POR FELIPE CARDOSO
Não é de hoje que os veículos de comunicação de massa recebem críticas pela desinformação da população, principalmente em relação a questão racial. Hoje, gostaria de me ater a programas mais recentes que tivemos e temos contato por meio da televisão.
Recentemente, a rede de televisão Record, comandada pela Igreja Universal, presidida por Edir Macedo, decidiu investir em novelas. Voltadas, em sua maioria, a passagens bíblicas, tentaram representar na telinha os acontecimentos de séculos passados. Os esforços foram grandiosos e os investimentos foram altos (cenários, vestimentas, artefatos e outras coisas necessárias para a representação). Só que o que pareceu não ter tanto esforço foi a procura por atores negros e negras para representarem os personagens de reis e rainhas, uma vez que os períodos e locais retratados pelos autores eram, em sua grande maioria, no continente africano.
Ao analisar as imagens e alguns dos muitos registros coletados por historiadores e arqueólogos sobre o Egito Antigo, por exemplo, podemos notar que há uma presença significativa de pessoas negras habitando o local naquele mesmo período que nos é apresentado hoje pela emissora de televisão, só que de maneira completamente diferente.
E isso esconde uma grande ideologia que predomina e mantém os privilégios da branquitude no mundo inteiro.
Não querem que a população negra tenha um conhecimento profundo sobre a sua história. Não desejam que saibamos que nossas civilizações eram organizadas, ricas e poderosas. Criam falácias e tentam destruir pouco a pouco a memória de um povo inteligente, diversificado e muito bem organizado. Não querem que negros sejam vistos como algo bom, ou que já produziram diversas coisas e que contribuíram para o avanço da humanidade. Por isso, é importante que apenas personagens brancos interpretem esse papel, pois nós, negros e negras, seríamos incapazes de fazer tantas grandiosidades.
E essa tentativa de colonização fica ainda mais evidente quando a mesma emissora lança a uma novela intitulada de “Escrava Mãe”, em que, daí sim, conta com a presença de pessoas negras interpretando escravos, obedientes as ordens dos senhores brancos.
Percebam, mais uma vez, a branquitude tentando mostrar onde nos querem e como querem que nos vejamos. Na senzala, escravizados, obedientes, sem voz, sem alma, sem pensamento próprio.
Engraçado que para a novela de escravos encontraram com facilidade atores e atrizes negras para representar. Será que não encontraram a mesma facilidade para encontrar negros e negra para os papéis de reis e rainhas, ou simplesmente fizeram isso intencionalmente?
A tentativa é acabar com a nossa memória e a nossa imagem positiva, de nação rica, desenvolvida, diversificada e forte, cultural, social, econômica e politicamente. A ideia é de voltar a nos reduzir a nada.
A mesma coisa acontece com as religiões de matrizes africanas, que cultuam seus orixás, negros e negras. São demonizados e perseguidos por isso. Enquanto a mitologia grega é ensinada nas escolas e o deus e nórdico Thor é divulgado nas telas de cinema e comercializado em shoppings.
Tudo isso faz parte da mesma ideologia, do mesmo plano de dominação, de colonização que querem com que a população negra acredite, aceite e reproduza tal pensamento. Destruindo assim a sua autoestima, acabando com a imagem positiva da sua história e da sua identidade. Colonizando fica mais fácil de dominar.
Por isso, é necessário nos enriquecermos de conhecimento e informações, que resgatemos e propaguemos diariamente a nossa história e imagem rica, positiva, com reis e rainhas, inteligente, desenvolvida, resistente, de luta. A subalternidade nunca foi nosso lugar, não tomemos mais desse veneno.
Não adianta, por exemplo, colocar Taís Araújo para ser protagonista em uma novela recheada de estereótipos e hipersexualização a começar pelo nome “Da cor do pecado”. Bem como não adianta colocar uma mulher negra como protagonista interpretando uma escrava. Isso não é revolucionário. Isso é apenas mais do mesmo, é o que vemos desde o surgimento das telenovelas e filmes.
Não adianta tentar esconder ou alterar a nossa história, ou investir em novelas de época para mostrar que nosso papel é pertencente a coadjuvante e servil. Lá no fundo, nós sabemos que somos descendentes de protagonistas, reis e rainhas, que por ganância e ignorância da branquitude, foi escravizada e violentada.
O nosso dever é resgatar a nossa verdadeira história e contarmos nós mesmos, com a nossa ótica negra, o que a burguesia branca e colonizadora tenta esconder.
Certo. Mas o fato é que se o brasileiro médio não começar a fazer filmes ele jamais será representado nas telas. Não dá pra esperar que o mainstream vá dar representatividade a essas pessoas. Elas não se encaixam nas narrativas deles. O negócio é juntar a galera. Batalhar um equipamento e partir pra cima. Fazendo os próprios filmes.
ResponderExcluirComo esses branquelos são maus, muito maus!
ResponderExcluirDedo na ferida!
ResponderExcluirParabéns pelo post!
Klkkk. Nova "catchigoria": Os sem filme. Pede uma lei Roubanet pra Dilma...
ResponderExcluirSe sobrar do que a groubo, o millenium, o calainho e os outros branquinhos e cheirosos deixarem, né.
ExcluirCertamente os Egípcios não eram brancos. Não vinham de ascendência européia. Mas negros? Tem certeza? Os própios egípicios desprezavam o povo núbio ao Sul do Egito (Sudão). Os Núbios sempre foram tratados como escravos ou mercenários e somente por volta de 700 aC (ao mesmo tempo que a grécia) tomaram o poder. Surgindo a dinastia dos faraós Negros (do reino de Meróe, nome antigo para Núbia). Ou seja pode até ser que os egípicios não fossem brancos (nunca seriam queimariam-se no sol facilmente) mas não reconheciam-se a si como negros. Então explique isso.
ResponderExcluirXangô e Thor refere-se a um mesmo Deus, cultuado por culturas diferentes. E esse Deus do travão com as incríveis caraterísticas,aparece em diversas culturas diferentes por tudo o mundo.
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