quinta-feira, 18 de junho de 2015

Quem precisa de serviço público


POR VALDETE DAUFEMBACK NIEHUES

Ultimamente, para resolver questões pessoais, precisei de serviços que envolveram instituições privadas e públicas e, francamente, não consigo me relacionar de forma amigável com o trâmite moroso da burocracia. Parece que quanto mais as tecnologias se desenvolvem, mais dificuldades se têm no atendimento, desde uma simples informação à emissão de um documento.

Neste quesito, as instituições públicas (as quais precisei), foram exemplares na conduta negativa de atendimento, beirando ao desleixo, desde a falta de educação de servidores públicos ao telefone, à sua falta de conhecimento das atividades internas, sem contar com o desencontro de informações de um setor para outro e de dezenas de telefonemas que foram parar no além, em algum “buraco negro” (não gosto deste conceito, mas faço uso por não encontrar significado melhor para descrever a situação), sem chegar ao destino solicitado.

Alguém já se perguntou por que uma instituição mantém um Portal com informações desatualizadas, como endereço de local de funcionamento, número de telefone, cargos de servidores?  Não sei se é para confundir, para não atender, ou se é por falta de capacidade técnica para alimentar o sistema com informações atualizadas. Nos tempos da agilidade comunicacional, este instrumento operacional de acesso à informação, nestas condições, se assemelha a uma locomotiva do século XIX.  

Nesta jornada, que durou semanas, rendeu uma experiência qualificada daquilo que não se deve fazer no atendimento ao público. O caso mais emblemático foi a resposta que obtive de um órgão público estadual quando solicitei um serviço, ao ouvir da servidora de que a pessoa responsável pelo setor estava de férias e por isso recomendou que eu retornasse dentro de três semanas porque não havia outra pessoa habilitada para executar o tal serviço, ou seja, verificar nos arquivos o número de uma portaria.

Sou e sempre fui defensora do serviço público e não será esta experiência que irá motivar para que eu pense de forma contrária, mesmo porque entendo ser uma estratégia neoliberal o esfacelamento dos órgãos públicos, uma espécie de antessala, para legitimar a privatização. O mau atendimento no serviço público tem a função pedagógica de conduzir a sociedade a se manifestar favoravelmente à aceitação de outras formas de prestação de serviço e de relações trabalhistas que atendam aos interesses do capital. 

O projeto neoliberal está se fortalecendo não só com o apoio de cidadãos consumidores que acreditam nos benefícios da eficiência de serviços privados, mas também com o envelhecimento dos ideais da representação dos trabalhadores que não consegue mais mobilizar a classe para reivindicar condições de trabalho para além de questão salarial. 

Assim se cria o imobilismo entre aqueles que se garantem com a estabilidade de emprego, estabelecendo uma burocracia irracional, enquanto a população reivindica agilidade e qualidade no atendimento para atender às suas necessidades, mesmo que para isso se privatize os serviços, sem, no entanto, entender a face oculta embutida neste pacote neoliberal.
  

8 comentários:

  1. Estado não tem que oferecer serviço nenhum, Estado tem de fiscalizar, ponto.
    Entre 60 nações, o Brasil está em última posição na relação impostos/serviços prestados. Pagamos caro para ter um serviço de péssima qualidade, porque a maior parte de nossos impostos servem para manutenção de uma máquina gigante e ineficiente, quando não para tapar buracos em Estatais mal administradas. Que o Estado deixe os serviços para que sabe executá-los.

    Eduardo, Jlle

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  2. Se ser empresa privada fosse sinônimo de empresa eficiente, as oi's, vivo's, claro's, tim's e net's da vida não seriam campeãs no PROCOM.
    Infelizmente contudo, o serviço público está num patamar igual, senão até abaixo delas, devido a péssima qualificação de boa parte dos funcionários e pior ainda, das ingerências políticas a que são submetidos de forma cada vez mais intensa quanto desavergonhada. Concurso público, já se sabe, não qualifica ninguem.
    E a solução para o serviço público é muito simples. Qualifiquem os funcionários, e deixem-os trabalharem dentro do que sabem. Sem esquecer de premiar os mais esforçados e eficientes. Mas aí "a porca costuma torcer o rabo"...

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    1. Eficiente era a Telebrás!
      Pagar um carro popular e esperar três anos para conseguir uma linha residencial, porque celular era sonho americano, mesmo que existisse há mais de década nos países desenvolvidos.
      A única coisa boa do servidorismo público, ainda usando a extinta Telebrás como exemplo, era o cafezinho servido e a surpresa com a quantidade de funcionários públicos que desfilavam nas agências da Estatal.
      Hoje, com o mercado aberto, temos várias empresas que prestam o serviço de telefonia. Qualquer um pode ter um celular e escolher a empresa e o plano que melhor lhe convém. O governo já tem a Anatel que deveria fiscalizar e autuar as empresas privadas e cobrar maior eficiência, mas nem isso consegue fazer com o mínimo de eficiência.

