quarta-feira, 1 de outubro de 2014

O horror à política

POR CLÓVIS GRUNER

Em um texto escrito em 1950, “O que é política?”, a filósofa Hannah Arendt define a política como um lugar de aparecimento de rostos, multiplicidades, diferenças e intervalos. Rostos porque a política não é feita de abstrações, mas de corpos que falam e agem. Multiplicidades porque não se trata de homogeneizar os sujeitos políticos, mas de fazer explodir singularidades. A multiplicidade faz aparecer as diferenças e os intervalos: a política faz-se também na reciprocidade entre os diversos, que constituem relações naqueles interstícios e intervalos que os aproximam sem, por isso, anular-lhes a diferença. “A política”, diz ela, baseia-se na “pluralidade dos homens”; ela deve organizar e regular o convívio de e entre diferentes, não de iguais. Razão porque, para Arendt, o “sentido da política é a liberdade”.

Outro alemão, Jürgen Habermas, criticou em Arendt o que considerava uma concepção idealizada de política. De acordo com ele, Arendt a concebia tomando como modelo uma experiência, a da polis grega, impraticável nas sociedades contemporâneas, não apenas mais populosas como também mais complexas. A filósofa temia o que ele chamou de “midiatização da população” pelas instituições políticas, preferindo a estas a democracia direta e imediata. Diferentemente, Habermas reafirma a pertinência das democracias modernas e representativas, criticando em sua interlocutora a “estilização da polis grega” que está no cerne de suas formulações.

Pois penso que equivocado estava Habermas. Primeiro, acerca de Hannah Arendt, que tinha suficiente sensibilidade histórica para não usar o passado senão como meio para afirmar a possibilidade de pensar diferentemente a política no presente. Nela, a polis não é um lugar ideal ao qual se pretende retornar, mas uma referência necessária para compreender a historicidade da própria política, bem como denunciar os riscos e os limites do modelo representativo. Riscos e limites aos quais Habermas parece, afinal, pouco atento. Sem tensionar a democracia representativa, questionando por outros meios a eficácia da representatividade, sem construirmos outras vias de participação na vida pública além da mediação institucional e burocrática, talvez o que sobre seja, justamente, a despolitização da política.

O QUE RESTA DA POLÍTICA – As eleições deste ano encerram de maneira exemplar este risco. Ao longo dos últimos meses assistimos principalmente o ódio e o medo pautarem os discursos, as ações e as escolhas eleitorais. Nada de novo, a rigor: uma coisa e outra são a tônica do debate público – ou a ausência dele, enfim – desde há algum tempo. Mas era fundamental que fosse diferente em uma eleição presidencial. Não foi. O resultado foi a quase total ausência de uma interlocução efetiva entre partidos, seus candidatos e os eleitores.

Principalmente no chamado G-3, reproduziu-se a velha estratégia de destruir inimigos ao invés de confrontar adversários. E como o objetivo da oposição é vencer Dilma, ela apostou principalmente no velho roteiro denuncista, já bastante desgastado. Marina ainda tentou emplacar o discurso da “nova política”, valendo-se de maneira oportunista das manifestações de junho de 2013. Mas suas alianças com Bornhausen em Santa Catarina e Alckmin em São Paulo, além das mudanças recorrentes no discurso sempre que sentia alguma pressão vinda, ora do agronegócio, ora do pastor Malafaia, comprometeram tal pretensão. Pior fizeram os tucanos: tiveram 12 anos para apresentar um projeto alternativo para o país, e o máximo que conseguiram foi lançar Aécio Neves. E não faltaram previsões catastróficas e gente a defender um “corpo a corpo encarniçado e sangrento” passadas as eleições. Tudo muito patético.

