terça-feira, 26 de novembro de 2013

As ciclofarsas e dinheiro público

POR JORDI CASTAN

Você é dos que acreditou no discurso de posse do prefeito Udo Dohler, na frase em que cuidaria de cada centavo de dinheiro público? Pois dançou. Há bons exemplos de gastança de dinheiro público nesta gestão.

Um deles é o das ciclofaixas. Não vamos aqui relembrar que o projeto elaborado pelo IPPUJ coloca ciclofaixas ligando a nada a coisa alguma. Que elas iniciam e acabam no meio do nada e que não tem a largura mínima recomendada pelo Código Brasileiro de Trânsito. Tudo isso seria chover no molhado. Alguns até com mais criatividade têm batizado as ciclofaixas em Joinville com o nome mais adequado de ciclofarsas. O resultado é que os ciclistas as evitam sempre que possível, pois a sensação de insegurança é grande para o usuário. Qual é o percentual de aumento do novos ciclistas que passam a usar a bicicleta para seus deslocamentos diários, ao trabalho, a universidade ou para realizar compras? 

O IPPUJ até agora não apresentou dados que possam servir para comprovar que as ciclofarsas de fato contribuem a aumentar o número de ciclistas e o número de deslocamentos feitos com este modal. Deixemos fora da estatística os ciclistas de final de semana, os que semanalmente em grupos atravessam Joinville de um extremo ao outro em passeios ciclísticos e outras iniciativas semelhantes. Nunca vi nenhum desses grupos usando ciclofarsas. Mas encontrei entre eles alguns dos maiores críticos dos projetos feitos pelos nossos tecnicos locais para estimular o uso da bicicleta.


As novas ciclofarsas são enfeitadas em alguns trechos, durante os primeiros 4 ou 5 meses com faixas de rolamento de cor vermelho, deixando a cidade, por pouco tempo, mais colorida. O Código Brasileiro de Transito determina a pintura vermelha para melhorar a segurança do ciclista. Ponto para o Código. Esta é inclusive uma prática na maioria dos países que encaram o tema das bicicletas com seriedade. Mas não tenho visto que se utilize este sistema de pintura de curta duração em nenhum outro pais. Em uma cidade que não consegue manter pintadas durante todo o ano as faixas de pedestres frente as escolas, hospitais e lugares de maior transito de pedestres é ilusão imaginar que as ciclofarsas receberão algum tipo de manutenção e serão repintadas com a frequência que o tipo de tinta, a má qualidade do asfalto e o alto nível de atrito dos pneus dos carros provocam nas áreas em que a pintura é necessária. 

Se o prefeito e sua equipe zelassem mesmo por cada centavo de dinheiro público, já teriam percebido que o  sistema atual é caro e ineficiente. Esqueci que essa é um pré-requisito no serviço público, comprar caro e comprar mal. Quem sabe o prefeito não olha esse tema com mais atenção e propõe aos seus técnicos que analisem outras alternativas, como o asfalto pigmentado, que é a técnica mais comum na maioria das cidades que tem um programa de ciclovias serio e bem planejado. Porque não consigo imaginar que em Joinville alguém esteja preocupado com a manutenção dessas ciclofaixas.

 Um exemplo o cruzamento das ruas Campos Sales e Benjamin Constant um show de cores quando inaugurada a ciclofarsa, quanto tempo durou a pintura? Menos de meio ano. Número de vezes que foi repintada nos últimos 4 ou 5 anos? Zero. Outro as ciclofarsas da Rua Ottokar Doerfehl, aonde anda quedam traços da pintura vermelha original? As ciclofarsas que ligariam o Centro de Joinville ao Parque José de Alencar. Ops! Quero dizer as praças da Cidade, nunca foram concluídas. Agora o conjunto de ciclofarsas do pomposo trinario que envolve as ruas XV, Max Colin e Timbó é objeto de pintura chamativa e traçado irracional. Então esta lançado o desafio, quem aposta que a pintura durara mais de 6 meses? Quem aposta que não será repintada? Façam suas apostas. Sobre o cuidado dos centavos, já esta claro que quem apostou, perdeu.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Um presente que a adolescência me deu


POR CAROLINA POMBO

Um dia o vizinho bateirista, com o qual eu costumava ralhar da janela por causa do barulho de sua “música”, bateu em minha porta com uma fita k7 em mãos. Ele me disse (ou eu criei isso em minha memória, mas me lembro mesmo de tê-lo ouvido) “é isso que você precisa ouvir”. Era a fita de Mount Moriah Mass Choir & The New Age Community Choir, ilustrada com uma mulher negra como anjo, que eu ganhei em 1997.

Eu tinha acabado de sofrer um abuso sexual (que só fui capaz de revelar pra alguém anos depois). Minha família estava economicamente falida. Eu ia deixar a escola privada onde estudava. Eu ia ter que morar na casa de uma amiga, até minha mãe acertar as coisas em outra cidade. Eu tinha quatorze anos, vivendo minha primeira grande paixão mal correspondida e sofrendo com a instabilidade das minhas amizades mais próximas. Adolescência. Tempos difíceis. Eu achava que nunca ia acabar, que aquele tempo ia durar pra sempre, que eu seria marcada definitivamente pelas experiências que estava vivendo.

Mas, aquela fita veio a calhar. Eu me senti tão profundamente tocada por aquele apelo de amor – e principalmente de amor próprio, cantado em Right On:

“There is nothing in this world could ever change the way I feel. For I know that it's real, it's truly Love. I used to think that I wouldn't never find my place no no. In a world of high society there seemed to be no place for me. I used to feel that I was born to be bound not free Living in a world of changes there seem no escape for me.

