desmentir a informação, mas em se tratando dos arranjos
partidários, fico com o apóstolo Tomé: só acredito vendo. Em todo caso, antes
de se mudar de mala e cuia para Brasília, Cabral ainda nos deve resposta a
uma pergunta tão simples quanto vergonhosa: onde, afinal, está Amarildo?
Enquanto isso, Dilma foi à ONU,
onde discursou condenando a espionagem americana e exigindo maior
equidade no Conselho de Segurança. Nada de excepcional: ela fez
exatamente o que se espera de uma chefe de Estado que viu a soberania do país ser tripudiada pela arrogância de uma grande potência. A repercussão na
imprensa internacional foi positiva. O inglês The Guardian destacou: Brazilian president: US surveillance a ‘breach of international law’. O espanhol El
Pais foi na mesma direção: Rousseff condena las prácticas de espionaje ante las Naciones Unidas. E o francês Le Monde foi incisivo: A l’ONU, Dilma Rousseff qualifie l’espionnage américain d’“affront”.
A repercutir a fala da
presidenta, Veja preferiu ecoar uma combalida oposição: “Dilma critica EUA e
faz discurso na ONU de olho em 2014”, tascou a revistona, sem deixar muito
claro o que alhos tem a ver com bugalhos pois, até onde sei, os
embaixadores estrangeiros nas Organizações Unidas não votam nas eleições presidenciais brasileiras. No
ano passado outro periódico inglês, a revista The Week, chamou a Veja de “gossip
magazine”. Se trabalhasse em uma revista de fofoca, eu ficaria indignado.
Bizarro, muito bizarro!
quarta-feira, 25 de setembro de 2013
Na maternagem e no feminismo
Gabriela com 6 meses e eu, mamando e viajando. |
POR FERNANDA M. POMPERMAIER
Desde muito cedo eu soube que era feminista. Talvez não reconhecesse todas as facetas e sutilezas do machismo, mas identificava as suas principais construções e me incomodava muito com elas. Quis sempre provar que mulher pode e deve fazer o que quiser, quando quiser e como quiser. Lutei bravamente contra serviços domésticos, cozinha, padrão de beleza, agradar homem e tudo que eu achava que o machismo trazia consigo. Fumei, bebi, fiz tatuagem, pintei cabelo, tudo para demonstrar minha rebeldia à esses padrões estabelecidos, (pensava eu). Nunca fui a quietinha, comportada, princesinha, e eu me orgulhava de ser diferente. Hoje minha relação está melhor estabelecida com a cozinha, a limpeza ou os homens, reconheço suas respectivas necessidades e importâncias.
Um casamento feminista se torna no início um pouco mais trabalhoso que um "convencional" porque existem algumas arestas a serem podadas. Os papéis não estão definidos no padrão "sociedade tradicional" e algumas questões precisam ser dialogadas para se chegar em consenso. Meu marido, é lógico, também é feminista e nesses 10 anos juntos construímos um relacionamento bastante igualitário. É válido salientar que as conquistas feministas acontecem geralmente sob protesto do grupo que, acostumado com o status quo, deseja manter tudinho como está. É necessário que as mudanças se iniciem do lado do oprimido pois de outra forma, elas não se legitimam. Digo isso para expor que, apesar de ser extremamente importante a abertura para diálogo e a recepção do marido nas discussões, o protagonismo das mudanças é da mulher. Sem nenhuma dúvida, é ela que precisa protestar quando sentir que algo no relacionamento está injusto. E é claro que muitas vezes, eu protestei. Detesto manifestações de controle e qualquer tentativa de regrar meu comportamento, decisões ou roupas podia ser motivo de briga, mesmo que fosse exposto às vezes apenas como uma opinião.
Bom, fechado o parênteses e voltando ao tema, feminista resolvida, eu virei mãe. E a maternidade nos leva a uma dedicação intensa especialmente nos primeiros meses. São novas questões relacionadas diretamente com aquele medo constante de virar dona de casa e acabar tendo mais responsabilidades que o pai, de acabar se anulando profissionalmente ou como indivíduo para se transformar apenas na mãe. O estado ajuda a discriminar a mulher oferecendo 4 a 6 meses de licença maternidade e para o homem apenas alguns dia. É a forma oficial do governo dizer: o pai não tem nada a ver com isso, vc, mãe, que deu, e engravidou, dê conta disso sozinha. O cúmulo do machismo. Mas por sorte, tive tempo e disposição para ler, boas companhias e pessoas próximas que me ajudaram a perceber que não existe nada de errado em ser mãe e ser feminista. Ambos podem e precisam viver simultâneamente, para construir uma maternidade mais coerente com o mundo atual.
E como é uma mãe feminista?
Sob o meu ponto de vista é uma mãe que:
Sob o meu ponto de vista é uma mãe que:
- Vai tentar não imprimir em seus filhos estereótipos de gênero. Qualquer coisa que venha acompanhada de: "isso é pra menina" ou "isso é coisa de menino" não serve numa educação moderna. Jogamos fora, é lixo. Tudo é para todos ou o que não é pra todos não é para ninguém.
- Vai dar o máximo de si para ser uma boa mãe, sem achar que esse é seu único papel no mundo. Que os filhos percebam que a vida da mulher é feita de conquistas em diferentes áreas e que não é preciso ser perfeita em tudo.
- Vai se esforçar para amamentar e ter parto natural, porque sabe que seu corpo e do seu filho assim desejam.
- Vai buscar relacionar a maternidade com satisfação e prazer, nunca com dor, sofrimento ou culpa relacionadas à sacrifícios.
- Vai estabelecer uma relação saudável de troca de carinho que não seja baseada na chantagem ou no sentimento de dívida com os pais por ter recebido a vida, casa ou comida.
- Não vai impor papéis sociais "pré-determinados" esperando que menina goste de boneca e não de vídeo-game ou que seja vaidosa e doce e o menino agressivo e forte. Fazer isso oferecendo brinquedos diversos e construindo senso crítico. Vai buscar elogiar usando palavras como: corajosa, independente, inteligente ou feliz.
- Vai buscar quebrar com a ditadura da beleza: da princesa que é loira e de olhos azuis. Vai mostrar a beleza dos cabelos negros, encaracolados, da mulher de quadril largo, de corpo robusto, da idosa ou da cadeirante. E vai mostrar que não há nenhum problema em se ter pêlos no corpo.
- Vai respeitar sua orientação sexual, seja ela hetero, homo ou bi.
- Vai respeitar sua identidade de gênero, seja cis ou transgênero.
- Vai ensinar a respeitar seu corpo, seus desejos, seus limites. Que sim seja sim e não seja não.
- Vai auxiliar na descoberta da sexualidade, oferecendo informação, diálogo aberto e fugindo de moralismos estúpidos.
Eu poderia continuar com a lista, on and on, mas vamos combinar que dando conta dessa aqui, já fazemos nossa pequena revolução.
É possível ser feminista e viver a maternidade com toda a sua intensidade num relacionamento igualitário. É o que desejo à todas (os) nós!
Tudo por um mundo muito mais feliz, aberto e receptivo.
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