A presidenta Dilma Rousseff teve de enfrentar, e nem sempre o fez bem, o desgaste natural depois de mais de uma década do PT à frente do governo. Embora líder nas pesquisas, ela não conseguiu superar uma contradição que atravessa as gestões petistas: os indicativos sociais positivos, a meu ver a principal conquista dos últimos três governos, não produziram um amadurecimento político mais significativo. Parece ter ocorrido justamente o contrário, e é difícil ao PT escapar ao seu quinhão de responsabilidade. Além de se afastaram dos movimentos sociais, contribuindo inclusive para sua criminalização, os governos Lula e Dilma valeram-se de políticas distributivas bem sucedidas para diluir outros temas e travar pautas fundamentais ao avanço da democracia. A capitulação diante da pressão de segmentos religiosos fundamentalistas e as alianças com setores conservadores, ajuda a entender a indiferença institucional para com temas e políticas que deveriam ser fundamentais a uma política de esquerda.

O ESPETÁCULO DO HORROR – Pois é esta indiferença, justificada pela necessidade de assegurar a governabilidade, uma das responsáveis pela reprodução de uma já histórica despolitização de parcela significativa da sociedade brasileira. Danosa para a consolidação de uma democracia efetivamente pluralista e sensível aos direitos humanos mais fundamentais, reforçada por uma investida midiática que não poupou esforços para estigmatizar toda forma de política, com ela chegamos a uma eleição onde a política cedeu espaço a um espetáculo onde o protagonista é, justa e ironicamente, o horror à política.

E ele se manifestou de maneira brutal no debate entre os candidatos à presidente, na noite de domingo, na rede Record. A resposta do candidato Levy Fidelix a uma pergunta de Luciana Genro sobre o casamento homossexual, é o retrato do quão baixo chegamos depois de anos alimentando o ódio, o ressentimento e a intolerância. Ao afirmar que “aparelho excretor não reproduz”; associar a homossexualidade à pedofilia; sugerir que quem é “portador deste problema” deverá receber tratamento médico e psicológico para curar-se, mas “longe de nós” – onde? Internados em um asilo ou hospício; confinados em um gueto ou em campo de concentração, um triângulo rosa costurado na roupa? –; e conclamar a “maioria” a “enfrentar” a “minoria”, Fidelix não apenas vomitou sua monumental ignorância, mas incentivou a violência.

Mas sua barbárie verbal foi potencializada com o silêncio constrangedor dos demais. Nenhum entre os principais candidatos repudiou o posicionamento do “nanico”. Para não perderem um punhado de votos, perderam a oportunidade de fazer a diferença, enfrentando e denunciando a intolerância e a violência que ela estimula e legitima. A movimentação nos dias seguintes foi uma pálida e envergonhada resposta à repercussão nas redes sociais, e uma tentativa de disfarçar o indisfarçável: para o G-3 a política deixou de ter como função organizar e regular a convivência entre os diferentes, assegurando a todos os direitos civis mais básicos, independente da fé que professem, da cor de sua pele, de sua posição social ou de seu gênero. Tornada técnica, distante das e indiferente às vidas comuns, a política foi desinvestida de seu caráter político. Hoje, nenhuma das três alianças e candidatos que aspiram à presidência reúne as condições de reverter isso. E possivelmente tampouco desejam fazê-lo. 

35 comentários:

  1. Acredito que a política seria levada um pouco mais a sério se um dos requisitos para ser candidato fosse ser formado em alguma área das Ciências Humanas. Deveriam ter noções de sociologia, filosofia e história. Claro que isso é utópico, mas ao menos, passariam longe do senso comum como as declarações do Fidelix e essa discussão polarizada de esquerda x direita.

    Abraços

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Concordo, não haveria discussão polarizada. Apenas de esquerda.

      Excluir
    2. Mais um coitado que nunca passou nem perto de um curso de Humanas mas acha que sabe.

      11:30, reivindico menos que um curso na área de Ciências Humanas. Algum bom senso e honestidade intelectual bastam. E isso se aprende até fora das Universidades.

      Obrigado pela leitura.

      Excluir
    3. O anônimo das 11:30 chama-se Mario...

