quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Aberta a temporada de caça


POR JORDI CASTAN

Antes mesmo que a campanha eleitoral dê início, sem que os candidatos tenham sido homologados pelas convenções partidárias, os pré-candidatos se lançam à busca dos votos. Mais que à busca, se lançam à caça do eleitor. No Brasil, ao contrário da maioria das democracias, o voto é obrigatório. Nem os partidos e nem os candidatos precisam se esforçar para convencer o eleitor a votar. A estratégia de campanha tem como foco exclusivo direcionar os votos para o candidato.

O Brasil tem ainda outras peculariedades que fazem da caça ao voto um esporte único. A primeira é o elevado nível de analfabetismo funcional. A segunda é a geléia ideológica em que os partidos tem se convertido - isso faz com que, em nome da governabilidade, se juntem em coligações os inimigos de ontem para derrotar os amigos de anteontem. Resulta uma situação que, para qualquer eleitor medianamente informado, é difícil de compreender e seguir.  

É mais fácil para um político em campanha se concentrar na caça dos votos dos menos esclarecidos. Além de serem mais influenciados por discursos inflamados e grandiloqüentes, representam hoje no Brasil a maior parcela do eleitorado. No país, o analfabetismo funcional atinge cerca de 68% da população. Se somados os 7% da população que é totalmente analfabeta, resulta que 75% da população não possuem o domínio pleno da leitura, da escrita e das operações matemáticas. Ou seja, apenas um de cada quatro brasileiros (25% da população) é plenamente alfabetizado. O candidato não precisa se expor em debates frente a platéias melhor informadas, mais esclarecidas e em geral mais críticas. Pode se concentrar em pescar nos cardumes em que os votos são mais fáceis de convencer.

Os partidos políticos, por outra parte, tampouco contribuem muito para que o eleitor possa escolher melhor. Em geral só o confundem ainda mais. Ao compartilhar o mesmo palanque com os mesmos que ontem ou anteontem eram seus inimigos mortais, ao aparecer lado a lado em santinhos e outdoors, o eleitor vai construindo a imagem que são todos iguais, que são todos farinha do mesmo saco, e que, portanto, é a mesma coisa votar em um ou em outro. Sem outra proposta ideológica além de chegar ao poder e conseguir empregar o maior número de companheiros e apaniguados, os partidos hoje atuam mais como agências de emprego que como verdadeiros foros de debate político. E o resultado é este que aí está.

O mais provável é que ao conhecer o resultado das próximas eleições, a máxima de Ulysses Guimarães, que pior que este congresso só o próximo, será verdadeira uma vez mais. Se você leu até aqui e entendeu o texto, definitivamente não forma parte do grupo alvo.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Diga NÃO aos elevados!

POR FELIPE SILVEIRA

Quero começar uma campanha aqui no Chuva Ácida contra uma proposta que vamos ouvir com cada vez mais freqüência até as eleições de outubro. “Diga NÃO aos elevados!” Se concordar, espalhe a ideia.

Antes de qualquer coisa é preciso esclarecer que esta é a opinião de um leigo. Gostaria que tal explicação não fosse necessária, já que o blog não é formado por especialistas, mas por gente que tem algumas opiniões sobre alguns temas. Infelizmente, algumas pessoas que comentam anonimamente neste espaço têm dificuldade pra entender coisas simples e por isso a gente se obriga a mastigar.

Continuando...

Não nego que elevados e viadutos sejam soluções para alguns problemas. Há pontos tão críticos que tais obras podem mesmo ser necessárias. No entanto, elevados e viadutos, na minha opinião, devem ser a última solução quando falamos de mobilidade. Antes de pensar em grandes – e caras – obras desse porte, é necessário pensar em diversas outras.

A primeira delas é diminuir o uso do carro. Como fazer isso? Simples, com um transporte público que tenha qualidade e seja barato (ou gratuito) e com boas condições para que os ciclistas possam usar a “zica” para as mais diversas finalidades. Ou seja, ciclovias e ciclofaixas caprichadas (e não aquelas que acabam no meio da rua), estacionamentos seguros para as bicicletas, entre outros incentivos. A própria iniciativa privada poderia pensar em promoções para quem usa o coletivo ou a bicicleta. Empresários poderiam gratificar seus funcionários e os setores de comércio e serviços poderiam fazer promoções.

