POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
É cedo para analisar o
governo interino de Michel Temer? Talvez. Mas os indícios até agora permitem
uma previsão: vêm aí tempos muito difíceis. Passou despercebido – e foi um erro
– um aviso do senador Roberto Requião sobre o documento “Uma Ponte para o
Futuro”, que orienta o governo interino. Diz o político paranaense que o
programa tem uma linha que “beneficia o capital especulativo e prejudica
duramente o trabalho. É pior do que o que se propôs para Grécia, Itália,
Portugal e Espanha”.
Por
que a Europa serve como referência? Porque há um elemento comum às duas situações: a
aposta na austeridade. Quem viveu os últimos anos no velho continente – em
especial depois de 2008 – conhece a destruição provocada pela obsessão
austeritária (o autoritarismo da austeridade). As políticas neoliberais de
Bruxelas levaram muitos países ao esgotamento e há mesmo quem fale no
esboroamento da União Europeia. Os cidadãos europeus estão exaustos com tanta
austeridade.
Ontem
foi a Europa, hoje pode ser o Brasil. A própria formação do ministério do
governo interino mostra a aposta numa clara subalternização das áreas sociais.
O foco de Michel Temer é a economia. E a batata quente ficou nas mãos de Henrique
Meirelles, nome com alguns créditos no mercado. De bate-pronto, o novo ministro
anunciou cortes na própria carne. Em bom economês, é o aviso de cortes nos
investimentos públicos, em especial nas áreas sociais (o que, de resto, já
começa a acontecer).
Henrique
Meirelles, que é um cavalo de corrida num governo de pangarés, vai impor a
lógica austeritária e isso implica em medidas impopulares. Mas é importante
saber até onde vai o fôlego do novo ministro, porque haverá pelo menos três pontos
de tensão a contornar: a reação das ruas, os rumos da economia mundial e a fidelidade dos aliados do governo interino. Meirelles pode até dar algumas
garantias no plano da economia, mas política não parece ser a sua praia. E este
será um fator decisivo.
1. As
pressões das ruas já começaram, com os movimentos sociais e sindicais a
promover protestos contra a perda de direitos e os retrocessos sociais. A opinião
pública é uma peça importante nesse xadrez, como demonstrou o imbróglio do
Ministério da Cultura. Apesar da militância da velha imprensa na defesa do
governo interino, o efeito do “eu avisei” vai ser sentido. É possível adivinhar
um momento em que a maioria silenciosa também sentirá os efeitos das mudanças. A
austeridade é pouco popular.
2. Nos
últimos tempos, a mídia que apoia o golpe fez questão de esconder a crise mundial.
É como se não houvesse ligação entre os problemas internos e os externos. Mas
nem os mais otimistas podem acreditar que o Brasil possa ser uma ilha de
prosperidade em meio à tempestade econômica internacional. A equipe econômica de Michel Temer vai ter que impor medidas dolorosas e nada populares. Isso prenuncia
dias difíceis para um governo considerado ilegítimo tanto no plano nacional
quanto internacional.
3. O
maior foco de resistência, no entanto, pode vir dos políticos que apoiam o
presidente interino. As políticas neoliberais e a austeridade são um remédio
amargo capaz de mudar o humor dos brasileiros, mesmo os que queriam a queda de
Dilma Roussef. Até que ponto a base de apoio do governo interino vai apoiar
medidas impopulares? Ora, todos conhecemos a qualidade dos políticos que formam
o Congresso Nacional. Uma vez golpistas, sempre golpistas. É fácil prever que vão roer
a corda e deixar Michel Temer na mão.
O
resultado das políticas austeritárias são desemprego, pobreza, exclusão, perda
de direitos, desassistência, desagregação social. A fórmula é tão falível que
as próprias autoridades europeias – que têm imposto a austeridade – já começam
a pôr os próprios métodos em causa. Mas no Brasil tem gente disposta a ir por
esse caminho. É um daqueles jogos onde todos perdem. Menos os canalhas
entreguistas, claro.
É a dança da chuva.
Primeiro que o Brasil não é uma Grécia, Portugal, Espanha ou Itália. Segundo que, o antônimo de austero é tolerante, tolerante com os gastos excessivos, excesso que não existe porque simplesmente não há mais dinheiro. Simples assim.
ResponderExcluirVejamos, os petistas concentraram seu ódio e toda a culpa pelas desgraças do partido em Joaquim Levi, ex-ministro da fazenda, acusando-o de ser “conservador” demais com o os gastos públicos. O ex-presidente do banco-central, o petista Nelson Barbosa, tentou de todas as formas possíveis puxar o tapete de Levi, até a demissão deste e a ascensão de Barbosa ao cargo do ministério da fazenda. O que fez Barbosa quando chegou ao poder? A mesma coisa!