      Excluir
  2. Discordo sobre um “desgaste natural” do governo de Dilma. Não é um “desgaste natural” visto que o governo da atual presidente tentou se distanciar ao máximo do anterior, inclusive com uma faxina nos ministérios. O desgaste de Dilma deve-se as políticas desastrosas na economia, quando ela deixou de lado o famoso “tripé macroeconômico”, herdado do governo de FHC e mantido por Lula, para se aventurar em outras searas econômicas. A decepção com Dilma, nada tem a ver com os manifestos de 2013 (até porque eles eclodiram com uma encenada e desastrada tentativa da esquerda de atacar o governo tucano), mas com a empáfia que lhe é peculiar. Talvez haja um desgaste, mas pelo modus operandi que o governo do PT vem usando quando questionado sobre os indícios claros de corrupção no seu governo, na desfaçatez de afirmar que nada sabia.

    O marketing do medo e os ataques mentirosos de Dilma contra a outra candidata é um serviço prestado à política brasileira, pois finalmente o PT saiu da condição de vítima para a de algoz.

    Eduardo.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eduardo, não concordo com praticamente nada do que você escreveu. Entre outras coisas porque sua opinião implica aceitar que todo eleitor conhece economia e, principalmente, concorda que o tal "tripé macroeconômico" supostamente abandonado por Dilma é a única maneira de administrá-la, o que está longe de ser verdade, uma coisa e outra.

      Além disso, você parte do mesmo ponto de vista que atribui ao PT vícios que também foram, são e serão de Aécio e de Marina, de tucanos e pessebistas (me recurso a chamá-los de "socialistas"), incluindo a arrogância e a corrupção, mas tacitamente esquece de mencionar isso.

      E simplesmente não entendi a frase: "A decepção com Dilma, nada tem a ver com os manifestos de 2013 (até porque eles eclodiram com uma encenada e desastrada tentativa da esquerda de atacar o governo tucano)". O que exatamente você quis dizer com isso?

      Obrigado pela leitura e pela participação.

      Excluir
    2. Basta lembrar que “era apenas pelos R$0,20”. Quando a coisa começou a fugir do controle, e as classes baixa, média e alta foram tirar satisfação no Palácio do Planalto, os manifestantes do MPL pegaram seus banquinhos e caíram fora antes que levassem uma coça de cinta da tia Dilma. A manifestação que começou na Av. Paulista tinha um único alvo: o governo do Estado de São Paulo.

      Eduardo

      Excluir
    3. Eduardo, eu não sei onde você estava em junho de 2013, porque aqui no Brasil milhares foram para as ruas, e não só em São Paulo - eu participei de uma passeata linda, linda aqui em Curitiba, junto a milhares de pessoas.

      E falar em "Coça de cinta da tia Dilma" depois de tanta gente apanhar de cacetete, levar bomba de efeito moral e ser preso, entre outras coisas, não serve nem de piada de mau gosto. É só irresponsável mesmo.

      Excluir
  3. Sim, mas no início você referencia dois pensadores que dialogam sobre rostos, multiplicidades, diferenças e intervalos e, em algum momento do seu texto você menciona a falta de clareza, objetividade e até omissão nas propostas dos candidatos.

    Nenhum candidato foi mais claro e objetivo que o Levy Fidelis com sua infeliz explanação sobre a “não reprodução de pessoas do mesmo gênero”. Pode ser homofóbico? Sim! Parece instigar o ódio? Sim! Mas como você bem colocou, o silêncio hipócrita dos demais postulantes soou mais grosseiro do que as próprias palavras do Levi. Detesto hipocrisia, é o comportamento humano mais vil e que o que causa mais estragos.

    Calar Levy Fidélis? Processá-lo? Definitivamente, não! Se todos os candidatos manifestassem a franqueza de Levy sobre diversos assuntos, seguramente saberíamos escolher melhor quem vai governar o Brasil nos próximos quatro anos.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. "Pode ser homofóbico"? "Parece instigar o ódio"? Nem pode nem parece; faz uma coisa e outra.