Mas, claro, o processo descrito acima é mais complicado. Não é impossível, é apenas mais complicado. Por isso, vamos continuar trabalhando com a lógica do carro. Assim, acredito que a solução para o caos no trânsito é investir em soluções simples. Por exemplo, a obra que vi na semana passada em uma rotatória da avenida Beira-rio, perto da lanchonete do Gordão. Veja na foto:

A passagem que ligava a rua Padre Antônio Vieira ao Gordão foi fechada - olha ali o monte de barro! - e eu vi algumas pessoas chiarem por causa disso.  O que não elas notaram, porém, é que apenas o fato de fechar aquela passagem, eliminou um ponto onde o trânsito parava. Como era necessário esperar a vez para passar ali no horário de pico, formava-se uma fila que travava o restante da Padre Antônio Vieira. Aí essa fila ia até a rótula no fim da rua Iririú. Com a obra, além de eliminar aquele ponto que causava a fila, foi alargada a saída da Padre Antônio Vieira para a Beira-rio. Com isso, onde só passava um carro que tinha três opções, agora passam dois com duas opções de caminho, direita ou esquerda.

Essa foi uma obra que não custou praticamente nada e vai agilizar o trânsito no local. Não vai resolver, claro, porque os carros que passam mais rápido ali vão parar lá na frente, em outro ponto crítico. Mas de solução em solução as coisas vão melhorando. Assim como essa, podem haver centenas de pequenas soluções para grandes problemas em toda a cidade. Outro exemplo disso são as “mãos inglesas” que também resolveram problemas pontuais.

O problema disso tudo é que tem muita gente com mania de desmerecer essas obras. Preferem implorar por elevados, por grandes gastos. Eu, sinceramente, não sei se gostam de falar por falar ou se falta consciência mesmo do estrago que um elevado vai fazer no meio da cidade.

Para finalizar a minha pequena listinha de alternativas aos elevados, vou falar de um tipo de obra tão cara quanto um elevado, mas muito mais útil e necessária para a cidade: abertura de vias. Praticamente todo o fluxo da cidade passa pela região central e assim fica complicado mesmo. A cidade precisa de mais ligações entre suas regiões para desafogar o centro.

O binário da Vila Nova é o caso mais emblemático. É impossível haver apenas uma ligação entre uma região tão populosa e o resto da cidade. Aliás, duas vias será pouco. O binário da rua Tenente Antônio João com a Santos Dummont é outro caso. É maluquice querer um elevado por ali antes de saber qual será o efeito do binário.

*

Enfim, eu acredito que não há solução para o trânsito enquanto tiver essa quantidade de carro na rua. É necessário trabalhar para que as pessoas usem o carro, a bicicleta, o ônibus, o barco, o skate, o patinete. E trabalhar significa dar condições e educação para que as pessoas encarem o trânsito e a mobilidade de outra forma. Enquanto isso não for feito, pode fazer 30 elevados na cidade e nada vai adiantar.

Para encerrar a postagem, deixo uma sugestão de leitura e um convite:

Sugestão: A jornalista Natália Garcia percorreu o mundo para ver como alguns cidades-referência (Paris, Copenhague, Amsterdam) lidam com essa questão do trânsito. As impressões estão no site Cidade para pessoas.

Convite: Um grupo de ciclistas organizados de Joinville vai promover, nesta sexta-feira (24), às 18 horas, o evento Massa Crítica, “que acontece mensalmente em centenas de cidades ao redor do mundo e é aberto a todos que queiram promover as condições necessárias para o uso da bicicleta como meio de transporte no espaço urbano.” Apareça para conhecer e debater o assunto.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

O carnaval está terminando... e 2012, começando?

