É
impressionante o tantão de gente que puxa o Brasil para o atraso. Parece que há
um certo prazer em sabotar o país. E nem é preciso ir longe para constatar. A
obtusidade fez ninho na Câmara de Vereadores de Joinville (ok... não é de
agora), onde está em discussão a ideia de implantar a tal “escola sem partido”.
Uau! Agora já se tenta impor a ignorância por decretos. Ou seja, usar
a "legalidade" para cometer um crime de lesa-inteligência.
É
difícil imaginar as razões que levam a ver mérito numa proposta tão retrógrada.
Mas a vereadora-pastora Léia encontra
virtudes e, segundo o site da CVJ, até fez da “escola sem partido” uma bandeira
do seu mandato. Aliás, antes de prosseguir permito-me um parêntese. As palavras
“vereadora” e “pastora” numa mesma frase provocam comichões. Tudo remete para rebanhos
e para a velha expressão “curral eleitoral”.
Parece
ser uma questão de fé na iliteracia. A proposta parte de uma visão canhestra do
ensino, em que o professor é visto como o inimigo capaz de fazer a cabeça dos estudantes. E o que propõe a tal “escola sem partido”? Ora, uma
doutrinação reversa na qual a doutrina passa pela transformação dos estudantes em
autômatos abúlicos. Ortogênese dos corpos dóceis, diria Foucault. Parem de brincar com coisas
sérias, senhores vereadores.
A
vereadora-pastora Léia propõe, em texto no site da CVJ, evitar que os
estudantes sejam influenciados (ou doutrinados) em temas mais candentes.
“Questões políticas, religiosas e ideológicas são muitos pessoais e familiares.
Esse tipo de educação doutrinária pertence aos pais. As crianças e adolescentes
têm o direito de ter suas ideias e suas ideologias e não ser influenciados
nisso nas escolas”, afirmou.
Errado,
pastora. Aliás, como diria Chaves, “dá zero para ela”. Chaves... o outro,
porque não quero ser acusado de doutrinação bolivariana. Podemos até deixar a
religião de barato, uma vez que a sua essência é ser doutrinária. Mas no plano
familiar o prosélito defendido pela vereadora não se aplica aos temas da “política”
e “ideologia”. Porque estes obrigam ao embate de ideias. É esse um dos muito papéis
da escola.
A
vereadora-pastora e seus sequazes demonstram um entendimento canhestro dos
processos de subjetivação. Ou seja, esse pessoal acredita que o sujeito, no seu
processo de construção, é um receptáculo vazio, pronto a ser preenchido com
ideias que lhe são impostas de fora. Isso é besteira. A subjetividade resulta
de um processo negocial. Para isso são necessários interlocutores capazes de produzir
dissensos, antíteses, oposições.
Mais
debate, melhores cidadãos. Mas é exatamente isso o que se propõe retirar com o
decreto. Aliás, o nome “escola sem partido” é um slogan político inserido numa
velha estratégia: apontar um mal inexistente e depois apresentar a "solução". É capaz
de convencer os que pensam em slow motion,
mas qualquer pessoa com dois dedinhos de testa sabe que slogans não fazem
programas educacionais.
Nem
vale a pena discutir a questão pedagógica (os especialistas têm feito um bom
trabalho), porque o atraso é evidente. O ideário escondido por trás do slogan
“escola sem partido” é obscurantista. Aceitá-lo é um erro grosseiro. E que põe
o Brasil a andar na contramão da civilização. Por fim, há um fator
incontornável: a educação é coisa séria demais para ser deixada nas mãos de
vereadores cuja literacia é questionável.
É
a dança da chuva.
Sabotar o país é o que essa esquerda rançosa e rancorosa vem fazendo desde a redemocratização. Ignorância e mau-caratismo é o que professores fazem em salas de aula ao impor suas ideologias e paixões a alunos politicamente inexperientes. É a chamada “propaganda”, ainda comum nos recintos esquerdistas empoeirados. E a culpa nem sempre é do professor, pois o próprio também foi vítima dessa canalhice já nos campis universitários. Michel Temer tem a chance de enxotar essa bandalheira toda do MEC e limpar nossos livros dessa mentira chamada socialismo/comunismo que professores frustrados e infelizes ainda insistem e transmitir aos alunos, formando um exército de filhinhos de papai hipócritas e revoltados à la Gregório Duvivier.
ResponderExcluirViram, leitores e leitoras? É o exemplo do que eu disse. Quem pensa em slow motion pensa como o nosso amigo aqui... que fica a vomitar clichês e ódio de classe.
