quarta-feira, 22 de maio de 2013

134 reais

Fonte. Clainete dos Santos, gaúcha, recebe o bolsa família.

POR  FERNANDA M. POMPERMAIER

Me envolvi ontem numa discussão desnecessária sobre a possibilidade de o Bolsa Família ter se tornado um "câncer" na sociedade brasileira por incentivar o conformismo e a preguiça. Existem realmente pessoas que acreditam que R$134,00 mensais por família, podem fazer com que as pessoas prefiram não trabalhar ou estudar e fiquem em casa sendo sustentadas pelos nossos impostos.

Eu disse que a discussão foi desnecessária porque nós não chegamos a lugar algum. O outro lado estava convencido demais. Existe um movimento da mídia nacional que deseja colocar a classe média (ou os não beneficiários) contra os beneficiários do programa. Chego a acreditar que essa possa ser a intenção da direita que considera que o voto dos beneficiários eles já não ganhariam, então vamos arrematar os de todos que não recebem colocando-os contra o governo e os pobres, ao mesmo tempo.
Pode ser apenas uma ilusão minha.

Vi um vídeo compartilhado em redes sociais, acompanhado do aplauso de muitos reacionários, no qual Raquel Sherazade no SBT fala sobre o velho "não dar o peixe, mas ensinar a pescar". Ela se referia ao recente boato de que o bolsa família estaria para acabar, o que fez com que milhares de pessoas corressem aos bancos e sacassem seus benefícios. A presidenta se referiu ao boato como maldoso e disse que o dinheiro do programa é sagrado. Eu nem sempre concordo com a Dilma, mas nesse caso a admirei.
Sinceramente, considerar que uma família consiga viver, no Brasil, com 134 reais mensais é desumano. Como viveria uma família nessas condições?

Li recentemente que o salário mínimo no Brasil deveria ser de 2 mil reais considerando o custo de vida. Eu não acredito que uma família consiga viver com o mínimo de dignidade recebendo apenas 2 mil reais por mês. E sinceramente, se existem pessoas que se contentam com esse valor e não buscam algo mais significa que temos problemas ainda mais sérios. Problemas com os empregos formais, com os salários, com a educação, com a profissionalização e muito outros. E são esses problemas que a população (e a mídia) deveria atacar. Seja a classe média, baixa, alta, ou sei lá que casta, se é que essa divisão faz sentido.
Desejar a profissionalização dos beneficiários é uma coisa, atacar o programa como se ele fosse o culpado das mazelas é outra completamente diferente.
O programa é necessário e não cabe à nós julgar os motivos pelos quais uma pessoa chega ao ponto de usá-lo. Se ela não teve oportunidades, se é mãe solteira, se teve muitos filhos, se é órfão, está desmpregado, acabou de se separar... todos podemos passar por situações de dificuldades e um governo decente precisa oferecer esse auxílio emergencial aos seus cidadãos.
Álias, de acordo com o MDS 93% dos beneficiários são mulheres. 70%  trabalham mas não conseguem viver com a sua renda.

Achar que o governo oferece apenas o programa para por comida na mesa ou para ganhar votos e nada mais é uma idiotice e uma inverdade. Existem inúmeros programas educacionais associados e só o fato de ter baixado os índices de evasão escolar já são um mérito.

É lógico que o governo precisa fazer muito mais do que faz hoje com relação à educação. Certeza.
Mas se revoltar com essa merreca que é dada para milhões de pessoas que passavam fome, num país ainda com 14% de miseráveis (segundo a ONU) é maldade pura. Seria melhor que esse dinheiro tivesse ido parar nas contas do Maluf? Ou talvez na construção de algum estádio?  Melhor, podíamos usar para pagar os altos salários dos políticos que muito o merecem pelas expressivas contruibuições à nossa sociedade, (not).

Faça o teste. Olhe nos olhos das pessoas que recebem  o benefício e pense se realmente você considera que o programa deveria ser extinto: Fotos dos beneficiários.

PS.: Em tempos, o auxílio social na Suécia é de 8 mil coroas, aproximadamente 3500 reais e eles ainda pagam o aluguel do beneficiário. A maioria dos países que se prezam tem programas sociais. Isso é uma questão respeito ao ser humano.

