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quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Bizarro, muito bizarro!



POR CLÓVIS GRUNER

Em seu último texto, o Charles Henrique listou alguns dos eventos bizarros que marcaram a semana em Joinville e região. Gostei da ideia, nacionalizei os parâmetros de busca e inspirado no Stanislaw Ponte Preta, decidi listar o meu próprio Febiapa, o Festival de Bizarrices que Assola o País. A lista, claro, não é definitiva. Bizarrice é como ônibus em Joinville: sempre cabe mais um.

ERA PRA SER UM FESTIVAL DE ROCK – Mas virou um samba do crioulo doido. Pode ser purismo, mas mesmo com o showzaço do Bruce Springsteen é difícil engolir Beyoncé e Justin Timberlake. “Ah, mas o Brasil é um país rico e eclético musicalmente, então é super normal ver a Ivete Sangalo no Rock In Rio”. Tudo bem, mas então por que ninguém chama o Iron Maiden para tocar no carnaval da Bahia?
Pelo menos o espírito rebelde do rock esteve presente na noite em que tocou o Capital Inicial. Claro, já não se fazem discursos como antigamente, mas ninguém tem culpa do Dinho Ouro-Preto não ter a mesma eloquência, sei lá, de um Renato Russo. A ironia é que no auge do Brock, os anos de 1980, o Capital era uma banda meio coadjuvante; quem frequentava a primeira divisão eram a Legião Urbana, Ira!, Titãs. Mas como as bandas da primeirona ou acabaram ou viraram caricaturas de si mesmas, inesperadamente sobrou ao Capital encarnar nos palcos o que restou da década. É foda cara, diria Dinho Ouro-Preto. Eu acho bizarro.

UM PARTIDO PARA OS “HOMENS DE BEM” – Cansados de passar os dias de pijamas lendo Reinaldo Azevedo, os militares decidiram que é hora de colocar o bloco na rua e estão empenhados na viabilização do Partido Militar Brasileiro (PMB). E que ninguém os acuse de serem despretensiosos: “100% democrática”, a sigla pretende mandar menores infratores para a cadeia, garantir o porte de armas para homens de bem (não dizem nada sobre as mulheres) e instituir a prisão perpétua. E se depender do PMB, beneficiados pelo Bolsa Família não votam – talvez o primeiro passo para a volta do voto censitário.
O embasamento teórico do novo partido vem da fina flor do pós-estruturalismo. Diz a cartilha do PMB que o “filósofo Michel Foucault pregava a segregação das pessoas nocivas à sociedade, para evitar que elas viessem a cometer novos crimes, protegendo a população de bem”. O PMB jura que está tudo lá no “Vigiar e punir”, o mesmo livro onde, segundo Reinaldo Azevedo, Foucault defendeu que “o castigo físico é preferível às formas que entende veladas de repressão postas em prática pelo estado moderno”. Eu nunca li nada disso em Foucault, apesar de conhecer toda a sua obra. O PMB e o “tio Rei” ou não conhecem ou não entenderam Foucault, apesar da referência. São desonestos ou ignorantes, portanto. Bizarros, de qualquer forma.
  
“UM CHUTE NOS BAGOS INFRINGENTES” – Foi assim que o Sandro definiu a aprovação dos tais “embargos infringentes” em mais um episódio do maior julgamento da história do mundo de todos os tempos. Claro, quem levou o tal chute foi o Joaquim Barbosa, mas os sacos doeram Brasil afora. Não se contendo de tanta indignação, o joinvilense Roger Robleño postou em seu Facebook foto de uma página da biografia de José Dirceu onde ficamos a saber que ele e o ministro Celso de Mello dividiram um quarto em alguma república, ainda estudantes. Talvez na ocasião Dirceu lhe trouxesse quitutes sempre que retornava das visitas à família no interior e agora lhe cobra o favor. Robleño também simulou espanto com a falta de coerência do ministro, mas bastaria uma googlada para lembrar que Celso de Mello foi bastante coerente em seu voto: ele já havia afirmado, em 2012, ser favorável aos réus recorrerem do julgamento, se necessário, lançando mão justamente dos embargos infringentes, previstos no regimento do STF.
Mas nenhuma reação repercutiu como a das atrizes globais que postaram foto no Instagram, em gesto rapidamente copiado pela família da ex-É o Tchan Carla Perez. E o que era pra ser um protesto, foi rapidamente transformado em piada. Além do exagero, há mais em comum na indignação de Robleño e do elenco da novela das nove: seletiva, ela revela o baixíssimo nível de informação de seus protagonistas. Bastaria ler o editorial da Folha de São Paulo sobre o assunto, um jornal que desde a ditadura civil militar já ofereceu carros e credenciais o suficiente para provar que não faz parte de nenhuma conspiração lulo-petista para acabar com o Brasil. Por que, em tempos onde informação não é mais monopólio de alguns poucos e o acesso é não apenas relativamente fácil como democrático, há quem prefira brincar de Teletubbies, é algo que não sei responder. Mas é bizarro. De novo, de novo: bizarro.

LEU A VEJA? AZAR O SEU – Saiu em “O Globo” e repercutiu nas redes sociais: o governador Sérgio Cabral seria alçado à condição de Ministro de Estado no início do ano que vem. Um assessor da presidenta tratou de desmentir a informação, mas em se tratando dos arranjos partidários, fico com o apóstolo Tomé: só acredito vendo. Em todo caso, antes de se mudar de mala e cuia para Brasília, Cabral ainda nos deve  resposta a uma pergunta tão simples quanto vergonhosa: onde, afinal, está Amarildo?
Enquanto isso, Dilma foi à ONU, onde discursou condenando a espionagem americana e exigindo maior equidade no Conselho de Segurança. Nada de excepcional: ela fez exatamente o que se espera de uma chefe de Estado que viu a soberania do país ser tripudiada pela arrogância de uma grande potência. A repercussão na imprensa internacional foi positiva. O inglês The Guardian destacou: Brazilian president: US surveillance a ‘breach of international law’. O espanhol El Pais foi na mesma direção: Rousseff condena las prácticas de espionaje ante las Naciones Unidas. E o francês Le Monde foi incisivo: A l’ONU, Dilma Rousseff qualifie l’espionnage américain d’“affront”.
A repercutir a fala da presidenta, Veja preferiu ecoar uma combalida oposição: “Dilma critica EUA e faz discurso na ONU de olho em 2014”, tascou a revistona, sem deixar muito claro o que alhos tem a ver com bugalhos pois, até onde sei, os embaixadores estrangeiros nas Organizações Unidas não votam nas eleições presidenciais brasileiras. No ano passado outro periódico inglês, a revista The Week, chamou a Veja de “gossip magazine”. Se trabalhasse em uma revista de fofoca, eu ficaria indignado. Bizarro, muito bizarro!