POR CHARLES HENRIQUE
Pode parecer clichê, mas é a realidade brasileira. O carnaval está acabando, e o ano, finalmente, está começando. Após as manifestações culturais da maior festa brasileira (que em certos momentos mais se parece com um subterfúgio social para o sexo), temos nove meses para correr atrás do prejuízo já acumulado neste começo de ano. Para os órgãos públicos esta é uma velha máxima todos os anos.

Aqui em nossa cidade acompanhamos uma bela festa de carnaval, principalmente se considerarmos que até cinco anos atrás nada existia por aqui. A Fundação Cultural de Joinville (FCJ) fez um belo trabalho em todos os anos, e sem a ajuda do Governo do Estado, que ignora Joinville e investe no carnaval de cidades que metade dos joinvilenses nunca ouviu falar.

Tirando isso, a cultura infelizmente não se resume apenas à festa de Carnaval na Rua Rio Branco e na Praça Dario Salles. A FCJ dá importância exacerbada para esta festa, e esquece-se da difusão cultural promovida por outros projetos e pelos seus aparelhos públicos. Nesta atual gestão, ações que levavam as políticas públicas para os bairros (como a Caravana Cultural e o Curta nos Bairros, por exemplo) simplesmente deixaram de existir, sem ter nenhuma intervenção na periferia da cidade. Quem intervém na periferia são os artistas contemplados pelo Sistema Municipal de Desenvolvimento da Cultura, o SIMDEC. Uma ótima forma de ajudar os artistas que não pode ser confundida com “terceirização”, entretanto, está.

Resta-nos aqui alertar que os museus de Joinville pedem socorro. Várias interdições irão marcar a política cultural joinvilense do começo deste século. O último a ser interditado foi o Museu do Sambaqui, referência mundial para os especialistas. Casa da Cultura está com uma reforma interminável, Estação da Memória, Museu Fritz Alt, Centreventos eTeatro Juarez Machado com problemas. Onde vamos parar? Não adianta dar a desculpa de que é uma “herança maldita” de gestões anteriores. Caso sabia-se do problema, por qual motivo não foi consertado? Não adianta ser omisso com o problema deixado pelo antecessor...

Está na hora da FCJ avaliar sua atuação, e, lembrar: a política cultural da cidade não se resume apenas a carvanal e SIMDEC. E mais: ter a dedicação que tem com o carnaval para com as outras áreas da cultura aqui na cidade; só assim teremos de fato uma difusão das idéias e do conhecimento, cujo ganho social é incomensurável. Será que o ano só começa agora para a FCJ?

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

A camisa do JEC virou um abadá

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO


Para escrever o texto de hoje, primeiro preciso fazer dois statements.

1. Sou torcedor do JEC.
2. Trabalho com design de comunicação e com marketing institucional.


Digo isso porque neste momento esses dois statements parecem inconciliáveis. E volto a focar um tema já abordado de passagem na minha coluna do AN: a camisa do JEC. O sem-número de marcas de patrocinadores transformou o uniforme do time numa autêntico abadá. Ok... pode até ser legal agora durante o carnaval, mas depois fica over. São logotipos a mais. 


Entendo que o torcedor mais fanático esteja pouquíssimo preocupado com isso. Não importa se a camisa parece uma penteadeira de puta, tal o número de adereços. Afinal, o que interessa é o clube ter grana suficiente para construir uma equipe capaz de disputar os campeonatos que vêm por aí. O torcedor é sempre emocional e estará sempre a favor enquanto o time ganhar.


Mas quando os dois últimos grandes patrocínios foram anunciados, pensei que as verbas seriam suficientes para sustentar o clube. E o melhor: que era o fim da venda da marca JEC no varejo. Mas não. Fui informado - e continuo a suspeitar que só pode ser um erro de informação - que BMG e Eletrobrás serão “mais” dois patrocinadores. Ou seja, que serão apenas mais duas marcas na camisa.


O grande exercício do designer (aviso que um designer a sério não aceitaria esse trabalho) será encontrar um lugar na camisa para os novos logotipos. Mas aí faço uma pergunta. Você, enquanto patrocinador, iria aceitar a sua imagem numa camisa que ficou poluída em termos estéticos e confusa em termos de leitura, ostentando marcas que parecem pregadas a martelo?