21 comentários:

  1. Só é contra o auxílio quem não sabe o significado da palavra FOME. Com fome, fome mesmo das brabas, cidadão não faz nada! Nem aprende a pescar! Vale destacar esse link aqui também, sobre os beneficiários que já abriram mão do auxílio. http://revistaforum.com.br/blog/2013/05/169-milhao-de-familias-abrem-mao-do-bolsa-familia/

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  2. Fernanda,
    Esse assunto me deixa de cabelo em pé! E como você, também acabei caindo numa discussão sem sentido exatamente sobre o mesmo tema. É triste ver que a maioria dos facebookianos compartilham ódios e preconceitos, ainda mais quando a gente sabe - no caso eu sabia e você sabe, que se tratam de mentiras. Quem vai viver encostado no Bolsa Família? Mesmo que o benefício conte com alguns quês a mais, R$ 134 mensais não são nada - nem dá para um "rancho" do mês! Que puta situação miserável seria essa! No fundo no fundo, miseráveis são as pessoas que compartilham toda essa m* (desculpe o palavreado) pelo fato de não questionarem nada do que está posto ou apresentado, ou pior, acreditarem que estão questionando quando apenas estão reproduzindo amarguras alheias...

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  3. Isso mesmo Fernanda. Corretíssima.

    E digo mais. A cada R$1000,00 investidos pelo governo, em qualquer coisa que tenha que passar por um convenio com prefeitura ou governo do estado, R$700,00 se perdem em burocracia e corrupção.


    Já qualquer tipo de bolsa, é dinheiro de imposto que é reinvestido diretamente na base da pirâmide. Salvo alguma pilantragem que ocorre no cadastro, é de quase 100% o retorno do valor que o governo investe.

    Arrecada R$1.000,00 repassa R$1.000,00.

    Outra. Só recebe o bolsa família quem tem o filho na escola, e com atestado de frequência.

    Mais uma: É dinheiro investido na base da pirâmide de consumo. Onde ao receber o valor, que aliás é dado preferencialmente a mãe da família, é totalmente gasto em pequenos comércios das regiões onde estas famílias moram.

    Não há nada mais justo que aplicar o meu e o seu imposto suado a quem precisa.

    NelsonJoi@bol.com.br

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  4. Excelente texto, Fernanda! Eu associo a falta de respeito, as piadinhas e a raiva dos que são contra programas sociais do governo, a lógica classista, colonial e, portanto, opressora. Sinto-me chateada toda vez que leio piadas em redes sociais, toda vez que escuto de conhecidos ideias contrárias a esta divisão de capital ( sim, eu não falo em ajuda, mas divisão de bens, de capital). Muitas vezes nem continuo a ler, ou saio do ambiente, quando é no mundo real. O Brasil precisa aprender que nossos impostos são para políticas pública, incluindo educação, saúde e moradia. E, sim, penso ser muito pouco o valor do bolsa família.

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  5. Com a palavra, o próprio Lula. Versão 2009 (pró-assistencialista). Versão 2000 (contra o assistencialismo).

    http://www.youtube.com/watch?v=83WUqpvddq8

    Não estou opinando nada...apenas mostrando dois depoimentos.

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  6. Este pensamento reflete superficialmente a realidade da miséria brasileira, pois é um espaço limitado para clarear esta realidade.
    Infelizmente vivemos em um país da época dos dinossauros, onde quem não tinha força física era sumariamente eliminado, isso mesmo, aqui nestas terras tupiniquins a inteligência e a criatividade são tratadas como se fossem o diabo transvestido de demônio, para aniquilar os dinossauros. E a grande questão é porque estamos nessa situação. Aí tá uma resposta mais simples do mundo para responder: a elite continua mandando e desmandando nesta colônia capitalista, onde os senhores dos engenhos ganham e a escravidão os alimenta. Os escravos são os que ganham talvez 1 salário mínimo ou menos até uns 1.200 reais, os que ganham quem sabe um pouco mais até uns 9.000 reais que são os escravos com plenas regalias da elite miserável.
    Será que um dia será declarada a libertação no Brasil? Quem viver não se sabe se verá.

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  7. Os "reaças" ficam indignados quando milhões recebem algumas dezenas/centenas de reais para o seu sustento, mas acham normal quando poucos recebem milhões/bilhões do governo. Paga-paus do Eike Batista!

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  8. Me passe a Montblanc por favor! By Ácido.