But one day love found me in chains shackled to my past, desiring to be free. I want the world to see this new meet of it in yourself is the right kind of love who changes. Right on, right on, right on to love yourself.”

O poder daquele Right on! Right on to love yourself! Como se aquilo fosse um grito de guerra, um imperativo urgente, um chamado: você deve amar a si mesma, você tem o direito de amar a si mesma! Eu mal sabia cantar em ingles, mas aprendi rapidamente a repetir essas palavras. Era exatamente o que eu precisava.

Em tempos de bullyings virtuais, de adolescentes sendo atacadas, expostas, culpabilizadas por viverem suas sexualidades ou por qualquer outro motivo, minha vontade é de compartilhar a descoberta que fiz naqueles dias. Depois que saí do prédio para viver quase um ano hospedada nas casas de amigos, nunca mais encontrei o vizinho baterista – pra ser sincera não me lembro nem o nome dele. Mas, de fato, era exatamente daquela mensagem poderosa que eu precisava: é necessário amar a si mesma. Você tem o direito de amar a si mesma. Seja forte!

Hoje, eu tenho uma filha, que ainda tem quatro anos de idade, mas já penso nas pressões e constrangimentos que ela passará ao longo de sua vida de menina e depois ao transformar-se em mulher, se assim ela desejar. E tenho me armado, cada vez mais, dessa verdade, de que ajudá-la a descobrir-se e a amar a si mesma é o melhor que eu posso fazer enquanto mãe, feminista e mulher que já viveu muitas coisas sofridas e fortes nessa vida. Eu queria pegar você no colo para sempre e protegê-la de todos os males, todos os insultos, bullyings, constrangimentos… Mas, o que posso fazer é compartilhar esse grito de guerra que recebi das mãos daquele mensageiro, da fita com aquela anja a me encarar com força e tranquilidade: vai passar, e você vai sobreviver pra contar.

Eu posso te contar que, anos depois, depois do meu feminismo e da maternidade, tive a oportunidade de testemunhar contra meu opressor, diante de uma juíza, uma promotora e uma escrivã grávida. O amor me presenteou com um destino inimaginável, e estou aqui podendo escrever sobre ele.

Portanto, Right on to love yourself!

 Carolina Pombo é doutoranda em Saúde e Bem estar social na Escola de Autos Estudos em Ciências Sociais de Paris, faz parte do coletivo FemMaterna www.femmaterna.com.br, é blogueira no Com a cabeça fora d’água www.maetempo.net e no Kaléidoscope www.carolinapombo.blogspot.com, e autora do livro A Mãe e o tempo: ensaio da maternidade transitória.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Udine, o Mágico.


O Mensalão, a memória e o esquecimento

POR CLÓVIS GRUNER
  
Alguns eventos precisam acontecer; outros, precisam não ter acontecido. Eleito pela primeira vez em 1994, FHC chegou ao governo como principal protagonista de um projeto de “20 anos de poder”, nas palavras do então ministro Sérgio Motta. A um ano da eleição de 1998, no entanto, um dilema: como manter-se duas décadas no poder sem um candidato forte para substituir o presidente? Os tucanos enfrentavam o mesmo problema do PT anos depois, porque cometeram exatamente o mesmo equívoco, apostar todas as suas fichas em um único carisma.

A solução encontrada por “Sérjão”, uma espécie de José Dirceu do governo tucano, foi simples. Como a Constituição de 1988 não previa a reeleição, FHC comprou parte do Congresso e aprovou a emenda da reeleição. Em bom português, ao mudar a Constituição em seu benefício, deu um golpe branco que custou aos cofres públicos milhares, talvez milhões de reais. Os detalhes, como em todo caso de corrupção, são sórdidos. Estima-se que foram comprados cerca de 150 parlamentares, pagos em dólares. “O pessoal votava a favor e na saída do plenário já tinha gente esperando para acertar o pagamento junto a doleiros. Não tinha erro”, confidenciou recentemente a um jornalista um dos deputados beneficiados com o “mercado da reeleição”. O resultado da farra? Nenhum. Com maioria no Parlamento, FHC conseguiu barrar a instalação de uma CPI. O procurador Geraldo Brindeiro – não por acaso chamado à época de “Engavetador Geral da República” – encarregou-se de enterrar a denúncia. Sérgio Motta morreu em 1998, poucos meses antes de ver seu chef-d'œuvre concluído, com a reeleição de FHC no final daquele ano, em primeiro turno.

Do roteiro acima, a maioria se lembra apenas da reeleição, como se ela tivesse acontecido em clima de normalidade. O esquecimento, como a lembrança, não é natural. Desde 1997 e ao longo dos anos seguintes, houve um esforço conjunto, orquestrado pelas lideranças tucanas e seus aliados – fora os demos, basicamente os mesmos que hoje apoiam o PT, incluindo José Sarney –, além obviamente dos meios de comunicação, para condenar ao limbo o episódio. Não nego ao governo tucano seus méritos. Esse é um deles: FHC e seus asseclas construíram um “não evento”. Claro, as tentativas de produzir o olvido, por eficientes que sejam, só conseguem resultados provisórios. Há sempre um espírito de porco disposto a lembrar que uma mentira contada mil vezes não se torna uma verdade, mas apenas uma mentira contada mil vezes.