ExcluirTem como não amar anônimo cheio de ideologia e completamente doutrinado ser a favor da "escola sem partido"? Não sei você, Baço, mas eu acho fascinante essas pessoas que acham que ideologia e doutrinação são coisas apenas de comunistas. É uma cegueira que me comove, no fim das contas :)
ExcluirAliás, Rubens, todas as vezes que vejo a expressão "ideologia" dá arrepios. Você se obriga a ler livros e mais livros sobre o tema... e aí vem um anônimo qualquer cheio de certezas a respeito. Meu santo Destutt de Tracy
ExcluirEm toda minha vida acadêmica na rede pública (00-2010, boa parte do governo PT), nunca ouvi falar em sala de aula do socialismo/comunismo... infelizmente. Pq essa reaçada não mostra então aonde esta esse doutrinamento que nunca vi até agora?
ResponderExcluirNão vão mostrar. Porque, como digo no texto, a estratégia consiste em apontar um mal inexistente e depois apresentar uma "solução".
ExcluirEsse projeto e essa pastora deveria levar um processo judicial pois pressupõe que o ser humano é incapaz de discernimento. Rebaixa as pessoas a objetos, portanto é preconceituoso, discriminatório e arbitrário.
ResponderExcluirCrianças são incapazes de discernir o que bom do que é ruim, aí entra a canalhice de alguns professores preconceituosos, discriminatórios e arbitrários.
ExcluirTá cheio de professor ensinando marxismo no jardim de infância...
ExcluirSábado passado, no encerramento das comemorações dos 90 anos de uma conhecida escola, maior reduto coxinha de Joinville, tivemos uma amostra da "escola sem partido". Esteve presente no evento o vereador Rodrigo Tomazzi (PP). É claro que a presença do edil não teve qualquer objetivo eleitoreiro, longe disso...mas o que chamou atenção, é que ele foi a única personalidade a ser citada no discurso pelo orador* do evento. *orador e diretor da escola.
ResponderExcluirCoisas da vila...
ExcluirExiste sim meu caro! Na minha época de faculdade, vi uma aluna ser prejudicada por sua escolha política em uma disciplina de sociologia. Ficou em exame e foi perseguida pela professora, que se denominava marxista, durante todo o semestre. Só passou com média, quem era "a favor" da tal professora. No pré-vestibular, tive um professor, o famoso da suástica na piscina, que defendia a ideologia de Hitler e seus comparsas. Nazismo goela abaixo mesmo. Sem contar, professores que ainda hoje discriminam seus alunos por suas escolhas políticas, religiosas e, inclusive, sexuais! Tem muito professor bom, mas tem cada militante doutrinador que dá nojo!
ResponderExcluirSe o problema são alguns professores, foquem .os tais professores. Mas é impossível imaginar uma universidade (ou cursos pré-universitários) que não debata o marxismo ou o nazismo.
ExcluirSei que você não quis entrar no mérito da discussão religiosa, mas não consigo evitar...
ResponderExcluirSe a intenção é tirar as doutrinações ideológicas das escolas, uma das primeiras medidas deveria ser a extinção das disciplinas de Ensino Religioso ainda existentes em algumas das escolas. Salvo raríssimas exceções, a visão passada nestas disciplinas sempre é a de que o cristianismo é a única religião correta para a "salvação".
Quanto ao material da pastora, é extremamente lamentável que alguém sem conhecimento pedagógico queira dar pitacos dentro de uma sala de aula. Eles que conheçam primeiramente o mundo dentro dos muros de uma escola e que depois venham com suas ideias mirabolantes e, preferencialmente, aplicáveis.
Enquanto os pais pensarem que escola é depósito de crianças e um lugar para os professores "transmitirem" seus conhecimentos, seremos um povo atrasado e involuído.
E como fica?
O problema com certo tipo de pastores é serem "intelectuais de um livro só".
ExcluirAcabei de baixar o projeto da nobre vereadora-pastora e não vi nada demais. Não está escrito que o debate está proibido, pelo contrário, está defendendo a pluralidade de ideias e a não doutrinação. Sabe qual é o problema? É que esta militância de esquerda pira quando não podem disseminar suas ideologias em cima dos nossos filhos que vem cheios de ideias absurdas para casa. Não quero que meu filho seja doutrinado politicamente e nem religiosamente. Tenho meus direitos como pai e cidadão! Não sou muito simpatizante da tal pastora-vereadora, mas concordo com ela!
ResponderExcluirO texto, na íntegra:
ExcluirArt. 1º Fica criado, no âmbito do sistema municipal de ensino de Joinville, o "Programa Escola sem Partido", atendidos os seguintes princípios:
I - neutralidade política, ideológica e religiosa do Município;
II - pluralismo de ideias no ambiente acadêmico;
III - liberdade de aprender, como projeção específica, no campo da educação, da liberdade de consciência;
IV - liberdade de crença;
V - reconhecimento da vulnerabilidade do educando como parte mais fraca na relação de aprendizado;
VI - educação e informação do estudante quanto aos direitos compreendidos em sua liberdade de consciência e de crença;
VII - direito dos pais a que seus filhos menores recebam a educação moral que esteja de acordo com suas próprias convicções.
