quinta-feira, 22 de junho de 2017

Desenvolvimento sustentável: dá para acreditar? (parte 1)


POR MICHEL LATOUCHE
Desenvolvimento sustentável. Eis uma expressão para olhar com muita desconfiança. Porque não passa apenas do branqueamento linguístico de uma coisa nefasta: o processo de destruição dos recursos naturais continua, mas com um argumento – sustentado por uma palavra – que serve de álibi. A palavra é “sustentável”.

Dizem os especialistas que o desenvolvimento sustentável é uma forma de conciliar o progresso com a preservação da natureza. Mas o que acontece na prática nunca é uma conciliação. Porque a gula do progresso é insaciável e a natureza acaba sempre por perder. Não vamos esquecer que os cientistas há muito falam do “ponto de não retorno”.

A intenção deste artigo é apresentar dois autores que falam da questão a partir de obras de arte. O primeiro é o pensador frankfurtiano Walter Benjamin, que faz uma leitura de um quadro de Paul Klee. O segundo, de autoria do filósofo francês Michel Serres, descreve essa luta (a natureza e o progresso) a partir de um quadro de Goya.

O primeiro está centrado na ideia que as pessoas têm do conceito de progresso. A imagem de progressista faz parte do “vestuário” de qualquer político ou administrador nos dias de hoje. Ou seja, quanto mais progressista melhor. O verdadeiro problema está no conceito de “progresso”. Temos uma descrição pungente em Walter Benjamin.

Ao elaborar suas teses sobre o conceito de história, o pensador alemão, que se suicidou para não cair nas mãos dos nazistas, fala de um retrato catastrófico do progresso. É um texto que merece ser lido muitas vezes. Benjamin afirma que história e progresso estão muito intrincados, ao ponto de quase não poderem ser dissociados.

Diz o pensador alemão: “Há um quadro de Klee que se chama ‘Angelus Novus’. Representa um anjo que parece querer afastar-se de algo que ele encara fixamente. Seus olhos estão escancarados, sua boca dilatada, suas asas abertas. O anjo da história deve ter esse aspecto. Seu rosto está dirigido para o passado. Onde nós vemos uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que acumula incansavelmente ruína sobre ruína e as dispersa a nossos pés”.

E continua: “Ele gostaria de deter-se para acordar os mortos e juntar os fragmentos. Mas uma tempestade sopra do paraíso e prende-se em suas asas com tanta força que ele não pode mais fechá-las. Essa tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, ao qual ele vira as costas, enquanto o amontoado de ruínas cresce até o céu. Essa tempestade é o que chamamos progresso".

O quadro é o que vemos abaixo.

*(o artigo está dividido em duas partes, uma hoje e a outra amanhã).





4 comentários:

  1. Pois volte para a oca, oras!
    Deixe seu lar confortável e despreze por completo o significado das duas palavrinhas "desenvolvimento" e "sustentabilidade". Logo vocês, esquerdistas, que amam, idolatram eufemismos virem críticar o sinônimo de duas palavras?
    Que tipo de desenvolvimento querem se não for o tal "sustentável", ou não querem mais nenhum tipo (já que o que vocês conseguiram nas vossas classes médias, basta!).
    Detesto eufemismos. Desenvolvimento sustentável é destruir com o menor impacto possível, mas com impactos. Ponto!

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    1. Se um comentário diz que "desenvolvimento é destruir", não há o que argumentar. Quem sabe quando anônimo sair da sua toca, olhar exemplos de desenvolvimento mundo afora, tenhamos o que conversar. Até lá, a destruição continuará.

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    2. Ótima oportunidade para dar os exemplos mundo afora.

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    3. Sempre que há uma intervenção, ocorre a destruição do antigo que faz surgir algo novo, portanto o anônimo acima está correto.
      Anderson Titz

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