"EU VEJO PESSOAS CORRUPTAS" – Tudo muito diferente de outra narrativa, protagonizada também por um governo envolvido em denúncias e práticas de corrupção. Desde o nome, “Mensalão”, quase toda a trama foi tecida de maneira a produzir um evento que precisava ter acontecido. Um dos pontos altos veio na semana passada, com as primeiras prisões dos condenados. Não me sinto particularmente comovido ao ver presos José Dirceu e José Genoíno: se todo aprisionamento é em si absurdo e violento, esse não deveria me deixar mais ou menos indignado. Por outro lado, não se trata de uma prisão qualquer, e que ela tenha ocorrido no simbólico 15 de novembro e sob os holofotes da chamada grande mídia, é apenas um dos elementos do espetáculo.

Não se trata de uma prisão comum porque Dirceu e Genoíno não são prisioneiros comuns: gostemos deles ou não, ambos são figuras emblemáticas na trajetória da esquerda brasileira e particularmente do PT. Não sei a extensão da responsabilidade de ambos e do PT no processo em que foram condenados – e, pessoalmente, penso que a verdade está em algum lugar intermediário entre o discurso de ódio da direita e a defesa exasperada dos governistas. Mas é notório que o STF e particularmente Joaquim Barbosa, serviram particularmente neste episódio a interesses que não necessariamente os da justiça.

Fosse assim, junto com Dirceu e Genoíno ou mesmo antes deles, outros já teriam sido punidos. Fernando Henrique Cardoso usou dinheiro público para salvar da falência o banco onde seu filho era sócio-diretor. Paulo Maluf está na lista de procurados da Interpol. Eduardo Azeredo, do PSDB, deu início em Minas, e com o mesmo Marcos Valério, ao esquema que condenou Dirceu e Genoíno. Demóstenes Torres, ex-senador Democrata, e seu cúmplice Carlinhos Cachoeira, enriqueceram fazendo da política uma extensão do crime organizado. José Serra, Geraldo Alckmin e Gilberto Kassab impediram que nos últimos anos quase meio milhão de reais entrassem nos cofres do estado de São Paulo. Estão todos livres e, suspeito, continuarão exatamente assim.

QUEM CONTROLA O PRESENTETodo mundo tem o direito de aplaudir a prisão dos dois Zés do PT, mas daí a acreditar que se está a combater a corrupção vai uma distância: nunca se prendeu corruptos nesse país, e o reality show dirigido pelo Ministro Barbosa mantém a tradição. Ao prender Dirceu e Genoíno, não se pretendeu dar uma “lição aos corruptos”, como afirmou outro ministro do STF, fazendo coro à capa de uma revista semanal. O alvo era outro, o PT. Mas com que propósito?

Tenho dúvidas se os fins são exatamente eleitorais. Em 2006, ano em que explodiu o escândalo, o máximo que a oposição conseguiu foi levar a eleição para o segundo turno, e amargou o vexame de ver Geraldo Alckmin ganhar menos votos do que no primeiro. No ano passado, e apesar do providencial ajuste na agenda do STF para fazer coincidir o julgamento com a campanha eleitoral, o PT conseguiu eleger Fernando Haddad, o que parecia ainda mais improvável que a eleição de Dilma Rousseff. E embora seja muito cedo para prognósticos seguros, pesquisas indicam que ela mantém hoje larga vantagem sobre seus virtuais opositores.

Na falta de um projeto para o país, a oposição pode continuar a apostar no discurso moralizante, embora ele já não convença muita gente vindo de onde vem. Particularmente, acho que o propósito é outro. Em uma passagem emblemática de “1984”, de George Orwell, o personagem O'Brien afirma, a um impotente Winston Smith, que “quem controla o passado, controla o futuro; quem controla o presente, controla o passado”. O que está em jogo não são apenas as eleições presidenciais, mas qual interpretação sobre os acontecimentos políticos passados e coevos prevalecerá. Na “novilingua” forjada pela oposição e por parte da mídia nativa, seus colunistas e blogueiros, a urgência não é moral a nenhum deles interessa combater a corrupção e os corruptos, nenhum deles está preocupado com a coisa pública –, mas narrativa. Fazer o acontecimento e produzir o não acontecido. E ao menos por enquanto, quem continua a escrever a história são os vencedores.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Dedos na calculadora


Fac-simile do jornal Dinheiro Digital falar em prejuízos

POR JOSE ANTÓNIO BAÇO

É disto que eu venho falando. De um lado tem gente batendo na tecla de que a Copa do Mundo em 2014 é um erro. Do outro tem gente já com os dedos nas calculadoras para ver o quanto vai faturar com a competição.

Portugal conquistou ontem uma vaga, ao vencer a Suécia por 3 a 2, e hoje já sabemos o quanto a presença da seleção na Copa do Mundo pode de impacto em termos de entrada de dinheiro para a economia nacional.

As informações são do IPAM – The Marketing School, baseadas num modelo já usado em outros países. E ficamos a saber que o encaixe para a economia portuguesa será de 438 milhões de euros. Se a seleção chegar à final, o número  sobre para 609 milhões de euros.

E tem gente que quer atrapalhar a competição. É caso para lembrar o velho ditado: “quando surgem os ventos, alguns erguem muros… outros constroem moinhos. De que lado você está?

terça-feira, 19 de novembro de 2013

ISS


A vereança e a ignorância

POR JORDI CASTAN

Bromélias, plantas ornamentais e dengue parecem ter se convertido na cabeça de alguns vereadores de Joinville numa ameaça mortal e para salvar a sociedade do risco que representa a dengue, bromélias e vasos de plantas devem ser proscritos da cidade das flores.

