sexta-feira, 10 de maio de 2013

Sou a favor da maioridade penal aos 16 anos, mas...

POR VANDERSON V. SOARES



Dias atrás o Baço explanou bem debochadamente, como lhe é típico, sobre a maioridade penal. Não concordo muito com o jeito que ele escreve, mas concordo com a essência do texto.
Enalteço abaixo que sou a favor da maioridade penal, mas se antes forem observados alguns outros pontos, que considero serem mais corretos e coerentes.

Sou a favor da maioridade penal de 16 anos, se...

1)   Houver uma grande chacoalhada no nosso sistema educacional. Nesta seara há muito que se fazer, seguem alguns pontos críticos:

a)    Revisão do programa didático: Atualizá-lo, aperfeiçoá-lo, adaptá-lo ao novo mundo que se faz mais próximo a cada dia. Excluir a disciplina de ensino religioso (um câncer conceitual no nosso sistema arcaico), inserir matérias como música, teatro, oratória, literatura, outro idioma além do inglês, criação de programas de iniciação científica, produção de conhecimento, etc.

b)    Programa de Inclusão: Não se contentar com um índice menor que 100% de crianças na escola. Criança tem que estar na escola. Ponto. Enquanto uma criança em idade escolar não estiver na escola, nosso sistema ainda será falho.

c)    Amplo incentivo à leitura: A biblioteca da escola não pode simplesmente ser uma salinha que fica no final do corredor mais sombrio. Tem que ser um espaço grande, com vários livros, disponíveis para empréstimo, com espaço para leitura, tanto dentro como fora da biblioteca. Promover concursos de declamação, leitura, produção literária, enfim.

Alguns meses atrás, tive a grata satisfação de participar de um projeto social que buscava o intercâmbio de cartas entre crianças do Brasil e da Romênia. Ambos os lados trabalharam em escolas públicas e as cartas eram escritas em inglês. Ao final do projeto, tive um sentimento ainda meio indefinido para mim, mas um misto de vergonha, compaixão, indignação e vontade de reverter esse quadro. As cartas das crianças da Romênia trabalhavam a escrita de maneira sensacional, detalhavam os pontos turísticos de suas cidades, falavam de costumes da sua região, contos da Romênia, enfim, um show de cultura e domínio do idioma. As crianças daqui, infelizmente, apenas conseguiam escrever seus nomes, onde moravam, e citar pobremente um ou outro ponto já batido do Brasil.

d)    Professor ser levado a sério: analisar, esmiuçar, preparar, dialogar um plano de carreira que faça o professor ter vontade de ser um professor cada vez melhor. Que os estudantes queiram ser professores, que os professores tenham incentivo para se aperfeiçoarem,  se especializarem, pós graduarem, enfim. Serem referências em suas áreas de conhecimento. Lembrando que quanto mais o professor se sentir bem sendo professor, mais a sua aula gerará resultados, mais preparará sua aula com vontade, com gosto, querendo que o estudante se encante pela sua disciplina.

2)    Se antes disso, incentivarmos os jovens a participarem ativamente de suas comunidades. Há tantos grupos associativistas juvenis que esculpem, dia após dia, tantos líderes e pessoas com iniciativa. Precisamos de gente inteligente, mas precisamos de gente inteligente com iniciativa também. O associativismo juvenil proporciona ao jovem, além de uma ampla oportunidade de desenvolvimento pessoal e profissional, a possibilidade da troca de ideias, do debate, das várias perspectivas. Esses grupos podem ser grêmios estudantis, clubes de xadrez, clubes de esporte, Interact Club, Rotaract Club, AIESEC, JCI, Leo Club, grupos de jovens locais, grupos de filosofia, enfim, há uma infinidade de grupos que o jovem pode, e deve, participar.

Vou me restringir a apenas estes dois itens que, por si só, já resolveriam uma boa fatia da criminalidade juvenil.  