Há duas respostas. Sim, se você for um patrocinador de uma empresa de cariz público que chegou ao clube por interesses políticos. Não, se a empresa for da iniciativa privada. Eu, enquanto profissional de marketing, nunca recomendaria um patrocínio nessas condições a um cliente. Porque esse furdunço de logotipos não acrescenta valor à marca. Pelo contrário.
O que não dá para entender é essa insistência em vender a marca JEC no varejo. Porque os atuais patrocínios não darão sustentação de longo prazo ao clube. Quem recorre aos caminhos políticos em vez dos caminhos empresariais acaba ficando na mão. E se hoje o torcedor está contente, amanhã vai cobrar a falta de solidez. É preciso ter visão de longo prazo e tratar a marca JEC (que é muito valiosa) com maior rigor. 


Muita gente riu da piada de um dirigente do clube, quando ele disse que o JEC precisaria usar duas camisas diferentes - uma para cada tempo de jogo - por causa de tantos patrocínios. O meu lado emocional de torcedor é capaz de rir junto. Mas o meu lado racional de profissional de marketing lembra que muito riso pode ser sinal de pouco juízo. Afinal, se eu tenho dificuldade em encontrar o distintivo do JEC numa camisa, algo está errado com a marca. 


Mas pelo menos espero que os jogadores corram muito em campo. Porque nem os pilotos de Fórmula 1 têm tantas marcas no uniforme.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Acrescentar um ponto ao debate: Conselho de Usuários e Usuárias do Transporte Coletivo.


POR MAIKON K

O debate sobre o futuro do transporte coletivo na cidade ganha novos espaços. A primeira audiência pública sobre o tema, organizada pela Comissão de Licitação - cuja composição é de 100% de membros da PMJ (Prefeitura Municipal de Joinville) - deixou a desejar, por justamente não abrir a participação de diferentes setores da cidade que debatem o transporte coletivo. Ao mesmo tempo, as duas audiências (a segunda está marcada para o dia 27 de fevereiro) se mostram com uma tintura democrática, porque segundo a PMJ, o futuro do transporte em Joinville já tem destino definido: controle e exploração da iniciativa privada, longe dos interesses da população.

A FLPT (Frente de Luta pelo Transporte Público) por quatro anos constrói sua visão sobre o funcionamento e importância de transporte público, gratuito e de qualidade para a cidade. Debates e seminários com diferentes vozes formularam com base concreta o projeto Tarifa Zero. O projeto está em discussão no Blog Chuva Ácida. Manifestações ocuparam as praças e as ruas da cidade, única maneira de se fazer ouvir pelo poder municipal, já que o debate com as vozes dissidentes na perspectiva política radical, ainda sofre muita resistência. Eu quero acrescentar um ponto, ainda de maneira introdutória e superficial, que é a formação de um Conselho de Usuários-as do Transporte Coletivo.

A prática política atual está convencionada aos espaços institucionais. Ou seja, tudo que acontece fora da Câmara de Vereadores, da PMJ e dos Partidos está condenada a ser ignorada, tratada com indiferença ou classificada a “rebeldia juvenil”. A FLPT está na contramão da presente prática política, se coloca com disposição a auto-organização das vozes dissidentes por um transporte público. Fato que leva a descrença de setores mais tradicionais da esquerda joinvilense, da grande mídia local e da PMJ. A prática política FLPT é a democracia das ruas. O entendimento dos espaços abertos da cidade proporciona que a cada pessoa inserida na luta traga o seu ponto de vista, seu acúmulo teórico e prático sobre o tema, criando um poder de voz e de voto diferente do que acontece nos espaços institucionais, onde o futuro da cidade é determinado por representantes ligado à exploração econômica e dominação política e cultural. Antes que você afirma algo, já digo, não é a anarquia nas ruas, mas uma tentativa de ampliar o entendimento prático de democracia.