O vereador Rodrigo Fachini, é o autor de um projeto de lei que prevê em nome de promover o combate a dengue, legislar sobre o que não conhece, alias essa é uma tendência cada vez mais frequente na Câmara de Vereadores, em que pessoas até ontem leigas ou pouco versadas na maioria dos temas que tem a ver com a cidade, se convertem de uma hora para outra em doutos mestres e discursam tantas sandices por minuto, que superam de longe, os maiores ignorantes, mas o fazem com empáfia e palavreado que iludem até aqueles que os superam em estultice.

Discorre o projeto de lei, sobre o numero dos buracos que devem ter os vasos de plantas utilizados no município, que de acordo com a sapiência do nobre vereador, deve ser de três. Faltam ainda ao projeto de lei algumas emendas que determinem o horário de voo autorizado para os mosquitos do gênero Aedes Aegypti, e outras sandices do gênero, para que o projeto possa participar de algum premio a inutilidade.

Faria melhor o vereador, que é do mesmo partido do prefeito, em dedicar seus esforços a promover a volta da vigilância epidemiológica, que por aqui faz tempo que não tem aparecido. Seria também recomendável que conhecesse o trabalho do Instituto Osvaldo Cruz sobre a relação entre bromélias e dengue. Assim evitaria passar a imagem de alguém estulto. Que legisla sobre o que não conhece suficientemente. Correndo o risco de causar mais malefícios que os benefícios que imagina promover com o seu projeto de lei.

Ninguém discorda que a dengue tem se convertido em um problema de saúde pública. Que os responsáveis por esse descalabro devem ser buscados entre as autoridades responsáveis pela saúde e que se os legisladores exercessem com mais afinco o seu papel de fiscais do poder executivo é provável que a situação não tivesse chegado a esse ponto. Ajudaria mais o vereador se passasse a exigir que o executivo, a traves da secretaria de saúde faça o que tem a obrigação de fazer, seja diretamente ou via convenio. Teria assim mais possibilidades de dar resultado que promover uma lei que puna ao cidadão e o penalize por algo sobre o que ele não tem plena responsabilidade.

Para quem tiver interesse em conhecer mais sobre a relação entre bromélias e dengue recomendo que de uma olhada nos links seguintes. Entre eles recomendo o postado no site da Sociedade Brasileira de Floricultura e Plantas Ornamentais, que divulga conhecido estudo, elaborado pelo prestígioso e pouco suspeito Instituto Osvaldo Cruz do Rio de Janeiro, estudo este amplamente divulgado entre os profissionais do setor de floricultura em todo o país.

http://www.sbfpo.com.br/noticias/gerais/bromelia-e-dengue/15/

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

21 questões que Joinville precisa resolver o quanto antes

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

Provavelmente a maior dificuldade do ser humano é saber o momento certo para criticar, construir e trocar opiniões e ideias sobre as coisas do mundo. São mais de dois anos escrevendo para o Chuva Ácida, doando para um certo "mundo" - o virtual -, um pouco do meu tempo, e da lente que me faz enxergar a sociedade. Lembro exatamente do primeiro convite para ajudar a criar o blog, o primeiro texto, e a primeira crítica proferida pelo submundo do anonimato, o qual sempre fui contra, mas sempre respeitando a decisão coletiva. Foi um ótimo caminho, pois cresci, amadureci e pude reforçar ainda mais aquilo que eu sempre gostei de fazer: falar, estudar e debater sobre Joinville.

Tive várias oportunidades para estudar longe desta cidade. Talvez fosse até o melhor caminho a seguir, visto que a cidade não é muito amistosa com pessoas que estudam nas áreas de humanas. Por questões familiares, de enraizamento com a cidade, e também pessoais-intelectuais eu preferi continuar morando aqui, e viajando para cidades vizinhas a fim de continuar meus estudos. Diariamente por 4 anos até Itajaí. Semanalmente desde 2010 para Florianópolis (mestrado) e Porto Alegre (doutorado).

Tive a maravilhosa oportunidade de conhecer pessoas diferentes, de lugares diferentes, moradores de cidades diferentes. E estes contatos influenciaram diretamente os meus textos aqui neste blog, creio eu. As viradas conceituais que tive nestes últimos anos foram incríveis, mesmo que isto prejudicasse amizades, imagem político-profissional e, também, o meu próprio nome. Mas o essencial, que era o contato com Joinville, eu nunca perdi. Pelo menos foi isso que eu tentei passar nos 129 textos que escrevi para este espaço.

Reconheço que não sou perfeito, muito menos um grande sociólogo, como grandes mestres que tive ao longo desta jornada que está apenas começando. Tentei, ao menos, ser o melhor cidadão possível, cumprindo com uma função coletiva de dar subsídios ao debate, mesmo que o leitor estivesse pré-determinado a não concordar. Eis a minha função social que encontrei ao aceitar o convite para integrar este grupo.

Denúncias de corrupção, debates sobre política, economia, cultura, educação e principalmente planejamento urbano. Foi tudo o que fiz por aqui. Repito, não com o mesmo brilhantismo de meus colegas, mas sempre na tentativa de acertar. Eu não sei o porquê desse vínculo todo com um lugar que diariamente tenta me extirpar, juntamente com meus colegas de militância e atuação social. Uma cidade onde o rico é totemizado, um semideus, e que seus mandos e desmandos influenciam diretamente as vidas das pessoas "comuns", mesmo sem elas saberem. Um grupo que já tentou me calar, me influenciar, me comprar, e minar todas as possibilidades que eu poderia ter em Joinville. A resistência é forte, e foi expressa aqui semanalmente.

