domingo, 8 de maio de 2016

Por que as lágrimas da mãe branca comovem mais?

POR GABRIELA QUEIROZ

A mãe da menina Isabella Nardoni está grávida de um menino, noticiam os jornais. Incontáveis compartilhamentos da notícia dão conta de que, tanto a breve passagem de Isabella, quanto a vida de sua mãe, Ana Carolina, jamais serão esquecidas, mesmo depois de passados oito anos da tragédia. Um novo bebê jamais ocupará o lugar da irmãzinha, mas certamente trará a essa mãe novas alegrias.

Não estou menosprezando isso.

Só gostaria de fazer uma breve reflexão acerca do desprezo sofrido pelas incontáveis mães negras que perdem diariamente seus filhos de maneira brutal. Eu não tenho a pretensão de ter as respostas; pelo contrário, o que me incomoda são as perguntas. Por que seus nomes não são lembrados, suas histórias não são insistentemente contadas pela mídia, seus filhos não tem nome, tornam-se apenas estatísticas? Por que a mãe que perdeu o filho há duas semanas por uma bala perdida teve que se justificar no Fantástico porque seu filho estava brincando na rua? A culpa foi dela?

A diferença de tratamento entre uma mãe e outra corrobora um fato que não podemos aceitar: o racismo. A mãe branca da classe média que teve a filha arrancada de seus braços por alguém com sobrenome de família tradicional não foi esquecida, mesmo após oito anos. Fatos terríveis como este não são esperados desta população. Transtornos mentais, conflitos familiares, intrigas e crimes não fazem parte da vida dos “bem criados”, reza a mídia tendenciosa. “Isto são coisas dos pretos!”, acusam-nos. E assim, à mãe negra e pobre, moradora da periferia, só resta o questionamento se irá conseguir criar o outro filho, o que sobreviveu. Ela terá esse direito?


E quantas outras mães, sem nome, sem rosto, sem história, que tem em comum a pele escura, não chegam ao nosso conhecimento? Quantas mães choram tentando provar que seus filhos não eram bandidos, eram estudantes, estavam apenas voltando para a casa quando foram alvejados?

São tantas as histórias tristes das minhas pares, que eu poderia passar horas lhes contando algumas. Entretanto, o que dará mais audiência nesse momento, é a escolha do nome do irmão da Isabella.

4 comentários:

  1. Somos seletivos por natureza, querida, não sejas hipócrita. Entretanto, tu, no teu texto, estás criticando as pessoas que se sensibilizaram porque o próprio pai e a madrasta atiraram uma criança de sete anos da janela do apartamento em detrimento das várias outras crianças mortas pelo crime do tráfico. Não sei se notaste, mas há diferenças entre a primeira situação com as demais, e não se trata da cor da pele das vítimas. Quem fica a procurar justificativas usando etnias e cor são os racistas.

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  2. "lágrimas da mãe branca"
    Já disse, no mundo existe racismo e isso é inegável, mas de todo racismo, mais da metade é incentivado e proliferado por quem o combate falando dessa forma.

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