POR LILIAN VEGINI BAPTISTA
Ao passar pelo curso de graduação em História, tive a
oportunidade de ressignificar algumas coisas como a imigração em Joinville.
Nasci em uma cidade pequena no interior do Paraná, e por volta dos oito anos de
idade vim para Joinville com minha família. Lembro dos trabalhos da escola que
pediam para contar a história da cidade, e o que aparecia era a história dos
príncipes, as casas construídas por e para alemães e a barca
Colon como símbolo da imigração, além das festividades catarinenses em destaque
que mostravam-se de perfil alemão. Passei anos com essa visão de cidade alemã,
sem espaço para a diversidade.
Na faculdade, ao estudar história de Santa Catarina, tive uma
visão bem diferente daquela que os tempos de escola me proporcionaram. Não
podemos negar que os imigrantes alemães tiveram participação fundamental na
fundação da cidade, em 1851, mas também não podemos deixar de lado os outros
grupos que vieram de diferentes partes da Europa e os próprios brasileiros que
sequer são citados. Existiam campanhas
de colonização que tinham como objetivo atrair pessoas para povoar a região e
prometiam uma vida melhor, até mesmo um pedaço do “paraíso”. Depois de
enfrentarem uma viagem difícil que oferecia riscos de vida e péssimas condições
de higiene, os imigrantes desembarcaram e encontraram um lugar bem diferente do
que aquele paraíso que estavam esperando, pois o local apresentava um manguezal
e apenas um galpão para acolher todos os imigrantes recém chegados.
Assim,
aos poucos a ideia romantizada da formação de Joinville foi sendo desconstruída
e meu interesse pelo tema foi aumentando. Em 2013 realizei um projeto de
iniciação científica pela universidade e pude pesquisar um pouco mais sobre
imigração. A pesquisa tinha como objetivo entender possíveis representações
formadas sobre a imigração a partir da análise do acervo do Museu Nacional de
Imigração e Colonização (MNIC) e da aplicação de 60 formulários aos visitantes
do museu. Apesar de ser uma pesquisa pequena, nos fornece pontos importantes a
serem repensados. Do total de entrevistados, 38,3% responderam que esse
imigrante é o alemão, 30% disseram que ele é o imigrante de classe alta/rico/da
elite, 11,6% afirmaram que é o trabalhador, 5% falaram que se trata tanto do
imigrante rico quanto do pobre e 15% optaram por outras classificações.
Dos
entrevistados que nasceram e moram em Joinville, 70% deles disseram que o
imigrante representado no MNIC é o imigrante alemão. A partir deste resultado
podemos perceber que os próprios joinvilenses tem participação nesta manutenção
do “status alemão” da cidade. Esta
participação é um pouco preocupante e contraditória se pensarmos nos movimentos
que acontecem na cidade atualmente, como o Movimento Negro Maria Laura, o Clube
Kenia e as escolas de samba de Joinville. Desta forma, parece existir uma
divisão entre a conservação do imaginário alemão pensado inicialmente para
Joinville e a afirmação multicultural e étnica da cidade.
Voltando
aos imigrantes, “a condição de imigrante se acopla, assim, à de estrangeiro.
Isso significa se sentir e ser considerado como diferente. O grau de
estranhamento depende de muitas variáveis: o lugar de onde veio, as razões da
imigração, a situação de viajar em família ou só" (Oliveira, 2002, p.12) e
acrescento também a recepção do lugar para que se vai. Sabemos que as viagens
enfrentadas e a recepção dos imigrantes no século XIX não foram nada fáceis, e podemos
visualizar este cenário em repetição nos últimos anos.
Santa
Catarina tem recebido diversos grupos vindos da região do Haiti e de Senegal,
mas será que essa recepção é diferente daquela do século XIX? Estes imigrantes
mostram-se parecidos com aqueles, pois também se lançam ao trabalho para
conquistar o mínimo necessário para a sobrevivência. Acredito que nenhum deles
tenha abandonado “a segurança” de seu país, de suas casas e famílias com a
intenção de “roubar empregos” de brasileiros, mas sim de buscar oportunidades
para melhorar suas condições de vida.
Fico me perguntando qual o motivo para tanta hostilidade, quase uma aversão a estes grupos recém chegados. Ao ouvir tamanha indignação daqueles que tiveram seus “empregos roubados” por haitianos, fico imaginando como gostariam de ser recebidos em um país estranho, com costumes e língua diferentes daqueles ao que está habituado ainda mais na condição de ter que lutar para sobreviver. Acho que a resposta é meio óbvia, não!?
Fico me perguntando qual o motivo para tanta hostilidade, quase uma aversão a estes grupos recém chegados. Ao ouvir tamanha indignação daqueles que tiveram seus “empregos roubados” por haitianos, fico imaginando como gostariam de ser recebidos em um país estranho, com costumes e língua diferentes daqueles ao que está habituado ainda mais na condição de ter que lutar para sobreviver. Acho que a resposta é meio óbvia, não!?
Posicionar-se
contra a vida de grupos estrangeiros para o país, em especial ao sul, não é
somente colaborar com a manutenção do status alemão (que não passa de status,
pois a diversidade está por todos os lados) mas também é posicionar-se contra a
vida humana. Pode soar um tanto exagerado, mas é desta forma que tenho visto o
preconceito e a indiferença com estas pessoas.
Cabe a cada
um pensar que Joinville quer construir, pois a cidade é uma construção de cada
membro participante. Lembrando que não vejo problema em defender determinada
cultura, mas sim em não respeitar o espaço que é direito de cada um, em não
respeitar aquilo e aqueles que são “diferentes”.
Para quem quiser
ler e saber um pouco mais sobre a pesquisa “Imigração: representações com base
no Museu Nacional de Imigração e Colonização, de Joinville” a partir da página
103 no link: http://univille.edu.br/community/novoportal/VirtualDisk.html?action=readFile&file=Caderno_PIBIC_2014-web.pdf¤t=%2FPesquisa%2FCadernos_de_IC
E outro texto “Que imigrante é esse?
representações do imigrante em um museu de Joinville/SC” no link: https://www.academia.edu/12862380/Que_imigrante_%C3%A9_esse_representa%C3%A7%C3%B5es_do_imigrante_em_um_museu_de_Joinville_SC
Lilian Vegini Baptista
lilivegini@hotmail.com
O curso de História não ensina que Imigrante significa “aquele que Imigrou”, portanto, o estrangeiro? Ora, se perguntar para qualquer pessoa com o ensino médio “quem foram os imigrantes que colonizaram Joinville”, obviamente a resposta será “os alemães”. Embora houvessem antes deles os suíços e após eles, os noruegueses e franceses. Os negros não vieram imigrados à Joinville na época.
ResponderExcluirQuanto a suposta hostilidade contra os atuais imigrantes haitianos e senegaleses, pelo menos em SC, estás exagerando. Convenhamos que os imigrantes alemães e outros, até pelo tempo de chegada deles, geraram mais dividendos a cidade e, consequentemente, deixaram raízes mais profundas do que os recentes imigrantes. Além disso, o número de imigrantes europeus na época também foi maior. A Joinville atual é uma cidade de Migrantes que foi colonizada por Imigrantes europeus e, mais tarde e em menor número, Migrantes de origem africana que se estabeleceram principalmente no sul e sudeste do município.
Deixemos os mi, mi, mi, mis de lado, porque além de enfadonho, esse assunto pouco agrega as ditas “minorias” que não são tão minorias assim.
Que tal fazer um texto sobre a cultura africana em Joinville sem levantar supostas “questões xenofóbicas teutônicas”?
Eduardo, Jlle