Muitas pessoas passaram a respeitar a função de socíólogo, graças ao Chuva Ácida. Estas, em uma considerável maioria, nunca souberam qual era a função deste profissional dentro de uma sociedade. Por outro lado, muitas pessoas me acusam de ser um obcecado pela crítica em si, sem querer construir ou propor coisas diferentes. Como já falei por aqui em várias oportunidades, estar escrevendo fez parte da minha construção particular, e, consequentemente, da construção da minha função enquanto um ser que faz parte de uma coletividade. Se porventura minha posição não lhe agrada, caro leitor, peço as minhas sinceras desculpas, mas Joinville precisa aprender a respeitar pessoas que se dispõem a mostrar o contraponto, por mais incoerente que ele possa ser em alguns momentos. Se o Chuva Ácida conseguir contribuir para a construção deste sentimento na sociedade, é uma vitória e tanto.

Sendo assim, escrever aqui fez abrir os olhos para aquilo que eu já enxergava, mas não observava. Escancarou coisas que, quase sempre, os patrulheiros de plantão não percebiam, pois se atentavam apenas para as críticas, em uma atitude promíscua e casuística de perseguir para a manutenção de interesses particulares, e não pela promoção de um debate. Analisando rapidamente tudo o que já postei, faço um seguinte resumo das situações que pude elencar neste espaço, alertando para a resolução urgente destas. A não observância disto, ao meu ver, levará Joinville ao caminho do abismo da desigualdade social extrema, da inexistência do "direito à cidade" e da perda coletiva em todos os setores que formam o conjunto social. Entretanto, como poucos enxergaram, faço o exercício de um novo alerta, talvez de forma mais visível, com a esperança de que haja um despertar, seja lá de quem for:

Fonte: http://farm9.staticflickr.com/8163/7405503404_154a519b5b_o.jpg
1 - Joinville (e seus políticos) precisa entender que crescer a economia não é, necessariamente, crescer a cidade;
2 - A mídia deve ser independente, absorvendo as demandas sociais como pauta, ao contrário do clientelismo e patrimonialismo que assolam as TVs, rádios e jornais locais;
3 - Os investimentos públicos devem ser distribuídos da maneira mais homogênea possível pela cidade, considerando a particularidade de cada bairro e também as diferentes posições relativas ao rendimento médio dos cidadãos;
4 - O Plano Diretor precisa ser respeitado, e não servir apenas para as demandas que surgirem ao longo dos anos;
5 - Uma cobrança e vigilância mais efetiva nos representantes estaduais e federais (deputados, senadores, etc);
6 - Abolição da "cultura do trabalho" que corrói esta cidade nas últimas décadas, ceifando oportunidades de trocas entre os cidadãos de Joinville;
7 - Uma educação pública que contemple todas as áreas do conhecimento, e despreocupada de formar profissionais de acordo com as demandas de mercado;
8 - Uma sociedade que respeite o diferente, em todos os níveis (religião, sexualidade, gênero, posicionamento político, etc);
9 - Menos Bisonis e mais professores;
10 - Uma saúde em que as pessoas não precisem de correntes para vislumbrarem atendimento;
11 - Uma Joinville onde as pessoas passem a olhar para as calçadas em péssimas condições, ao invés do buraco nas ruas;
12 - Uma cidade que pare de se espraiar, evitando assim a especulação imobiliária a qual é a responsável por loteamentos horizontais reprodutoras de um sistema nocivo de urbanismo baseado no automóvel;
13 - Sem monopólio de Gidion e Transtusa afirmado por uma caneta e vários colarinhos brancos;
14 - Uma maciça presença popular nas ruas e nas instâncias participativas;
15 - Uma juventude que se preocupe mais em ajudar os seus semelhantes ao invés de pensar exclusivamente em qual balada ir no final de semana;

Fonte: http://ndonline.com.br/uploads/global/materias/2013/07/06-07-2013-16-12-50-policiais-area-.jpg
16 - Cultura nas periferias da cidade, não somente nos bairros centrais e para os ricos;
17 - Governantes que pensem exclusivamente em diminuir a distância entre o mais rico e o mais pobre desta cidade;
18 - O fim da subserviência de uma cidade às entidades empresariais e todos os seus interesses e negociações ilícitas, imorais, ou particularistas;
19 - Profissionais que sejam profissionais, creditando seu sucesso ao seu trabalho, ao invés de suas redes de relações, "camarotes sociais" ou "puxasaquismo" alheio;
20 - Uma cidade de menos champas com sushi e mais suco com arroz e feijão;
21 - Uma Joinville em que todos possam vivê-la de uma maneira igualitária, humana e justa, sempre.

Como você leitor talvez pôde perceber, estou em clima de despedida deste blog. Todos na vida necessitam de um momento de pausa para, após isto, voltar a cumprir as suas funções sociais com uma maior força. Esta etapa de minha vida eu cumpri. Agora parto para outra etapa, tão gratificante quanto esta que pratiquei por aqui. Quem sabe eu volte - pode ser uma saída temporária - mas o sentimento de gratidão é permanente com todos: os colegas de blog, os leitores, os críticos, e os que querem uma cidade melhor, independente da sua história, visão de mundo, ideologia ou militância. É assim que todos saem ganhando.