Se mesmo assim, o menor for preso, defendo que deve ser enviado a um reformatório juvenil e não simplesmente para uma gaiola. O intuito é reinseri-lo na sociedade e não castigá-lo por anos a fio, de modo que quando saia esteja com mais raiva da sociedade do que quando entrou.

Na realidade, é isso que está faltando. Tratar o ser humano como ser humano e não partir da premissa que ele nasceu mau, mas sim que a sociedade, a exclusão social, o deixou assim. Antes que a extrema direita me acuse de “defender os bandidos”, devo lembrá-los que nem todos tiveram a educação, os privilégios e mordomias que vossos filhos tiveram. Apenas o que defendo é que tem muita, mas muita gente mesmo, não tendo o mínimo, o básico, para iniciar sua vida, para conquistar seu espaço na sociedade.

Valho-me das palavras de Mário Quintana, quando diz que "Democracia é oportunizar a todos o mesmo ponto de partida. Quanto ao ponto de chegada, depende de cada um."

Vanderson Soares é engenheiro civil e empresário 

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Uma prisão entre Garuva e Barra Velha



POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Nenhuma cidade pode aspirar à modernidade sem uma mídia moderna, sem bons formadores de opinião e sem intelectuais que possam servir de luminares. E esse parece ser um problema para Joinville, onde a opinião pública (e publicada) aponta para a anorexia cultural, a inanidade intelectual e frouxidão de ideias.

Quando falo em cultura estou a pensar na alma coletiva da cidade: os costumes, a arte, a produção literária, a política, os mitos, a sexualidade, a economia, a forma como as pessoas leem o mundo. Uma boa formação de opinião é essencial para apontar o futuro e estimular o debate. O problema é que os formadores de opinião de Joinville padecem de um problema: uma falta de qualidade que os impede de ultrapassar as divisas de Garuva e Barra Velha.

O que eu quero dizer com isso? Não é novidade - já abordei o tema - mas a formação de opinião em Joinville é dominada por pessoas que estão prisioneiras das próprias incapacidades. Gente que passa a vida a zurzir tolices e, no entanto, até tem quem as ouça na paróquia. Mas são vozes cujo talento não vai além das divisas da cidade. Sem ser politicamente incorreto, metaforizo com o velho ditado: “vozes de burro não chegam ao céu.

Mas vamos por partes.

A MÍDIA - Em termos genéricos, é a mesma estrutura de décadas. Em que pesem as mídias digitais, que representam um avanço inquestionável, pouco mudou. Você liga o rádio e é o mesmo rame-rame que era nos último 20 ou 30 anos. Os mesmos nomes, os mesmo métodos, a mesma pequenez. E, em muitos casos, a mesma falta de cultura democrática.
Ah... houve outra mudança: também surgiu uma nova espécie de televisão, mas com escassos recursos técnicos, de produção e de criatividade. E não vamos esquecer que, nesse novos meio, os casos de maior sucesso são a transformação da televisão num rádio com imagem. Evolução? Não. Os mesmos nomes, os mesmos métodos, a mesma falta de horizontes. Mas agora com imagem.

Um dia destes o publicitário Pierre Porto fazia um lamento nas redes sociais. Nos últimos tempos, a única novidade em Joinville foi o surgimento do Chuva Ácida. Ok... não estamos aqui a falar de autopromoção ou imodéstia, até porque todos sabemos que é muito pouco e que o blog tem um peso muito relativo. O Pierre Porto tem razão: é preciso mais. Muito mais.

INTELECTUAIS - É certo que em Joinville há gente a pensar a sociedade. Mas por vezes essas pessoas acabam ilhadas a fazer monólogos, porque não há interlocutores. Não há o hábito do debate, do dissenso, do contraditório. E também são raros os nomes de referência, cuja opinião serve para balizar os debates, como acontece em outras sociedades.