No mesmo cenário, homens e mulheres mantêm entusiasmos com os espaços “democráticos” assegurados pela Constituição de 88 e pelo Estatuto das Cidades. Consideram os Conselhos Municipais como uma via necessária, porque não dizer fundamental, a ser ocupado por nós. Quando críticas são feitas aos Conselhos Municipais, os argumentos estão baseados que os espaços são conduzidos por pessoas corruptas, mesmo assim, ainda se mantém fé nesses espaços institucionais. Porém, nos últimos anos vivenciamos um pouco mais do que simples corrupção. Vemos Conselhos funcionarem para manter a “ordem”, “paz social” e o “trabalho”. Cito somente dois fatos relacionados ao Conselho Municipal da Cidade :  Em 2009,  a articulação do tal Conselho ignorou as vozes dissidentes, na época publiquei sobre a  questão, leia:

Conselho (06 de agosto)

Quando a dança não é para todos (08 de agosto)

Uma raivosa resposta a Charles Henrique (13 de agosto)

Outro fato é que a Justiça cancelou as deliberações do Conselho Municipal da Cidade, mais informações na reportagem do Jornal A notícia, publicada no último dia 14 de fevereiro de 2012.

Por isso, quando falo, e em certo aspecto a FLPT também argumenta, sobre Conselho de Usuários e Usuárias, não faço referência ao modelo pouco participativo, de fácil manipulação para os interesses de quem explora economicamente e domina politicamente e culturalmente os caminhos da história escrita no tempo presente, como nos Conselhos Municipais.

O que trago para vocês é a ideia de que não basta uma empresa pública com transporte público e gratuito, torna-se fundamental a criação de um Conselho de Usuários, que seja proibida a participação da iniciativa privada e da PMJ. A legítima organização de usuários e usuárias do transporte coletivo.



As possíveis responsabilidades do Conselho:

A) que os (as) participantes não sejam remunerados e nem ocupem cargos comissionados na PMJ e na Câmara de Vereadores, menos ainda na iniciativa privada que explora a questão da mobilidade urbana.

B) que os conselhos sejam organizados nas 14 secretárias regionais, mas completamente independente da PMJ.

C) que seja responsável pela fiscalização do funcionamento, dos gastos, das arrecadações para a aplicação da gratuidade

D) que seja responsável pela elaboração, junto com os técnicos responsáveis pelo setor de mobilidade urbana, da criação e mudanças das linhas disponíveis, a condição de trabalho dos motoristas, mecânicos e outros profissionais que trabalham para o funcionamento do transporte

E) que seja responsável pela acessibilidade de pessoas com necessidades físicas, visuais, de ciclistas e outros (as).

No presente blog, quando é citada a necessidade de um transporte público, os descrentes com os serviços públicos apontam o quanto os homens e as mulheres que compõem o Estado são responsáveis por corrupção, gastos excessivos e má gestão. Eu concordo com esses apontamentos na realização da cidade capitalista, apesar de acreditar que essas práticas estão contidas na própria existência do Estado. Porém, torna-se fundamental defender os serviços públicos básicos para todas as pessoas. Dentro do contexto de construção de luta, a criação de um Conselho de Usuários e Usuárias é uma tentativa para evitar os desvios corruptos e de interesses privados em detrimento da população local.

Maikon K é membro da Frente de Luta pelo Transporte Público, professor do ensino fundamental e médio e trabalhador da cultura na CIA Rústico Teatral.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Joinville em poemas e problemas

POR GUILHERME GASSENFERTH

Joinville é uma cidade
lotada de problemas.
Vou sem dó nem piedade
falar sobre alguns temas.

A biblioteca, coitada,
se a visse Rolf Colin
deste jeito abandonada
choraria sem ter fim.

Biblioteca sem teto
Museu interditado
Não posso ficar quieto
Muito triste tenho achado.

E falando em interdição
lembrei-me das escolas:
descaso, decepção!
Como pode, oras bolas?

E da Câmara, que falar?
Os nossos maus vereadores
ao invés de legislar
só nos causam dissabores.

Além disso é só olhar,
com os carros do Odir,
não precisam trabalhar,
basta apenas dirigir.