Por enquanto a maioria é que está perdendo, em detrimento da vitória de poucos. É a mudança deste cenário que me faz levantar da cama todos os dias. O meu objetivo está traçado. E o seu?

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Calçadas – Pobre Joinville

POR MÁRIO CEZAR DA SILVIERA*

 Se tivermos dores de cabeça constante, ou vamos ao médico descobrir a causa ou só tomamos remédios para a dor. Se irresponsavelmente só tomarmos remédio para a dor, poderemos morrer da causa, ou ver o efeito se agravar. Ora! A decisão da Câmara de Vereadores de Joinville em aprovar o rebaixamento total do meio fio em frente ao comércio, teve exatamente a irresponsável decisão de combater a dor de cabeça e, inconsequentemente, nem se preocupou em pesquisar a causa ou o agravamento do efeito.

Não vou aqui criticar o autor do projeto, vereador Bisoni, pois pela capacidade intelectual que demonstra em suas falas, acho que não teria condições de fazer algo melhor do que as infindáveis seis linhas de seu projeto. Deve ter sido um esforço tremendo. Os vereadores que votaram pela aprovação (não vou nominá-los aqui para não sujar o Chuva Ácida), nem avaliaram que se rebaixamento de meio fio fosse uma solução inteligente, não teria saído da cabeça do seu autor, mas sim da cabeça de algum genial pensador. Quiçá do urbanista Jan Gehl, autor do livro “Cidade para Pessoas” e que transformou Copenhagen, numa das melhores cidades para se viver.

Tenho certeza que os nossos nobres vereadores - “PHDs” em solucionar os problemas da cidade – diriam: esses arquitetos e urbanistas não sabem nada, são só uns chatos que se acham. Então não vou falar das calçadas pelo olhar de um urbanista, vou fazê-lo pelo olhar de uma leiga - a escritora e ativista americana Jane Jacobs (1916/2006), que em seu livro “Morte e Vida de Grandes Cidades” (1961), melhor que qualquer urbanista, fez reflexões sobre a cidade dos automóveis, que negava as calçadas e os espaços públicos.

Segundo ela, uma calçada e uma rua interessantes formam uma cidade interessante e se elas parecerem monótonas, a cidade parecerá monótona, se parecerem abandonadas, a cidade parecerá abandonada, se parecerem confusas, a cidade parecerá confusa. Pobre Joinville! Que imagem suas calçadas fazem de ti?

Não vou me aprofundar em falar tecnicamente das funções e importância das calçadas, pois elas são óbvias – são para andar “a pé” pela cidade, pela via de mobilidade urbana mais democrática que existe. O meio fio é só um elemento, como uma barreira mínima indispensável de proteção das pessoas que por ela transitam. Mas os vereadores não sabem disso, pois com seus “carros alugados”, não precisam de calçadas seguras.

A aprovação do rebaixamento total do meio fio é a admissão inconteste da incapacidade da prefeitura em cumprir sua obrigação. É mais uma herança maldita que a “antiga CONURB”, atual ITTRAN, que pelo que vemos nasceu com o mesmo DNA, deixou para nossa cidade.

Nossas leis municipais tinham regras claras quanto ao rebaixamento da guia para acesso de veículos. A CONURB era o órgão municipal responsável pelas calçadas e, por consequência, tinha a atribuição de fazer cumprir a lei. E não fez. Procrastinou. A procrastinação, nesse caso, transformou o ilegal rebaixamento total de meio fio numa prática comum, facilmente visível, mas que os responsáveis pela CONURB faziam questão de não ver e de não impor aos seus agentes que se fizesse cumprir as leis.

Na jurisprudência, o não cumprimento de sua função, por funcionário ou agente público, é Crime de Prevaricação. Esse abandono das leis trouxe um sério problema paradoxal, pois os que as cumpriam, rebaixando só o permitido, se achavam penalizados. Estabeleceu-se o caos. Os automóveis passaram então, por nova prevaricação da CONURB, a se utilizar irregularmente as calçadas para estacionar, manobrar, parar, sem que fossem incomodados. Estabeleceu-se novo paradoxo. Se uns podem todos podem.

Termino com algumas perguntas que não querem calar:

- Porque a Câmara de Vereadores, responsável por fiscalizar o executivo, não cobrou da CONURB e não cobra do ITTRAN o cumprimento de suas obrigações?

-Será que é melhor legalizar o crime do que fazer cumprir a lei?

-Como os fiscais vão conseguir punir os veículos que estacionarão por “só 5 minutinhos” sobre as calçadas rebaixadas, se não conseguiram fiscalizar os meio fios rebaixados que estão “estacionados”, por dias, meses, anos?

-Porque será que onde o meio fio está irregularmente rebaixado não há árvores na calçada? Será que foram atropeladas ou intensionalmente mortas?

-O que será de Joinville daqui a dez anos, quando pelas previsões teremos o dobro de automóveis? Eliminaremos de vez as calçadas para caber mais carros?

-Que imagem nossas calçadas nos transmitem de Joinville?

-Que efeitos colaterais a cidade terá com o remédio para dor de cabeça que nossos vereadores prescreveram?