      Há limites para a liberdade de expressão, e ele é o da responsabilidade. Levy Fidelix pode falar o que falou porque contou e conta com o consentimento silencioso de uma maioria indiferente que ele adula. Se for processado e tiver sua candidatura cassada, pelo menos daremos um passo, tímido mas importante, rumo à uma sociedade e uma política um pouco mais civilizadas.

      Excluir
    2. Clóvis, não é melhor o Levy Fidelix ultrapassar os limites da liberdade de expressão e assim permitir que todos conheçam suas idéias e posição ?
      Mesmo sendo as mais esdrúxulas e repulsivas ?

      Excluir
    3. Melhor eu não acho. Mas ele pode, desde que arque com as consequências. É como eu disse: direitos podem ser exercidos e liberdades usufruídas. Mas uma coisa e outra seguem pari passu com a responsabilidade, fundamental ao exercício de ambos.

      Excluir
  4. Clóvis, concordo com vc em relação à tese de Arendt sobre a importância de se ter como referencia o ideal e mais justo, muito embora componentes extras tenham que ser incorporados em face da própria evolução.
    Agora em relação ao governo Dilma não colocaria exatamente no mesmo prato que muitos críticos de esquerda um pouco incomodados mas que simpatizam com o PT costumam colocar.
    O governo Dilma a meu ver teve diferenciais pós-Lula que são evidentes, como um gerenciamento mais de perto das estatais, inclusive centralizado pela presidenta, o combate à corrupção e enfrentamento de desvios nos partidos coligado a meu ver foi mais eficiente. Dilma gravitou muitas vezes no limite da governabilidade ao enfrentar e dar carta branca de investigação a muitos casos, entre eles o da Petrobrás. Eu sou otimista em relação ao segundo mandato em função do mesmo oportunizar a correção do primeiro e a continuidade de projetos que seriam fundamentais serem finalizados. Entre eles o Pré-sal e o financiamento de um projeto educacional promissor, a participação social e reforma da midia, a reforma politica a partir dos desdobramentos do plebiscito e dos comitês a serem formados, a continuidade do combate a corrupção, uma reforma e enxugamento ministerial, ajustes econômicos, continuidade e fortalecimento dos programas sociais, etc.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Manoel, presidente não dá carta branca coisa nenhuma. O papel da Polícia Federal e do o Ministério Publico é investigar irregularidades, com ou sem consentimento de presidente. Óbvio que Dilma, encurralada, dirá que ela fez questão de ter sua administração investigada. Ela não teve escolha.

      Reforma da midia...

      Enxugamento ministerial??????

      Caramba. É triste mas é verdade. Vocês dão desgosto... Brasil não tem jeito com pessoas como vocês.

      Excluir
    2. 22:48. eu acho tão legal: a PF e o MP investigam irregularidades com ou sem o consentimento de um presidente. Mas, veja só, muito estranhamente eles não investigaram muita coisa antes de 2002. E não o que não houvesse o que investigar. Só que, sei lá...

      Maluco isso né?

      Excluir
    3. Ainda lembro do tempo do FHC quando a PF não tinha gasolina pra rodar e andava sucateada.
      PF é funcionário público e como tal basta dar-lhes condições de trabalhar que os resultados aparecem. E durante os dois mandatos do FHC a politica deles sempre foi sucatear a Federal pra que ela não investigasse nada.

      Excluir
    4. Talvez porque não existisse muita coisa para ser investigada, Clóvis, ou eram pinto, comparadas com essa bandidagem aí.

      Excluir
    5. Claro, claro: compra de votos para mexer na Constituição e aprovar a emenda da reeleição; desvio de verbas bilionárias e favorecimentos de empresas no processo de privatização; o caso Banestado... tudo, tudo pinto. Nada que merecesse a atenção da PF.

      Ah, essa indignação seletiva que mal disfarça a ausência de indignação.