O Brasil não tem uma fada-madrinha chamada União Europeia. O Brasil, como a maioria dos países, é por contra própria: se gastar mais do que arrecada, de onde vai tirar $ para sanar suas contas, do FMI?
Quanto aos seus levantamentos:
1- Temer, de fato, foi fraco ao recriar o ministério da cultura? Para quê? Para manter os milhares de “artistas” que fazem “arte” para ninguém a mamar nas tetas do ministério com dinheiro público. Quanto aos outros “movimentos populares”, a fonte do din-din já foi fechada. Vamos ver até onde essa in$ati$fação toda vai chegar...
2- Crise mundial? Sério? Até a Grécia está voltando a crescer... E o Brasil tem um papel fundamental no comércio internacional, respondendo por "pomposos" 1,6%, ou o 25º lugar no ranking mundial... C'mon, crise mundial? Só se for na Venezuela.
3- O brasileiro já passou por austeridades piores, e foi sabiamente conivente, principalmente quando se há diálogo honesto entre o governo e o povo. Explica aí, como um déficit de 96, 5 bi pode se transformar em 170 bi?
As políticas de austeridade em curto prazo trazem resultados negativos para a maioria da população. É um remédio amargo que poderia ter menos amargos se fosse aplicado anos atrás. A médio e longo prazo o brasileiro vai colher os frutos e perceberá o quão danoso é colocar gente populista e irresponsável para governar um país. A Venezuela está aqui ao lado a servir de exemplo do que a esquerda latino-americana é capaz.
Alguém que ainda não leu os jornais de hoje...
ExcluirSobre as declarações do Jucá?
ExcluirVai cair, oras.
Dá medo este discurso repetitivo de que quem faz cultura "mama nas tetas do governo". Um país é feito somente de trabalho e pagar contas? Um cinema onde todos param um pouco para descansar suas desgraçadas vidas é feito com qual recurso? Privado? Um museu, uma mostra cultural é feita somente com dinheiro privado? Se fosse assim todos os artistas morreriam de fome, afinal a iniciativa privada historicamente investiu muito pouco neste setor, sobretudo o sul do Brasil, mais conservador neste sentido. Salvo pequenas exceções, os artistas fazem da sua cultura uma profissão e se sustentam com isso a muito custo e trabalho, sem mamar em teta nenhuma. O SIMDEC joinvilense é um exemplo: onde milhares de artistas já efetuaram suas intervenções que mudaram a cara da cidade e das periferias, levando cultura onde antes ninguém olhava, levando diversão a centenas de pessoas que não têm condições de pagar R$ 100 por um ingresso standUp no Juarez Machado. Isso é "mamar nas tetas do governo"? Um pouco mais de visão holística, por favor!!
ResponderExcluirUm filme, uma música, um grupo de teatro não pode ser financiado pelo Estado, quando o é, os beneficiários tornam-se panfleteiros de uma corrente ideológica, como ocorreu em Cannes com a atriz “estadunidense” Sônia Braga e sua trupe a reproduzirem algo que só ouviram falar dos trópicos. Grupos culturais tem de se financiar, buscar recursos junto à iniciativa privada, mas para isso o projeto tem de ser bom. Quando a Lei Rouanet (que deveria apoiar grupos culturais bons, mas que não têm condições financeiras) financia uma cantora milionária de renome, como a Maria Betânia, para o seu “livro de poesia”, ou o MinC libera fartos recursos para um filme medíocre que demorou mais de década para sair do papel (Chatô – o Rei do Brasil), percebe-se a quem realmente o ministério serve. E esses são apenas dois exemplos.
ExcluirDeve ser lindo esse país onde é os anônimos vivem, gostaria muito de conhecer, pois parece que lá o mercado é uma espécie de Ghandi bondoso e ético. A iniciativa privada é muito democrática e justa e nunca movida a dinheiro. Dizem que lá experiências artísticas de vanguarda tem seu espaço, bem como todas as manifestações culturais mais tradicionais. É um mundo perfeito. Parece que à noite, inclusive, voejam unicórnios alados cantando loas ao deus-mercado.
ExcluirRubens, como bom escritor manejaste bem as palavras para dar-lhes esse tom irônico, contudo isso em nada diminuiu a lógica contida no comentário do anônimo. O mercado é sim impiedoso e cruel, mas ele busca sempre o lucro. Se o projeto possuir apelo popular (público=lucro) sempre haverão financiadores. Diferente do Estado que tende a beneficiar quem lhe apraz usando critérios nem sempre claros.
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