PS.: Mandem as respostas, para o Vereador Roberto Bisoni, no email: bisoni@cvj.sc.gov.br, ou no telefone de seu gabinete: (47) 2101-3301

* Mário Cesar da Silveira é coordenador da Comissão Permanente de Acessibilidade do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Comde) e especialista em acessibilidade

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Lei Gabriela Ferreira Duarte

POR JORDI CASTAN

Em menos de uma semana dois fatos marcaram a cidade, o primeiro, em ordem cronológica, foi a aprovação pela Câmara de Vereadores de Joinville da lei que permite o rebaixo do meio fio, com direito a cenas de UFC ou MMA e com vereador fazendo demonstração de artes marciais no plenário. A segunda a morte como resultado do atropelamento na calçada de uma adolescente de 13 anos, na rua Monsenhor Gercino, no Bairro Paranaguamirim.

Inútil explicar aqui qual é a função do meio fio, para que servem as calçadas e qual é a ordem de precedência nas ruas da cidade. Os nossos vereadores faz tempo que desistiram de querer entender qualquer coisa. Estão convencidos na sua supina ignorância que os meio fios devem ser rebaixados, que as calçadas foram feitas para os carros, que os carros devem ter direitos superiores aos dos pedestres ou ciclistas. É difícil argumentar quando o outro lado desistiu de usar a razão, é uma luta inglória e destinada ao fracasso. Deixemos por tanto os nobres vereadores que assumam os seus erros.

Proponho, desde este espaço, que quando o prefeito Udo Dohler sancione a lei, tenho poucas duvidas que em nome da governabilidade, de manter uma maioria confortável e da ausência de assessores competentes, o prefeito, declarado defensor do carro, como meio de transporte e da mobilidade individual, não terá a coragem de vetar a esdrúxula lei, que subverte os valores da mobilidade e coloca os pedestres e ciclistas em risco, como lamentavelmente ficou provado na mesma semana, proponho, pois, que a lei quando sancionada passe a receber alem do numero que a identifique, o nome da menina que foi assassinada, pela falta de fiscalização do rebaixo do meio fio em toda a cidade, pela omissão do poder público e agora também pela irresponsável aprovação de uma lei absurda. Do mesmo modo que temos uma lei Maria da Penha, ou uma lei Carolina Dieckmann, teríamos em Joinville uma lei Gabriela Ferreira Duarte,  assim os vereadores poderiam lembrar sempre do nome da primeira vitima da omissão. Ajudaria a que entendessem a função do meio fio e que a calçada definitivamente não é lugar para carro.

domingo, 10 de novembro de 2013

Vale tudo

POR FABIANA A. VIEIRA


Ao ler o título e ver esta imagem ao lado o leitor pode pensar que o texto fará menção as lutas de MMA tão em evidência nos dias de hoje. Não, não é bem sobre isso que pretendo escrever. Embora o conceito seja mesmo o de vale tudo em Joinville.

A foto bombou na minha timeline nesta semana. A imagem foi capturada pela fotografa Maiara Bersch, durante a sessão da Câmara de Vereadores de Joinville no dia 5 de novembro, e que quase acabou em vias de fato. Aliás, parabéns à fotógrafa que conseguiu registrar o clímax da desordem na Casa legislativa. Nada como estar no local certo, na hora certa.

Quem não estava no local certo era o vereador Maurício Peixer - este, que na foto está de pé, em cima do  muro de proteção (proteção?) do plenário da Câmara. Eu lamentei muito pelo ocorrido quando li as primeiras matérias sobre esta sessão. Primeiro pelo triste resultado das duas votações nas quais os vereadores aprovaram o rebaixamento total do meio fio em frente aos estabelecimentos comerciais de Joinville (projeto de autoria do vereador Roberto Bisoni). Mesmo com a declaração na imprensa (Calçadas não serão rebaixadas, A Notícia, 18 de julho de 2013) do vereador Peixer, que disse: "É inviável (a proposta) do ponto de vista técnico – diz Maurício Peixer (PSDB), presidente da Comissão de Legislação e Justiça da casa. Aliás, vale lembrar que a comissão deu parecer contrário à proposta. Só que na hora de votar, o vereador mudou de ideia.

Em segundo lugar pela atitude deplorável do parlamentar, que está num espaço de debate e não num octógono de MMA (mesmo sabendo que na ânsia eleitoreira, as regras da Casa as vezes são meio que um 'vale tudo' mesmo). Em terceiro lugar, pela proposta em si, que é inconstitucional.

Que o rebaixamento das calçadas fere o princípio da acessibilidade, qualquer pessoa sabe. Só por isso já mereceria um olhar mais humano dos nossos representantes. Além disso, essa proposta anda na contramão da mobilidade urbana. Grandes centros hoje estão atentos ao movimento inverso do desenvolvimento desenfreado, sobretudo no trânsito e estão priorizando mais a qualidade de vida das pessoas. Diga-se qualidade de vida, andar com segurança pelas calçadas. Com essa proposta aprovada na Câmara (e que não quero acreditar que seja sancionada pelo prefeito) não consigo imaginar um pedestre caminhando com segurança pelas calçadas de Joinville. O que hoje já é uma tarefa não muito fácil.


Agora, voltando para a imagem do vereador, é preciso repudiar, condenar, punir atitudes como essa num ambiente de debate. Joinville não merece esse tipo de vale tudo.



quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Poesia de passeio


Foto: Fabrício Porto/ND
POR CLÓVIS GRUNER

A data na dedicatória – “outono/2013” – denuncia: venho querendo escrever sobre “Farda de passeio: poesia quase toda”, do Caco de Oliveira, desde que recebi meu exemplar pelo correio. Mas a tal “realidade” – as manifestações de junho, o assassinato do Amarildo, a desmilitarização da PM, os médicos cubanos, o conservadorismo reacionário dos politicamente incorretos, etc... – atropelou, um após o outro, meus planos de resenhar esta merecida e necessária antologia – e digo uma coisa e outra porque Caco vem fazendo poesia há umas três décadas, utilizando como suporte para sua escrita meios os mais diversos: varais literários, poemas xerocados e carimbados, grafites em pedras e muros, etc...