Aliás, se você perguntar quem é o intelectual de referência na cidade, muita gente vai apontar o mesmo nome de 20 ou 30 anos atrás. E lembro bem que já naquela época o tal intelectual era improvável, pois a pessoa nunca produziu qualquer trabalho com qualidade digna de nota.

FORMAÇÃO DE OPINIÃO - Há um vazio (causal e casual) nesse campo. E o espaço foi ocupado por pessoas sem qualidades intelectuais, alguns com escrúpulos duvidosos e a maioria com visões de mundo que apontam para o passado. Não por acaso Joinville tem sido considerada uma cidade conservadora e provinciana. Os tais (de)formadores de opinião têm muitas culpas nesse cartório, porque apenas reproduzem ideias pífias e dos tempos de antanho.

P:S. Não venham com a conversa de que estou a “falar mal de Joinville”. Porque também é a minha cidade e obviamente desejo que ela evolua. Este texto é apenas um exercício do lídimo direito de discutir a cidade e tentar gerar debate.


quarta-feira, 8 de maio de 2013

Hábito de ler

Parque em frente a biblioteca central em Helsingborg

POR FERNANDA M. POMPERMAIER


Na Suécia não existe televisão em salas de espera, existem livros, revistas, jornais e até livros infantis.
Consultórios médicos, de dentistas, clínicas, órgãos do governo, nada de televisão. 

Uma amiga passou uma semana no maior hospital da cidade, internada por ter tirado o apêndice e outras complicações.  Fiquei impressionada, não tem televisão nos quartos. À princípio, me indignei, como assim? E o tédio? Como as pessoas fazem para passar o tempo? Simples, eles lêem.

Um parêntese: o hospital é público, e parecido, digamos assim, com o Da. Helena. Todos na cidade frequentam o mesmo hospital, as pessoas não costumam ter plano de saúde, não tem necessidade.

Sala de televisão no hospital
Os únicos espaços onde tinham televisões, eram as salas reservadas para elas. Uma sala com café, chá, poltronas e uma tv num canto, num espaço pouco privilegiado (como aparece na foto). Haviam ainda outras salas para receber as visitas, sem televisão.

Nas paredes muitas obras de arte, e os pacientes, a maioria, com um livro na mão.

Isso demonstra como a leitura é presente na sociedade sueca.

Educação aqui é coisa séria e não se mede esforços quando o assunto são livros, informação, estudo.

Nas bibliotecas você pode pegar até 50 livros por mês e 30 dias é o prazo para devolver. Vencido o prazo, no próprio site da biblioteca (link abaixo), você pode renová-lo para mais 30 dias, e mais, e mais, desde que o livro não esteja reservado por alguém. As reservas também podem ser feitas pelo site, na sua página pessoal. Se a biblioteca não tiver o livro, eles consideram a possibilidade de comprar. A maioria dos livros são em sueco, claro, mas tem um acervo grande em outras línguas, inclusive em potuguês, com obras de Machado de Assim ou José de Alencar. É possível reservar e-books, dvds, audio-books, cds, ou livros infantis.

As bibliotecas são pontos de encontro.
Na central existe um café sempre bastante movimentado que serve almoço, lanches e doces. No inverno eles servem uma sopa que é a melhor que já comi na vida.

Além da biblioteca central, existem algumas em bairros, também com estrutura para receber bem os leitores e seus filhos. Em todas, espaço para a criança ler ou brincar.

Nas estações mais quentes é possível pegar uma rede e pendurar nas árvores do parque que fica em torno da biblioteca como mostra a primeira foto do post.

Eu nem vou discutir os hábitos de leitura da maioria dos brasileiros, nem a frequencia, nem as escolhas, apesar do nome, eu não acho que auto-ajuda, ajuda muita coisa. Não estamos mesmo acostumados com horas e horas de estudo e leitura no Brasil. Tive uma professora que dizia que qualquer professora que não lê 1 livro por mês devia ter vergonha de ser educador. Eu confesso que não consigo tanto, mas tento.

