POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Tudo começou com uma manobra do
primeiro-ministro David Cameron para tentar salvar a sua posição no próprio partido e no governo britânico. Em teoria, a ideia de convocar um referendo
sobre a saída ou a continuidade do Reino Unido na União Europeia não tinha como
dar errado. O primeiro-ministro fazia a vontade dos eurocéticos, que defendiam a
saída, e no final os britânicos votariam pela permanência. Mas...
Deu errado. E os fatos de hoje trazem uma
enorme ironia. David Cameron usou o referendo para manter o poder e hoje,
depois de anunciada a vitória do brexit, acaba por anunciar a sua saída do governo, que
deve acontecer até outubro. E o pior. O sim ao brexit teve reflexos
imediatos nos mercados , que reagiram muito mal. As bolsas abriram caindo a pique e os
principais bancos britânicos tiveram quedas de até 30%.
Há algum pânico (escrevo no momento de abertura das bolsas europeias) porque os mercados são temperamentais. Mas à medida em
que a carroça da economia andar as melancias se ajeitam. A vitória do brexit indicia duras
consequências para Reino Unido e União Europeia, mas vai sobrar para todos.
Podem tirar o poneizinho da chuva os brasileiros que acham nada ter a ver com
isso. Porque de uma forma ou de outra, com mais ou menos intensidade, todos
serão afetados.
A questão política parece ser a mais delicada e o grande abacaxi
ficou nas mãos da União Europeia. Hoje Donald Tusk, presidente do Conselho
Europeu, veio dizer que as consequências do brexit serão dramáticas, mas que
a integridade da Uniãpo Europeia. E está garantida. O problema é que o discurso não mobiliza.
Os homens que mandam em Bruxelas são tecnocratas que não foram eleitos e isso
não ajuda a passar a mensagem.
O fato é que União Europeia tem agora novos desafios à
frente. Os partidos de direita na Holanda e França - países de proa no projeto europeu - já há algum tempo falam em referendos nos moldes do britânico. A vitória do brexit servirá de tônico para
os nacionalismos e populismos de outros países. E vejam a ironia. A Escócia
quer um referendo que proponha a sua independência do Reino Unido. Em caso de
vitória, os independentistas propõem integrar a União Europeia. A Irlanda do Norte já mostrou a pretensão de ser independente e juntar-se à República da Irlanda. Ambos na União Europeia.
O que vai acontecer de imediato? Passado o
dramatismo do momento, do ponto de vista econômico as coisas devem acalmar e tudo vai se reacomodar. Mas há
um fato político ao qual os líderes europeus não conseguem escapar: a vitória do brexit abriu fendas na fortaleza-Europa. Outros virão depois dos britânicos.
E pedra após pedra, o castelo pode ruir. É preciso dar um novo rumo para a carcomida
Europa.
Mas como resgatar a confiança no projeto de uma União Europeia? O ponto de vista pessoal pode ser ilustrativo. Se alguém perguntar
hoje, enquanto cidadão europeu, quero sair da União Europeia, a resposta é sim. Porque as políticas claramente neoliberais de Bruxelas estão a levar os europeus à exaustão. Aliás, ao contrário do que muitos pensam, ao saírem
da União Europeia os britânicos não ganham mais soberania. Porque o
neoliberalismo continua...
É a dança da chuva.
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David Cameron anunciou a demissão logo pela manhã |
Mas qual o problema?
ResponderExcluirSeriam os referendos adulterados? A pergunta foi simples: permanecer na UE ou sair, e o britânicos tiveram sua resposta.
Ao menos o referendo britânico não foi calhorda como aquele feito sobre o desarmamento no Brasil, com uma pergunta capciosa, ainda assim os brasileiros entenderam a questão e votaram favoráveis a liberação das armas à população.
Acho que Cameron virou a casaca, virou um típico esquerdista: fanfarrão e contraditório. Não há espaço em países desenvolvidos e bem resolvidos para políticos como Cameron.
Por fim, que a mesma pergunta feita aos britânicos seja feita também a todos os integrantes da UE, afinal, não estamos falando de democracia?
Falaste só por falar, né? Porque não tinhas muito a dizer...
ExcluirAlguns dos meus amigos britânicos lamentam a saída britânica (ficou até redundante) do bloco europeu. Pessoas com alguma carga de experiência... vamos ver o que acontece.
ResponderExcluirAhmed
O pessoal mais "educado" queria ficar. Mas democracia é assim mesmo...
Excluirtem alguém te segurando aí?
ResponderExcluirTem.
ExcluirPior para a Inglaterra
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