O que o professor pode?
Art. 2º No exercício de suas funções, o professor:
I - não abusará da inexperiência, da falta de conhecimento ou da imaturidade dos alunos, com o objetivo de cooptá-los para esta ou aquela corrente político-partidária;
II - não favorecerá nem prejudicará os alunos em razão de suas convicções políticas, ideológicas, morais ou religiosas, ou da falta delas;
III - não fará propaganda político-partidária em sala de aula nem incitará seus alunos a participar de manifestações, atos públicos e passeatas;
IV - ao tratar de questões políticas, socioculturais e econômicas, apresentará aos alunos, de forma justa (isto é, com a mesma profundidade e seriedade), as principais versões, teorias, opiniões e perspectivas concorrentes a respeito;
O que o professor pode?
Art. 3º As escolas deverão educar e informar os alunos matriculados no ensino fundamental e no ensino médio sobre os direitos que decorrem da liberdade de consciência e de crença asseguradas pela Constituição Federal, especialmente sobre o disposto no artigo 3º desta lei.
§ 1º Para o fim do disposto no caput deste artigo, as escolas afixarão nas salas de aula, nas salas dos professores e em locais onde possam ser lidos por alunos e professores, cartazes com o conteúdo previsto nesta Lei.
§ 2º Nas instituições de educação infantil, os cartazes referidos no parágrafo 1º deste artigo serão afixados somente nas salas dos professores.
Art. 4º A ouvidoria do município comunicará a Secretaria Municipal de Educação as reclamações relacionadas ao descumprimento desta lei, assegurado o anonimato.
Parágrafo único. As reclamações referidas no caput deste artigo deverão ser encaminhadas ao órgão do Ministério Público, incumbido da defesa dos interesses da criança e do adolescente.
Art. 5º Esta lei entrará em vigor na data de sua publicação.
Você queria ler o projeto e encontrar lá uma confissão de doutrinação? Ninguém pode ser assim tão inocente. E esse teu ódio à esquerda é coisa de terceiro mundo. Não é assim em civilização.
ExcluirSe formos ver, a educação (Lei de Diretrizes e Bases de 1996 [época do FHC]) já preconiza por todos estes aspectos. Qual o intuito desta lei, então?
ExcluirVejo um grande problema no inciso III do artigo segundo, com relação a participação em atividades políticas. A informação é importante e os professores têm todo o direito de avisar seus alunos, sim, sobre as atividades desse ou daquele grupo político. Incitar é uma palavra muito forte.
Já convidei muitos alunos meus a irem assistir sessões da CVJ. Isso é incitar os alunos a irem a atos públicos? Não poderia mais fazer isso?
O inciso VII do artigo primeiro eu acho estranho e como o Zorak citou o III do artigo segundo deixa margem à dupla interpretação.
ExcluirDe resto tudo isso já está previsto e regulamentado. Porque fazer uma lei que regulamenta algo que já está regulamentado?
Ah! e só uma pergunta, nas escolas todos os professores seguem a mesma orientação política? Todos usam o mesmo discurso? Ou há entre eles trocas de ideias e discordâncias? Pois vejo que a pluralidade de professores é a solução para o medo dessas pessoas. Pois as crianças sempre comentam entre elas, com os pais e professores os conteúdos passados por outros professores.
Resumindo a escola é lugar de inspirar pensamentos e questionamentos. Pois não será aceitando tudo de goela abaixo que iremos melhorar como seres humanos.
Por teu filho não ter tido o direito de escolher o m. de pai que ele tem, a sociedade lhe concedeu o direito de escolher, também, diferente de você, quer você queira, quer não...
ExcluirA história sempre repetindo como farsa. Na Grécia antiga condenaram Sócrates à morte, acusando-o de corromper a juventude. Até quando?
ResponderExcluirJá que o Estado e a Religião se separaram há séculos, que tal um projeto CÂMARA SEM PASTORES/PADRES? Seria muito mais lógico, já que tais pessoas (padres e pastores) são qualificados para falar sobre a palavra de Deus, o que fazem no Legislativo?
ResponderExcluirOu, num processo mais radical, igreja sem partido.
ExcluirAi reside .... ou deveria residir, a oportunidade de semear uma geração que estivesse disposta a debater. Entendendo que temos opiniões bases e necessidades diferentes. O debate político deveria ser estimulado. O exercício da explanação e defesa dos conceitos individuais ... para que fossem comparados entre si, e daí ... resultasse numa compreensão mais holística, mas abrangente e mais representativa daquele nicho de sociedade.
ResponderExcluirNossa maior riqueza, é nossa diferença ...... podermos falar, expor, discordar .... sermos diferentes ... e, ainda assim nos respeitarmos.
Escola desagregadora e isolacionista ...... POBRE