O que eu queria mesmo era que alguém me dissesse que a principal biblioteca pública de Joinville não está ainda assim:  


Eu realmente espero que o prefeito consiga mudar o quadro e dar o incentivo literário que nosso povo merece.

Fonte: http://biblioteksnv.se/web/arena/startsida;jsessionid=8C4407A3FC26A2938844213A791907C1


A avozinha dá um show...

POR ET BARTHES
Exercícios difíceis de realizar... em especial se você tiver 86 anos de idade...


"Reformaram" a Arena Joinville. Que lindo!

POR GABRIELA SCHIEWE

Caros molhados, vocês viram que sensacional? "Reformaram" a Arena. Isso é um espetáculo que antevê o outro grande espetáculo que será o jogo JEC x Santos.

Antes, só para não passar batido, no que tange à questão dos valores do ingresso, estou em total acordo com a diretoria do Joinville. O clube vive de receitas e esta é uma grande oportunidade de obter uma ótima arrecadação para pagar contas.

Sem aquele blá blá blá de que é uma falta de respeito com os que comparecem a todos os jogos e agora não poderão ir ver o grande duelo. Não, né? Parou. O clube depende de dinheiro e agora tem uma grande oportunidade de forrar o bolso.

Então, voltando a "reforma", é abominável ver isso. Pintar a Arena por causa do Santos? Aumentar ingresso para captar mais receita é totalmente aceitável. Agora sair jogando umas tintas pra ficar mais bonitinho é ridículo.

Tá bom, eu sei que a minha linguagem está bem vulgarzinha, mas não é possível tolerar essas "reforminhas" que o governo local fica fazendo e varrendo a sujeira para baixo do tapete.

O Ivan Rodrigues e o Abel Schulz continuam a mesma porcaria, sem reforma, pinturinha e absolutamente nada feito. Aí vão lá passar uma "maquiagem" na Arena para esconder as suas "rugas".

É a mesma história quando se aproxima a data de um grande evento na cidade, principalmente o Festival de Dança. Até uma semana antes do seu começo, o mato toma conta dos canteiros, as ruas estão cheias de buraco, o Centreventos está "desbotado", Eis que chega a fatídica data e tudo se transforma, como num passe de mágica. E depois que termina, é como se o relógio badalasse e a grande carruagem virasse abóbora.

Não concordo com este tipo de solução que pra mim é mentirosa. Eis que não soluciona nada, já que esta tinta que hoje foi passada, logo irá começar a desbotar e descascar. E só quando um outro "Santos" aparecer ela será retocada.

Ahhhh, só para esclarecer e que fique tudo muito claro, eu dizer que "reformaram" a Arena foi em tom irônico. Ok, leitores?

terça-feira, 7 de maio de 2013

Pensar a Joinville do futuro é bom. Mas o futuro é agora...

POR JORDI CASTAN

Um dos melhores negócios é vender, e cobrar hoje, um produto que só será entregue (ou não) no futuro. Quanto mais longínquo e indefinido for o prazo e o conceito de futuro, melhor o negócio.

O prefeito Udo Dohler é um homem aplicado, que aprende rápido. Tanto que em pouco tempo o empresário tem se convertido num hábil político. É cada vez mais difícil identificar nele e na sua gestão o que a diferencie das anteriores.
A inauguração com algaravia de ordens de serviço, o lançamento de parques pomposos (que continuam sendo só praças) ou a ampla divulgação da instalação de um sinaleiro fazem com que o seu governo seja parecido com qualquer outro dos predecessores. É quase impossível identificar alguma das características que projetaram a imagem do empresário.


Uma das habilidades que um "bom" político deve aprender - e dominar com rapidez - é a arte da mentira política. E nesse quesito o nosso prefeito tem se convertido num mestre. Quanto mais atolada anda a gestão e quanto menos coisas acontecem, mais aumentam os discursos e as mensagens que propõem soluções e projetos para a Joinville do futuro. A mensagem é clara. Enquanto as coisas continuam na linha de "mais do mesmo", ganha expressão a promessa de uma Joinville melhor... no futuro.