      Excluir
    6. Vcs talvez não sejam do tempo do engavetador, que surrupiou mais de 2.000 processos envolvendo tucanos ou coligados, assim como desconhecem que nos governos petistas mais de 3.000 funcionários públicos foram afastados por corrupção. Quem sabe o que é corporativismo sabe que é uma tarefe insana, e que nenhum outro governo chegou próximo disto. É o ideal? Obvio que não, mas está sendo um possível elogiável.
      Até agora não sei da onde saiu esta história de consentimento, ainda mais conhecendo a PF em que perto de 50% do quadro é tucano.

      Excluir
    7. mas a sua indignação também é seletiva. ou melhor, comparativa...

      Excluir
    8. Comparativa? Bom, eu me indigno com a corrupção, porque sei os males que ela vem causando ao país desde há muito tempo. E eu gostaria que todos os casos de corrupção em todos os governos merecessem o mesmo escrutínio e o mesmo rigor com que estão a ser tratados os casos de corrupção no governo petista. Sabemos que isso não acontece

      Pior para o país e para nossa frágil democracia, porque é principalmente a impunidade que fomenta o crime, ao não punir corruptos que tem a clareza e a convicção que o rigor da lei - e os holofotes da mídia - não os alcançará.

      Eu acho isso lamentável; duvido que você também.

      Excluir
    9. Eu acho lamentável vc sempre justificar - comparar, talvez - as picaretagens do PT. Na boa, isso tira a credibilidade dos teus textos. O fato de vc ter votado nessa bandalheira um dia não te obriga a defender os picaretas eternamente. Nas primeiras eleições pós-ditadura o PMDB era o partido que nos conduziria ao futuro... ah, deixa prá lá, falou.

      Excluir
    10. Se você acha que eu justifico picaretagens, recomendo uma lida rápida no verbete "justificar" no dicionário mais próximo. E decida, porque "justificar" e "comparar" - e eu espero que você saiba disso - não são sinônimos.

      Excluir
    11. O talvez ali não deixou claro para vc que eu não dei às duas palavras o mesmo sentido? era uma OU outra, professor...

      Excluir
    12. E qual das duas, então? Curto e grosso: partindo do princípio que eu falo com a mesma pessoa - afinal, em se tratando de anônimos não dá pra ter certeza -, você escreve que a corrupção nos governos anteriores era "pinto" e que "talvez não existisse muita coisa para ser investigada", mas tem a pachorra de dizer que eu, talvez, justifique as picaretagens do PT.

      Pois eu começo a achar que talvez, mas só talvez, o que lhe falte não seja só um dicionário.

      Excluir
    13. eu escrevi às 18:23, 19:09 e 20:17. desculpe não deixar claro isso antes, vc tem toda razão, mas não sou a mesma pessoa das 17:25, e antes.

      Excluir
    14. mas eu acho que as suas comparações - veja bem a mim parece - sugerem uma tentativa de justificar o, vamos lá, deslizes do atual governo. E isso, para mim, colocam as suas análises no campo da propaganda. Espero que vc veja isso como uma crítica construtiva, enfim.

      Excluir
    15. 01:07, facilitaria bastante o diálogo se você fosse um nome e não uma sequência de horários. Mas esclarecido quem é quem, seguimos. E eu vou tentar esclarecer meu ponto de vista e responder sua crítica.

      Eu acho a comparação fundamental, e não penso que quem compare esteja, necessariamente, a justificar coisa alguma. E acho importante comparar pelo menos duas coisas. Primeiro, a corrupção de hoje com a de ontem, não para medirmos quem foi mais ou menos corrupto, mas para lembrarmos sempre que o problema não é localizado, não está neste governo apenas, e que não se combate a corrupção com montagens tacanhas e desinformação. Mas, principalmente, acho fundamental comparar a forma como a justiça e a mídia, principalmente, tratam a corrupção praticada pelo PT com a corrupção praticada por outros governos e partidos. Não apenas porque tal comparação permite perceber os diferentes pesos e medidas, mas dá a dimensão da nossa conivência, mesmo que involuntária, justamente com a corrupção e a impunidade.