E falando aqui de carro
nosso trânsito tá horrível.
Isto tudo é bem bizarro
pois o imposto está incrível.

De bicicleta nem pensar
não dá para ser feliz
se ninguém te atropelar
então foi por um triz!

De busão fica difícil
desconforto e lotação
além de tanto sacrifício
o preço é deste tamanhão!

Se eu não vou com a Transtusa,
"opto" pela Gidion
esta escolha é obtusa
porque como tá não está bom.

E nem mesmo de avião
é possível ter conforto
porque ali no Cubatão
já tá pequeno o aeroporto.

E agora vou dizer:
obrigado, seu Carlito
mais espaço pro lazer
nosso parque tá bonito

Mas não posso me furtar 
a falar com sinceridade:
É preciso batalhar
por um parque de verdade!

Não esqueçamos da saúde
muito menos do Zequinha
vemos cada vez mais amiúde
superlotado na telinha.

Vendo assim até dá pena
e a toda hora, o tempo inteiro
entoam a mesma cantilena
"Isto é falta de dinheiro!"

Mas não se engane, não Senhor
quando ouvir este bordão
digo isto sem temor
O problema é de gestão

O Carlito até tentou
melhorar a administração
E onde foi que ele errou?
Foi na comunicação.

Mas até gosto no geral,
da gestão deste Carlito.
Se tá errado eu meto o pau, 
mas se tá bom eu admito!

Acredite, Joinville ficará boa!
mas pr'isso se concretizar
e não ter sido tudo à toa
pense muito bem na hora de votar.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Escolher entre fazer o fácil e o difícil




POR JORDI CASTAN

Sem chegar ainda a ser uma situação apocalíptica, Joinville não apresenta muito bom aspecto. A quantidade de pessoas, das mais diversas origens e condições, que manifestam o seu descontentamento pelo estado em que a cidade se encontra é elevada demais para que se possa falar em orquestração.

Por que será que a cidade parece regredir em lugar de avançar, como todos gostaríamos. Alain de Botton, o conhecido filosofo suíço, que esteve no Brasil há poucos dias, responde com a simplicidade que lhe é característica: “A desordem, o caos e mais fácil, a ordem, a organização dão mais trabalho.” Simples assim.

Organizar, planejar, prever, fazer, resolver exige mais esforço e capacidade que procrastinar, esquecer, deixar de fazer ou em outras palavras olhar para o outro lado. A facilidade com que nos deixamos levar pela senda do menor esforço é evidente. Nem precisamos enumerar os prédios públicos que estão interditados ou em estado precário. As obras inconclusas, interrompidas ou deterioradas prematuramente: todos conhecemos mais de media dúzia. A situação é tão comum que a imprensa quase nem noticia mais.

Estes são os pontos em que as pessoas se fixam para chegar à conclusão de que as coisas não estão bem. A percepção, por outro lado, tem um peso importantíssimo. O que passa a ser verdade é aquilo que as pessoas percebem com verdadeiro. De nada adianta gastar pequenas fortunas para repetir que três praças são um parque, ou que nunca se fizeram tantas obras, ou que a qualidade das obras públicas agora é muito melhor que no passado. O que conta é a percepção.

À medida que o tempo passa, e há menos areia na parte de cima do relógio, é mais difícil acreditar que o que não foi feito antes será feito agora. Porque quem escolheu seguir o caminho mais fácil dificilmente vai mudar a sua forma de agir. Mudar a forma de agir toma tempo, exige esforço, mudanças comportamentais. E nem sempre tem sucesso. Quando se trata de uma pessoa já é difícil, quando se fala de cultura organizacional é quase impossível. Se além de todas estas dificuldades, ainda há resistências internas e se a organização em questão muda de direcionamento a cada quatro anos, pode ser uma missão impossível.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

A resposta da comunidade

POR FELIPE SILVEIRA

A discussão [sem noção] sobre parque ou praça ficou pra trás, conforme imaginado. No presente a história é outra e o Parque da Cidade mostra todos os dias o quanto era imprescindível para a população joinvilense.