Conheço o Caco de Oliveira dos tempos em que morava em Joinville e cheguei a guardar por um longo período alguns de seus poemas carimbados, infelizmente perdidos depois de três mudanças. Naquela época – final dos anos 1980 e 90 adentro – eram poucos os lugares e eventos que costumávamos – estudantes, jornalistas, artistas, etc... – frequentar. Ele era presença assídua, tímida e generosa, e suas intervenções já sinalizavam a possibilidade de ler a cidade sob uma clave poética.

Tal possibilidade é uma das que surgem da leitura de “Farda de passeio”. Mas não se trata, por certo, da cidade em seu sentido mais estrito e tangível: nos versos de Caco de Oliveira, ela é mais uma metáfora que coisa, e seu desenho se faz pela confluência de pequenas impressões, desejos e símbolos. Flutuante e incorpórea como uma chama, ela nem por isso é menos real e visível, e os muitos indícios de sua presença surgem em versos como “A vidraça do ônibus coletivo/ chora,/ chove dentro e fora dos olhos.”, ou “Verão/ a lesma refresca a barriga/ no mármore do banheiro.” Em outros, a dicção poética caminha pari passu à solidariedade que denuncia as muitas contradições ainda entranhadas na história e no cotidiano urbanos – e se é possível identificar um nome e uma presença, Joinville, ainda assim pode se tratar de qualquer outra cidade: “Mangue, revirar o passado dói, remói sentimentos. Invasão, fiação de gatos, privadas de buracos no chão, pinguelas e janelas negras. (Saímos donde a gente tava, porque o aluguel comia em nossa mesa).”

A linha que separa a “cidade real” da “cidade imaginada”, portanto, é tênue. E diferente do que supõe uma racionalidade mais dura e instrumental, pouco afeita à experiência sensível, é justamente essa configuração imaginária que permite acessar tanto o seu caráter plural, como os muitos significados atribuídos a ela por meio da linguagem. Quando diz que “o vento balança/ a estátua da praça”, Caco problematiza o cotidiano fluído e “sem tempo” dos que circulam pela cidade sem, muitas vezes, percebê-la. Mas, igualmente, confronta um passado objetivado nos monumentos públicos, opondo-lhe a possibilidade de outros pretéritos encobertos pela almejada solidez dos discursos e imagens oficiais.

OUTRAS FARDAS E PASSEIOS – É esse olhar a cidade, essa tentativa de apreendê-la para além da sua superfície mais visível, que a meu ver aproxima a poesia de Caco de Oliveira de algumas das experiências que o antecederam. Falo dos poetas e da poesia feita nos anos 70 e 80, da revista literária “Cordão” (onde escreveram, entre outros, Alcides Buss, Borges de Garuva, Germano Jacobs, Ives Paz, David Gonçalves, Carlos Adauto Vieira e Eunaldo Verdi); das publicações independentes do mesmo período (tais como “O aprendiz da esperança”, de Apolinário Ternes, “Vida dura”, de Celso Martins e “Saindo da escuridão”, de Luiz Alberto Correa – estes dois últimos, aliás, meus preferidos); dos eventos literários organizados por Dúnia de Freitas, já nos anos de 1990; e, mais recentemente, da poesia escrita por uma geração de novos poetas – e me recordo particularmente de Patrícia Hoffman, Marcos Vasquez, Marcos Alqueire e Fernando Karl, além do próprio Caco de Oliveira.

Em que pese as muitas diferenças – de época, temas e estilos – entre os poetas citados, há alguns elementos a aproximá-los. Sem entrar no mérito do seu valor literário, há neles um esforço por produzir uma poesia que não descuida do mundo; antes, procura ocupar um espaço entre a linguagem e o mundo, aquilo que o ensaísta francês Maurice Blanchot denominou “espaço literário”. É deste espaço-trincheira que se pode apreender e interpretar a linguagem como uma arma de luta; resultado de pressões e violências culturais, sociais e políticas, mas também como uma forma de reagir a elas, um golpe desferido em meio a uma batalha.

Em sua trajetória, Caco de Oliveira construiu inúmeras trincheiras, multiplicou e potencializou espaços, fez com que seus versos, sua ironia, sua apenas aparente leveza (o italiano Ítalo Calvino já disse que só sabe a leveza quem conhece o peso das coisas) chegasse até onde de direito: os leitores, sem os quais a palavra, qualquer palavra, resta incompleta. “Farda de passeio” celebra e sintetiza o percurso de um “guerrilheiro da poesia” que, como todo bom poeta, não declinou do compromisso com seus contemporâneos. Um dos meus haikais preferidos diz: “Enxurrada de palavras/ no asfalto quente da linguagem./ O mormaço põe delírio nos versos.” Pode-se reconhecer na escolha das palavras – enxurrada, asfalto quente, mormaço – a presença latente da cidade que Caco escolheu sua. Latente, mas não limitadora. Ser a um só tempo local e universal, eis aí uma das riquezas dessa joia chamada poesia e deste pequeno grande livro que é “Farda de passeio”.