      Eduardo, Jlle

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    2. Penso que estamos falando da mesma coisa Eduardo. Mas ao citar a Telebrás (ou nossa extinta Telesc) e seus celulares caríssimos ou mesmo linhas fixas dificeis de se obter à época, voce esquece que estávamos nos primórdios do desenvolvimento dessas tecnologias que hoje são corriqueiras e comuns.
      Posso citar, da mesma forma, a quase impossibilidade de se comprar uma TV a cores, quando essas transmissões iniciaram no Brasil. Ou mesmo as antigas preto e branco, que mostravam mais chuviscos do que imagens e mesmo assim eram caríssimas.
      Hoje é claro, qualquer um consegue quantos celulares quiser, sem dificuldades, exceto nos modelos mais sofisticados que continuam custando os olhos da cara, convenhamos.
      O que eu quis salientar é a qualidade do serviço oferecido. E acho que quanto a isso todos concordamos que é péssimo, considerando o preço que pagamos. Repito: as reclamações no PROCOM e inúmeras reportagens da imprensa corroboram esse fato.
      E, sim, concordo com voce, a ANATEL é uma piada. Com raríssimas exceções, seu papel foi sempre o de apenas "abençoar" as maracutaias a nós impostas pelas telefônicas (todas, sem exceção), incluindo serviços de TV a cabo (NET)
      Mas é o que eu digo. Tenho certeza que a Anatel possui em seus quadros, pessoas de alto nível de capacidade e eficiencia, assim como outros órgãos públicos também as tem. Apenas fica a dúvida: eles tem voz ativa? Em geral eles estão sempre subordinados aos indicados pelo partido político de plantão, que por sua vez nomeiam pessoas sem nenhuma capacidade técnico/gerencial/administrativa, quando não analfabetos. Esse é o verdadeiro câncer do serviço público. É duro um funcionário concursado e pós graduado estar sujeito às ordens de imbecis cujo currículo não passa de uma lista de santinhos de candidatos do partido, disbribuídos na última eleição.

      Voltando ao início, ao contrário do que voce diz, meu caro Eduardo, a Telebrás prestou sim um enorme serviço às comunicações no Brasil. Lembro muito bem das primeiras ligações via satélite, onde maravilhados, eu (ainda garoto) e meus pais conseguiamos ligar pros parentes no Rio de Janeiro, diretamente do aparelho recem instalado na sala de vositas. Apenas discando os códigos e números necessários. Sem telefonista ou pior, sem precisar ir até a agencia da Satesc ou da Telesc e, das suas cabines, fazer um interurbano. Sim, existiam cabines pra isso. Solicitava-se a ligação à telefonista, e aguardava-se na sala de espera até ser chamado quando a ligação estava completada.
      E ninguém reclamava...rssss

      É óbvio que hoje temos recursos e facilidades inimagináveis àquela época. Mas em compensação, a qualidade dos serviços e a honestidade em sua prestação caiu na mesma proporção do progresso tecnológico.
      E isso é um fato.

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    3. Concordo com vc Nelson_Jvlle, que o verdadeiro câncer do serviço público é o servidor estar subordinado as indicados dos políticos. "É duro um funcionário concursado e pós graduado estar sujeito às ordens de imbecis cujo currículo não passa de uma lista de santinhos de candidatos do partido, disbribuídos na última eleição", e que todos sabemos tem uma função bem definida a frente de seus cargos.
      Mas não quero tirar a responsabilidade do servidor, tem muito folgado, como tem também na iniciativa privada, a unica diferença é que aqui aparece e lá não. Gostaria que a estabilidade não existisse mas sei muito bem que se assim fosse ela seria usada no Brasil para tirar os bons e não os maus servidores, afinal isso é Brasil, infelizmente. Aguenta coração.

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    4. Nelson acertou em cheio. E o Eduardo disse algo que eu sempre repito o problema do funcionalismo é estar submetido a gestores externos indicados politicamente.
      Quanto à estabilidade, aquela fiscal de Joinville que tem o péssimo hábito de fazer o seu trabalho e interditar escolas sem condições de uso já estaria na rua há muito tempo se não fosse a tal estabilidade.

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  3. peraí, eu tô chutando de uma coisa que defendo, eu tô chutando. mas a culpa é dos neoliberais.

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