Duas vezes por semana, pelo menos, eu vou ao parque para jogar basquete. Talvez porque estávamos em período de férias escolares, quase sempre tive que esperar para poder usar uma das tabelas, sempre ocupadas. Enquanto esperava, gostava de observar o movimento intenso do parque. Seja na academia da melhor idade, usada por gente de todas as idades, ou na pista de corrida. Ou mesmo nos banquinhos, sempre ocupados por amigos ou famílias, que gostam de ficar apenas conversando. Ah, claro, não posso me esquecer do senhor que ficava pulando corda, sozinho, bem no meio do setor Bucarein. Ele poderia fazer isso na garagem de casa, mas, sei lá por que, ali é mais legal. E nem vou falar da pista de skate e das quadras do setor Guanabara, já que mal passo por lá, mas sei que estão sempre cheias.

Então, parque ou praça, o importante é que o espaço desempenha um papel cada vez mais importante na vida de algumas pessoas. E nem vou falar da comunidade, já que eu já joguei bola com gente que veio do Itinga e com gente que veio de Pirabeiraba.

Ressaltei a importância do parque para as pessoas porque Joinville precisa de mais. Mais parque, mais praça, mais pista de corrida, mais pista de skate, mais tabelas para o basquete e mais redes de vôlei. Apesar de gostar de pedalar até o parque, eu adoraria poder jogar basquete aqui na Praça Tancredo Neves, do lado de casa, cuja fama, desde que eu me entendo por gente, é de "lugar de maconheiro". E eu tenho certeza que isso pode mudar.

Particularmente, não vejo motivo para que não tenha pelo menos duas tabelas de basquete em cada praça da cidade, já que o espaço necessário é muito pequeno. Digo o mesmo para a rede de vôlei, apesar de entender que neste caso o objeto está mais sujeito ao vandalismo. Confesso que fico um pouco decepcionado quando vejo uma praça nova sem uma tabelinha.

Ah, e não posso esquecer de uma velha reclamação do pessoal do basquete. A tabela não pode estar na quadra de futsal, pois isso gera uma disputa pelo espaço por diferentes grupos. Cada um com o seu espaço.

Sobre o vandalismo, apesar de ser um problema sério, é um problema que tem que ser encarado de frente, até que as pessoas tenham a consciência devida do que é público e o cuidado que se deve ter com aquilo que é de todos.

Fica, então, a minha singela sugestão para que cada vez mais seja investido em parques, praças, espaços para a prática esportiva e outros locais que sirvam simplesmente para um passeio com a família ou uma conversa com os amigos. O resultado, que é ganho em qualidade de vida, pode ser observado em poucos meses.


terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

iPads para os Deputados Estaduais. Computadores ultrapassados para as Escolas Básicas.

POR CHARLES HENRIQUE

Há alguns dias algo vem me martelando a mente. E mais uma vez, vem lá da Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina:

“Na volta dos deputados estaduais ao trabalho, nesta terça-feira, cada um deles vai ganhar um iPad para trabalhar. Os equipamentos foram comprados pela Assembleia Legislativa, que gastou R$116 mil na compra de 45 aparelhos e capas protetoras. […] A intenção, segundo a instituição, é facilitar o acompanhamento da tramitação de processos por parte dos parlamentares, reduzindo a circulação de documentos em papel.” (Grupo RBS, 6/2/2012)

Sobre esta importante aquisição para os nobres legisladores, temos dois pontos a debater: 1) a eficiência de um iPad para o dia-a-dia do deputado e 2) o custo financeiro.

(Foto: Divulgação ALESC)

Um deputado estadual já ganha um salário muito gordo (20 mil reais) e tem uma verba de gabinete estratosférica, com uma quantidade maior ainda de assessores, sem contar as diárias de 670 reais como já denunciamos aqui no Chuva. Será que mesmo assim o deputado precisa ganhar um iPad, visto que sua renda mensal é tão pouca, e que este item indispensável tem que ser comprado em massa, simbolizando um “presente”? O plenário é todo informatizado, os gabinetes também. Deputados não cansam de twittar de seus celulares mega potentes. E agora todos têm um iPad. Tá bom, fui convencido...