Quando? Bem distante, digamos 30 anos. Se já se esqueceram as promessas de campanha, feitas há pouco mais de meio ano? Quem vai lembrar e cobrar as promessas feitas hoje, para serem cumpridas daqui a três décadas. Daqui a 30 anos há uma chance grande que estejamos quase todos carecas e, pior ainda, que ninguém lembre mais de quais os projetos prometidos para essa Joinville de dois milhões de habitantes.

Em modo de desafio, quem lembra quem era o prefeito há 30 anos? E quais eram os projetos daquela Joinville? Quais tiveram continuidade? Quais nunca saíram do papel? A quem cobrar o que não foi feito? A impressão é que o prefeito conta com esse esquecimento natural. E se lança a prometer um futuro melhor, para ganhar, o que menos tem: tempo. Já desperdiçou uma parte do seu mandato. Propõe que a solução dos problemas atuais estaria cada vez mais distante.

Como sugestão, e se o tema da arte da mentira política merece seu interesse, recomendo duas leituras. A primeira é a "Arte da Mentira Política", de Jonhatan Swift, que parece ter se convertido no livro de cabeceira do prefeito, que tem posto em prática seus ensinamentos. A segunda é um texto meu publicado no jornal A Noticia, na mesma linha.

Num ponto o prefeito está certo, vender e cobrar hoje para entrega a futuro é um bom negócio.
É justamente esse o sucesso da maioria das igrejas que tanto prosperam no Brasil: oferecer um paraíso no futuro, para quem pague as prestações, o dizimo, o de os votos hoje. Porque a moeda que se usa para comprar esta Joinville paradisíaca do amanhã pode mudar, mas o negocio é o mesmo. A diferença é que o prefeito quer convencer ao eleitor que desta vez a garantia esta representada pela sua credibilidade. "La garantia soy yo"

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Joinville, a vila do senso comum - Parte II

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

Em uma vila, a principal área de interação social é a pracinha central, ou, em casos mais extremos, a igreja da cidade. Tudo acontece apenas em um dia da semana, e o processo é engessado por uma dinâmica que não promove a troca, o diálogo, e a construção de diferenças. Só existe um local, um momento, e as mesmas pessoas. É ali que o senso comum é (re)produzido. Na nossa Joinville não é diferente: o senso comum é consolidado nos lugares em que cada grupo social se reúne. Não há lugares cosmopolitas na cidade, cada local é um reduto específico de guetos. Típico comportamento de vila em meio a mais de 520 mil habitantes.

Um dos grandes símbolos desta visão é a recreativa das empresas locais. O trabalhador (sem essa conversa fiada de "colaborador", por favor!) esgota-se durante a semana no trabalho, e no final da semana, momento oportuno para o seu momento de ócio criativo (no sentido mais "demasiano" possível), vai para a recreativa da empresa se divertir. Detalhe: o seu chefe é o churrasqueiro da festa, o seu subordinado o goleiro do time de futebol e o dono da empresa distribui patéticos brindes no bingo vespertino. Não há espaço para fluir o diferente, a crítica (como criticar o patrão, se ele tá ao meu lado?) muito menos a consciência de que a cidade não é formatada para o trabalho e que este não é o único responsável por uma qualidade de lazer inalcançável, caso estivesse desempregado. A empresa faz, com suas recreativas, o possível para o trabalhador acreditar que a sua função é ótima. De forma mais concreta, é uma manipulação para manutenção do comportamento preferido dos joinvilenses.