      Dou um exemplo: você não viu e nem verá eu defender a inocência de José Dirceu e os demais envolvidos no Mensalão. Mas se procurar aqui no blog encontrará um texto onde eu digo que todo o processo, incluindo o julgamento, foi político, independente da culpa dos réus. E o fato que o Mensalão Mineiro caminhe a passos largos para o esquecimento e a impunidade, e que o mesmo provavelmente ocorra com o chamado “Tremsalão paulista” e seus mais de 500 milhões desviados dos cofres do estado de São Paulo, só reforça minha convicção: no fundo, o que se apresenta como um indignado e moralizante “combate à corrupção” não passa de uma cortina de fumaça para um combate ao PT. No dia que o partido deixar de ser governo – e isso acontecerá, cedo ou tarde –, tudo isso desaparece: as manchetes indignadas, os editorias acusatórios, a justiça atenta e rigorosa.

      E os incautos seguirão acreditando que não há mais corrupção simplesmente porque não se fala mais nela.

      Excluir
    16. Ok, já que você gosta de comparações, vou destacar uma diferênça entre os governos curruptos do PSDB e PT. O PSDB tinha ao seu lado a midia e alguns empresários oportunistas poderosos, era fácil o povo se indignar e enxotá-los do governo. O PT, por outro lado, tem os mesmos empresários oportunistas e, pelo menos, 45 milhões de votos de cabresto de pessoas que vão votar em Dilma porque temem perder os benefícios. Ao contrário do PSDB ou PMDB, é difícil tirar esse coverno corrupto do poder.

      Excluir
    17. Antônio, coisa incomum nos comentários, apareceu alguém disposto a discutir um assunto de gente grande como gente grande. Então faz um favor: pega o seu boneco do Ben 10 e vai brincar, vai.

      Excluir
  5. Como dito na outra rede, simplesmente a melhor reflexão de todo o período eleitoral. Impecável. Sua capacidade de articular autores nem tão macios com um texto formatado pra um blog é de causar raiva em qualquer colunista mainstream.

    Minha única ressalva fica quanto à criminalização de movimentos sociais pelo PT. Muito embora tenha havido uma sinalização disso no ano passado, a verdade é que o próprio partido se posicionou rapidamente em repúdio. Não podemos nos esquecer da responsabilidade nefasta dos governos dos estados no controle de suas respectivas polícias militares.

    Abraços,
    Murilo

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Salve, Murilo!
      Não negligencio a responsabilidade dos governos estaduais, por isso registrei que o governo petista "inclusive colaborou" para a criminalização dos movimentos. E que o partido tenha repudiado a atitude do governo, aliás, só a agrava.

      Abraços.

      Excluir
  6. O legal nisso tudo:

    -O PT sabe que, se Dilma ganhar, vai sugar tudo e mais um pouco, pois eu duvido que chegará ao final do mandato porque;

    -Vai tentar se manter no poder a todo custo. Como?

    -Dilma não terá apoio de parte do próprio partido;

    -Sobrará metade do PMDB a apoiá-la um custo altíssimo;

    -Mais e mais indícios de corrupção;

    -Isolada, tentará procurar refúgio junto as republiquetas bolivarianas;

    -Tentará a todo custo calar a imprensa, estabelecer a ordem em uma pseudo-ditadura tupiniquim, mas;

    -Os militares a apoiarão, pois a tem ojeriza;

    -Idem a classe média trabalhadora e investidores;

    -Nos EUA os republicanos provavelmente alcançarão o poder;

    -Os republicanos a reconhecerão como o que sempre foi: uma terrorista!

    -EUA + Militares = Golpe

    -O PT sairá pelas portas do fundo e o “Barba” finalmente responderá pelos seus crimes.

    Vou votar na Dilma!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Que lógica absurda e idiota... Falar em metade do PMDB é bizarro, se tem um partido mais rachado e oportunista no Brasil, este é o PMDB.

      Excluir

O comentário não representa a opinião do blog; a responsabilidade é do autor da mensagem