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  9. Eu só acho o seguinte. Enquanto houver um único brasileiro passando fome no Brasil, os impostos de todos nós devem ser investidos para alimentá-lo. Enquanto isso não coorrer, se um único brasileiro morrer de fome, TODOS NÓS devemos compartilhar da culpa.

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  10. Na teoria o bolsa família é muito interessante. Na prática está distante da finalidade principal. Infelizmente é um programa que não tem o controle correto o acaba beneficiando pessoas que não precisam. Outra coisa o PT sempre criticou o assistencialismo . Agora que está no comando não aceita críticas da oposição.

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  11. A discussão teve início com o vídeo da beneficiária que reclama dos 134,00 reais, que não dão nem para comprar uma calça para a filha de 16 anos, porque custa mais de 300,00 reais?

    Interessante o vídeo do José Wilson, pois apesar de creditarem o Bolsa Família ao PT, esse assistencialismo começou com o FHC (dito "direita"), por meio do Bolsa Escola que, a exemplo do Plano Real e, reza a lenda, da Constituição de 1988, não agradou os petistas (ditos "esquerda", que faz pouco apareceu de mãos dadas com o citado Maluf).

    Tenho minhas dúvidas quanto à classificação "direita" e "esquerda" no Brasil, por que não usar o termo "oposição"?

    E enquanto a Raquel Sheherazade solta asneiras, a solução do Brasil não vai nada bem, obrigada.

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    1. Só sei que o lance do plano real não é lenda: http://www.youtube.com/watch?v=wcbEnnhkDd8

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  12. Fernanda, discutir programas sociais na internet com este bando de reaças e desinformados é realmente uma tarefa quase inútil.
    São as mesmas pessoas que dizem que a greve do funcionalismo municipal para ter a inflação (sic) é coisa baderneiro, vagabundo, e que deveríamos procurar outro emprego pois somos marajás...
    Não sou eu que falo, são pesquisas sérias, teses de mestrado e doutorado: o bolsa família está longe de ser um política de transferência de renda apenas assistencialista, ele está mudando drasticamente a cara dos confins deste Brasil, impulsionando economias, ativando comércios, serviços e pequenas industrias, pois já está provado que após este impulso inicial as pessoas abrem mão dele e partem para o seu próprio negócio ou para os empregos gerados através dele. Está provado também que milhares de mulheres abandonadas ou semi-escravizadas pelos maridos tornaram-se donas do próprio nariz, adquirindo a sua tão sonhada autonomia. Se ele tem algumas falhas pontuais, pergunto qual a política pública é perfeita neste País? Não esqueçam que cabem aos municípios importante parcela do cadastro e destinação do programa.
    No mais, a casa grande chia por que a senzala que todos acreditam ter terminado em 1888 só está tendo suas chances agora.

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  13. Parabéns a jornalista Rachel Sheherazade pela reflexão. Concordo com o seu ponto de vista.

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  14. https://www.youtube.com/watch?v=rYgm1k6bDhw

    Sem mais, meritíssimo!

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    1. Chocante este vídeo, Marcos! Chocante! Onde já se viu, querer comprar roupas, esta coisa absurdamente supérflua?

      Eu me rendo antes sua incomensurável perspicácia e lhe dou razão: pobre, quando não é ignorante, é desonesto. Essa gente não tem jeito.

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    2. Concordo! Acredita que o meu fraque Giorgio Armani (importado da Itália) custou a bagatela de R$2.000,00?
      R$ 300,00 por uma calça jeans é o mínimo.

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  15. Só por isso o bolsa família já se justificou. E olha que a fonte não é nenhuma revista feminista de esquerda:

    http://revistamarieclaire.globo.com/Mulheres-do-Mundo/noticia/2012/11/o-bolsa-familia-e-revolucao-feminista-no-sertao.html

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  16. Eu gostaria muito de expor minha reflexão sobre o assunto levantado pela jornalista, mas a postagem de textos nesse blog é “selecionadíssima”.

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  17. Para quem se dispõe a conhecer um pouco mais os benefícios e a importância do programa, segue uma matéria interessante. Os outros, bom, os outros podem continuar pagando pau pro Eike Batista:

    http://revistaforum.com.br/blog/2013/05/sao-70-os-beneficiarios-adultos-do-bolsa-familia-que-trabalham-segundo-ministra/

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