A partir da década de 1980 a cidade se transformou e a abertura econômica ao consumo criou espaços até então típicos de países "desenvolvidos": os shoppings centers. Seja com o Americanas, Mueller, Cidade das Flores, Center Leste (alguém lembra?) e o Garten, todos são produtos de um comportamento que, ao longo dos anos, manteve a - e pediu pela - formatação de espaços segregados e distantes da "realidade das ruas", reduto principal das extremas diferenciações sociais. Resumindo, o shopping center se tornou o local perfeito para alienação referente ao que acontece "lá fora", e é óbvio que seria um templo majestoso para a maioria de nós, joinvilenses. Um espaço que orienta o que você vai consumir, vai comer, e vai ter de lazer (nem que seja só ficar dando voltas pelos corredores) é, conseqüentemente, um espaço que excluirá a possibilidade de trocas.

Os joinvilenses adoram ver vitrine, rodar os estacionamentos lotados, almoçar, lotar salas dos cinemas com filmes de baixa qualidade em cartaz, e "verem e serem vistos" com os últimos lançamentos da moda. De tão iguais, eles se tornam invisíveis enquanto indivíduos e representam uma única massa, enorme, sem cor, e maleável de acordo com as novas representações desta coletividade que não pensa e constrói cativeiros sociais a serviço do pensamento acrítico. É a partir daí que o tipico joinvilense não aceita quem pensa diferente de si.

A pior tragédia neste sentido acontece de forma silenciosa: a cidade perde, aceleradamente, o seu papel de transformação, de diálogo e de trocas. Se fomos historicamente acostumados a não evidenciar isto, a cidade (ou seja: as ruas, as praças, os parques, etc.) é o último local em que precisaremos estar. Aliás, só o nosso carro precisa. A cidade não é mais vista como espaço de "construção" para se tornar um mero espaço de "passagem". O espaço coletivo, em Joinville, não existe (talvez nunca tenha existido): ele deu lugar às pracinhas e igrejas da vila do século XXI. Só faltou uma faixa, dando as boas-vindas: "1ª sensocomumfest, nos bares da Via Gastronômica e shows na calçada do Batalhão".

domingo, 5 de maio de 2013

Entre balas e armaduras


POR FABIANA A. VIEIRA

Em novembro meu filhinho fez quatro anos. Rapaz esperto, inteligente, companheiro de todas as horas. Até já me ajuda a lavar a louça. Cuida da irmã menorzinha, de dois, com aquele carinho especial de quem ama, toques suaves, carinhosos. Esse pequeno homem tem uma grandeza humana que lhe reserva um futuro especial.

Para demonstrar todo meu orgulho e amor lhe dei um presente especial. Fui no setor infantil da loja de armas e comprei um rifle Crickett, modelo LR , tiro único de calibre 22, aquela bala pequenina que entra no corpo atingido, faz um buraquinho e depois circula em zigue-zague, destruindo órgãos, produzindo uma hemorragia  interna  incurável. Aqui em casa, você deve saber, há muita caça e as crianças precisam estar preparadas,desde cedo, para utilizar armas.

É por isso que a indústria já vendeu 60 mil desses modelos infantis somente em 2008. Leves, coloridos, considerados armas de brinquedo ou o ¨primeiro rifle¨, como afirma na publicidade o fabricante de armas esportivas Keystone. Até modelo rosa já tem.  Até pensei em dar um para a minha filhinha também.

Seis meses depois do presente....Boom! Uma distração, fui me livrar da gordura da cozinha e pipocou um tiro . Meu filho pegou a arminha e disparou um tiro acidental ou de brincadeira ou de fúria, nem sei, no coraçãozinho da minha filha. Acabou-se a vida da minha pequena, a minha e o futuro do meu filho, traumatizado eternamente pela perda tragicamente brutal da maninha querida.

Isso poderia ser uma história inventada. Mas não é. Aconteceu no Estado americano do Kentucki, no condado de Cumberland e a menina foi Caroline Starks, sobrenome igual ao da fábrica pós-moderna de armamentos bélicos do maior sucesso do cinema no momento, O Homem de Ferro 3.

