quarta-feira, 24 de junho de 2015

Caso de racismo em escola é o retrato de Joinville

POR FELIPE SILVEIRA

É exemplar a discussão sobre o recente caso de racismo que envolve um tradicional colégio em Joinville. A mesma instituição cujos clientes insistem em desrespeitar o corredor de ônibus, onde estacionam os carros nos horários de entrada e saída da escola, obrigando usuários do transporte público a esperar a classe média buscar as crianças na escola.

Os dois casos representam bem o conflito social, de classe, que ocorre na cidade. De um lado, a elite, a tradição, “a moral e os bons costumes”, aqueles acostumados a mandar e desmandar na cidade, sem se importar com o barulho feito pelos outros. Do outro lado, os debaixo, os oprimidos, aqueles que sempre sofreram as chicotadas, que venderam sua mão-de-obra para a indústria por uma mixaria, que sofrem apertados e de pé nos ônibus para chegar em casa depois de um dia extenuante de trabalho.

Quem sempre dominou não dá muito bola para as reclamações. Se começa a incomodar, manda calar. Se não incomoda, deixa falar. O caso do corredor de ônibus mostra como a reclamação dos trabalhadores e estudantes que usam o transporte público não incomoda. Por mais que se fale na internet e que apareça na TV, nada acontece. Claro, a cidade é governada por um legítimo representante da elite econômica local, que se recusa a fazer algo contra sujeitos de sua classe. Foi a elite, a tradição e o poder econômico, que escolheu seu representante para comandar a cidade. Esperar que ela faça algo contra ela mesma é inútil.

No caso de blackface há algo similar. Quando os imigrantes europeus chegaram aqui, escravos trabalharam para abrir estradas e construir casas para os recém-chegados. Com o tempo, o imigrante europeu dominou a cidade e expulsou o negro para a periferia. Dominou o centro e hoje faz chacota daquele que construiu sua casa, cuidou de suas crianças, limpou sua casa e fez sua comida.

Mas já chegou o tempo em que não vai mais ser possível ignorar. E muito menos mandar calar. O mundo está em ebulição, e é nas cidades, como em Joinville, que a coisa vai explodir. O movimento negro se organiza cada vez mais e não vai se calar. Os trabalhadores que dependem do transporte coletivo não vão desistir. As mulheres vão conquistar o respeito, o espaço e os direitos. Os lgbts vão exigir o respeito que merecem. Todos vão lutar e conquistar.

Não adianta ignorar e resistir não vai adiantar.

12 comentários:

  1. Esse Felipe Silveira não conhece a história de Joinville, Os imigrantes não tinham escravos, só os brasileiros que já viviam aqui antes.E quem construiu as estradas não foram os escravos, foram os colonos, que eram remunerados.

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    1. Leia o livro do Carlos Ficker, que é um dos principais documentos sobre a história de Joinville. Depois venha comentar sobre a história de Joinville.

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  2. É Felipe, da mesma maneira que o texto anterior sobre Blackface, vc comprou briga com a turma ariana que jura que a Lei Áurea representou a libertação para os negros. E nem só para os negros. Esta mesma turma jura que não há favelas em Joinville, por que na maior cidade do Universo isto não pode acontecer, é restrito aos outros "centros menores". O apartheid aqui já começa na própria estrutura do poder público e se estende para quem sustenta isto tudo que é aquela famosa agremiação na margem do Cachoeira.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. OK Felipe, acredito que você faça parte da mesma classe média, não vamos generalizar, os tempos são outros. Agora concordo contigo, quando a escola e a prefeitura não fazem absolutamente nada pra resolver. Jamais colocaria minha filha a estudar numa escola assim, só pelo fato de não resolverem essa situação. Penso que os pais são culpados, mas não tanto quanto as duas instituições citadas e sinceramente já presenciei tal desrespeito em escolas públicas também. A maldade ou falta de caráter não tem "preconceito" com nada, incluindo a classe social.

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  5. Será que o debate a conversa não seria mais interessante para ajudar no fim do racismo?

    Vejamos alguns dias atras um travesti numa cruz representando Jesus Cristo, esta imagem causou uma indgnação em muitos religiosos, confesso que fiquei chocado com a imagem. Mas apos ler a entrevista, na qual ela se comparava a imagem de Jesus com os casos de mortes e discriminição que a comunidade LGBT sofreu e vem sofrendo, achei justo e valida a forma de protesto.
    No caso da professora, não foi protesto, mas tbm acredito que foi uma maneira de discriminar a população negra. Então pq vc Felipe, não entrevista ela e traga o ponto de vista dela, gere uma discussão. Acho isso mais valido para lutar contra a discriminação do que simplimente atacar ela num texto de blog.

    Obrigado

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    1. O sujeito que se travestiu quis “causar”, como costumam dizer nesse meio. Só causou desconforto e ira nas pessoas com o mínimo de bom senso, porque o nome dele ninguém mais lembra.

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    2. Felipe Becker, este é um site de textos opinativos. Não é um site jornalístico, de entrevistas etc. A professora foi ouvida na TV, deu sua versão. Mas isso não faz diferença para o meu texto, pois não ataco a professora. Pelo contrário, eu nem falo da professora. O que faço é uma relação do caso com a luta de classes em Joinville. Acho que o caso é um exemplo claro de como é essa relação. Leia o texto e veja que eu não falo na professora.

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  6. Obrigado Felipe Becker por trazer um pouco de sanidade a este debate.

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    1. L., vou reproduzir o que respondi ao F.B. ali em cima:

      "Felipe Becker, este é um site de textos opinativos. Não é um site jornalístico, de entrevistas etc. A professora foi ouvida na TV, deu sua versão. Mas isso não faz diferença para o meu texto, pois não ataco a professora. Pelo contrário, eu nem falo da professora. O que faço é uma relação do caso com a luta de classes em Joinville. Acho que o caso é um exemplo claro de como é essa relação. Leia o texto e veja que eu não falo na professora."

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    2. Obrigado pelo esclarecimento Felipe. Talvez por eu usar o chuva ácida como uma importante fonte de notícias sobre Joinville, principalmente pelo seu viés de contraponto à mídia tradicional, eu sempre prefira uma abordagem mais jornalistica.
      Deixo isso até como sugestão. Quanto maior a abordagem jornalistica mais interessante fica o blogue.
      Um abraço

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