Por outro lado, este indispensável item custará em média 2.500 reais (R$116.000/45 = R$2.577,78). Este é o preço de mercado do iPad mais avançado que está a venda, com wi-fi, 64GB, e acesso 3G. Tudo tem que ser do mais top, não é?

(Foto: Divulgação ALESC)

Em contrapartida, as escolas do Estado de Santa Catarina sofrem. E não vi nenhum deputado catarinense cobrar do Governo do Estado uma melhor política de inclusão digital nas escolas, bem como a compra de tablets (para as crianças aqueles tablets sem qualidade, por favor!) que favoreçam um diálogo maior de nossa juventude com a tecnologia mais avançada. Os computadores que aparecem por aqui são aqueles baratinhos, com a tecnologia mais simples possível, e professores de informática mal treinados, e, por fim, sem um responsável pela manutenção dos aparelhos. Deixam acumular uma quantidade significativa de aparelhos estragados, para aí sim licitar o conserto.

(Foto: Divulgação ALESC)

Não está na hora dos deputados olharem para Santa Catarina de outra forma?

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

No circo da Câmara, os palhaços estão na plateia!

POR GUILHERME GASSENFERTH

A Câmara de Vereadores de Joinville especializou-se em sair da sua especialidade.

No ano passado, vimos o bizarro espetáculo da mediação da greve dos servidores municipais – coisa que não tem nada a ver com as atribuições daquela Casa. Não sei se era um teatro de tragédia, comédia ou farsa. Soou como demagogia, mas deve ter sido apenas impressão minha.

No fim do ano, o presidente Odir Nunes – que depois de alguma pressão resolveu dividir a gostosa incumbência com outros vereadores – confundiu as atribuições do Legislativo com Executivo e passou a decidir o destino das sobras de recursos da Câmara. É de fazer Montesquieu arrepiar-se em sua tumba. Não é mais o Executivo que decide o que fazer com o dinheiro, é o Legislativo – como se as sobras não voltassem automaticamente para os cofres da Prefeitura. As entidades que receberam parte destes recursos têm o nobre edil em alta conta agora. Soou eleitoreiro, mas deve ter sido apenas impressão minha.

E volta a lenga-lenga com os polêmicos carros da Câmara. Quando assumiu, o presidente Odir resolveu moralizar o uso dos carros na Câmara. Os veículos antes só podiam pernoitar em órgãos públicos ou na própria Casa e serem usados de segunda a sexta – sem salvo-conduto para partidas de futebol. Com a posse de Odir, podem ser usados independentemente do dia, e podem agora pernoitar na casa do legislador, de seus assessores. Soou como confusão patrimonial, mas deve ter sido apenas impressão minha.

E aí, no ano passado, aumenta em 61,4% a quilometragem dos carros na Câmara. De 181,3 mil para 292,6 mil. Vamos escutar as razões que permitiram este pequeno aumento. Do diretor-geral da Câmara, Flávio Boldt, publicado em ANotícia deste 13/02/2012: “Eles [os vereadores] estão mais atuantes nos dois últimos anos. O aumento da quilometragem reflete o aumento do trabalho do Legislativo”. Oh, sim. Soou delirante, mas deve ter sido apenas impressão minha.

Odir, que disse ter implantado “um choque de gestão” na Câmara, deve ter se eletrocutado com o próprio choque e afetou sua capacidade de argumentação lógica. Veja o que ele diz, sobre o aumento da quilometragem e suas regras permissivas de uso dos carros: “Aumentou a quilometragem justamente porque o controle que fazemos é rígido”. Ah, bem. Soou incoerente, mas deve ter sido apenas impressão minha.

E a Câmara inicia o ano mais uma vez saindo de sua especialidade legislativa. Agora, o plenário da Câmara transformou-se também em palco de um hilário espetáculo de humor, de fazer inveja a qualquer bom circo. Mas os palhaços estão na plateia.