Particularmente acho uma insensatez armas de fogo. A bancada da bala procura me convencer de que é uma prerrogativa de segurança privada, um direito básico do homem. Bobagem. Um artifício de pólvora aprisionado numa cápsula que, num pequeno toque, dispara uma bola de chumbo com potencial de matar instantaneamente não pode ser uma boa coisa.

Parto daquele princípio civilizatório elementar de que a vida humana é inalienável. Não tenho o direito de matar ninguém. Matar alguém é admitir que me matem. Portar uma arma é ter uma disposição preventiva para o contrário da vida. É admitir peremptoriamente que eu vou matar alguém. É planejar, treinar e adquirir um instrumento de morte. Ou tenho uma arma para não usar? É um enfeite para arrotar medo? Ter uma arma é confessar simplesmente que quer ser um causador de mortes.

Acho insana essa cultura de alimentar crianças com esse instinto assassino. Beira a loucura descobrir que as fábricas fazem rifles azuis, rosas, laranjas, com figurinhas coloridas para as crianças trocarem o bilhetinho da Calói por um ¨não esquece do meu rifle 22¨. O que adianta, depois do estampido, o ¨não sabia que estava carregada¨.....

O pior é quando vejo os pais da Caroline se resignarem: foi uma fatalidade, afirmam - "Deus quis assim". Naquela região norteamericana a caça é farta e, dizem, todos tem arma. Inclusive as crianças. Essa questão cultural (que precisamos em parte muito pequena respeitar), está presente na mentalidade americana. Não é a toa que os jovens compram armas militares pela internet e saem pelo colégio matando coleguinhas e professores. Loucos abandonados por bonitas namoradas descarregam tambores de balas nos novos namorados, nas ex e em si mesmo. Até chefe é perseguido por desempregado inconformado. Dizem que a matança é cultural. Mas qual cultura? A do extermínio?

Aqui no Brasil não é diferente. Os bilionários interesses da indústria bélica inviabilizaram uma política completa de desarmamento. No plebiscito de 2005 venceu o direito da venda de armas. A falta de controle de fronteiras e do comércio legal de armamento abastece a marginalidade e estimula os argumentos da autodefesa, isso tudo diante de uma polícia a paisana. A insegurança cotidiana estimula a cegueira coletiva e o pensamento fascista de que matar é um direito de proteção. Segue o ciclo vicioso violencia, armas e morte.

Realmente fico preocupada quando vou ao cinema ver o lançamento aguardado de um filme como ¨Somos tão jovens¨, obra que resgata parte da história da lendária banda Aborto Elétrico, antecedendo a Legião Urbana, banda que veio do punk londrino e produziu memoráveis clássicos do rock nacional, e sou surpreendida por uma fila gigantesca na bilheteria. A fila era para ver os armamentos da poderosa indústria Stark e a sua armadura biônica de guerra. Do jeito que a coisa vai, um dia retornaremos a idade medieval e todos, para deleite da indústria, usarão uma armadura do tipo Stark.

sábado, 4 de maio de 2013

Um técnico com métodos de treino muito duros

POR ET BARTHES
Mesmo que você não entenda inglês, vai ver as razões para o técnico Mike Rice ser demitido. O homem é uma fera... tem muita pancadaria para cima dos atletas durante os treinos. 



sexta-feira, 3 de maio de 2013

O direito de coçar o saco


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Gente, todas as semanas deveriam ser como esta, com um feriado na quarta-feira. É que além do descanso a gente acaba por ter duas sextas-feiras. É tempo para o relax, para o dolce far niente e para manter o cérebro a vadiar. Mas cabeça vazia é a oficina do diabo. E foi São Jerônimo quem avisou, por outras palavras:
-     - Trabalha em algo, para que o diabo te encontre sempre ocupado.

Em resumo, o santo mandou um tremendo "vai trabalhar, vagabundo". Mas tem uma coisa chata nessa história. Se você acredita que o trabalho realmente dignifica o homem, então a expressão  “arbeit macht frei” (o trabalho liberta) deve soar como música para os seus ouvidos. O problema é que, por uma triste ironia, esta frase estava escrita no portão do campo de concentração de Auschwitz. É uma metáfora a ter em conta nos dias de hoje.

UMA INVENÇÃO DO DEMO - Não tenho dúvidas, caro leitor, de que o trabalho foi uma invenção do demo, o coisa-ruim. Afinal, todo mundo sabe que no paraíso ninguém trabalhava (é por essa razão que o lugar se chamava paraíso). Só depois de Adão e Eva terem sido apanhados no rala-e-rola é que surgiu aquela coisa de "comerás o pão com o suor do teu rosto". Quer dizer, o trabalho foi um castigo imposto ao homem e à mulher por eles terem caído na gandaia.

Aliás, as palavras trabalho (português), trabajo (espanhol) e travail (francês), por exemplo, vêm todas do latim tripallium, que era um instrumento de tortura na Idade Média. Está tudo dito: é uma punição. E o castigo é passarmos 8, 9, 10 ou até mais horas enfiados em ambientes sacais, na companhia de pessoas que não aturamos, a fazer coisas que não gostamos e a ganhar salários que nunca chegam para o que precisamos.

MENOS EM JOINVILLE - Todos sabemos que o trabalho é aquela coisa chata que acontece no meio da diversão. É assim em todos os lugares. Menos em Joinville, claro. Porque quem mora na cidade acaba por se sentir dentro de um livro do Max Weber. O espírito do capitalismo e a “ética” do chão de fábrica são coisas sagradas para os joinvilenses. É o culto do trabalho.

Bem... a esta hora imagino que haja leitores a torcer o nariz e a me chamar de vagabundo (certo, mas sou um vagabundo que trabalha muito). E não deixa de ser divertido que as pessoas nunca questionem a validade do trabalho, que em outros momentos da história já foi visto como uma maldição, uma vergonha. É só lembrar que os nobres, antes da queda do feudalismo, tinham pavor a pegar no duro.

Há umas curiosidades divertidas. O leitor e a leitora sabem, por exemplo, de onde surgiu aquele hábito dos ricos, que esticavam o dedo mindinho sempre que seguravam uma xícara? A coisa vem dos tempos feudais e era um forma que os nobres tinham para mostrar que eram diferentes dos trabalhadores. Por terem as mãos grossas e calejadas do trabalho, os coitados não conseguiam esticar o tal dedinho. Viu? Cabo de enxada também é cultura.

UM DEFUNTO NA SOCIEDADE - Para que o leitor não fique aí a imprecar contra a minha pessoa, não sou eu a questionar o trabalho. E apresento aqui um excerto de um texto de Paul Lafargue, genro de Karl Marx (por sinal, o velho barbudo errou, porque achava que a emancipação do homem viria justo pelo trabalho):

-       Uma estranha loucura se apossou das classes operárias das nações onde reina a civilização capitalista. Esta loucura arrasta consigo misérias individuais e sociais que há dois séculos torturam a triste humanidade. Esta loucura é o amor ao trabalho, a paixão moribunda do trabalho.

Aliás, Lafargue relembra que o trabalho foi um castigo de Deus, com aquela coisa do “suor do teu rosto”. Não concorda? Pois fique a saber que há opiniões piores. E atuais. O Grupo Krisis, por exemplo, diz que o trabalho é um defunto que domina a sociedade.

-       A produção de riqueza desvincula-se cada vez mais, na sequência da revolução microeletrônica, do uso de força de trabalho humano - numa escala que há poucas décadas só poderia ser imaginada como ficção científica. Ninguém poderá afirmar seriamente que este processo pode ser travado ou, até mesmo, invertido. A venda da mercadoria “força de trabalho” será no século XXI tão promissora quanto a venda de carruagens de correio no século XX.

Imagino que muita gente nunca tenha pensado nisso. Mas o trabalho, como o entendemos hoje, logo vai ser apenas uma memória. Quem viver...